Notícias da Semana - 26/03 até 01/04/2011 - Parte 5

sábado, 2 de abril de 2011

Fonte: DCI
Caderno: São Paulo / pg. C1
28/03/11
são paulo - A Prefeitura de São Paulo anunciou que apesar de investir cerca de R$ 8 milhões na realização da 7ª edição da Virada Cultural, prevê em contrapartida que sejam gastos R$ 60 milhões pelo público presente ao evento, que ocorre entre os dias 16 e 17 de abril.

Segundo o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, este volume de recurso público é o único que movimenta o evento, tendo em vista que não há parceiras da iniciativa privada. Já o dinheiro da contrapartida viria das três milhões de pessoas que devem prestigiar a Virada, com gastos em hotelaria, restaurantes, serviços, entre outros.

Deste público total, aproximadamente 7% ou 8% deverão ser turistas, muitos dos quais provenientes de outras cidades. "Queremos para este ano, uma Virada cada vez mais organizada, pois ela se tornou o grande evento cultural da América Latina, com a participação de três a três milhões e meio de pessoas", disse o prefeito, na manhã desta sexta-feira (25), durante a apresentação da programação desta sétima edição do evento.

"Estamos motivados a ter mais uma vez um recorde de qualidade, tenho certeza absoluta que teremos uma organização ainda mais eficaz neste ano", complementou Kassab. Segundo ele, em número de apresentações, esta Virada Cultural será a maior da história. Ao todo, serão mil artistas se revezando em todos os segmentos culturais, pelos mais de 80 pontos espalhados pela cidade que serão palco da festa.

Perímetro

O perímetro principal da Virada se mantém na região central da capital paulista, e será o mesmo do ano passado. Desta forma, inicia-se na região da Sé, e termina na estação da Luz, contemplando os bairros do centro, como República, Anhangabaú, entre outros.

Entretanto, as parcerias com a rede Sesc, e a utilização dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), diversas regiões da cidade também fazem parte do roteiro de atrações. A tradicional festa durará 24 horas, como de costume, iniciando-se às 18h, do próximo dia 16 de abril, e encerrando-se às 18h, do domingo (17).

"O principal é a ocupação cultural na cidade, em que todas as tribos têm espaço para mostrar seus talentos. Essa é a vantagem da Virada Cultural. É um evento que tem a cara da cidade", contextualiza o presidente da São Paulo Turismo (SPTuris), Caio Carvalho. "Que tenha um caminho maior para reduzir as desigualdades sociais, vendo a cultura como valor econômico para gerar empregos e riquezas", defende.

A organização acredita que cerca dez mil pessoas, além dos artistas, atuem na produção do evento. Além da Prefeitura de São Paulo, também participam, como parceiros do evento, a Secretaria Estadual de Cultural, a rede Sesc, e órgãos municipais responsáveis diretos pela organização, como a Secretaria Municipal de Cultura e a São Paulo Turismo.

Infraestrutura

Para que tudo transcorra com tranquilidade e sem incidentes, a Prefeitura de São Paulo preparou um grande esquema de segurança, e de atendimento médico, caso haja necessidades. O efetivo de segurança contará com 3.400 pessoas, sendo dois mil policiais militares, 500 integrantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM), 700 seguranças contratados, além de 200 brigadistas, que estarão circulando estrategicamente pelas ruas que receberão o evento, principalmente na região central, onde haverá a grande concentração de público.

"A segurança é uma das principais preocupações com a virada, junto com limpeza, até porque dá para se imaginar o que significa um evento com três milhões de pessoas", pontuou o prefeito. Para atender àquelas pessoas que não se sentirem bem, estarão a disposição do público 57 ambulâncias, e mais 20 Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) móveis, para fazer o deslocamento do paciente, caso seja necessário.

Para complementar a infraestrutura, serão disponibilizados 80 totens de sinalização, 2.400 metros de grades e 500 barricadas para isolamento em determinadas áreas, e cerca de mil banheiros químicos espalhados em dez bolsões de serviços sanitários, espalhados estrategicamente.

Programação

Serão mais de 80 pontos onde os paulistanos e os turistas poderão aproveitar o fim de semana cultural que a cidade disponibiliza com este evento. Dentre todo este roteiro, as principais atrações estarão nos dez palcos espalhados por todo o centro de São Paulo.

Das principais atrações desta edição, destaques para Dominguinhos, que se apresenta às 23h59h do dia 16, no Palco Barão de Limeira, Paulo Miklos e Quinteto em Preto e Branco, cantando Noel Rosa, às 12h, Mart'nália, às 16h e Paulinho da Viola, às 18h, do dia 17, no Palco República. No Palco Júlio Prestes haverá Rita Lee, às 18h do primeiro dia, Blitz (16h), e RPM (18h), no dia 17. No Palco do Arouche, se apresenta à 1h, a cantora Marina Lima.

Dentre as novidades, uma que chama mais atenção se refere às apresentações de stand up commedy, no Viaduto do Chá, no Vale do Anhangabaú. Passarão por lá importantes nomes do recente cenário humorístico brasileiro, como Danilo Gentili, Marcelo Mansfield, Rafinha Bastos, Fábio Rabin, entre outros.

"O mais importante é que este é um evento da cidade, e não mais da prefeitura. Isso é o melhor traço de consolidação", afirma o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil.
Marcel Andrade Paulo


Fonte: DCI
Caderno: São Paulo / pg. C1
28/03/11

O último relatório, realizado no ano passado, pelo Observatório do Turismo, ligado à São Paulo Turismo (SPTuris), destaca o perfil do frequentador da Virada Cultural. -

De acordo com a pesquisa, em linhas gerais, quem frequenta o evento é homem (54%), entre 18 e 24 anos (33,9%), com formação no ensino médio (37,6%), que possui renda mínima entre um a três salários mínimos (27,5%).

Dentre os frequentadores, aproximadamente três milhões de pessoas, a pesquisa destaca que 91,7% são moradores da cidade de São Paulo. Os demais 8,3% de turistas, 98,8% são oriundos de outras cidades de São Paulo -, Campinas, Jundiaí, Osasco, Guarulhos e Santo André, principalmente, e de, outros estados - Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais.

Dos turistas internacionais que vêm à cidade para participar da maior festa re rua do mundo, as origens deles são, Estados Unidos, Chile, Argentina e Uruguai.

No ano passado foi detectado que o turista nacional gastou R$ 747 durante a Virada, e ficou na cidade por três dias e meio. Já quem veio de outro país ficou pouco mais cinco dias, com gasto médio por pessoa de R$ 1.545.

A sétima edição da Virada cultural ocorre das 18h do dia 16, e termina às 18h do dia 17 de abril.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
Héctor Abad e Laura Restrepo irão a Paraty
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Está confirmada a presença dos escritores colombianos Héctor Abad e Laura Restrepo na 9ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). O evento acontece na cidade fluminense entre 6 e 10 de julho.

Abad fará o lançamento de seu primeiro livro no Brasil, "A Ausência que Seremos", que sai em junho pela Companhia das Letras.

A obra é um relato da vida do pai do escritor, o médico Héctor Abad Gómez, um defensor da medicina preventiva, que foi assassinado por paramilitares em 1987.

Laura Restrepo, que também é jornalista, tem dois livros publicados no Brasil: "A Noiva Escura" (2003) e "Delírio" (2008). Durante o evento, a escritora lança "Heróis Demais", romance que se passa durante o período da ditadura militar argentina.

Além de Héctor Abad e Laura Restrepo, estão confirmados para a Flip deste ano o escritor João Ubaldo Ribeiro, os argentinos Andrés Neuman e Pola Oloixarac e os franceses Michel Houellebecq, Emmanuel Carrère e Claude Lanzmann, que é diretor de cinema.

Também estão confirmados os americanos David Remnick e James Ellroy, o italiano Antonio Tabucchi, o português valter hugo mãe e o maltês Joe Sacco.

(GUILHERME BRENDLER)


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
Maratona entre 16 e 17 de abril terá 13 palcos no centro, além de programação em unidades do Sesc e do Ceu
Segundo o prefeito, orçamento desta edição chegou a R$ 8 milhões; evento deve contar com quase mil atrações
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Quase mil atrações. Treze palcos espalhados pelo Centro, sete pistas de dança. Mil banheiros, 3,4 mil seguranças, 20 brigadas de incêndio, 57 ambulâncias. Três milhões de pessoas esperadas, R$ 8 milhões investidos.

São esses os números da 7ª edição da Virada Cultural de São Paulo, anunciados ontem pelo prefeito Gilberto Kassab, pelo Secretário Municipal de Cultura Carlos Augusto Calil e pelo diretor da Virada, José Mauro Gnaspini.

O evento acontece nos dias 16 e 17 de abril -das 18h do sábado às 18h do domingo. E, além de ocupar o centro, abrange as unidades do Sesc e do Ceu em toda a cidade.

Os palcos principais, na praça da República, no largo do Arouche e na estação Júlio Prestes vão abrigar apresentações de Rita Lee, Erasmo Carlos, Marina Lima, Mart'nália, Paulinho da Viola e Orquestra de Cordas.

Acontece na Júlio Prestes o show que marca a volta da banda RPM, de Paulo Ricardo, na formação original.

O da av. São João recebe as atrações internacionais, como o cantor mexicano Armando Manzanero, os jamaicanos do Skatalites e os ingleses do Steel Pulse.

No Pátio do Colégio, o maestro Abel Rocha rege a Orquestra Sinfônica Municipal na ópera Pagliacci.

Espetáculos de dança ficam concentrados, mais uma vez, na Estação da Luz. Estão programadas apresentações do Balé da Cidade, do Balé Stagium e da São Paulo Companhia de Dança com Orquestra Sinfônica do Estado.

Nesse mesmo espaço, a Orquestra Experimental de Repertório faz dueto com a banda de rock Sepultura.

A programação de cinema inclui uma mostra dedicada a Zé do Caixão. José Mojica Marins, criador do personagem, vai estar presente.

ESTREIAS

Pela primeira vez, a Virada terá um palco dedicado à comédia stand-up, com oito sessões diferentes, protagonizada por atores como Marcelo Médici, Danilo Gentili e Rafinha Bastos, entre outros.

Também foram inaugurados nesta edição um ringue de luta livre e um palco para artistas de forró. Nesse, serão comemorados os 70 anos do músico Dominguinhos.


Fonte: DCI
PanoramaBrasil

SÃO PAULO - Após sediar a Virada Cultural e a Virada Esportiva, a cidade de São Paulo vai abrigar mais um evento que atravessa a noite. A Virada Sustentável ocorrerá nos dias 4 e 5 de junho, em parques públicos e outros locais. O evento é organizado pela Virada Sustentável Eventos, com apoio de órgãos governamentais e sociedade civil.

A Virada Sustentável terá mais de 180 atrações, entre peças de teatro, sessões de cinema, instalações temáticas, oficinas e shows. Todas serão permeadas por temas ligados ao meio-ambiente e à cidadania, desde reciclagem e práticas sustentáveis até direitos humanos e mobilidade urbana. Aguardados para o evento estão os músicos Lenine e Hermeto Pascoal e o artista plástico Guto Lacaz, entre outros.

A principal intenção dos organizadores da Virada Cultura é mostrar, com uma abordagem divertida, a importância de práticas sustentáveis no cotidiano. As performances artísticas buscam explorar o lado alegre e inspirador do tema. O evento é um apelo para que pessoas, organizações e instituições atuem na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.

O vereador Gilberto Natalini vai receber no programa São Paulo de Todos Nós, na Rádio Tupi AM, André Palhano, jornalista e idealizador do evento, e Mário Mantovani, da SOS Mata Atlântica. Os três conversarão sobre a importância de um evento como a Virada Sustentável para a cidade e os planos de expansão do projeto, que pretende estender-se a outras cidades como o Rio de Janeiro. O programa vai ao ar neste sábado, dia 02 de abril, às 11h da manhã.



Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
RUBENS FERNANDES JUNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na última sexta-feira, a fotografia brasileira perdeu o seu maior entusiasta: Thomaz Farkas (1924-2011).

Também o cinema perdeu a inteligência e a sensibilidade de um dos nomes mais emblemáticos da imagem criativa da segunda metade do século 20. Trabalhamos juntos na Coleção Pirelli-Masp por 20 anos e em muitas outras oportunidades.

Desde o início dos anos 1940, quando participa do Foto Clube Bandeirante, sua vida foi pautada pela criação e propagação da fotografia brasileira. Em 1949, realiza a primeira exposição de fotografia do Masp.

No começo dos anos 1970 publica uma revista mensal que durante anos foi referência para toda uma geração de fotógrafos brasileiros. Em outubro de 1979, concretiza a Galeria Fotóptica, especializada em fotografia.

Tornou-se um empreendedor cultural muito antes da era dos patrocínios e dos burocratas da cultura.

Também foi professor da USP, presidente da Cinemateca Brasileira e membro do Conselho da Bienal Internacional de São Paulo.

Ele sempre explicitou sua preferência pela fotografia documental e pelo fotojornalismo. Com sabedoria, defendia a fotografia como uma possibilidade de expressar as emoções humanas.

Sua simplicidade de análise significava que, independentemente dos procedimentos utilizados, a imagem jamais deveria estar associada a justificativas e explicações, pois qualquer tipo de verbalização retira da fotografia o seu mistério. "A fotografia emociona ou não emociona", dizia.

