Notícias da Semana - 26/03 até 01/04/2011 - Parte 4

sábado, 2 de abril de 2011

Fonte: Folha de S. Paulo
Publicação dos livros começa em 2012, em versão impressa e eletrônica
Poeta mineiro era antes editado pela Record; mudança buscou novo perfil editorial, afirma agente literária
DE SÃO PAULO

Os livros do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) passarão a ser editados pela Companhia das Letras.

O anúncio foi feito na manhã de ontem pela editora. A obra do poeta, fora alguns títulos especiais que saíram pelo Instituto Moreira Salles e pela Cosac Naify, era editada antes pela Record.

Matinas Suzuki Jr., diretor executivo da Companhia das Letras, contou que a editora foi procurada pela família do poeta na semana passada.

"Foi tudo muito rápido. A família nos propôs a mudança", diz ele.

O fator decisivo para a troca de editora teria sido o trabalho que a Companhia das Letras vem realizando com a publicação das obras completas de autores como Vinicius de Moraes (1913-1980), Jorge Amado (1912-2001), Lygia Fagundes Telles e Erico Verissimo (1905-1975).

A obra de Drummond começa a sair pela Companhia a partir de 2012, data que marca os 25 anos de morte do poeta. O título de estreia ainda não foi definido.

No total, a obra completa do autor é formada por 44 livros: 23 de poesia, 20 de prosa (crônicas e contos) e um infantil. Além da versão impressa, todos serão lançados simultaneamente em formato eletrônico, os e-books.

Os livros também ganharão um novo projeto gráfico e a inclusão de notas, introduções e prefácios especiais.

Segundo Suzuki Jr., o acordo reforça a tendência da editora de se especializar em grandes autores brasileiros.

"Trata-se de uma obra extremamente valiosa, é um dos maiores poetas e cronistas do país. Nosso catálogo nacional fica agora muito forte", diz ele.

DESPEDIDA AMIGÁVEL

O contato entre os herdeiros de Drummond (os netos Pedro e Luís Maurício) e a Companhia das Letras foi intermediado pela agente literária Lucia Riff, sócia da Agência Riff.

Segundo ela, a Record tinha feito um bom trabalho nos últimos anos e a saída foi "amigável, sem crise".

"A família estava satisfeita, mas queria uma mudança de perfil editorial. A Companhia das Letras representa um trabalho editorial mais refinado e tem uma força de venda maior."



Fonte: Valor Econômico
Caderno: Brasil / pg. A2
Luciano Máximo | De São Paulo
28/03/2011

Levantamento com 311 secretarias municipais de Educação de São Paulo feito pela Fundação Lemann revela que 80% das cidades recorrem à contratação de professores temporários, 40% das localidades consultadas ainda não estabeleceram padrões curriculares na rede de ensino e cerca de 50% não elaboraram planos municipais com diretrizes de políticas educacionais de longo prazo. Na opinião de especialistas e autoridades, os números são "graves" e comprometem a qualidade da educação. Esses e outros dados serão discutidos a partir de hoje no seminário "3º Seminário Líderes em Gestão Escolar", promovido pela Fundação Lemann e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), em São Paulo.

A professora Maria Izabel Noronha, presidente do Sindicato de Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), explica que a contratação temporária no magistério afeta diretamente os projetos pedagógicos das escolas. "É um número assustador e inadmissível, significa uma rotatividade brutal. Isso interrompe a continuidade, porque o professor tem que estar sempre recomeçando um trabalho do zero."

Uma justificativa para o alto índice de contratação de temporários na educação é a própria burocracia do serviço público, explica a consultora da Fundação Lemann Paula Louzano. "Não é um processo trivial fazer concurso público. Às vezes é necessário fazer acordo com a área de finanças, há entraves do período eleitoral e casos em que a maioria dos candidatos aprovados não assumem a vaga."

O secretário municipal de Educação de Jacareí, João Roberto Costa de Souza, acrescenta que a necessidade de cobrir faltas, licenças médicas e afastamentos também obriga as cidades a optar pelos temporários. "Mas em muitas redes a questão é financeira mesmo. Contratamos 251 professores efetivos em 2010, no primeiro concurso para o magistério em dez anos na cidade", conta Souza.

Em Diadema, 100% do magistério é efetivo. "Seguimos o plano de carreira e abrimos concursos públicos a cada dois anos. Em caso de problemas de carência na rede, nossos docentes aumentam a carga horária ou usamos os volantes, que são os professores substitutos, que também são concursados", comenta Lucia Couto, secretária municipal de Educação de Diadema.

Maria Izabel, da Apeoesp, chama atenção para o "prejuízo futuro" causado por essa prática. O resultado do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp 2010), divulgado na semana passada, mostrou que a qualidade do ensino médio e do último ano do fundamental caiu na comparação com 2009.

"O professor temporário perde vantagens do plano de carreira da profissão e tem defasagem salarial. É uma lógica econômica pouco eficaz, porque terá um impacto negativo no futuro e forçará o Estado ou o município a gastar mais para corrigir o problema", pondera Maria Izabel.

Para a presidente da Apeoesp, a instituição de um processo de seleção nacional de professores em 2012, pelo Ministério da Educação (MEC), vai diminuir custos de municípios para a contratação de professores concursados.

Dos 311 municípios avaliados pela Fundação Lemann, 191 (61%) adotaram orientações curriculares. Desse total, 120 começaram a estabelecer os currículos pedagógicos somente a partir de 2007. "É um dado preocupante, porque um aluno que está hoje no 9º ano passou por uma escola sem padrão de ensino, com o professor ensinando o que acha que deve ensinar e não a diretriz da rede", diz Paula Louzano. Segundo ela, a ausência de um currículo padrão está associada aos problemas fundamentais verificados nas avaliações educacionais, como o nível de leitura, capacidade de calcular e interpretação de textos.

Em Jacareí, a adoção de livros didáticos de maneira uniformizada para todas as escolas da rede municipal foi o principal passo para fazer valer a diretriz curricular na educação. "Representantes de cada escola votaram pela utilização de um único título para cada disciplina e criamos um marco legal. Estabelecemos um padrão de ensino, a melhor forma que encontramos para gerenciar o processo pedagógico no sistema de ensino, e já estamos colhendo resultados", afirma o secretário João Roberto Costa de Souza.

O levantamento da Fundação Lemann indica que 78 das 311 cidades adotam algum material estruturado de ensino. No caso de Jacareí, a opção foi pelos livros distribuídos gratuitamente no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do MEC. "Fazemos economia, tem muita rede que compra apostilas de grupos privados, que chegam a ter um custo anual de R$ 300 por criança", completa Souza.


Fonte: Valor Econômico
Caderno: Especial / pg. A16
Charles Forelle | The Wall Street Journal
28/03/2011
Yaroslav Trofimov/The Wall Street Journal

Sophie Alves, aluna do ensino médio em Penafirme, diz, durante um protestos de alunos contra os cortes de gastos: "Só com o diploma do ginasial você não consegue fazer nada, só ser garçonete"Isabel Fernandes, uma animada jovem de 22 anos com uma constelação de estrelas tatuadas em torno de seu olho direito, não tem certeza de quantas vezes repetiu a quinta série. Duas, diz ela, com uma risada, talvez três. Ela repetiu a sétima série também. Isabel abandonou a escola após cursar a oitava série, aos 20 anos de idade.