Sabemos hoje que Farkas foi um dos mais criativos fotógrafos da chamada Escola Paulista, mas, ao assumir a direção da Fotóptica, centrou sua energia num arrojado projeto de fortalecimento da marca durante décadas.

Imerso neste mundo do trabalho, sem nunca se desvincular do cinema e da fotografia, seu trabalho fotográfico reaparece somente nos anos 1990 e se insere definitivamente na cronologia da fotografia brasileira.

AMADOR

Após exibir, valorizar e publicar centenas de fotógrafos é que, timidamente, resolveu mostrar sua produção. Aparentemente um paradoxo, mas na realidade isso evidencia sua personalidade generosa e seu caráter ético. Sempre se assumiu como um fotógrafo amador. Amador na essência etimológica mais expressiva -aquele que ama o que faz.

Valorizava a fotografia instintiva, intuitiva, consciente de que "enquadrar é eliminar tudo aquilo que está atrapalhando". Basta ver seus trabalhos em exposição no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, para entender com mais clareza suas ideias.

Quando há um formalismo construtivo dominando a imagem, ela é pontuada por geometria e beleza, equilíbrio e leveza, ou seja, aquilo que ele defendia como sendo uma "visão essencial". Sua fotografia transita pelas linhas diagonais, que geram assimetrias e ordenações rítmicas vertiginosas. A obra fotográfica de Thomaz Farkas tem uma surpreendente coerência interna, porque articula uma ordem formal na desordem dos signos cotidianos.

Ele produz uma fotografia direta que provoca uma nova maneira de ver, capaz de desorientar os sentidos e nos conduzir a estranhos silêncios. A renovação é a tônica do seu trabalho porque, além de situar a fotografia no terreno da expressão artística, interroga-a permanentemente.

Um diferenciado conjunto visual, carregado de emoção, que se transformou numa das experiências mais criativas da fotografia brasileira.

Perdemos Thomaz Farkas, um amigo carinhoso que vivia sob o signo intenso da paixão, mas suas lições e suas fotografias estarão presentes para todo o sempre em nossas memórias. Viva!

Viva a fotografia!



Fonte: O Estado de S. Paulo
A Última Estação reconstitui o último ano da vida do autor de Guerra e Paz
01 de abril de 2011 | 0h 00
Luiz Carlos Merten - O Estado de S.Paulo

Lev Nikolaievitch Tolstoi, 1824- 1910. A distribuidora Sony perdeu a oportunidade de homenagear o escritor no centenário de sua morte, lançando no ano passado A Última Estação. O filme de Michael Hoffman reconstitui o último ano da vida do autor de Guerra e Paz e Ana Karenina. Baseia-se no livro de Jay Parini. Christopher Plummer foi indicado para o Oscar por seu papel por Lev Nikolaievitch. Lev ou Leon. O personagem foi tão grandioso quanto rico em contradições. Não cabe numa narrativa convencional. O livro é mais complexo e multifacetado - mas é raro ouvir-se outra afirmação que não esta, quando o assunto é adaptação. O que faz a diferença no filme é o elenco.

A alma do filme. Helen Mirren e Christopher Plummer: elenco liderado por eles faz a diferença

Não apenas Plummer. Os atores que interpretam o círculo próximo do escritor são igualmente notáveis. Helen Mirren faz a mulher, Sofia, James McAvoy e Paul Giamatti são os discípulos. Discute-se o artista, com certeza, o místico em que Tolstoi se transformou, no fim da vida, mas tudo isso é mais ou menos reduzido ou sintetizado em duas cartelas que, digamos assim, introduzem os personagens. A ênfase está na relação do escritor com a mulher. Tolstoi quer abrir sua obra ao domínio público. Sofia resiste. Ela quer se assegurar dos direitos, até como forma de garantir o estilo de vida da numerosa descendência. Em 48 anos de união, Tolstoi e ela tiveram 13 (13!) filhos.

Assim como o marido caminha para a morte, Sofia ruma para a insanidade. O filme minimiza um dos aspectos controvertidos do livro. Sofia era uma garota quando se casou com Tolstoi, já um homem maduro (e rico e famoso). Ele era priápico, ou quase. Possuía um apetite sexual inesgotável e assim permaneceu até o fim da vida, mesmo quando tentava harmonizar a espiritualidade com a urgência do sexo, que nunca o aliviou. Dame Helen Mirren já era uma das maiores atrizes do mundo antes do reconhecimento que A Rainha, de Stephen Frears, lhe proporcionou. Ela continua cada vez mais rainha. Boa nas longas falas, é melhor ainda quando secreta suas emoções ou as revela minimamente, em suspiros de enfado e pequenos gestos. Um crispar de mãos, morder os lábios. Nas entrelinhas, fica claro que a atividade sexual intensa do artista nunca teve o mesmo efeito prazeroso na mulher.

Embora o livro de Parini tenha uma narrativa multifacetada - os capítulos ostentam como títulos os nomes dos personagens que fornecem suas visões de Tolstoi -, o livro privilegia a visão de Valentin Bulgakov, o personagem de McAvoy. Parini teve a ideia do livro ao encontrar o diário de Bulgakov num sebo. No filme, ele é um observador cauteloso de tudo o que está ocorrendo na dacha (a casa) de Tolstoi. Bulgakov, num certo sentido, somos nós, o público. Seguidor das doutrinas de Tolstoi, ele não toma o partido de ninguém (nem do seu mentor). Bulgakov olha, não emite juízo de valores, até porque o objetivo do filme, como do livro, não é colocar as coisas "preto no branco". Os personagens não são simplesmente bons e maus. Tudo é mais nuançado, mesmo quando as exigências dramáticas do roteiro levam a soluções mais simplificadas do que no livro.

Diretor norte-americano nascido no Havaí, Michael Hoffman instalou-se na Inglaterra, onde cursou a universidade Oxford. É significativo que tenha chamado sua empresa produtora de Oxford Films. Hoffman fez dois filmes de recortes diversos com Michelle Pfeiffer - uma comédia romântica, não desprezível, com George Clooney (Um Dia Especial) e uma adaptação de Shakespeare (Sonho de Uma Noite de Verão). Vale prestar atenção aos títulos de seus outros filmes - Segredos de Uma Novela, O Outro Lado da Nobreza. O que lhe interessa não é a historiografia oficial, mas a visão de bastidores. Isso vale para sua investigação da etapa final de Tolstoi.

Como narrativa de uma relação de amor e ódio, A Última Estação é bom, benfeito. Mas justamente o fato de ser uma produção de Hollywood, formatada para astros e estrelas, impõe seus limites. A Rússia de Lev Nikolaievitch Tolstoi era muito mais bárbara do que a Inglaterra do começo do século 20 (mesmo que o século, na verdade, só tenha começado após a guerra de 1914/18). Os personagens falam inglês e as convenções sociais são muito mais da corte inglesa. Por tudo isso, A Última Estação poderia ser melhor, mas é válido lançar um olhar sobre o gênio dilacerado por questões mesquinhas. Christopher Plummer e Helen Mirren são a alma do filme de Michael Hoffman.

O Biógrafo

Jay Parini pesquisa muito, mas ressalta que é ficcionista, não historiador. Além de A Última Estação, da Editora Record, ele também escreveu outra biografia, de John Steinbeck.

A ÚLTIMA ESTAÇÃO

Nome original: The Last Station. Direção: Michael Hoffman. Gênero: Drama (Alemanha-Rússia-Inglaterra/2009, 113 min.). Censura: 14 anos.



Fonte: O Estado de S. Paulo
Escritora portuguesa defende a importância do incentivo do MinC ao projeto de poesia da cantora na internet
31 de março de 2011 | 0h 00
Inês Pedrosa - O Estado de S.Paulo

Durante os breves dias que passei agora no Brasil, pasmei com a ferocidade da campanha contra um projeto de poesia de Maria Bethânia. O meu pasmo foi subindo de degrau em degrau a cada hora de cada um dos cinco dias e terminou num miradouro de indignação. Parece-me útil dar a ver aos brasileiros o panorama feio que os meus portugueses olhos divisaram - amo demais o Brasil para poder ficar fora dele mesmo quando ele me deixa fora de mim, mas temo que assim não aconteça com corações mais turísticos do que o meu.

O coro de virgens ofendidas com a verba que o Ministério da Cultura autoriza a captar para o projeto de Bethânia (R$ 1,3 milhão) é patético por diversas razões, a primeira das quais é a suposição cândida de que, a não ser investido na divulgação de poesia de língua portuguesa a que Bethânia se propõe, esse dinheiro seria canalizado para escolas, hospitais e o escambau. Verdade seja que a lista dos projetos aprovados pelo MinC inclui muita coisa que, vista de fora, me parece o escambau. Em Portugal, a Lei do Mecenato não funciona, porque o conceito de desenvolvimento através das artes ainda não conseguiu furar a massa cinzenta dos empresários lusitanos. Por isso, os apoios à cultura saem diretamente do bolso dos contribuintes, o que os torna sempre polêmicos e sujeitos à conspiração das invejas organizadas - a mais eficiente organização do país.

Eu tinha a ilusão de que o Brasil não era assim - via o Brasil virado para o futuro, incompatível com o ressentimento. Ainda quero ver, porque o Brasil onde eu moro e quero cada vez mais morar é povoado por artistas que se inspiram mutuamente, estudiosos ousados, enfim, gente que não perde tempo a envenenar-se e a envenenar os outros. Pobres puritanos da moral alheia: a grana que patrocinará Bethânia nunca serviria para pagar outras coisas. Por quê? Porque Bethânia não é uma coisa qualquer. O que ela faz tem repercussão. Possui um talento e uma voz únicos. Aguentem-se.

Por que será que só o projeto de Bethânia é sujeito ao escrutínio da maledicência? Porque Bethânia é uma estrela - de fato. Enche quantas vezes quiser as maiores salas de espetáculos de Portugal, da Europa e de várias partes do mundo. Por que o Ministério da Cultura do Brasil a subsidia? Não: porque tem um percurso internacionalmente reconhecido. Como cidadã da gloriosa pátria da língua portuguesa - a única pátria em que, tal como Fernando Pessoa, me reconheço -, agradeço-lhe diariamente o seu trabalho de muitas décadas em prol da poesia e dos poetas desta língua, de Pessoa a Guimarães Rosa, de Vinicius de Moraes a José Régio, de Sophia de Mello Breyner Andresen a João Cabral de Melo Neto. Se me tornei, ainda adolescente, leitora de José Régio, a ela o devo. O meu fascínio por Pessoa começou com a voz dela. E foi dela que recebi o primeiro estímulo para a descoberta da sublime literatura brasileira. Não há muitos cantores populares por esse mundo que se dediquem, de um modo contínuo, a este trabalho pioneiro e pedagógico. Penso que a visível subida do nível cultural do Brasil nas últimas décadas deve muito a Maria Bethânia. E tenho a certeza que a literatura portuguesa tem uma dívida imensa para com ela - toda a minha geração foi tocada pelos seus poetas, mesmo ou sobretudo quando, aos 20 anos, ia ouvi-la apenas para encontrar consolo para a vertigem das paixões mal sucedidas.

A 8 de março de 2010 fui ao Rio para, em nome da Casa Fernando Pessoa e em parceria com o Instituto Moreira Salles, galardoar Maria Bethânia e Cleonice Berardinelli com a Ordem do Desassossego, então instituída. Quisemos que a primeira atribuição dessa Ordem fosse uma homenagem ao Brasil e a essas duas heroínas da divulgação da obra de Fernando Pessoa. Pouco depois, Bethânia foi a Portugal fazer um show e contatou-me, dizendo que queria oferecer um recital de poesia de língua portuguesa na Casa Fernando Pessoa. E ofereceu - sim, gratuitamente, escandalizem-se, oh virgens! - um espetáculo belíssimo, concebido, encenado e realizado por ela, aliando interpretação e canto, com uma inteligentíssima seleção dos maiores poetas de Portugal e do Brasil. As paredes da Casa iam estourando, tal a multidão e o deslumbramento.

Nessa ocasião, Bethânia falou-me da sua vontade de levar pelo interior do Brasil e de Portugal um conjunto de espetáculos desses, exclusivamente dedicados à poesia. Que Bethânia ou alguém próximo dela (porque Bethânia nem sequer é praticante da religião das redes virtuais) tenha acrescentado a esse projeto a circulação dos poemas ditos na internet, parece-me uma excelente e eficaz ideia. Sim, opulentos invejosos, já há muita poesia na net - mas não dita e encenada por Bethânia. A voz e o critério dela chegam mais longe, movem mais almas - é isso que não se lhe perdoa. Caetano já o disse, numa crônica coruscante, no Globo. Mas eu quero repeti-lo, porque não sou irmã dela - amo-a, sim, como comecei a amá-lo, desde a mais tenra juventude e sem os conhecer de parte alguma nem saber onde ficava Santo Amaro da Purificação, de onde ambos vieram, sem patrocínios nem padrinhos, para acrescentar luz e força às nossas vidas. Amo-os porque as suas vozes e os seus dons criativos me fizeram e fazem acreditar que o mundo pode ser um lugar mais belo e mais sábio. O Brasil está a dar certo porque eles - e muitos outros como eles, e uma multidão com eles - assim o quiseram. E isso só não vê quem não quer - ou não é capaz - de ver.