Ela mora num bairro pobre perto do aeroporto. E não trabalha. Os empregadores, diz ela, "estão exigindo formação superior". Até mesmo empregos de limpeza estão difíceis de encontrar.

Portugal é o país mais pobre da Europa Ocidental. É também o menos escolarizado - e isso veio à tona como uma dolorosa vulnerabilidade em meio à sua crescente crise econômica.

Na noite de quarta-feira, a crise econômica tornou-se uma crise política. O Parlamento português rejeitou o plano de cortes de gastos e aumentos de impostos do premiê José Sócrates. Sócrates apresentou sua demissão. Ele permanecerá interinamente até que um novo governo seja formado.

Sem os cortes orçamentários, é quase certo que Portugal necessitará ajuda internacional. O país ficará sem dinheiro neste ano, caso não haja dinheiro novo, e os mercados estão cobrando taxas punitivas para conceder empréstimos.

Isso deixou os líderes da União Europeia (UE), reunidos em Bruxelas na quinta, atabalhoados para montar planos de contingência para o que poderá ser o terceiro socorro na zona do euro, após as ajudas a Grécia e Irlanda.

O estado do ensino em Portugal diz muito sobre por que um socorro será provavelmente necessário e por que um socorro seria caro e difícil. Portugal, simplesmente, precisa gerar suficiente crescimento econômico no longo prazo para zerar seu grande endividamento. Uma força de trabalho não qualificada torna isso difícil.

A mão de obra barata que no passado sustentou a indústria têxtil em Portugal desapareceu - foi para a Ásia. Os países que antes pertenciam ao bloco oriental e aderiram em massa à UE em 2004 demandam salários mais baixos e têm maior escolaridade. Eles vêm atraindo os empregos de maior qualificação.

Apenas 28% da população portuguesa entre 25 e 64 anos tem curso médio completo. Na Alemanha, são 85%; na República Tcheca, 91%; e nos EUA, 89%.

"Não vejo como Portugal vá crescer sem educar sua força de trabalho", diz Pedro Carneiro, hoje economista do University College, de Londres, mas que já havia deixado Portugal para fazer sua pós-graduação nos EUA. Os problemas do ensino em Portugal mostram a extensão do desafio europeu ao tentar aprumar-se em meio à crise da dívida soberana.

Um rápido e doloroso corte orçamentário, como os aplicados em todo o continente, é o primeiro passo. Mas o segundo é bem mais difícil e levará muito mais tempo. Os 17 países interligados pelo euro têm níveis extremamente distintos de desempenho econômico. A menos que o abismo seja reduzido, as pressões que fizeram com que os mais fracos entre eles acumulassem grandes volumes de endividamento que têm dificuldade para honrar sem dúvida ressurgirão.

A melhoria da escolaridade em Portugal não virá rapidamente. Fortes cortes em seus gastos com educação tornarão a tarefa mais difícil. E mesmo que haja melhorias, a colheita dos benefícios poderá levar anos.

Grécia e Irlanda, dois países da UE que foram socorridos, chegaram relativamente rápido à beira do abismo: a Grécia se perdeu após revelações de que tinha subestimado grosseiramente a precária situação fiscal do governo; a Irlanda imolou-se numa orgia de especulação imobiliária.

A crise em Portugal, ao contrário, chegou à fervura em fogo lento. Durante uma década, o crescimento de português ficou aquém da média na zona do euro. Setores tradicionais, como a colheita de cortiça e a costura de calçados não poderiam energizar o país inteiro. O boom tecnológico de meados da década de 2000 passou praticamente ao largo de Portugal.

Apesar disso, os portugueses gastavam. A economia - governo e setor privado, reunidos - tinha um déficit acumulado, em relação ao resto do mundo, superior a € 130 bilhões na década passada. O Estado não tem um orçamento equilibrado, que dirá um superávit, há mais de 30 anos.

O resultado é uma pilha de endividamento. A dívida do governo, em parte dívida interna, deverá se aproximar de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. A economia como um todo - os setores público e privado -, tem uma dívida externa equivalente a mais de dois anos de produção econômica.

Antes de seu revés nesta semana, o premiê José Sócrates tinha conseguido que o Parlamento aprovasse alguns cortes no orçamento, sob pressão de outros países da zona do euro. Mas em entrevista antes da crise político de quarta-feira, Sócrates deixara claro que o investimento em educação é uma prioridade, apesar dos custos. Tranquilizar os mercados financeiros é importante, disse ele, mas o país não deve "perder sua estratégia e visão".

Apenas 28% dos portugueses entre 25 e 64 anos têm curso médio completo; na Alemanha, são 85%
Há evidências substanciais, de outros países, de que o ensino confere amplos benefícios econômicos. Uma geração atrás, a Irlanda era um dos países mais pobres na UE. Mas alocou subsídios da UE ao ensino técnico e renovou-se, transformando-se em destino de empregos de alta tecnologia, duplamente atraente devido a baixos impostos. A Irlanda é agora, mesmo depois de uma crise bancária brutal, um dos países mais ricos da Europa.

"Eles tinham uma força de trabalho suficientemente escolarizada para que pudessem converter-se em uma economia de base tecnológica - e eles partiram do zero", diz Eric Hanushek, professor da Universidade Stanford.

Hanushek e um professor da Universidade de Munique estabeleceram um vínculo entre crescimento do PIB e desempenho da população em testes padronizados. Eles estimam que a taxa de crescimento econômico portuguesa de longo prazo seria 1,5 ponto percentual maior se o país tirasse as mesmas notas que os superescolarizados finlandeses.

O ensino sempre ficou em segundo plano, aqui. "Países meridionais, como Portugal e Espanha - e o sul da França e a Itália -, sempre tiveram alguns problemas relacionados com a educação", diz António Nóvoa, historiador que é reitor da Universidade de Lisboa. "Tem sido assim desde o Século XVI."

A repressão da ditadura que governou Portugal de 1926 a 1974 defendia que "as pessoas não devem ter ambição de serem diferentes do que são", diz Nóvoa. O resultado foi analfabetismo generalizado e escassa escolaridade formal; apenas três anos eram obrigatórios. Enormes saltos foram dados desde a década de 1970, diz ele, mas "não é fácil mudar uma história de cinco séculos"

Portugal recém-instituiu 12 anos de escolaridade mínima; hoje, os portugueses podem abandonar os estudos depois da nona série. Muitos o fazem. O governo diz estar acelerando as reformas. Sócrates cita uma iniciativa que dá aos alunos computadores portáteis e um projeto de grande alcance de reconstrução de prédios escolares degradados. Os resultados para o ano passado mostram melhorias dos alunos em testes padronizados.

Mas é uma longa estrada. "Nós acumulamos anos e anos de pessoas ignorantes", diz Belmiro de Azevedo, um industrial bilionário.

Ele descreveu o sistema como "calcificado". O governo central exerce um controle rígido. Os currículos são a um só tempo pouco exigentes e rígidos. As taxas de desistência são elevadas. As escolas têm dificuldades para acomodar um afluxo de imigrantes das ex-colônias de Portugal na África, como Cabo Verde e Guiné-Bissau.

Uma iniciativa de avaliação de professores deflagrou greves e manifestações desgastantes em 2008, azedando as relações entre os poderosos sindicatos de professores e o governo. A vida política dos ministros de Educação é medida em meses - desde a que a ditadura terminou, em 1974, foram 27 ministros.

Para os críticos do sistema, uma discussão que vem sendo travada em torno das escolas semiparticulares é emblemática do que está errado. Com orçamentos apertados, o governo impôs cortes profundos nas escolas que estão à margem do controle estatal - pouco importando que algumas estejam entre as melhores.

A estrada ao norte de Lisboa eleva-se suavemente do estuário do rio Tejo e atravessa vales de pinheiros e campos de trevos amarelos. Cerca de 50 quilômetros à frente, no município de Torres Vedras, a população distribui-se rarefeita por pequenas cidades que salpicam as estradas sinuosas rumo ao oceano.

Numa das cidades, A Dos Cunhados, a escola local não é administrada pelo governo nem a ele pertence. Sua gestão está a cargo da Igreja Católica, num arranjo que remonta ao fim da ditadura, quando o Estado Novo português descobriu que não dispunha de instalações suficientes.

No Externato de Penafirme, como em 90 outras escolas que funcionam nos termos dos chamados "contratos de associação", o Estado paga uma taxa de gestão a uma entidade privada que cumpre, em linhas gerais, o programa do Estado, mas contrata seus próprios professores.

O vice-diretor, Carlos Silva, antes deu aulas de química na rede pública de ensino. Ele foi realocado a quatro escolas em quatro anos. Frustrado, demitiu-se e entrou para um seminário. Depois, como padre, pediu ao bispo para retornar às salas de aula e foi alocado no Externato de Penafirme.

Em vez de receberem professores de uma lista, padre Silva e outros gestores dessas escolas semiparticulares selecionam seus próprios mestres. Eles adequam os currículos, acrescentando, por exemplo, mais instrução religiosa. Eles montam equipes de professores responsáveis por alunos e tentam resgatar aqueles inclinados a desistir.

"Nós fazemos um esforço enorme para levá-los, todos, até o final", diz José Mendes, administrador da escola. As notas obtidas por Penafirme nos testes a colocam entre as 15 melhores escolas secundárias em nível nacional. É a melhor em Torres Vedras.

Seus defensores dizem que as escolas sob gestão particular injetam uma dose necessária de pensamento renovado. "Precisamos manter um sistema diversificado", diz Eduardo Marçal Grilo, um ex-ministro da Educação.

Se há uma escola pública e uma privada no mesmo lugar, diz ele, "vamos ver qual é a melhor e, se a melhor for particular, o Estado pode fechar a pública e dar apoio à particular".

Mas em novembro os sacerdotes de Penafirme sofreram um choque. Enfrentando problemas financeiros - o orçamento do governo para a educação diminuiu 11% neste ano -, o Ministério da Educação disse que irá cortar de, em média, € 114 mil por turma, para € 80 mil, a verba que subsidia os contratos de associação. O padre Silva diz que gasta € 85 mil por turma apenas em salários e benefícios.

Para a atual ministra da Educação, Isabel Alçada, "não é justo" direcionar seus escassos recursos para entidades privadas, como Penafirme, enquanto as escolas públicas regulares têm necessidades graves. O que era antes um programa destinado a preencher lacunas transformou-se em "competição", reclama ela, na qual as operadoras privadas configuram trajetos de ônibus para atrair alunos.

Confrontado com os cortes, grupos de pais e alunos organizaram-se. Em dezembro, 4 mil pessoas deram-se as mãos formando um grande círculo em torno do campus de Penafirme. As imagens chegaram à TV. Surgiu um grupo no Facebook.

O ensino sempre ficou em segundo plano. "É assim desde o Século XVI", diz o reitor da Universidade de Lisboa
Em janeiro, houve uma greve três dias de alunos de dezenas de escolas sob gestão privada. Para dramatizar a alegação de que os cortes significariam a morte de suas escolas, pais e alunos de 55 colégios transportaram caixões até Lisboa e os colocaram na divisória central à frente do Ministério da Educação.

No mês passado, o Ministério da Educação cedeu um pouco, aceitando restaurar, neste semestre, parte dos recursos cortados.

Paulo Gonçalves, vendedor da Hewlett-Packard que atende o mercado empresarial e é presidente da associação de pais do Penafirme, diz que a flexibilização foi uma vitória, mas é preciso mais dinheiro para manter a alta qualidade suficiente para preparar os estudantes para uma faculdade. "Se você conquistar um diploma, em Portugal, ganhará mais ou menos o dobro dos não diplomados", diz ele. "Isso é o que eu ensino os meus filhos."

Isso é particularmente verdadeiro com o desemprego superior a 11%. "Com a crise, temos de ir à universidade", diz Sophie Alves, que em breve irá se formar em Penafirme e pretende estudar terapia ocupacional em uma faculdade. Só com um diploma ginasial, "não dá para fazer nada, apenas ser garçonete".

Com menos escolaridade ainda, as perspectivas são ainda mais sombrias. Fernandes, a jovem de 22 anos que cursou até a oitava série, vem frequentemente a uma escola em Apelação, onde uma minúscula organização sem fins lucrativos denominada Projeto Liderança tenta convencer os jovens a voltar aos bancos escolares ou os ajuda a conseguir emprego.

Serafim Gomes, também de 22 anos, estava lá numa tarde recente. Ele abandonou a escola na oitava série, sonhando tornar-se jogador de futebol profissional. Não deu certo. Agora ele trabalha ocasionalmente como garçom e torce para conseguir um emprego melhor.

Marco Monteiro, 16 anos, foi recentemente expulso de sua escola habitual. Por mau comportamento, diz ele. Ele espera voltar. "Eu não tenho escolaridade suficiente para encontrar trabalho", diz ele, e talvez arranjar emprego num shopping center. O diretor do projeto Liderança, António Embalo, elogiou-o por suas habilidades mecânicas. Não pensa em frequentar uma faculdade, talvez estudar engenharia?

"Isso nunca passou pela minha cabeça", disse Marco Monteiro. "Eu não conheço ninguém que frequente", completa.

(Tradução de Sergio Blum)


Fonte: O Estado de S. Paulo
Caderno: Espaço Aberto
28 de março de 2011 | 0h 00
Fernão Lara Mesquita - O Estado de S.Paulo

A presidente Dilma Rousseff disse ao Valor no dia 17 que acha fundamental o Brasil apostar na formação de profissionais fora do País, especialmente nas áreas das ciências exatas, e que vai procurar parcerias com os Estados Unidos para um amplo programa de bolsas de estudos.

Nada mau para uma ex-guerrilheira, presidente do governo de um partido que, até há pouco, abraçava a ignorância como um valor e, desde sempre, teve a xenofobia como uma de suas marcas registradas.

As revoluções políticas têm sido cultuadas por aquilo que, na verdade, nunca conseguiram entregar. Bem olhados os fatos, o que elas normalmente fazem é substituir um opressor por outro à custa de muito sangue e muito sofrimento.