INÊS PEDROSA É ESCRITORA E DIRETORA DA CASA FERNANDO PESSOA



Fonte: O Estado de S. Paulo
Versão é a primeira no País a ser totalmente concebida para usuários do tablet da Apple, e pode ser lida mesmo sem conexão à internet
31 de março de 2011 | 0h 00
- O Estado de S.Paulo

O Grupo Estado lança hoje uma nova edição do jornal O Estado de S. Paulo exclusiva para iPad. “É uma iniciativa pioneira porque é a primeira versão de um jornal brasileiro feita especificamente para o iPad”, diz o diretor-presidente do Grupo Estado, Silvio Genesini. “Não há nenhum jornal no Brasil que tenha algo assim.”

O Estado foi o primeiro jornal do País a lançar um aplicativo para o iPad, no mesmo dia do lançamento do tablet nos EUA, em 3 de abril do ano passado.

Cada edição avulsa do Estadão Tablet vai custar US$ 1,99, e poderá ser baixada somente na App Store. Já os assinantes do serviço digital, que custa R$ 29,90 por mês, terão acesso à nova versão sem custo adicional, bastando utilizar os mesmos dados de acesso que já possuem. Os assinantes do jornal impresso, por sua vez, também poderão ter acesso, por mais R$ 10 mensais.

“O Estadão Tablet amplia o conceito da assinatura digital, já que o assinante tem acesso ao conteúdo em todos os ambientes”, afirma Genesini.

Ideal para iPad. “A ideia é oferecer ao usuário a melhor experiência em cada meio. Redesenhamos o jornal de papel e seu site, lançamos a rádio Estadão ESPN, e agora a terceira versão do Estadão Tablet, uma nova forma de ler o jornal, com vídeos, áudios e mais fotos”, afirma Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Grupo Estado.

A diferença do Estadão Tablet em relação aos modelos existentes no País é que toda a concepção teve como foco o ponto de vista do usuário de iPad e suas necessidades. Uma das mudanças, por exemplo, é a possibilidade de leitura sem dependência da web. Ou seja, depois de baixar a edição, o usuário não terá de se manter conectado à internet 3G ou Wi-Fi para navegar ou ler as matérias. E, ainda assim, terá um botão no aplicativo caso deseje se conectar para ver mais novidades no portal do jornal.

Cada edição vai estar disponível sete dias por semana, às 5h da manhã, para que o usuário possa ler durante o café, indo para o trabalho ou mesmo no aeroporto. Por não haver demora na distribuição, o usuário de iPad terá notícias mais recentes do que o próprio jornal impresso e poderá ler o conteúdo do Estado em qualquer lugar do mundo.

A melhoria da navegação e da forma de transmitir o conteúdo é outro destaque. Além da melhor visibilidade em relação às versões anteriores, o novo aplicativo também traz mais opções de interatividade, na forma de áudio, vídeos e infográficos interativos, entre outras opções.

O Estadão Tablet terá também material de cinco suplementos do jornal impresso - Link, Paladar, Aliás, Viagem e Sabático - que não estavam disponíveis nas versões anteriores.

Pelo iPad, o assinante poderá até comparar as duas versões (a do tablet e a impressa), já que será permitido também baixar a versão que traz o jornal impresso completo digitalizado, hoje disponível no estadão.com.br para quem tem assinatura digital.

"A edição específica para tablet é diferente. Será uma edição que seleciona e aprofunda temas do dia, prioriza análise, opinião e recursos multimídia. E que valoriza o caráter analítico do jornal", diz Gandour.

Loja de aplicativos. O lançamento do aplicativo para tablet chega no mesmo momento em que o Grupo Estado lança uma loja de aplicativos dentro da App Store, da Apple.

Por enquanto, somente o aplicativo do Estado para iPad está disponível na loja, mas o objetivo é disponibilizar outros conteúdos do Grupo Estado no mesmo local.

O Grupo Estado também pretende, nos próximos meses, lançar o Estadão Tablet para outras plataformas, como os aparelhos que funcionam com Android 3.0.
Assinatura R$ 29,90 é o preço da assinatura mensal dos serviços digitais do ‘Estado’, que incluem o ‘Estadão Tablet’. A edição avulsa custa US$ 1,99

Fonte: O Estado de S. Paulo
Desde o ano passado, grupo promoveu diversas mudanças nas versões impressa e digital e lançou novos produtos
31 de março de 2011 | 0h 00
- O Estado de S.Paulo

O lançamento do Estadão Tablet integra um processo contínuo de inovações editoriais no Grupo Estado. No ano passado, a série de novos projetos começou com a criação do site Economia & Negócios, em fevereiro, que já é uma referência no jornalismo econômico brasileiro.

Em março, o jornal O Estado de S. Paulo concluiu seu projeto de redesenho, uma reforma gráfica e editorial que tornou o diário mais bonito, organizado e agradável de ler, como avaliaram os próprios leitores em uma pesquisa realizada em dezembro último.

Também em março do ano passado, a empresa reformulou completamente o portal estadão.com.br. O projeto acompanhou uma mudança de tendência na internet mundial, ao valorizar as redes sociais. O objetivo era espalhar o conteúdo do Grupo Estado pela web. Os resultados já são vistos. O Twitter do Estado (@estadao) hoje supera 100 mil seguidores e é o mais relevante da imprensa brasileira, uma vez que a relação entre citações/seguidores é no mínimo 300% superior a qualquer concorrente nacional.

No mês de abril, assim que o iPad, da Apple, chegou ao Brasil, o Estado saiu na frente mais uma vez e foi o primeiro jornal do País a lançar um aplicativo para o tablet, o que permitia acompanhar as principais notícias das versões impressa e online gratuitamente.

A parceria entre o Estado e o MSN, em agosto, permitiu ao grupo apresentar parte de seu conteúdo no portal que tem a home page mais acessada da internet brasileira. O Grupo Estado passou a fornecer notícias e análises ao site da Microsoft, que usa sua estrutura de tecnologia para levar esse conteúdo a um número amplo de internautas.

Avanço. As inovações do Grupo Estado continuaram no início de 2011. A empresa lançou o primeiro serviço pago de informações em tempo real sobre o mercado financeiro voltado para o investidor individual - o Estadão Broadcast.

O produto é uma adaptação, para a pessoa física, do AE Broadcast, o sistema utilizado por grandes instituições financeiras para obter notícias, cotações, gráficos e análises. Pela primeira vez, pequenos e médios investidores do Brasil tiveram acesso a informações financeiras em tempo real a um preço acessível



Fonte: O Estado de S. Paulo
01 de abril de 2011 | 0h 00
- O Estado de S.Paulo

Tarimbado produtor e engenheiro de som, Yury Kalil é o cara por trás dos mais significativos álbuns gravados em São Paulo nos últimos anos, de artistas como Arnaldo Antunes, Karina Buhr, Otto, Siba, Marcelo Jeneci. A trilha musical de Cearábia é seu primeiro trabalho como compositor. Yury reuniu alguns dos músicos em que mais confia e para cada momento do show baseou-se em referências sonoras históricas, mas com toques de música contemporânea, variada, como rock e funk. Para o encerramento, escolheu o clássico baião Assum Preto, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. "Estamos totalmente livres musical e esteticamente dos originais. O que fazemos é uma releitura dessas referências", diz Yury.



Fonte: O Estado de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
Em Frankfurt, país quer ser reconhecido como "nação de livros"
JULIANA VAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LEIPZIG

"Quando a Islândia estiver no centro das atenções do mercado editorial, ninguém vai pensar que os islandeses são um povo que não sabe lidar com dinheiro, e sim que há séculos consegue contar boas histórias."

Pelo menos assim espera um dos organizadores da próxima Feira do Livro de Frankfurt, que acontece em outubro. O convidado de honra é o país gélido cujas sagas deram contribuição de peso à literatura universal.

O evento, o maior do mundo nos negócios do livro, vem sendo visto por representantes islandeses como uma oportunidade de elevar a autoestima e melhorar a imagem e a credibilidade da ilha. Quase todos os bancos de lá quebraram por causa da crise financeira mundial de 2008.

Até o começo da feira, cerca de 125 novas traduções do islandês chegarão às livrarias da Alemanha, onde o interesse pela literatura do país vem crescendo.

"Vemos a Alemanha como um trampolim para outros lugares", disse Halldór Gu mundsson, escritor e editor responsável pela representação islandesa em Frankfurt, durante a Feira do Livro de Leipzig.

Segundo maior evento literário do país, a feira destinou programação paralela à Islândia, durante a semana passada.

"Quase ninguém fala islandês, mas, se há uma tradução para o alemão, abrem-se portas. Já estamos indo em direção à França, à Itália e à Espanha. Agora, há um maior interesse dos Estados Unidos, o que é muito raro", afirma ele.

A ideia, segundo Gu mundsson, é oferecer tanto novas traduções das sagas escritas nos séculos 13 e 14 - que anteciparam o estilo realista do romance do século 19- quanto autores contemporâneos e premiados como Einar Kárason.

"A crise fez com que a Islândia repensasse seus valores e a literatura teve papel importante nesse processo. Somos melhores como uma nação de livros do que como uma nação de bancos", completa o escritor.

A jornalista JULIANA VAZ viajou a convite do governo alemão



Fonte: O Estado de S. Paulo
Livro escrito pelo jovem pesquisador Filipe Ribeiro de Meneses mostra que a imagem de fascista legada à posteridade é uma entre tantas distorções a respeito do ditador português
26 de março de 2011
Marcos Guterman - O Estado de S.Paulo

O jovem historiador português Filipe Ribeiro de Meneses sabe que se meteu numa grande encrenca ao biografar o ditador António de Oliveira Salazar, que governou Portugal de 1932 a 1968. Em seu livro Salazar, que acaba de chegar ao Brasil, Meneses admite o problema, ao dizer que a reconstituição do Salazar "histórico" poderia ser vista como um "sinal de empatia" com o ditador ou uma tentativa de "compreender" o controverso personagem, e isso seria "um insulto às suas vítimas". Mas, aos 41 anos, Meneses não só atravessou esse campo minado como também lhe adicionou explosivos, ao sugerir que Salazar, ao contrário de sua imagem consagrada, não era fascista.

O primeiro problema de Meneses foi o gênero biográfico em si, que, segundo ele, é desprezado em Portugal graças à hegemonia metodológica dos "modelos marxistas" e da Escola dos Annales, que descartam a história política. A questão, para os adeptos dos Annales, é que a biografia contraria a visão segundo a qual a história deve ser vista sobretudo como a história das sociedades, o que, de saída, excluiria a abordagem a partir de um único indivíduo. De modo brilhante, porém, Meneses mostra que esse é um falso problema: ele reconstitui a dramática mutação de um dos países emblemáticos do Ocidente, Portugal, por meio da história de um homem. O Salazar de Meneses é o elemento em torno do qual se reúnem o econômico, o político, o social, o cultural e o religioso de Portugal de maneira intensa. O desafio é justamente conseguir superar o ditador imaginário - tanto o construído por seus admiradores fanáticos quanto por seus detratores empedernidos. "Para se entender Portugal através de Salazar", disse Meneses em entrevista ao Estado, "é preciso ir à busca do verdadeiro Salazar; não nos devemos contentar com os retratos hagiográficos ou com as denúncias."

Diferentemente de Hitler, Mussolini e Franco, líderes com os quais Salazar costuma ser comparado, o ditador português era um acadêmico, que acreditava que Portugal seria salvo pela educação moral e pela preservação dos pilares do cristianismo. Como homem de origem rural, apresentava-se como contraponto ao cosmopolitismo de Lisboa - uma falsa imagem, como prova o historiador - e entendia que o país não aproveitava as oportunidades econômicas que se lhe apresentavam porque atravessava uma crise de princípios. Salazar se propôs, então, a salvar os portugueses de si mesmos.

O projeto de "reeducação" de Portugal estabelecido por Salazar incluía uma radical mudança de hábitos de consumo, para padrões mais modestos. Ao assumir o Ministério das Finanças, em 1928, ele se apresentou como um homem comum que tem de administrar as finanças domésticas. A grande obsessão de Salazar era manter um orçamento equilibrado. "Era a competência financeira, acima de tudo, que conferia legitimidade a Salazar", comenta Meneses. "Os portugueses sofreram, mas o Estado agradeceu."

Uma economia totalmente previsível era o centro do projeto de poder de Salazar, que visava, sem nenhum constrangimento, a fazer a sociedade portuguesa retroceder ao padrão medieval - no qual havia o reconhecimento tácito de uma hierarquia rígida, sem classes, com uma elite no governo subordinada a um líder. Tudo legitimado pela ideia de que sua missão era dirigida pela "Providência". Nesse tipo de Estado, não há obviamente lugar para a liberdade política - e, para Salazar, todos os regimes fundados nessa liberdade haviam fracassado.

A despeito dessa mentalidade totalitária, porém, Meneses argumenta que nada disso transforma o governo de Salazar num equivalente do nazismo alemão ou do fascismo italiano. Diferentemente desses regimes, diz o historiador, o salazarismo não quis começar do zero, destruindo tudo o que existia: "Salazar era nacionalista, mas não fechou Portugal ao resto do mundo; era conservador, mas preservou a forma republicana do regime inaugurado em 1910, apesar da aversão que sentia por ele; era católico e ajudou a Igreja, mas não a impôs aos portugueses".