Democracia mesmo - é o que a História confirma - é sempre um subproduto das revoluções educacionais.

A primeira grande revolução educacional da era moderna foi o Protestantismo.

Quando Gutemberg tornou a Bíblia acessível a todos e Lutero denunciou a falsidade das "verdades" com que a Igreja sustentava o sistema de opressão que compartilhava com as monarquias absolutistas, o mundo se iluminou.

Na Inglaterra, os primeiros "protestantes" da mentira que prevalecera até então andavam pelo país, batendo de porta em porta, para ler a Bíblia para a multidão analfabeta e deixar-lhe a mensagem subversiva: "Não aceitem as verdades que vos chegam prontas! Aprendam a ler para poderem buscá-la por si mesmos. Só a educação liberta!".

Era essa a essência da revolução de Lutero, que fez uma única exigência aos príncipes alemães interessados em se livrar do papa insuflando o Protestantismo: educação obrigatória e gratuita para todos, bancada pelo Estado.

Foi assim que nasceu o mundo moderno.

Livre para voar, a inteligência, fertilizada pela experimentação, fez o mundo "renascer". E o pensamento científico, desafiando a religião, redesenhou toda a realidade à nossa volta.

Depois disso nada mais foi como era antes.

A Inglaterra plantou o marco inicial submetendo o rei ao Parlamento e o Parlamento ao povo. E a sua extensão americana, tomando por base o novo Universo newtoniano de corpos celestes em permanente movimento mantidos em suas órbitas pela ação das forças e contraforças da gravidade, desenhou a democracia de poderes independentes funcionando dentro de um regime de checks and balances e instituiu o esforço e o mérito individuais como únicos critérios de legitimação da riqueza e do poder que vem com ela.

A democracia moderna nasce da primeira grande vitória do pensamento científico sobre a ideologia (religião). E, daí por diante, seus progressos e retrocessos estarão sempre ligados a esse embate.

Um século mais tarde, o desmoronamento da economia e da sociedade rurais a mergulharia na sua primeira grande crise. Enfiando-se caoticamente por um território institucional virgem de instrumentos capazes de ordená-la, a economia industrial aprofundou a concentração da renda e a miséria e levou a corrupção a patamares inéditos. E a consequente desmoralização da democracia criou o caldo de cultura propício ao desenvolvimento de novos regimes de força.

A democracia resistiu e, eventualmente, reformulou-se, onde tinha fundamentos na educação. E caiu aos pedaços onde - como em Portugal, por excelência - tinha sido fruto de transplantes tão artificiais quanto superficiais, feitos apenas para dar sobrevida às velhas oligarquias de sempre.

Nos Estados Unidos a lei antitruste e as ferramentas de democracia direta inspiradas no modelo suíço - leis de iniciativa popular, referendo e recall (direito de impeachment a qualquer momento de qualquer funcionário eleito por iniciativa popular) -, conquistadas ao longo de uma luta de quase 40 anos, armaram a cidadania para retomar o controle do processo político e restabeleceram a legitimidade do sistema representativo.

Mas o que relançou a democracia americana para o seu período de apogeu, no século 20, foi mais uma profunda reforma educacional inspirada no chamado "movimento anti-intelectualista americano", que concentrou fortemente o ensino público nas ciências exatas, plantou as bases da revolução tecnológica e projetou a economia daquele país para os patamares de hoje.

O Japão, destruído moral e materialmente ao fim da 2.ª Guerra, foi o próximo a embarcar nas asas da educação. Convencido de que tinha perdido a guerra para a ciência do inimigo, concentrou-se absolutamente na construção de um sistema de educação para a ciência, a tecnologia e a inovação que, em pouco mais de 40 anos, transformou aquela pequena ilha desprovida de tudo, menos de gente com vontade e conhecimento, na segunda maior economia do mundo.

Coreia do Sul e Taiwan, igualmente sem recursos naturais e ameaçadas pelas ditaduras de que se tinham desmembrado, seguiram-lhe os passos por caminhos semelhantes aos que Dilma prescreve para o Brasil. Importaram técnicos e cientistas japoneses para ensinar o que sabiam em seus territórios, ao mesmo tempo que mantinham programas maciços de bolsas de estudos no Ocidente para seus estudantes.

A história é exatamente semelhante em todas as democracias construídas no século 20.

Com a educação pública inteiramente aparelhada ideologicamente e o sistema voltado exclusivamente para os interesses corporativos que o parasitam, é sempre aí que despertam, com o ânimo aplastado, todos quantos sonham com um Brasil democrático e sem miséria.

Saber que a presidente da República é um destes e está disposta a derrubar essa barreira, ainda que seja começando por formar uma nova geração de futuros professores onde quer que eles possam de fato aprender, é altamente animador.

JORNALISTA, ESCREVE NO SITE WWW.VESPEIRO.COM


Fonte: O Estado de S. Paulo
Caderno: Espaço Aberto
Entre as vantagens estão maiores salários e mais visibilidade, já que o professor dá aula para alunos espalhados por todo o País
28 de março de 2011 | 0h 00
Ocimara Balmant - O Estado de S.Paulo

Ao aviso de que as câmeras estão ligadas, Rogério Sanches Cunha olha para as lentes e "enxerga" 10 mil alunos espalhados por mais de 400 cidades do País. Nas próximas três horas, sua missão é fazer com que esses "concurseiros" aprendam mais um capítulo de Direito Penal. Enquanto Cunha fala em São Paulo, salas lotadas o assistem pelo telão, de Curitiba a Manaus.

"Não pestanejei na primeira oportunidade que tive de ir para o telepresencial", diz ele, que trocou as aulas em uma universidade de Campinas para se dedicar ao ensino a distância em cursos preparatórios para concursos públicos.

Cunha não é exceção. O crescimento dos cursos via satélite abriu um novo nicho para professores. Em todo o País, há cerca de mil unidades com mais de 250 mil alunos. Só a Rede de Ensino LFG, a maior do Brasil e onde Cunha trabalha, tem400 pontos.

O pacote de benefícios é atraente. Enquanto a hora/aula de um mestre em uma faculdade gira em torno de R$ 30 e nos cursos presenciais aumenta para R$ 100, no ensino telepresencial chega a R$ 500.

"Muitas vezes, o aluno compra o professor, não o curso. Faz sentido o valorizarmos", afirma Fernando Castellani, da coordenação pedagógica do Damásio. O curso tem cerca de 20 mil alunos telepresenciais e cresceu 75% em 2010.

Segundo a diretora executiva da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), Maria Thereza Sombra,um terço dos cursos já oferece a modalidade a distância. "É um mercado muito rentável. O número de alunos cresce absurdamente e, faturando mais, o curso paga mais aos professores."

Além da remuneração, a modalidade oferece mais visibilidade. Como fica conhecido no País todo, o professor é convidado para palestras e fideliza o público consumidor de seus livros.

Uma terceira vantagem é a entrada de docentes desconhecidos no circuito. "Antes, os professores famosos eram todos do Sudeste. O telepresencial possibilita que gente do Brasil todo dê aula para a mesma turma", diz Ricardo Ferreira, autor do Manual dos Concurseiros e idealizador da Feira do Concurso.

"O telepresencial é quase como uma progressão na carreira do professor", afirma Nathália Masson, professora de Direito Constitucional do Praetorium. Aos 28 anos, ela é a professora mais jovem do curso, que tem sede em Belo Horizonte. Começou no sistema quando tinha 24 anos e não pretende sair.

Toda semana, Nathália ministra cerca de 20 aulas a distância. "É comum eu gravar pela manhã e à noite. Às vezes, até à tarde. Falo para muita gente em um dia só. Quando digo boa noite, falo boa noite para mil alunos."

A superexposição, apesar de bem remunerada, exige do corpo e da cabeça, dizem os professores. "Minha preocupação com cem alunos é uma. Com mil, é dez vezes maior", diz Nathália. "Tenho de manter a atenção com o foco da câmera e também com a organização e o enquadramento da matéria no quadro."

Mercado disputado. Os altos salários e a oportunidade de se destacar provocam um aumento da procura. Nos processos seletivos, não faltam inscritos. A concorrência chega a ser de 15 candidatos por vaga. "Muitos querem, mas não temos muitos habilitados", diz Darlan Barroso, que dá aulas e coordena os cursos preparatórios para OAB na LFG. "O que vemos são pessoas com dom, mas que precisam ser lapidadas com técnicas de postura e exercícios de voz, por exemplo."

Só escapa da concorrência quem leciona disciplinas que entraram recentemente na bibliografia dos concursos públicos, como arquivologia e filosofia do direito. "Para essas matérias, por enquanto, chegam a sobrar vagas", afirma Ricardo Ferreira, da Feira do Concurso.

E o leque tem aumentado. Até carreiras mais tradicionais, como Medicina, já começaram a tatear nesse terreno. O curso SJT, que oferece aulas preparatórias para quem vai prestar residência médica, começou a gravar, editar e vender seu conteúdo. A modalidade já tem mil alunos e a expectativa é que a procura aumente 30% neste ano. Nos dias em que a aula é gravada, a remuneração do professor cresce 20%.

Falta espaço. Nas carreiras mais tradicionais nos concursos públicos, como as jurídicas e fiscais, parte dos interessados em lecionar é gente com bastante experiência em aulas preparatórias para concursos que ficou sem emprego exatamente por conta dessa tecnologia.

É que, com a difusão da transmissão via satélite, os cursos presenciais perderam espaço. É comum concurseiros que moram no interior ou fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro abandonarem seus cursos locais e se matricularem nos oferecidos pelas grandes franquias.

O resultado é um mercado que paga bem para quem consegue espaço, mas que economiza no número de profissionais necessários. O promotor de Justiça Gustavo Gazzola, por exemplo, lecionava em dois cursos preparatórios no interior de São Paulo. Com a chegada dos telepresenciais, um fechou e o outro se tornou unidade do Damásio.

"Para o professor que só trabalhava lá, significou desemprego", diz ele. Gazzola chegou a dar algumas aulas como professor convidado da Rede LFG, mas optou por aumentar sua carga horária nas universidades onde lecionava.

Apesar do aumento do interesse dos docentes, há muitos professores que consideram que ministrar aulas em universidade traz mais prestígio acadêmico. Segundo eles, escrever um livro direcionado a concurseiros, por exemplo, pode prejudicar o reconhecimento na academia.

PARA ENTENDER

Aula ao vivo pode alcançar 10 mil alunos

Normalmente, o professor ministra uma aula durante três horas em um estúdio vazio ou com alguns alunos. Na maioria das vezes, essa aula é veiculada ao vivo, em telões instalados em unidades de todo o País. Há casos em que 10 mil alunos assistem ao mesmo conteúdo simultaneamente. Ao vivo, os concurseiros enviam perguntas por e-mail. É comum o docente responder citando o nome do aluno, uma forma de prender a atenção e criar proximidade com o público.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Saber
Entre o total abandono e a didatização, pesquisadores avaliam o papel do educador na brincadeira na escola
Rodrigo Capote/FolhapressGABRIELA ROMEU
EDITORA-ASSISTENTE DA FOLHINHA

Foi ao completar um quebra-cabeça que ensinava palavras a seus alunos que Tânia Fortuna encontrou uma peça fundamental para entender a questão do brincar na escola. Depois de montar o jogo, um garoto da turma perguntou: "Professora, agora nós vamos brincar?".

A cena ocorreu há mais de 20 anos, mas a pergunta daquele aluno ecoa ainda hoje nas escolas, onde especialistas apontam distorções sobre como lidar com uma expressão tão genuína da infância.

O brincar tem papel essencial no desenvolvimento emocional, cognitivo, social e físico das crianças. Ligado à descoberta, ajuda em operações de concentração, observação, percepção e análise.

O educador, assim como descobriu Fortuna no início da carreira, é a peça fundamental desse quebra-cabeça. "Mas ele precisa achar um ponto de equilíbrio entre o total abandono e a didatização dessas atividades na escola", diz a pesquisadora, que está concluindo na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) doutorado sobre docentes que sabem conjugar o verbo.

Segundo Renata Meirelles, pesquisadora da cultura da infância, há um excesso de direcionamento dos professores nas atividades, com hora para começar e acabar.
Jurada do Programa pelo Direito de Ser Criança (que premia instituições de ensino que valorizam o brincar), ela aponta que há "uma confusão entre brincar e desenvolver uma atividade específica". E a brincadeira, defende, "não precisa vir carregada de conteúdos escolares".

"INFÂNCIA INDOOR"

Geração da chamada "infância indoor", confinada nas grandes cidades, meninos e meninas encontram na escola um dos poucos espaços reservados para brincar.

Quando a brincadeira ganha espaço na escola, a discussão volta-se para quem é o "dono da bola". Em campo, o papel do educador é de árbitro, técnico ou jogador?

Adriana Friedmann, autora de "O Desenvolvimento da Criança através do Brincar" (ed. Moderna), diz que o educador deve saber escutar e observar durante a brincadeira. "Tem que assumir o papel de antropólogo."

Para Fortuna, o professor tem que "entrar na brincadeira". "É parceiro", afirma Flora Giannini, diretora do Espaço Brincar, instituição privada de educação infantil de São Paulo. "Ele assume com as crianças os riscos, as ousadias e os imprevistos", completa Renata Meirelles.

ESPAÇO COMO ALIADO

Na creche da USP, crianças correm, escalam e balançam numa área sombreada por grandes árvores. Outras desenham na terra -só param para observar uma borboleta que passa. "O espaço deve ser um aliado", diz Rodrigo Flauzino, coordenador pedagógico do lugar.

Mas o relatório "Educação Infantil no Brasil", lançado pela Fundação Carlos Chagas em 2010, feito em instituições públicas e particulares de seis capitais brasileiras, detectou que espaços e atividades das creches e pré-escolas avaliadas são inadequados -de zero a dez, a média é de três pontos.

"Isso é reflexo de uma ignorância generalizada", afirma Maria Malta Campos, coordenadora da pesquisa.

A socióloga Gisela Wajskop, autora de "Brincar na Pré-Escola" (ed. Cortez), completa que os espaços escolares não são oásis do lúdico.