O próprio Salazar, embora mantivesse um retrato autografado de Mussolini em sua mesa de trabalho, considerava-se muito diferente dos ditadores fascistas europeus. A principal distinção, a seu ver, era que ele tinha de se envolver amiúde com todos os assuntos da administração pública, enquanto Hitler e Mussolini podiam se dar ao luxo de dedicar-se à liderança carismática, uma vez que Alemanha e Itália tinham elites preparadas para administrar o país, ao contrário de Portugal. "Mussolini e Hitler, antes de mais nada, não trabalham como eu", declarou Salazar.

Segundo Meneses, o Estado Novo de Salazar não era fascista também porque não constituía um movimento de massas, não recorria à violência como princípio e não mobilizava trabalhadores. Aliás, para Salazar, a mobilização constante, pilar do nazismo e do fascismo, era uma aberração. "Em vez de empolgar a multidão, de cativá-la, Salazar quis desmobilizá-la, levá-la a pensar menos em política e mais em ordem, família e produção de riqueza", explica o historiador - para quem o ditador navegou perto do fascismo nos anos 30 tanto quanto quase toda a Europa no período.

Ademais, Salazar via riscos importantes no fascismo, sobretudo a ideia de que o Estado, nessas circunstâncias, não tinha limites morais. Em sua visão, o "cesarismo pagão" na Itália eliminava qualquer constrangimento legal ou moral ao exercício do poder, e isso Salazar, com sua formação católica fervorosa, considerava inadmissível. A rejeição conceitual do fascismo custou ao ditador o apoio da extrema direita portuguesa, para quem ele não era suficientemente autoritário. "Mostro no livro que Salazar quis, e em grande medida conseguiu, refrear a onda fascista que contagiava grande parte da elite portuguesa", explica Meneses. "Salazar combateu quem fosse abertamente fascista."

Mas o aspecto que mais gerou distorções na imagem de Salazar, segundo Meneses, foi sua relação com a Alemanha nazista. Como se sabe, Portugal adotou neutralidade na 2.ª Guerra e comprou armas do Eixo. Tudo isso - somado ao fato de que Salazar considerava o 3.º Reich como parte da luta contra o comunismo na Europa "cristã" - contribuiu decisivamente para "mal-entendidos" sobre o ditador, como escreveu Meneses. "Para a oposição esquerdista ao regime, Salazar, sendo fascista, tinha naturalmente apoiado Hitler durante a guerra; não havia margem para discussão sobre esta fórmula axiomática", comenta o historiador. Meneses lembra que a abertura da Constituição portuguesa diz: "A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista". Ele considera, porém, que a documentação disponível leva a uma conclusão bem diferente.

Para Salazar, a vitória do nazismo seria um desastre para nações periféricas como Portugal. A neutralidade na guerra, antes de ser prova de simpatia em relação a Hitler, foi justamente uma forma de evitar que a Alemanha tivesse uma desculpa para atacar e eventualmente ocupar Portugal. E Salazar considerava o nazismo um retrocesso moral.

Por último, mas não menos importante, um engajamento português na guerra poria em risco o domínio sobre suas colônias na África e na Ásia - e isso seria, na visão de Salazar, o "fim de Portugal". Essa noção existencial sobre as colônias não era restrita aos salazaristas. De modo geral, mostra Meneses, a elite portuguesa concordava com a manutenção das colônias porque essa presença "pluricontinental" era central na narrativa contemporânea do espírito do país. Por conta disso, difundiu-se até mesmo a noção de um "lusotropicalismo", termo derivado do pensamento de Gilberto Freyre por meio do qual se explica o "talento colonial" português e sua capacidade de criar sociedades "multirraciais". O nacionalismo que sacudiu as colônias na África no pós-guerra surgiu como pesadelo nesse cenário onírico.

Salazar resumia em si essa imagem mítica de Portugal. O ditador representava, para os nacionalistas, o fim da humilhação do país. Por isso conseguiu ficar no poder quase até o fim da vida - talvez porque boa parte dos portugueses temesse que, quando ele partisse, o país enfim despertasse para a fria realidade de uma potência morta.


Fonte: O Estado de S. Paulo
Obra-prima do ficcionista suíço Robert Walser, o romance Jakob von Gunten chega às livrarias dia 4, resumindo sua temática - a do homem nascido para servir -, presente em Os Irmãos Tanner e O Ajudante
26 de março de 2011 | 0h 00
Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S.Paulo

Nenhum escritor pretendeu ser tão pouco como o suíço Robert Walser (1878-1956). No entanto, sua influência foi enorme sobre gigantes literários do século 20, entre eles o escritor checo Franz Kafka (1883-1924). Quem leu O Castelo (1922) não deixou de notar, a exemplo do Nobel sul-africano J.M. Coetzee (no recém-lançado Mecanismos Internos), que Barnabás e Jeremias - respectivamente, o imaturo mensageiro do castelo e o assistente do agrimensor K. - são derivações de Jakob, o protagonista de Jakob von Gunten, que chega às livrarias no dia 4. É o melhor livro entre os que Walser legou ao mundo, antes de ser internado num asilo para doentes mentais de Herisau, Suíça, em 1933. Se Jakob serviu de protótipo para Kafka, é certo dizer que Walser foi o modelo dos próprios personagens, inclusive do notável Jakob, jovem que se submete voluntariamente às regras inflexíveis de um instituto educacional, o Benjamenta, privando-se de sua liberdade, usando um uniforme e obedecendo cegamente ao velho diretor e sua irmã, sempre com uma intimidadora varinha branca na mão.

Walser, que começou a ser mencionado além da fronteira de língua alemã apenas em 1934, um ano depois de sua chegada a Herisau, já era assunto do ensaísta e pensador alemão Walter Benjamin (1892-1940) em 1929. Leitor de primeira hora, Benjamin abriu as portas para que outros grandes nomes da literatura - Thomas Mann, Elias Canetti, Herman Hesse, e, posteriormente, W. G. Sebald e Peter Handke - lessem com cuidado os três romances que sobreviveram entre os quatro escritos por Walser: Os Irmãos Tanner (Geschwister Tanner, 1906), O Ajudante (Der Gehülfe, 1908) e Jakob von Gunten (1909). Do quarto, O Ladrão (Der Räuber), escrito entre 1925 e 1926, só restaram 24 folhas de microescrita (mais ou menos 150 páginas) publicadas apenas em 1972.

A microescrita de Walser - sinais caligráficos diminutos desenhados a lápis e usados no romance O Ladrão e na peça Felix - pode ter sido criada em função das alucinações do escritor, que ouvia vozes e foi diagnosticado como esquizofrênico, embora Enrique Vila-Matas tenha uma outra teoria sobre ela - em Doutor Pasavento, o autor catalão diz que foi seu desejo de desaparecer do mundo que fez de Walser um escritor de microgramas liliputianas. Decifrada com a ajuda de um aparelho usado na indústria têxtil para contar fios, essa escrita foi abrigada em seis volumes, publicados na Alemanha entre 1985 e 2000.

Todos esses textos foram produzidos até 1932. Walser passou os 23 anos restantes em sanatórios. Sua entrada no asilo de Herisau, um ano depois, marcou o fim de sua produção literária. Na tentativa de fazer com que voltasse a escrever, pelo menos como medida terapêutica, o editor e filantropo Carl Seeling, tutor e guardião legal de sua obra, incentivou-o como pôde, mas não convenceu Walser, que respondeu: "Não estou aqui para escrever, mas para enlouquecer". Essa lógica paradoxal predomina em seus romances, inclusive no diário mantido por Jakob no Instituto Benjamenta, repleto de reflexões que num primeiro momento parecem um tanto ilógicas sobre o tipo de formação lá recebida. Também escapa à esfera racional a descrição em detalhes de seu trágico fim no mais autobiográfico de seus livros, Os Irmãos Tanner.

Louco, profeta ou iluminado, o fato é que Walser anteviu sua morte como viria a ocorrer no dia de Natal de 1956, quando a polícia de Herisau recebeu um telefonema sobre um morto caído na neve, logo identificado como Walser. Aos 78 anos, ele saiu para passear, como de costume, e foi encontrado horas depois por um grupo de meninos, que tropeçou no cadáver. Morreu de um ataque cardíaco. Com ligeiras variações, é a mesma história que Walser conta numa passagem de Os Irmãos Tanner. Nela, o poeta Sebastian é também encontrado morto na neve. O personagem Skimon Tanner faz o elogio do defunto, destacando sua nobreza ao buscar na natureza uma "tumba nobre", construída por abetos verdes cobertos de neve.

Sonhar em silêncio nos longos passeios sobre o chão coberto de musgo, sentir o perfume dos abetos, contemplar as montanhas e o céu era tudo o que Walser queria, transferindo esse hábito para seu personagem Jakob von Gunten, que, apesar disso, parece preferir o burburinho da metrópole. Ele elege como distração favorita andar de elevador na cidade quando consegue escapar do modorrento instituto onde estuda. Lá, diz ele, "se aprende muito pouco". Nele, só um livro é usado e uma única matéria é lecionada - a maneira de um rapaz se comportar e servir à sociedade. Na velhice, resmunga Jakob, terá de servir a jovens grosseirões, arrogantes e mal-educados. Portanto, precisa aprender a obedecer - "do contrário, vou precisar mendigar para não perecer". Isso se aplica aos protagonistas dos outros livros de Walser, inclusive o jovem Joseph Marti de O Ajudante, que, empregado no escritório do engenheiro Tobler, leva um antigo funcionário da casa para pernoitar no quartinho que ocupa, após uma noite de bebedeira, sendo sumariamente despedido.

Joseph, como Jakob, pertencem à categoria dos jovens que chegam para desestabilizar instituições públicas ou familiares com a desfaçatez de quem despreza os valores burgueses. Em Jakob von Gunten, o garoto endiabrado, inicialmente intimidado pelo diretor e sua irmã Lisa, inverte o jogo e seduz a ambos para ignorar depois a afeição que a ele devotam. Lisa, rejeitada, cede à depressão. Já o diretor convence-o a abandonar tudo e acompanhá-lo em sua louca aventura pelo mundo. Walter Benjamin dizia que os personagens de Walser são como figuras de um conto de fadas que chegou ao fim, compulsoriamente jogadas num mundo real e "marcadas por uma superficialidade sistematicamente dilacerante e desumana". Ao leitor, desconcertado, só lhe resta acompanhar a lógica de chapeleiro maluco que marca personagens cínicos como Jakob. "Num tempo de confusão social mais intensa", observa Coetzee, ele seria uma presa fácil dos camisas pardas de Hitler.

Coetzee defende que Walser, pouco chegado à política, mantinha um envolvimento emocional com sua classe de origem, a dos pequenos comerciantes e funcionários - talvez pela falta crônica do dinheiro em sua vida, ele que lutou em vão para se integrar à Berlim cosmopolita. Seu irmão Karl, cenógrafo do diretor austríaco Max Reinhardt, ajudou como pôde, apresentando-o ao editor Bruno Cassirer (1872-1941), que publicaria Os Irmãos Tanner, Jakob von Gunten e O Ajudante, além de Gedichte, livro de poemas ilustrado por Karl Walser. Com o casamento do irmão, Walser volta à Suíça em 1913 - e ao provincianismo, segundo Coetzee.

O escritor viveu os sete anos seguintes de modo precário, ocupando um pequeno quarto num hotel de Biel e vendendo textos curtos para suplementos literários. Em busca de melhores oportunidades, mudou-se para Berna, conseguindo um emprego no Arquivo Nacional. Não durou muito. Foi demitido por insubordinação - e também por beber um pouco além da conta, à maneira do Joseph Marti no epílogo de O Ajudante. Como se vê, Walser parecia empenhado em antecipar sua vida real na literatura, talvez por não acreditar no futuro, preferindo viver o tempo presente como quem está "de passagem" - compreendendo, enfim que a vida é um "ir deixando para trás", como observou o autor suíço Peter Bichsel, cético como Walser e ainda vivo (Die Jahreszeiten/As Estações, de 1967, sobre as frustrações de um escritor, é sua obra mais conhecida). Walser, garante Bichsel, nunca revisou seus textos. Ele diz que seus romances não são feitos de páginas, mas de frases que colam à pele. Todas citáveis, como a que encerra Jakob von Gunten: "Deus acompanha os que não pensam".


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
Obra é passeio assustador por ética em pesquisas e estigmas raciais dos EUA
Família não sabia de experimentos com células de paciente, relata "A Vida Imortal de Henrietta Lacks"
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA

Por anos, a americana Deborah Lacks teve pesadelos com os experimentos macabros que cientistas do mundo todo andavam fazendo com sua pobre mãe, Henrietta.

A mãe de Deborah tinha sido inoculada com o vírus da poliomielite, clonada milhões de vezes, submetida a explosões atômicas e à microgravidade do espaço sideral. Tudo isso depois de morrer de câncer e ressuscitar, tornando-se imortal.

É claro que há um mal-entendido trágico nessa história. Henrietta Lacks morreu em 4 de outubro de 1951. Mas o câncer de colo de útero que a matou deu origem, em laboratório, às células HeLa, a mais importante linhagem "imortal" de células humanas, que viraram ferramentas indispensáveis para a biomedicina. Essa revolução tecnológica aconteceu sem o conhecimento ou o consentimento da morta ou de sua família, conta a bióloga e escritora Rebecca Skloot em "A Vida Imortal de Henrietta Lacks", que acaba de chegar ao país.

NÓDOA

A obra é um passeio esclarecedor -e assustador- pelo nascimento da biotecnologia e da (falta de) ética em pesquisa com seres humanos. E também pelas mazelas raciais do sul dos EUA: os Lackses eram negros da zona rural da Virgínia, nascidos e criados numa cabana de escravos, plantando tabaco.

"Aparentemente os cientistas nunca se deram ao trabalho de explicar o que foi feito das células de Henrietta porque achavam que os Lackses seriam incapazes de entender aquilo", disse Skloot à Folha.

"Isso foi antes do movimento dos direitos civis, no atendimento a negros pobres numa ala de indigentes do hospital [da Universidade Johns Hopkins], então a transparência nem era uma consideração para os médicos", lembra a autora.

"Aliás, mesmo pacientes brancos tinham seus tecidos retirados e usados para pesquisa sem consentimento." A coisa piorou décadas depois, quando o marido e os filhos de Lacks foram procurados para estudos genéticos, dada a importância crescente das células HeLa.

"Para pessoas como eles e para o público em geral, a diferença entre clonar uma pessoa e clonar apenas suas células fica completamente borrada", diz Skloot. "Mas, no fim das contas, eles conseguiram entender a importância das células, e o fato de que a mãe deles não sofria com os experimentos."


A VIDA IMORTAL DE HENRIETTA LACKS
AUTOR Rebecca Skloot
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Ivo Korytowski
QUANTO R$ 42 (464 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: ilustrada
Coleção terá "malditos" de bolso a cada dois meses
Má Companhia, da Cia. das Letras, relança autores que marcaram época
"Tanto Faz & Abacaxi", de Reinaldo Moraes, e "O Invasor", escrito por Marçal Aquino, inauguram a coleção
DANIEL BENEVIDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Livros únicos, malditos, que marcaram época e depois sumiram." A definição do editor André Conti para a nova coleção da Companhia das Letras, a Má Companhia, dá uma boa noção do que vem por aí.

Em formato de bolso e com preços acessíveis, os "maus acompanhantes" devem ser lançados a cada dois meses.

Podem ser títulos cult como "Tanto Faz & Abacaxi", de Reinaldo Moraes, e "O Invasor", de Marçal Aquino, que inauguram a coleção. Ou clássicos "marginais", como os "Sonetos Luxuriosos", de Pietro Aretino.

A ideia surgiu num jantar com Luiz Schwarcz, dono da Companhia das Letras, e os autores Joca Reiners Terron e Marçal Aquino. Terron, cuja obra "Não Há Nada Lá" também deve ganhar a sedutora alcunha "má", teria sugerido o nome, meio brincando.

Schwarcz abraçou a causa. Não à toa, a Má Companhia tem semelhança com a coleção Cantadas Literárias, da Brasiliense, que o próprio Schwarcz ajudou a criar, no começo dos anos 80.

"Tanto Faz", de 1981, foi o segundo lançamento da Cantadas. História de "um Ulisses avacalhado que vive atrás de umas nereidas" na definição de Moraes, o livro marcou uma geração. Escatológico e confessional, teve as três primeiras edições esgotadas em pouco tempo.

Para a Má Companhia, o autor do recente "Pornopopeia" retocou alguns trechos.

"Não tirei nenhuma das bobagens arqueológicas de época, só fiz umas mudanças pontuais, para o texto fluir melhor", explica. "Me diverti muito relendo os livros de cara limpa, com o superego mais afiado."

Sobre a expectativa, diz: "Vai ter gente jurando que o escritor de "Abacaxi" copiou o "Pornonopoéia'".

Com "Tanto Faz" está a continuação, "Abacaxi", de 1985, em que Moraes mexeu mais: "Tinha muita encheção de linguiça, que atrasava o andamento". Trocou até o nome do protagonista, para não haver dúvida de que é o mesmo da obra de estreia.

Marçal Aquino conta que escreveu "O Invasor" cinco anos depois do roteiro do filme epônimo, mas "de outro ponto de vista narrativo".

Como a primeira edição, de 2002, está esgotada, acha "legal que as pessoas possam ter acesso de novo ao livro. É um policial puro-sangue, com um olhar sobre São Paulo de que gosto muito".

Questionado sobre a coleção, Aquino pondera: "São livros que têm em comum uma inquietação diferente".

Leitor daqueles que garimpam preciosidades, já tem várias sugestões para entrar no time, como os "contraculturais" Jamil Snege e João Batista Reimão.

TANTO FAZ & ABACAXI
AUTOR Reinaldo Moraes
EDITORA Cia. das Letras
QUANTO R$ 25 (344 págs.)

O INVASOR
AUTOR Marçal Aquino
EDITORA Cia. das Letras
QUANTO R$ 19 (128 págs.)


Fonte: O Globo
Publicada em 29/03/2011 às 08h29m
Leonardo Cazes

Maggie Stiefvater seguiu a receitinha de bolo da saga "Crepúsculo" em sua trilogia "Os lobos de Mercy Falls": uma história de amor entre uma garota humana e um cara sobrenatural, no caso, um homem-lobo. Os livros não chegam ao puritanismo de Stephenie Meyer, mas que ninguém espere uma versão de "Gossip Girl" passada no interior de Minnesota. No segundo volume da série, "Espera" (Agir), a autora pisa no freio e, sem pressa de transformar o livro em videoclipe, deixa todo mundo esperando pelo que vem a seguir.

Putz, então deve ser chato demais, não? Não é bem assim. O tempo todo Maggie mantém a tensão entre o casal principal: Sam, o lobo-que-supostamente-deixou-de-ser-lobo depois de se autocontaminar com meningite no primeiro livro; e Grace, a menina mordida por um lobo quando criança, mas que nunca se transformou.

A trama não cai no esquema "Malhação", nos poupando do clássico "mocinha se apaixona pelo galã, que fica com a vilã no começo e, no fim da temporada, acaba com a mocinha". O amor dos dois não corre perigo, o suspense aqui é de outra natureza: Sam realmente está curado? Grace, afinal, nunca vai virar uma loba?

Na história, os humanos se transformam em lobos por causa do frio - o que em Minnesota significa que eles passam todo o inverno e boa parte do outono dentro da floresta que cerca a cidade. Agora, Sam tem a missão de cuidar dos novos lobos que chegaram à casa, depois de Beck, seu mentor e pai adotivo, se transformar definitivamente em animal.

Incumbido de sua nova missão, o galã descobre que os recém-chegados não são propriamente o que ele esperava. E um deles, o junkie Cole, ainda vai provocar suspiros em Isabel, melhor amiga de Grace e uma das poucas que acham normal ela namorar um ex-lobo. Afinal, se o pai da moça já dá um chilique e coloca Sam para fora após encontrá-lo dormindo com a filha na cama dela (eu disse dormindo, hein?), imagine se ele soubesse a verdade por trás da história dos dois...

Com um clima sombrio e descrições sem exageros, Maggie não fica (só) no blá-blá-blá adolescente. As personagens têm suas crises existenciais, se questionam sobre o futuro, sobre os seus sentimentos... Como qualquer garoto/ garota de 17 anos.

Sem as futilidades de bailes de formatura ou duelinhos envolvendo atletas, líderes de torcida e losers, "Espera" tem como maior trunfo não buscar sequências cinematográficas a cada virada de página (apesar de que o primeiro livro da série, "Calafrio", vai virar filme, já em fase de pré-produção). Os personagens aguardam o que vem pela frente do jeito que você faria: estudando, tocando violão, lendo, ouvindo música ou namorando. Ainda falta um livro para se saber como a história termina. Até lá, muitos uivos vão rolar.



Fonte: O Estado de S. Paulo
Caderno: Brasil / pg. A2
Luciano Máximo | De São Paulo
30/03/2011

Depois de mais de três anos sem participar de políticas públicas com o governo federal, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo vai anunciar nos próximos dias três parcerias com o Ministério da Educação (MEC) para reforçar o ensino profissionalizante paulista e ofertar bolsas de estudo para alunos de pedagogia e professores da rede pública.

Conforme o acordo, que está em fase de finalização, os cerca de 1,5 milhão de estudantes do ensino médio de São Paulo poderão se matricular, no contraturno, nos cursos técnicos oferecidos pelos 25 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia espalhados pelo Estado.

O secretário-adjunto estadual de Educação, José Cardoso Palma Filho, disse que espera abrir 2 mil vagas nas escolas técnicas federais a partir de 2012. O número de novas oportunidades pode chegar a 5 mil com a extensão da parceria governo paulista-MEC para as unidades educacionais do Sistema S e as Escolas Técnicas Estaduais (Etecs).

O governo estadual já trabalha num projeto para aumentar a integração entre ensino médio regular e técnico. "Com os institutos federais, que estão em todas as regiões do Estado, nosso alcance será muito maior", conta Palma Filho.

Para a formação de professores, o MEC vai conceder 10 mil bolsas a alunos de pedagogia e pesquisadores de educação, por meio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), administrado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Os valores dos benefícios variam de R$ 400 a R$ 1,5 mil.

Os professores que já atuam na rede estadual serão incentivados pela Secretaria de Educação a participar da Plataforma Freire. O programa de bolsas de estudo da Capes prevê, no primeiro semestre deste ano, o custeio de 40 mil vagas em cursos de licenciatura em mais de 140 universidades do país. "Os professores vão tirar a segunda licenciatura, a vantagem para nós são os recursos. São Paulo é rico, mas não esnobamos dinheiro para a educação. Toda questão política que vimos nos últimos anos está superada", afirma Palma Filho.

Durante participação em seminário, ontem, em São Paulo, Romeu Caputo, diretor de articulação e apoio aos sistemas de ensino da Secretaria de Educação Básica do MEC, disse que o país depende de São Paulo para avançar na educação. "A parceria com São Paulo é uma agenda direta do ministro [Fernando Haddad]. Ninguém saiu ganhando com a ausência de diálogo entre o Estado e o MEC desde 2008", ponderou Caputo.



Fonte: O Estado de S. Paulo
Produtores veem desinteresse da Secretaria do Audiovisual
28 de março de 2011 | 0h 00
Daniel Lisboa - O Estado de S.Paulo

Um atraso no pagamento do Ministério da Cultura para o programa Cinema do Brasil vem causando tensão entre as produtoras nacionais e já cancelou a participação do Brasil no Producers Network de Cannes, um dos maiores encontros para coproduções do cinema mundial. A informação é da assessoria do programa, e a expectativa agora é a de que a secretária de audiovisual do MinC, Ana Paula Santana, cumpra a promessa realizada na sexta-feira, quando abriu encontro no Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (Siaesp) prevendo a realização do pagamento para amanhã. O MinC já descumpriu promessa anterior de pagamento no dia 22 de março.

Sturm. Programa Cinema do Brasil gerou US$ 45 mi em 2010

E-mail enviado no começo do mês às produtoras associadas ao programa alertou que, como a segunda parcela da verba orçada junto ao MinC estava atrasada desde outubro do ano passado, o programa que promove a internacionalização do cinema nacional dificilmente conseguiria subsidiar passagens, estadia e credenciais de representantes de produtoras brasileiras.

Criado em 2006, o Cinema do Brasil foi desenvolvido em uma parceria entre o Siaesp, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Secretaria de Audiovisual do MinC, com apoio também da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e do Ministério das Relações Exteriores. O programa busca estimular a distribuição de produções brasileiras, a venda internacional de serviços de produção e a realização de coproduções internacionais. De acordo com dados divulgados pela assessoria do Cinema do Brasil, o volume de negócios movimentados pelo programa passou de US$27 milhões em 2007 para US$45,8 milhões no ano passado. Existe ainda a expectativa de que negócios iniciados em 2010 rendam mais US$67 milhões.

Diretor do Cinema do Brasil, o cineasta André Sturm prevê que, "sem a verba, a delegação brasileira deverá ir a Cannes com no máximo dez integrantes, contra aproximadamente cinquenta em 2010". A proximidade do festival, que acontece entre os dias 11 e 22 de maio, dificultaria a busca por alternativas de financiamento.

A cineasta Sara Silveira, integrante do comitê gestor do programa e sócia-fundadora da Dezenove Som e Imagem, produtora responsável por obras como Cinema, Aspirinas e Urubus, lembra que Cannes é a melhor oportunidade para o cinema brasileiro fazer negócios. "Meu conselho à secretária seria priorizar o que já está funcionando, e bem, como o Cinema do Brasil, em vez de eventualmente se preocupar em lançar novas ideias", diz. Já João Daniel, presidente da Mixer, acredita que o filme Besouro dificilmente teria sido um sucesso comercial se a sua produtora não contasse com o suporte do Cinema do Brasil. "Cento e dois países já fizeram a pré-compra da obra", revela.

Estava marcada para hoje uma reunião entre a secretária Ana Paula Santana e o comitê gestor do Cinema do Brasil, encontro que deve ter o atraso da verba como pauta principal. Por meio de sua assessoria de imprensa, ela disse ao Estado que o programa Cinema do Brasil é uma prioridade e que o pedido para o pagamento já está com a Diretoria de Gestão Estratégica do Minc.