São marcados pela falta de contato com a natureza, sem áreas para desafios motores e com excesso de brinquedos, em vez de uma oferta de objetos diversos que estimulem o imaginário.

Há casos em que o espaço de brincar se limita a uma salinha lotada de brinquedos. "Assim, a escola só induz crianças consumistas. Brincar é uma linguagem e não um comportamento."


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Saber

DE SÃO PAULO O recreio das crianças inglesas não é só a hora de encontrar os colegas da escola. É também quando jogos tradicionais e ícones da era digital se encontram entre uma brincadeira e outra.

É o que apontou o estudo "Children's Playground Games and Songs in the New Media Age" (brincadeiras e cantigas infantis na nova era da mídia), lançado neste mês (www.bl.uk/playtimes).

Desenvolvido pelas universidades de Londres, Sheffield e East London com a British Library, o projeto acompanhou, entre 2009 e 2011, o comportamento de alunos no recreio em duas escolas do ensino fundamental.

"Jogos e cantigas continuam passando de geração em geração. Descobrimos, no entanto, que a mídia e as novas tecnologias têm influência crescente", afirma Jackie Marsh, da Universidade de Sheffield.

A pesquisa apontou que as crianças acabam incorporando elementos da TV, da internet e dos videogames em suas brincadeiras.

Assim, personagens de desenhos animados viram protagonistas no pega-pega e os programas de auditório são reproduzidos nos jogos de faz de conta, por exemplo.

Segundo Marsh, o mais surpreendente é que a escola é "o único momento em que muitas crianças têm contato com brincadeiras e jogos tradicionais".

(GR)


Fonte: Valor Econômico
Beth Koike | De São Paulo
29/03/2011

Após quase triplicar de tamanho entre 1996 e 2005, o setor de ensino superior privado começa a dar sinais de desaquecimento. De 2006 para cá, o número de matrículas nas faculdades nacionais cresceu menos de 10% ao ano e deve manter esse índice até 2013.

A previsão é que daqui dois anos 5 milhões de alunos estejam estudando no ensino superior privado no Brasil, segundo projeção do Semesp, sindicato das faculdades particulares de São Paulo.

"A baixa renda é a responsável pelo crescimento do setor, uma vez que a classes A e B estão estagnadas. O problema é que o valor das mensalidades ainda é alto para as classes C e D e os brasileiros não têm a cultura de financiar a faculdade", disse Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp.
O valor médio das mensalidades era de R$ 367 em 2009, uma redução de 30% em relação ao cobrado em 1999. Uma prova de que esse valor ainda não cabe no bolso dos universitários das classes C e D é a taxa de evasão, que atingiu 17,9% em 2009. Entre as faculdades públicas, o percentual de desistência é de 8,1%.

"Com essa alta taxa de evasão que ocorre todos os anos, apenas 56% dos alunos das faculdades privadas concluem o curso do qual se matricularam, principalmente por falta de condições financeiras", afirmou o diretor-executivo do Semesp.

No Brasil, o hábito de solicitar crédito estudantil ainda é pouco usual. No ano passado, por exemplo, apenas 71 mil alunos solicitaram o Fies - financiamento do governo federal para alunos de faculdades privadas com juros subsidiados.

A baixa adesão ao Fies ocorre também porque havia, até o ano passado, a exigência de um fiador para a concessão do crédito estudantil. No segundo semestre do ano passado, a exigência de fiador foi banida em alguns casos, como em medicina e nos cursos de licenciatura.

Mesmo com o desaquecimento do mercado de ensino superior particular nos últimos anos, ainda há um grande espaço de crescimento para as instituições de ensino. Isso porque apenas 13,8% dos brasileiros com idade entre 18 e 24 anos estão matriculados em faculdades. Em 2003, esse índice era de 9%.

Ainda de acordo com dados do Semesp, há atualmente 28,1 mil diferentes cursos de graduação em vigência. Desse total, 19,8 mil são ministrados em faculdades privadas e os outros 8,2 mil em faculdades públicas. "Os cursos mais procurados ainda são aqueles tradicionais como direito, administração e pedagogia. Os 20 cursos mais procurados responderam por quase 70% das matrículas efetivadas em 2009", explicou Capelato.


Fonte: O Estado de S. Paulo
Educação. Pela primeira vez, Universidade de São Paulo decide concentrar investimentos nesses cursos, que registraram até 20% de evasão; haverá reformas do espaço físico e dos próprios métodos de ensino, visando às necessidades de quem estuda à noite
29 de março de 2011 | 0h 00
Mariana Mandelli - O Estado de S.Paulo

A Universidade de São Paulo (USP) finaliza o maior projeto de reformulação de seus cursos noturnos. É a primeira vez que a reitoria decide concentrar investimentos especificamente nessas graduações, que tiveram suas vagas ampliadas nos últimos anos. O plano, que deve custar cerca de R$ 23 milhões, dá prioridade à infraestrutura e à organização acadêmica e pretende frear a evasão nessas carreiras.

Adaptação. Aulas mais curtas para quem estuda à noite é uma das possibilidades de reforma, segundo pró-reitoria

A taxa de evasão mais recente é de 2004, quando foi diagnosticado que 20% dos ingressantes desistiam da graduação - a maioria no primeiro semestre e no turno da noite. Atualmente, há um novo levantamento sendo realizado, no qual já é possível identificar que a evasão ainda é maior nos cursos noturnos.

O novo projeto é da pró-reitoria de graduação e deve ser lançado nos próximos dias. "É um plano complexo, com várias fases, que demonstra que a USP entende a necessidade de os cursos noturnos serem suportados de maneira especial", afirma a pró-reitora de graduação, Telma Zorn.

A fase um do projeto visa à recuperação dos espaços didáticos. Todas as 43 unidades da USP, de todos os câmpus, serão beneficiadas com uma verba de R$ 195 mil cada uma - quantia suficiente para revitalizar seis ou sete salas de aula. Dessas escolas, as 27 com cursos noturnos receberão, além dessa quantia, um montante de acordo com o seu número de alunos.

As verbas variam de R$ 214 mil a R$ 3 milhões, entre as unidades com menos e mais universitários, respectivamente. Para obter o dinheiro, as escolas terão de apresentar projetos. Haverá também supervisão do destino dos investimentos.

A fase dois foca no âmbito acadêmico. As unidades serão convocadas a apresentar propostas para desenvolver o interesse dos alunos e a analisar os dados de evasão desses cursos. A USP entende que o aluno da noite merece um outro olhar porque tem um perfil diferenciado: muitos trabalham e têm outras atividades durante o dia. "As unidades têm de se questionar se devem ensinar à noite como ensinam de dia. Os instrumentos de exercício, por exemplo: hoje, com ferramentas digitais, há novas possibilidades. Até mesmo de aulas mais curtas", afirma Telma.

A Coordenadoria do Câmpus da Capital (Cosesp) também está envolvida e deve investir na iluminação, segurança, recapeamento e sinalização de vias, manutenção de jardins e praças, reforma dos pontos de ônibus do câmpus e melhorias no transporte, com a integração com a Estação Butantã do Metrô, como o Estado informou em outubro.