Fonte: O Estado de S. Paulo
Criolo e sua geração ampliam os territórios do rap nacional
26 de março de 2011 | 6h 00
Lucas Nobile - O Estado de S.Paulo

Ainda há catedráticos e acadêmicos insistentes em defender que versos musicados são um tipo de literatura menor. E a conversa piora quando o assunto se trata das criações (sub)urbanas feitas nas periferias. Aos desavisados seria bom lembrar que a poesia já surgiu cantada, lá atrás, com os menestréis. Aos conservadores, basta avisar que já está mais do que na hora de o rap ser encarado como música e que, no começo de maio, será lançado mais um disco assertivo da crescente qualidade do gênero: Nó na Orelha, de um maluco, no melhor sentido da palavra, conhecido como Criolo Doido.

O primeiro disco da carreira de Kleber Gomes, de 35 anos - sendo 23 deles dedicados ao rap -, foi concebido de forma totalmente independente pela Matilha Cultural e chegará ao mercado em vinil e em CD, este contendo uma faixa bônus, remix feito por um dos produtores do disco, Daniel Ganjaman, para o tema Samba Sambei.

Criador das Rinhas de MC’s em 2006, saudáveis batalhas onde os versadores se enfrentam rimando de improviso, ao lado do DJ Dan Dan, Criolo teve sua grande referência no exterior nos nova-iorquinos do Wu Tang Clan. No Brasil, destaca nomes, como RZO, Consciência Humana, Sistema Negro e tantos outros, que, nos anos 1990, já tratavam de problemas sociais que ainda persistem. Continuar abordando tais temas nas letras de rap, com poucas mudanças no quadro social, não traria desapontamentos ao compositor? "Uma coisa é desesperança, outra é enxergar a realidade. Falar disso de um modo contundente não significa que você está desesperançoso", diz.

Assim como os sambistas do Cacique de Ramos, no Rio, como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Almir Guineto, que sabem improvisar como partideiros e ao mesmo tempo esbanjar lirismo em canções melodiosas, Criolo é um dos pontas de lança de uma geração que sabe fazer um rap direto, "pedrada", como ele define, mas ultrapassa a pequenez das fronteiras de gêneros.

Prova disso é seu disco, com afrobeat, soul, samba, reggae e até bolero, mas ele discorda da afirmação de que hoje se faça um rap musicalmente mais rico do que aquele feito por seus antecessores. "A diferença é que você batia na porta de um trompetista, de um guitarrista, e eles riam na sua cara. Foi o mundo que se fechou para o rap. Antigamente os MC’s faziam a coisa acontecer. Não tinha riqueza naquilo?", questiona Criolo.

Nascido em Santo Amaro, criado no Grajaú, na zona sul de São Paulo, filho do metalúrgico Cleon e da professora Vilani, quando mais jovem Criolo escutava também nomes como Moreira da Silva, Nelson Gonçalves, Martinho da Vila e Dona Ivone Lara. Nada que configurasse um ritual de parar o que fazia para sentar diante de uma vitrola.

"Eu não tenho tempo pra isso, ‘man’. Dependendo do CEP, você abre o portão de casa e, do outro lado da rua, já tem um carro tocando um som, a vizinha que abre a janela e começa a cantar, é assim..."

Independente de correr atrás ou de a música chegar até ele, a verdade é que Criolo cita referências das mais variadas. Em Nó na Orelha, fala de Hélio Oiticica, Frida Kahlo, Di Cavalcanti, Fela Kuti, Mulatu Astatke, a Pasárgada de Manuel Bandeira, o Índio de Caetano Veloso, Cartola, Sabotage, Rappin Hood e Facção Central.

Levantando um álbum. Gravado e mixado por Daniel Ganjaman, em 2010, Nó na Orelha teve produção e arranjos de quem entende do riscado. O próprio Ganjaman - que trabalhara com Sabotage, Racionais, Helião e Negra Li, além de Planet Hemp e Otto - e Marcelo Cabral (dos grupos The Marginals e Gafieira Nacional), que já esteve envolvido em projetos com Lurdez da Luz, Kiko Dinucci, Romulo Fróes, Instituto e Guizado. "Eu aprendi demais. Na época de gravar, apresentei 50 músicas. Eles me ajudaram a selecionar as que tinham a ver com o projeto e me ensinaram como levantar um álbum."

O resultado é um disco com temas autorais (sendo um deles, Mariô, em parceria com Kiko Dinucci), extremamente diferentes entre si, mas que constroem uma atmosfera coerente.

No balaio sortido, sempre com letras originais de Criolo, tem rap autêntico em Grajauex, Subirusdoistiozin, que já vinham fazendo barulho na internet, e Sucrilhos, que ganhou novo arranjo, com destaque para a percussão de Mauricio Bade.

Mas também há espaço para o pegado afrobeat Bogotá, com belo arranjo de metais para o sax de Thiago França (tenor) e de Anderson Quevedo (barítono), além do backing vocal de Verônica Ferriani e Juçara Marçal, também presente no crítico samba Linha de Frente, com o cavaquinho impecável de Rodrigo Campos. E Nó na Orelha ainda tem o soul dolente de Não Existe Amor em SP, o bolero Freguês da Meia-Noite, o reggae Samba Sambei e a densa Lion Man.

Com show marcado para o dia 2 de junho, no Sesc Vila Mariana, e despertando a atenção do exterior, como do projeto Noisey, da revista Vice, que destacou o compositor entre autores de mais de 40 países, Criolo desconversa sobre trabalhos futuros, como um disco de samba e outro com músicas infantis. Isso à parte, sabe-se que Nó na Orelha, já consistente no estúdio, tem tudo para ser ainda mais quente no palco, louvando sempre um ponto primordial para a criação, exaltado por Criolo: fazer música verdadeira e que tenha como único objetivo sensibilizar quem a escuta.

Análise: Emicida

O hip hop e seu caminho sem volta da emancipação
Acredito que vivemos hoje a fase mais criativa e livre para ousadias de todos os tempos dentro da cultura hip hop, um momento onde podemos experimentar as mais diversas influências. Começo a enxergar também um novo caminho inédito, que será trilhado por nossos pés, semelhante, mas diferente do caminho existente em locais como a América do Norte. As particularidades e elementos bons e ruins que compõem o cenário musical brasileiro irão definir o tempero do rap nacional e seu sabor muito mais que qualquer influência internacional. Isto, daqui para frente, será abandonado até mesmo como base, uma vez que a quantidade de material musicalmente relevante vinda do estrangeiro também diminuiu bastante.

Temos elementos inéditos para acrescentar à música rap, coisas que vão torná-la algo característico do Brasil, assim como houve com o tamborzão carioca, filho do Miami bass, e o tecno brega, eletro melody que alguns veem como uma ramificação do eletro pop europeu. Obviamente isso não significa que iremos nos desconectar do mundo, mas dentro de algum tempo iremos nos tornar outro elemento diferenciado nisso tudo, que nem sei se irá se chamar rap.

O Criolo Doido, em especial, é um ótimo expoente desta liberdade, quando você ouve Grajauex, Não Existe Amor em SP ou Subirudoistiozin, encontra três artistas diferentes com um único ponto comum, a necessidade de expor seu sentimento de forma visceral, e, voltando à base da coisa, é para isso que a música serve. Vejo nele um intérprete grandioso que quebra as barreiras do próprio rap, o que é fundamental para um artista de seu potencial mostrar todas as suas qualidades, e me refiro a um intérprete com talento proporcional aos grandes monstros que temos aqui, como um Ney Matogrosso, por exemplo. Com um adicional: o Criolo compõe. E rápido.

Hoje podemos buscar e encontrar material bom dentro do gênero rap em diversos cantos do País e cada um com seus diferenciais. Não dependemos mais somente de reproduções do que é feito fora, ou em são Paulo. É um caminho involuntário e sem volta que ninguém tem o poder de embarreirar porque é o fluxo natural das coisas para que elas permaneçam vivas, é como a maturidade chegando. Aliás, sempre ouvíamos há 15 anos que o rap ainda era uma criança. Creio que hoje passamos desta fase e esta criança não conseguiu evitar seu crescimento. Ela se emancipou, evoluiu, errou, acertou, mas, acima de tudo, aprendeu. Desceu o morro para mostrar sua importância, ganhar dinheiro, para dar continuidade à sua luta e para vencer na vida. Afinal de contas, chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor.
EMICIDA É COMPOSITOR E CANTOR DE HIP HOP


Fonte: O Estado de S. Paulo
26 de março de 2011 | 0h 00
Marcos Diego Nogueira - O Estado de S.Paulo

Lá se vão mais de 13 anos desde a morte de Fela Kuti, criador do afrobeat, e sua obra só cresce em diversos cantos do mundo. No Brasil, nunca se viu tantos grupos seguindo à risca a cartilha do mestre. Se desde Chico Science com a Nação Zumbi os brasileiros rondam o estilo marcado pela bateria sincopada, o baixo hipnótico e melodias fortes de metais, hoje há no País nomes que partem explicitamente do ritmo.

O combo Bixiga 70, que se apresenta amanhã no Dia Internacional do Grafite, é um dos bons exemplos do movimento. Os dez músicos do grupo uniram-se em agosto para tocar na versão paulistana do Fela"s Day, a Festa Fela, celebração anual que ocorre em diversos cantos do planeta, no aniversário do criador do afrobeat. No repertório, releitura de clássicos do gênero e temas próprios. "Não queremos ficar presos ao que já foi feito, queremos fazer a nossa versão desse ritmo que a gente admira", diz o tecladista Maurício Fleury. "Por isso nem colocamos o termo "orquestra" no nome, pois queremos fazer algo nosso."

História parecida têm os cariocas da Abayomy Afrobeat Orquestra. Autodenominados a primeira orquestra de afrobeat do País, comandados por Donatinho, filho do maestro João Donato, os 13 músicos se dividem entre sopros, baixo, guitarra, bateria e teclado para celebrar Fela Kuti. Seu primeiro show? A versão do Rio para o Fela"s Day. Os álbuns dos dois grupos são esperados para este ano, mas é possível ouvir uma prévia na internet, via MySpace.

Tributo. Foi em 2009 que o experiente Letieres Leite lançou seu primeiro disco à frente da Orkestra Rumpilezz. Na época o maestro, que já gravou com jazzistas pelo mundo, fez com os seus 20 músicos uma ode aos ritmos baianos. O resultado foi um dos grandes discos e shows de afrobeat do Brasil. "Gosto dessa estética do mantra evocada pelo baixo e a percussão do estilo africano. Utilizei em alguns momentos essas repetições no grave, mas considero que tenha feito algo mais largo, abrangendo o jazz, erudito e principalmente o afro-baiano, minha maior fonte de inspiração", conta ele, que reunia os amigos no bairro do Pituassu para ouvir um LP de Kuti. "Reza a lenda que foi Gilberto Gil quem trouxe esse disco para nós. À época ouvíamos muito Earth, Wind and Fire e coisas do gênero, mas quando chegou o Fela ninguém mais queria mudar", lembra Letieres, que planeja novo grupo mais fundado no ritmo nigeriano.

A onda do afrobeat para novas experimentações tem rendido frutos também na Paraíba. O quinteto Burro Morto vem aparecendo com destaque em festivais pelo Brasil (como o Jambolada 2010), misturando o ritmo com rock progressivo e psicodélico, registrado no recente Baptista Virou Máquina, uma espécie de ópera instrumental. "A batida e o ritmo do afrobeat se encaixam com perfeição a outros elementos presentes na nossa sonoridade", detalha o guitarrista Léo Marinho.

A internet como fonte de pesquisa e o relançamento da discografia de Fela Kuti em CD são fatores para o aumento de admiradores do estilo. E não só Kuti e sua família são amados. Músicos como Orlando Julius e o baterista Tony Allen são tidos como mestres supremos. Mas esse fôlego renovado também tem a ver com bandas novas surgidas na América do Norte. Antibalas Afrobeat Orquestra, Nomo e Budos Band revisitam o gênero sem perder a originalidade de quem preza o estilo.

Quatro grupos em cantos diferentes do Brasil dão a sensação de que uma cena está em formação. O resultado disso só veremos - e ouviremos - ao longo do tempo.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
Trabalho traz composições autorais em que samba, bolero, reggae, soul e rap se misturam
Figura importante no universo do hip-hop paulistano, artista foi um dos criadores das Rinhas de MC's
DE SÃO PAULO

Ele vive, atua e cria no plano da inconsciência. E ninguém que se proíba tirar os pés do chão da vida real será capaz de entrar em contato com a melhor parte do que ele faz, do que tem a dizer.

É isso que repetem os amigos de Kleber Gomes, 35 -o Criolo. E não é preciso mais do que uma conversa de 15 minutos com ele para também concordar. Ou menos: basta ouvir sua música.

Figura influente no universo hip-hop há mais de 20 anos (assinava Criolo Doido), ele lança agora "Nó na Orelha", primeiro trabalho que dedica ao gênero "canção".

"A construção das músicas funciona da mesma forma: as letras têm que dar uma sarrafada na cabeça de quem ouve", diz. "Uma música pode derrubar uma nação. E levantar outra."

Produzido por Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, o álbum é feito dessas sarrafadas certeiras. Em cada uma delas, Criolo se expõe absurdamente. Transborda. Quem está conectado vai junto.
"Nunca vi um show do cara em que alguém não saísse chorando, completamente tomado por ele", diz Ganja.