Investimentos. Desde o ano passado, a USP indicava que pretendia investir nas graduações da noite. Em setembro, o Conselho Universitário aprovou diretrizes para a graduação que sugeriam maior atenção aos noturnos. Nessa mesma direção, conforme o Estado mostrou em novembro, a universidade decidiu destinar a essas carreiras 50% a mais da verba que os cursos diurnos em 2011.

Professores e diretores de unidades elogiaram a iniciativa da pró-reitoria de graduação. "Ainda que os cursos noturnos tenham basicamente a mesma conformação dos matutinos, é claro que algumas características, principalmente relativas ao aluno e suas condições para o aprendizado, demandam otimização", afirma Arlindo Figueira Neto, presidente da comissão de graduação da Escola de Comunicações e Artes (ECA).

"Não pode haver diferenças na qualidade do ensino, das salas de aula, dos laboratórios e das bibliotecas entre esses cursos e os diurnos", afirma Sebastião de Sousa Almeida, diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto.

Sigismundo Bialoskorski Neto, diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade do mesmo câmpus, concorda. "A universidade tem de funcionar plenamente à noite", diz ele.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
Para ele, isso garantiria que os alunos estariam preparados para o vestibular
Para ex-presidente norte-americano, nível baixo de educação será limitador do crescimento no Brasil
Alberto Cesar Araújo
26.mar.11/Folhapress

Desde que assumiu, no ano passado, o posto de chanceler honorário da Laureate Internacional Universities -um dos maiores grupos de educação privada do mundo, com investimentos de R$ 1 bilhão no Brasil-, o tema da universalização do ensino superior virou uma das bandeiras do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton (1993-2001).
No sábado passado, durante breve passagem por Manaus, ele conversou com a Folha com exclusividade, sob a condição de que fossem feitas apenas perguntas sobre educação.
Em sua participação no Fórum Mundial de Sustentabilidade, em Manaus, Clinton falou sobre o potencial energético do Brasil. Entre outros temas, pediu desculpas pela crise financeira
Folha - O sr. acha que o Brasil tem condições de se tornar liderança mundial com ensino público de baixa qualidade?
Bill Clinton - No curto prazo, sim, pois vocês são um país grande e já possuem 5,5 milhões de estudantes no ensino superior. Não sei quantos diplomas são concedidos por ano, aqui.
Mas olha o caso do Egito, um país com mais de 80 milhões de pessoas, quase metade do tamanho de vocês. Houve revolta social, pois eles concedem 400 mil diplomas por ano e queriam que fossem gerados 400 mil empregos por ano no nível de graduação.
E isso vocês estão fazendo aqui, mantendo o crescimento econômico. Mas, cedo ou tarde, isso será um limitador.
A não ser que vocês consigam fazer com que 98% das crianças do país que estão matriculadas no ensino fundamental cheguem ao ensino médio e vocês tenham a certeza de que elas vão passar no vestibular.
Acredito que o Brasil chegará lá. Vocês já provaram. O Brasil é um dos primeiros países, em seu nível de renda per capita, a universalizar o ensino fundamental com o programa Bolsa Escola.
Então, o que vocês precisam é universalizar o ensino médio e garantir que esses alunos estejam preparados para o vestibular. Acredito que muito já foi feito nesse sentido. Há as bolsas que permitem aos mais pobres entrar na universidade.
Mas é preciso ter certeza de que as pessoas saibam da existência dessas bolsas.
Em áreas em que há desproporção no número de pessoas pobres e de famílias que não possuem familiaridade com a universidade, você não pode presumir que só porque há uma lei, ou uma fundação ou corporação que oferecem bolsas, as pessoas vão tomar conhecimento.
Como adaptar as universidades aos desafios do século 21, com novas profissões que estão surgindo?
Muitos dos empregos do século 21, mesmo nos países desenvolvidos, não vão demandar diploma universitário. Porém, quase todos esses novos empregos serão criados por pessoas que possuem diploma universitário.
Logo, quanto mais gente na universidade, maior o potencial de criação de empregos. Isso é muito importante.
Existe um desafio para a educação neste século?
Sim, mas também acho que um diploma de ensino superior tem um valor que é intrínseco. Você entende melhor o mundo, aumenta seu senso de segurança quando você navega por todas as incertezas do mundo.
Um valor que vai além do econômico. Acho que o diploma ajuda a construir um bom senso de cidadania.
O que o Brasil pode aprender com a experiência dos EUA?
Acho que há duas coisas a aprender. Um, que você pode aumentar o número de matrículas nas universidades se você torná-las mais acessíveis. Com isso, o país vai construir uma classe média muito maior para poder dividir as oportunidades.
A segunda é que, quanto mais próspero e quanto mais tempo você fica no topo da renda, mais diverso será o país. A partir de então, vocês vão enfrentar novos desafios no sentido de manter a qualidade do ensino médio.
Mas isso é uma coisa que precisa ser trabalhada o tempo inteiro, senão o sistema de ensino superior corre o risco de ficar muito voltado para si mesmo, gastando muito dinheiro em coisas que não são a principal missão e o custo pode sair do controle.


Fonte: O Estado de S. Paulo
30 de março de 2011 | 0h 00
- O Estado de S.Paulo

Em resposta a uma consulta encaminhada por duas escolas particulares de São Paulo - os colégios Albert Sabin e Guilherme Dumont Villares -, por uma diretora de ensino da capital e por um grupo de pais de alunos na faixa etária entre 3 e 5 anos de idade, a Câmara de Educação Básica do Conselho Estadual de Educação (CEE)proibiu matrículas de crianças na educação fundamental antes que elas completem a idade mínima exigida para esse ciclo do ensino.

As escolas somente poderão matricular no ensino fundamental alunos com 6 anos, já completados ou a completar até o dia 30 de junho. A orientação do órgão é para que os alunos frequentem a segunda fase da pré-escola com 5 anos de idade e a primeira fase da pré-escola com 4 anos - também completados até a data-limite de 30 de junho. Com isso, as crianças nascidas no segundo semestre terão de ser atendidas pelos estágios anteriores do sistema educacional - ou seja, as creches.

A fixação de idades mínimas para cada nível de ensino tem o objetivo de evitar que os pais antecipem o início da escolarização dos filhos, queimando etapas. Muitos pais alegam que as crianças que completam 6 anos depois de 30 de junho esbarram em dois problemas - elas são separadas de sua turma, na fase de ingresso no ensino fundamental, e ainda têm de esperar mais um ano para poder se matricular na pré-escola ou no ensino fundamental. "Há caso de a criança fazer aniversário alguns dias após 30 de junho. A família fica inconformada. É delicado", afirma a diretora do Colégio Guilherme Dumont Villares, Eliana Pereira Aun.

Há, também, pais que tentam antecipar ou adiantar a escolarização dos filhos alegando que eles têm conhecimentos avançados. No entanto, professores, psicólogos e pedagogos afirmam que isso pode comprometer a alfabetização e a formação dos alunos. Eles também alegam que a espera de um ano para ingresso na fase de alfabetização das crianças que aniversariam depois de 30 de junho não pode ser vista como "castigo" pelos pais e que a transição da creche para a pré-escola, e deste ciclo para o ensino fundamental, tem de ser "suave".