Criolo faz canções -transitando entre o samba, o soul, o reggae e o brega- há mais de dez anos. E sua ideia inicial era não colocar nenhum rap no disco. Mas os produtores não deixaram.

"A gente falou que ele tinha que fazer justamente essa interseção, porque a força do passado dele no rap é absurda", diz Ganja. "Era muito importante para que as pessoas entendessem quem era ele, de onde ele veio."

CAFÉ FILOSÓFICO

Ele veio da periferia de São Paulo. Nasceu em Santo Amaro, mas passou toda a infância e adolescência no Grajaú, onde vive até hoje.

O pai era metalúrgico. A mãe, a benzedeira do bairro.

Quando foi matricular o filho no segundo grau, ela pediu: "Será que posso me matricular também?" Cursaram na mesma turma, mãe e filho, os três anos escolares.

"Aí é que acontece a mágica da vida: enxergar a pessoa sem o personagem mãe", diz Criolo. "E você vê o quanto essa pessoa escolheu dar alguns punhados de anos e dedicação a você, danadinho. É deslumbrante."

Conta que a mãe foi muito além dele nos estudos. Formou-se em filosofia, com pós-graduação em línguas, literatura e semiótica. Recentemente, ela implantou um café filosófico no Grajaú.

Ele abandonou, para nunca mais voltar, as faculdades de artes e pedagogia. Corria atrás do dinheiro, como vendedor nas Lojas Americanas, nas lojas de calçados DIC ou na rua, vendendo cocada e roupas de porta em porta.

A carreira de MC começou quando ainda era uma criança de 12 anos. Chegou a lançar um álbum de rap -que, num presságio do que viria, já tinha uma canção.

E, mais importante que tudo isso, foi um dos criadores (junto com DJ Dan Dan) das Rinhas de MC's, batalha periódica em que os mestres de cerimônias rimam de improviso, o chamado "freestyle".

Antes de pensar em gravar "Nó na Orelha", Criolo já havia dado por encerrada sua carreira de MC. "Tipo semancol, sabe? Ciclos se abrem e se fecham e a gente tem que se dar conta disso", diz, com voz doce e olhos molhados.

Quase chora algumas vezes. Sorri quando comenta que algumas composições suas estarão em próximos discos alheios: da cantora Marcia Castro, do produtor Gui Amabis (cantada por Céu), do coletivo 3 na Massa.

Os limites já não existem.

"Quando você conhece só a pracinha, vai só até a pracinha. Mas quando descobre o cinema, cara, é uma loucura. Não dá mais pra voltar. Você já virou outra pessoa."
(MARCUS PRETO)


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
ALEXANDRA MORAES
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Se Criolo fosse um rapper típico, teria conseguido, com "Nó na Orelha", ultrapassar o ponto mais alto do rap brasileiro, atingido talvez em "Vida Loka (Parte 2)", dos Racionais MCs.

Mas o feito desse artista extrapola o limite do rap. Às faixas mais fiéis ao gênero, como "Subirusdoistiozin" e "Sucrilhos", Criolo e os produtores Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral conseguem imprimir sofisticação atípica.

Brilha a habilidade com que Criolo transita do rap ao dub ou daí para um samba -a faixa de abertura, "Bogotá", de inspiração afrobeat, é boa mostra do que virá.

O maior expoente da grandeza de Criolo é "Não Existe Amor em SP", que se espalhou na internet com a força de uma catarse coletiva.

Sobre batidas que recuperam o que de mais fino há no soul brasileiro, ele manda versos que ecoam e reparam aquela São Paulo dos Racionais, onde "Deus é uma nota de cem". A cidade de Criolo é "um labirinto místico onde os grafites gritam", "a ganância vibra, a vaidade excita": "Aqui, ninguém vai pro céu".

NÓ NA ORELHA
ARTISTA Criolo
LANÇAMENTO independente
QUANTO R$ 20 (CD); R$ 65 (vinil)
AVALIAÇÃO ótimo



Fonte: O Estado de S. Paulo
Estudo de Moacir Amâncio apresenta ao público brasileiro a obra original da israelense Yona Wollach
26 de março de 2011
Cecilia Almeida Salles - O Estado de S.Paulo

Yona e o Andrógino: Notas Sobre Poesia e Cabala, de Moacir Amâncio, oferece ao leitor brasileiro uma ampla apresentação da poeta israelense Yona Wollach, que nasceu em 1944 e "viveu e escreveu com rapidez, ou seja, apenas 41 anos".

Sua poesia parece ser marcada pela exacerbada ausência de fronteiras. Não se trata de superar dicotomias mas de experienciar indefinições. O significado arredio de seus poemas é responsável por textos-móbile, como peças de Calder. Uma "poesia que se move e não se deixa prender", com narradores que alteram o ponto de vista e de "sexo duvidoso, o que permite a aplicação de ele ou ela para a mesma personagem", confundindo o papel do gênero; o bissexual e o andrógino sempre de volta "como elemento perturbador".

Amâncio flagra a força da materialidade dos poemas de Wollach na construção de uma nebulosa mobilidade: é na língua que ela "opera o fim dos compartimentalismos, por exemplo, entre natureza - sexos - e poesia, bem e mal, alma e corpo ou almacorpo". Tudo acontece em "dicção anticonvencional que absorve irregularidades gramaticais da oralidade".

Ao mesmo tempo em que se assume e é tida como mística, num mundo em que a religião é vista como um grande objeto que se torna desmontável, a poeta propõe a eucaristia de modo próprio: a transubstanciação da carne em verbo polivalente. É na poesia que Wollach encontra seu ritualismo próprio: realização performática a ser recuperada integralmente pelo leitor. Amâncio afirma que "na sua veia herética, é uma poetisa envolvida pelo vigor da magia oral, isto é, o senso da palavra transformatória que transcende o sacerdote ou poeta ao proferi-la ou ao escrevê-la".

Amâncio lança mão de um sutil entrelaçamento da vida e das obras "desconcertantes" de Wollach, fugindo da busca simplista e pontual por fatos biográficos como chave interpretativa de seus poemas. O autor faz referência ao clássico A Morte do Autor de Barthes, e afirma que "a figura do autor não deveria ser vista como a solução do texto, embora isso não determine sua inexistência". Ficamos, assim, sabendo que a poeta foi "expulsa da escola de segundo grau, estudou desenho, não conseguiu se fixar em empregos, negou-se a criar juízo". Conhecemos também as fixações literárias de Wollach, como seu constante diálogo com Rahel Bluwstein, poeta hebraica nascida na Rússia.

É importante destacar que o livro de Amâncio vai além de Yona Wollach e responde à pergunta: o que move um tradutor em direção a um poeta? Ele conta que ao ler rapidamente o primeiro poema Ten laMilim (Deixa que as palavras), ouviu "a campainha cabalística e onomatopaica do título", e "ali mesmo na loja" decidiu que escreveria a respeito de Yona. Não por acaso esse poema foi traduzido, recebeu a atenção em um sensível segundo capítulo e é retomado em muitos outros. O tradutor foi movido pelo impacto estético do prazer literário, como "momento de adesão do leitor".

Ao comentar critérios adotados, o autor explicita alguns dos princípios que direcionam seu fazer tradutório. Ele diz, por exemplo, que num poema no qual Yona registra uma de suas visões lisérgicas, traduziu "maachelet por faca de abate, que aparece em Gênesis 22". Na relação entre observações como esta, surge uma teoria de tradução, que se caracteriza pelo diálogo com o professor, o crítico e o poeta. Trata-se do modo de ação de um tradutor singular, que expõe os alicerces que sustentam suas escolhas. Ao longo de nossa leitura, conhecemos o pesquisador, que estabelece nexos respeitosos com críticos e biógrafos. A voz do outro o auxilia em suas reflexões. Em um ambiente que exala o prazer que o conhecimento provoca, o leitor de Yona e o Andrógino se embrenha por meio de caminhos que se bifurcam, com informações sobre a cabala e a Bíblia, entre tantos temas.

Há ainda o Amâncio crítico. A partir de poemas nucleares, ele se aprofunda em pontos considerados relevantes para compreensão da obra de Wollach. Assim a poeta é contextualizada e nos aproximamos do ambiente de produção de seus poemas. Acompanhamos também as associações de um crítico que navega por uma grande diversidade de literaturas, artes e textos teóricos, ao tentar (e conseguir) dar conta da indefinição e da mobilidade da poesia de Yona. Há requintes críticos, como falar da biografia da poeta pelos olhos de Baudelaire. É mais uma camada que intensifica a complexidade da rede que sustenta sua tradução.

Na interação do tradutor, pesquisador, crítico e poeta, as "notas sobre poesia e cabala" ganham solidez e densidade de ensaios, que nos oferecem uma leitura instigante.

CECILIA ALMEIDA SALLES É PROFESSORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA DA PUC-SP



Fonte: Valor Econômico
30/03/11 - 00:00 > POLÍTICA ECONÔMICA
Renato Carvalhoagências

São PauloLíder no Brasil na área de quadrinhos, com 86% do mercado, a Mauricio de Sousa Produções (MSP) anunciou ontem parceria em uma área que considera estratégica, mas na qual ainda não possui forte presença: a de entretenimento digital. A empresa se unirá à produtora Digital 21 para criar uma nova companhia e lançar os personagens da Turma da Mônica e de outras criações em formato de animação, game e aplicativos para tablets.


Fonte: O Estado de S. Paulo
Quadrinista se une à produtora Digital 21 para lançar seus personagens em formato de animação, game e aplicativos para tablets  
29 de março de 2011 | 18h 03
Bianca Pinto Lima, do Economia & Negócios

SÃO PAULO - Líder no Brasil na área de quadrinhos, com 86% do mercado, a Mauricio de Sousa Produções (MSP) anunciou nesta terça-feira, 29, parceria em uma área que considera estratégica, mas na qual ainda não possui forte presença: a de entretenimento digital. A empresa se unirá à produtora Digital 21 para criar uma nova companhia e lançar os personagens da Turma da Mônica e de outras criações em formato de animação, game e aplicativos para tablets.

Batizada de Mauricio de Sousa Digital Productions (MSDP), a empresa tem um investimento estimado em R$ 15 milhões e espera faturar R$ 100 milhões em cinco anos. Segundo o sócio-diretor da Digital 21, Raul Dória, trata-se do maior investimento já feito em uma companhia do setor na América Latina.

A MSDP nasce com uma parceria fechada com o canal de TV paga Cartoon Network, em uma coprodução de episódios 3D da Turma do Penadinho. O novo programa também será exibido na TV aberta, mas com um atraso de seis meses e com exclusividade pela TV Globo.

"A parceria coloca a animação brasileira em um novo patamar", afirma o diretor geral do Cartoon Network na América Latina, Barry Koch. O novo programa será transmitido inicialmente apenas no Brasil, mas o canal faz planos de levá-lo em um segundo momento para a região da América Latina e depois para Estados Unidos, Europa e Ásia.

Outro projeto importante é o aplicativo, livro e game do personagem Penadinho para iPad, o tablet da Apple, o primeiro projeto editorial em mídia digital do quadrinista Mauricio de Sousa. A MSDP, segundo o desenhista, está no mesmo nível de conteúdo e tecnologia das grandes produtoras internacionais. "A empresa nasce para atender uma demanda crescente e permanente que não estávamos mais conseguindo atender", afirma o desenhista, de 75 anos. No ano passado, ele começou a estruturar a sucessão da empresa entre os dez filhos e a profissionalizar a gestão da companhia, processo que abriu caminho para parcerias.

A nova marca também pretende atuar fortemente na área de licenciamento, setor que movimenta no Brasil cerca de R$ 4,4 bilhões por ano e já tem a Mauricio de Sousa Produções entre os principais players, ao lado de Disney e Warner.

Parques temáticos

Além do foco em animações, Mauricio de Sousa também prepara o lançamento de dois parques temáticos em São Paulo. O Parque da Mônica, que após 17 anos fechou as portas no Shopping Eldorado, será reaberto em 2012 no shopping Nova 25, que está sendo construído na Marginal do Pinheiros. Já o parque do Cebolinha terá uma estrutura mais enxuta e parte dela deve ser inaugurada ainda este ano. O local do empreendimento não foi revelado.


Fonte: O Estado de S. Paulo
30 de março de 2011 | 9h 00

Produto de alto apelo infantil, A Turma da Mônica nunca cativou na TV e no cinema o público arrebatado nos gibis. É que enquanto as crianças já viam animações como A Era do Gelo, repletas de efeitos computadorizados, a Mônica ainda aparecia na versão chapada de desenho em 2D.

Ontem, a Mauricio de Sousa (não mais Produções, e agora "Digital Productions") anunciou que a chegada do Penadinho ao Cartoon, com 26 episódios de 11 minutos cada, no fim do ano, será em versão 3D (não o 3D com uso de óculos, bem entendido). Para tanto, a empresa se associou à Digital 21. Um pacote transmidia, com filme e aplicativo para iPad, vem aí, sob investimento de R$ 15 milhões.


Fonte: Folha de S. Paulo
Após uma década e meia de ausência, Luluzinha , 76, retorna às bancas brasileiras
ALEXANDRA MORAES
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Pouco mais de 15 anos depois de ter deixado as bancas, Luluzinha está de volta.
A menina criada por Marjorie Henderson Buell, ou Marge, em 1935, retorna aos gibis neste mês pela Ediouro.

A editora comprou os direitos de publicação após o fim do contrato da Dark Horse/Classic Media com a Devir -responsável pelo lançamento de oito livros dedicados à turma entre 2004 e 2010, em preto e branco.

Agora, as histórias, marcadas pela rivalidade entre meninas e meninos e a décadas de distância de skate ou videogame, vão reestrear em cores, como revistinha.

Elas vêm com um almanaque em que a turma da Lulu Jovem -criada no Brasil em 2009, com foco nos pré-adolescentes- conduz novos leitores pelo mundo da Luluzinha clássica. O alvo mais certo, porém, é outro: colecionadores e admiradores da Lulu de sempre.


Fonte: Folha de S. Paulo
Primeiro número do gibi vem com almanaque em que a versão teen dos personagens apresenta turma clássica
Histórias que retornam às bancas foram feitas por John Stanley e Irving Tripp e com supervisão de Marge

Fotos Ediouro/Divulgação
Histórias da turma de Luluzinha que fazem parte do primeiro gibi e chegam às bancas brasileiras neste mês pela Ediouro
DE SÃO PAULO

Longe das bancas há uma geração, Luluzinha retorna com o charme retrô acentuado: vem em histórias que apareceram nos anos 1950.
Com tiragem inicial de 40 mil exemplares, as duas primeiras edições das revistinhas de Lulu que chegam agora às bancas fazem parte da coletânea "The Treasure Map and Other Stories", que sai em maio nos EUA.

Essas e as histórias que serão lançadas em seguida foram criadas, em sua maioria, por John Stanley e Irving Tripp, que trabalhavam sob supervisão da criadora de Lulu, para guiar as intrigas da turma.

Stanley foi o responsável por ter transformado as charges da menina inventada por Marge em histórias como as conhecemos hoje, tendo criado muitos dos personagens que se tornaram clássicos junto com Luluzinha.

"As histórias da Luluzinha e sua turma tratam de temas universais e atemporais", diz Daniel Stycer, editor-chefe do selo Pixel, da Ediouro, responsável pela publicação.

Ninguém ali tem superpoderes, não há adaptações ou tentativas de inserir diversões modernas nas histórias em que os personagens brigavam pela conquista de territórios imaginários no próprio bairro ou lavavam cachorros da vizinhança.

A certa altura, um disco de vinil surge como figurante, e às vezes entram em cena armas de brinquedo e serrotes -estranhos a um mundo que os rejeita totalmente ou que, de modo paradoxal, os substitui por armas bem menos pacatas. As histórias, porém, mantiveram o viço.

"São meninos e meninas muito engraçados, que gostam de pregar peças uns nos outros, que falam e fazem bobagens e se divertem como qualquer criança de qualquer país, de qualquer época", diz o editor.

Mesmo assim, o primeiro volume de "Luluzinha" vem com uma espécie de guia de viagem para os novos leitores -um almanaque de 32 páginas sobre quem é essa Lulu de cachos e vestido.

A volta à versão tradicional da Luluzinha não aposenta a releitura teen -lançada na esteira da "Turma da Mônica Jovem", em 2009-, em que Bolinha, logo ele, fica magro, e Luluzinha perde os cachos, as bochechas, o vestido, o laço.

Nesse sentido, o retorno da Luluzinha clássica, com Bolinha, Careca, Alvinho, Aninha e a bruxinha Memeia, não deixa de ter seu risco. "A partir dos 90, as HQs passaram a enfrentar concorrentes como animações cada vez mais sofisticadas, games e a internet", diz Stycer.

Mas ele é otimista. "A Luluzinha vai atingir adultos saudosos. E os personagens vão encantar as crianças de hoje, assim como em outras gerações." (ALEXANDRA MORAES)

LULUZINHA
EDITORA Pixel/Ediouro
QUANTO R$ 3,10 (48 págs.)

Fonte: O Estado de S. Paulo
Com 31 peças na mostra oficial e 370 no Fringe, o 20º Festival de Curitiba ° inicia hoje programação com potencial para ser mais do que vitrine
GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

A maior vitrine de peças teatrais do país inicia exposição hoje. Ao longo de sua existência, o evento ganhou destaque com uma gôndola que, ao fazer um recorte da cena teatral do país, expunha sobretudo obras apetitosas ao grande público.

"Sucesso não é desaforo", diz Lúcia Camargo, uma das curadoras. "Somos um festival comercial desde o primeiro ano, que depende da bilheteria para fechar o orçamento", diz o diretor geral Leandro Knopfholz.

Pois, quem diria, é esse mesmo festival que, neste ano, em sua vigésima edição, vivencia uma mudança que pode não beneficiar tanto seus bolsos, mas com certeza enriquece o teatro.

O cardápio da mostra oficial é como sempre variado, feito para agradar paladares diversos -mas até ele surpreende ao abrir espaço efetivo para a dramaturgia do país, para além dos habituais blockbusters, comédias, espetáculos de Cias. consagradas, de stand-up e musicais.

"É a primeira vez que o festival tem a dramaturgia brasileira como eixo curatorial", diz Knopfholz.

O perfil investigativo do festival se evidencia sobretudo no Fringe, a polêmica mostra paralela, que desta vez abriga 370 peças.

A iniciativa não é da organização do evento, mas dos grupos que criaram nove mostras com curadorias. Cada uma apresenta entre cinco e dez espetáculos ou leituras cênicas.

O objetivo é garantir sobrevivência ao pensar teatral e, claro, aos grupos -não é tarefa fácil conseguir visibilidade neste mar de opções que é o Fringe.

TOMANDO CONTA

"Um festival que dura tanto tempo, e que tem tal projeção no país, tem, de certa forma, que ser tomado pelos artistas", diz Marcio Abreu, diretor da paranaense Cia. Brasileira de Teatro, grupo que se firmou como um dos mais interessantes do país.

Abreu sentia falta de um espaço para a troca entre artistas. Idealizou um evento de leituras que investiga o ineditismo em diferentes vertentes artísticas e reúne pesquisadores de linguagem, como os autores e diretores Roberto Alvim e Grace Passô.

Também apresenta o novo trabalho da Cia., "Oxigênio", de Ivan Viripaev.

"O teatro de investigação está ganhando maior evidencia no Fringe", diz o autor e diretor curitibano Marcos Damaceno, responsável pelas mostras Sesi Dramaturgia e Novos Olhares. Os eventos apresentam uma nova geração de dramaturgos, como Diego Fortes, que escreveu e dirigiu "Os Invisíveis" em colaboração de Grace Passô.

Ivam Cabral, o único do time que não é do Paraná, traz a efervescência da praça Roosevelt para Curitiba, na mostra intitulada Conexão Roosevelt.

Cabral participou deste movimento curatorial que começou a se destacar no ano passado. Contava com dois adeptos: ele e o ator Chico Pelúcio.

As mostras Novos Repertórios e Novelas de Todos os Cantos também voltam-se para inovação teatral.

"Além de incentivar encontros entre companhias que conseguem dialogar artisticamente, o público também se beneficia no momento de montar sua agenda de espetáculos", diz Pablito Kucarz, integrante do grupo Teatro de Breque, de Curitiba, e um dos curadores da mostra Novos Repertórios.

O diretor do festival acredita que o futuro do Fringe esteja neste movimento curatorial. "É maravilhoso isso. Espero que este movimento só cresça", diz Knopfholz.

Graças à mobilização de artistas, o Festival de Curitiba começa a revelar uma faceta essencial para um evento com sua relevância. Dá sinais de que pode ser mais do que uma vitrine. O evento pode tornar-se um espaço de experimentação


Fonte: O Estado de S. Paulo
Maratona teatral atinge maior equilíbrio em sua programação oficial
Novos trabalhos de Denise Stoklos, Cia. Sutil, Grupos Galpão e Clowns de Shakespeare estão entre as estreias
DE SÃO PAULO

É a primeira vez que a dramaturgia brasileira aparece como eixo curatorial do Festival de Curitiba. "Temos que traduzir o que acontece na cena, e vivemos uma efervescência na dramaturgia", diz a curadora Lúcia Camargo.

Autores de perfil investigativo, como Newton Moreno ("O Livro"), Ivam Cabral ("O Último Stand Up"), o recém premiado Jô Bilac ("Savana Glacial") e Sara Antunes, fundadora do Grupo XIX de Teatro ("Sonhos para Vestir") compõem a grade.

"Temos que entender o movimento. Acertar para não ficar fora da atenção da mídia", diz o diretor Knopfholz .

Se a mudança não é arriscada -até a ala jovem da grade já conquistou projeção-, responde bem às críticas recebidas nos anos anteriores, sobre o perfil excessivamente mercantilista do evento.

A 20ª edição surge mais equilibrada. Até espetáculos de grande público aliam arte e entretenimento.

É o caso de "Sua Incelença, Ricardo III", da Cia. Clowns de Shakespeare, sob direção de Gabriel Villela, que abre o festival misturando Hamlet com nordeste, e da pré-estreia "Trilhas Sonoras de Amor Perdidas", segunda parte da trilogia Som & Fúria da Cia. Sutil -iniciada com "A Vida é Cheia de Som e Fúria".

Engrossam o caldo do festival o Grupo Galpão, que apresenta sua primeira montagem de Tchékov, "Tio Vânia (Aos que Vierem Depois de Nós)", dirigida por Yara de Novaes e Denise Stoklos com "Preferiria Não?", versão personalíssima do conto "Batlerbly", de Herman Melville. (GABRIELA MELLÃO)


Fonte: O Estado de S. Paulo
Com ...qualquer coisa a gente muda, Angel Vianna presenteia o público unindo palco e sala de aula
01 de abril de 2011 | 0h 00
Helena Katz - O Estado de S.Paulo

A imagem que encerra o espetáculo com Angel Vianna, João Saldanha (encenador) e Maria Alice Poppe, ...qualquer coisa a gente muda - apresentado no fim da semana passada no Sesc Belenzinho - tem a contundência das sínteses poderosas, que nos deixam mudos. Uma mesa nua, de linhas retas e secas, que já compunha a cena, é coberta por buquês de flores claras. São muitos, uns depositados sobre os outros. Quando o amontoado está pronto, Angel coloca no meio dele um buquê menor de tons solares, que se conectam com o verde de outro ramalhete.

Depois de se assistir até aquele momento, não poderia haver construção mais poderosa. Ao mesmo tempo, ela encapsula o que se passou e abre conexões com a própria situação da dança, e não somente com a dança de Angel Vianna. Transformada em metáfora viva do tempo, aquela mesa nos conta, sobretudo, do fim. Fim dos espetáculos (momento em que os artistas recebem flores), fim das carreiras (a obra nos faz pensar quando é que uma carreira acaba), fim da vida (as flores que recobrem a mesa se tornam referências das que cobrem os mortos e, com o verde e as cores vivas, indicam também o ciclo da produção de vida).

Angel tem 82 anos e celebra 62 de uma carreira marcada por duas mortes decisivas: a de Klaus Vianna, seu marido, parceiro na reproposição dos modos de fazer dança no País, e a de Rainer Vianna, filho de ambos, que se propôs a sistematizar tais ensinamentos. Em tudo o que Angel faz, os dois continuam presentes, explícita ou implicitamente - como é o caso aqui.

O tempo se manifesta também nos contrapontos, nos jogos e na harmonia que se constrói entre Angel e Maria Alice. A delicada sensibilidade com que Saldanha dirige ambas conjuga o melhor de cada uma. Tudo se adequa em rara justeza: não há sobras nem faltas. Há encaixe delicado entre a naturalidade com que cada gesto surge e a precisão com que é executado que deixa exposto que o tempo, em alguns casos, apenas adensa a autoridade de certos talentos. Cada movimento de Maria Alice confirma a rara qualidade do "saber fazer benfeito" que distingue o artífice. O acabamento preciso e a elegância com que desenha cada uma das impecáveis linhas de sua dança produzem um daqueles momentos cada vez mais raros na atual hemorragia de espetáculos que vem escorrendo pelos nossos palcos, aquela sucessão de instantes nos quais uma bailarina reestabelece o que é, de fato, fazer jus a essa denominação profissional.

Quanto à Angel, nos presenteia com mais uma lição, juntando palco com a sala de aula à qual dedicou a sua vida. Ao escolher Maria Alice para compartilhar esse momento, nos diz que as cadeias que enredam os grandes mestres na sua continuidade se tecem na combinação entre o dia a dia do trabalho com os afetos que dele nascem por sintonia. A competência de Saldanha a ajudou a mostrar que é possível fazer do tempo um parceiro, e que a dor das perdas pode ser temperada com ironia e humor.

Talvez o mais precioso legado seja a oportunidade de perceber que a transformação é sempre possível para os que se põem a favor da vida. Angel dança agora de forma diferente, com outro entendimento de expressividade, o que torna recomendável voltar ao título dessa joia, ...qualquer coisa a gente muda. As reticências estão no início e a mudança, no fim, no verbo conjugado no presente. Não é pouca coisa. Ao invés de um trabalho retrospectivo, que remetesse ao passado, este nos joga no futuro que já está sendo preparado no presente. Um presente-futuro no qual, a qualquer momento, a gente muda o que for necessário.



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