Segundo os integrantes da Câmara de Educação Básica do CEE, o risco das crianças que entram muito cedo no processo de alfabetização é de que sejam alunos imaturos, sem condição de acompanhar as aulas. "O apressamento da escolaridade não é bom e pode prejudicar a maturidade da criança no futuro. Às vezes, o desenvolvimento cognitivo pode ser avançado, mas o emocional não é", diz a autora do parecer aprovado pela CEE, Maria Auxiliadora Albergaria Raveli. "Na última década, tivemos muitos problemas de menino que cresceu imaturo porque os pais achavam que era um gênio no início da escolarização", afirma a diretora do Colégio Guilherme Dumont Villares.

Há casos de pais que tentam matricular no ensino fundamental crianças que completam 6 anos em agosto, sob a alegação de que a Constituição de 88 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação garantem o direito à educação de acordo com a capacidade de cada um e, como mostrou recente reportagem do Jornal da Tarde, há até o caso de uma família que obteve na Justiça liminar - fundada em parecer favorável da Promotoria da Infância e Juventude - autorizando a matrícula de uma criança de 3 anos na pré-escola de um colégio particular.

Tomada no final de fevereiro, a decisão da Câmara de Educação Básica do CEE ressalta a importância da pré-escola e recomenda aos pais de alunos que não "avancem o sinal", para não prejudicar a formação dos filhos. A decisão vale como diretriz tanto para as famílias quanto para as escolas que ainda tinham dúvidas sobre as idades mínimas de matrícula na primeira e na segunda fase da pré-escola e no primeiro ano do ensino fundamental - especialmente para as escolas particulares, uma vez que a rede pública tem autonomia para definir o dia de corte para matrículas, desde que respeitado 30 de junho como data máxima.


Fonte: O Estado de S. Paulo
Pelo menos 200 adolescentes aprovados em vestibulares da PUC-GO antes de concluírem o ensino médio conseguiram na Justiça autorização para fazer o ensino superior, o que contraria a Lei de Diretrizes e Bases e o edital do vestibular da instituição
30 de março de 2011 | 0h 00
Ocimara Balmant - O Estado de S.Paulo
ESPECIAL PARA O ESTADO

Em Goiânia, estudantes que ainda não concluíram o ensino médio têm conseguido se matricular em cursos superiores. Esses adolescentes prestam o vestibular e, uma vez aprovados, entram na Justiça para pleitear o direito de começar a graduação. Os advogados agem nas "brechas" da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), como o artigo que diz que o acesso aos níveis superiores se dará conforme a capacidade do aluno.

"Normalmente, esses estudantes vêm de colégios que dão todo o conteúdo do ensino médio no 1.º e no 2.º ano. Então, eles já têm repertório para fazer a prova", explica Suely Lopes, coordenadora da comissão de vestibular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).

Apesar de o edital dizer que é obrigatória a apresentação do certificado de conclusão do ensino médio no ato da matrícula, a universidade recebeu, só no primeiro semestre deste ano, 54 alunos que ainda não haviam terminado o colégio. No segundo semestre de 2010, 146 se matricularam com liminar. A maior parte deles optou pelos cursos de Direito e Engenharia Civil.

O advogado Edilberto Dias conta que trabalha com esse tipo de ação há cerca de cinco anos. Nesse tempo, segundo ele, foram mais de cem ações ganhas. Só neste início de ano, ele entrou com cinco pedidos de liminar contra a PUC-GO. Venceu todas. "Meus clientes são bons alunos. São incentivados pelos colégios a prestar o vestibular para treinar. Acontece que, quando veem que passaram na prova, querem começar logo."

Foi o que fez Gustavo Ávila, de 18 anos, um dos clientes de Dias. Desde o início do ano, ele vai de manhã para o colégio, onde cursa o 3.º ano do ensino médio, e à tarde para a universidade -ali, assiste às aulas do primeiro semestre de Engenharia Civil. O motorista da família o leva de um lugar ao outro. "Foi muito bom para mim, porque estou ganhando tempo. Só sinto diferença na forma como lidam com a gente. A faculdade te dá mais liberdade, mas se você não correr, fica para trás. No colégio, são os professores que correm atrás de você."

Dizer que o aluno deve cursar ensino médio e o superior ao mesmo tempo é a decisão judicial mais recorrente nesses casos. Mas há situações em que o juiz determina que o colégio onde o estudante está matriculado faça uma prova reclassificatória. Aprovado, o aluno recebe adiantadamente seu certificado de conclusão do ensino médio.

"Tem juiz que concede a liminar só quando o aluno já está no 3.º ano. Eu, não. Já concedo no 2.º ano e fixo um prazo para que ele apresente o certificado", afirma o juiz Jair Xavier Ferro, da 10.ª Vara Cível de Goiânia. "Acho que não tem trazido prejuízo nenhum. Pelo contrário, tem ajudado aqueles estudantes mais preparados." Ferro explica que só concede liminar para quem vai estudar algum curso na área de ciências humanas. "Um engenheiro, por exemplo, a responsabilidade é muito grande. Para Medicina, só concedi uma vez, porque a menina já estava no último semestre."

O primeiro cliente do advogado Ailton Naves Rodrigues nesse tipo de ação foi o próprio filho, em 2004. Na época, Victor Phillip Naves tinha 16 anos e havia terminado de cursar o 2.º ano do ensino médio. Com a liminar conseguida pelo pai, começou a graduação em Direito na PUC-GO e, aos 20 anos, formou-se.

"A lei precisa se atualizar. Esses meninos entram na escola aos 3 anos. Quando chegam aos 16, já estão maduros. É injusto fazê-los esperar mais um ano, desestimula", diz Rodrigues.

Hoje, aos 22, Victor, o filho de Rodrigues, trabalha com o pai no escritório. Por sinal, é ele o advogado do garoto Felipe Caiado Amorim de Paula, que começou a graduação aos 16 anos, na metade do 2.º ano. Hoje, com 17, Felipe frequenta as aulas de Direito de manhã e vai para o colégio no período noturno.

Fora de hora. Dentro da sala de aula, os docentes dizem que, com raras exceções, é perceptível a imaturidade dos alunos que entram antes de terminar o ensino médio. "Eles têm comportamento e postura de ensino médio", diz Rosana Brandão, professora do curso de Engenharia Civil da PUC-GO. "Eles são mais imaturos, principalmente para cursos de Engenharia, que são complexos e envolvem raciocínio lógico."

Para os educadores, a entrada precoce na universidade pode ter relação com a ansiedade dos pais. "No fundo, são os pais que tomam essa decisão. Eles querem que o filho tenha desde muito cedo um projeto de vida profissional", diz João Ferreira de Oliveira, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG). "Acredito que isso traz prejuízo. O ciclo de desenvolvimento humano precisa ser respeitado. A gente aprende com os iguais." A educadora da PUC-SP Regina Denigres também é contra. "É uma irregularidade muito grave. Se isso se generalizar, imagina o que vai virar. É uma polêmica para ser discutida urgentemente."

Pressa
EDILBERTO DIAS
ADVOGADO
"Mais ganho do que perco. O tribunal já tem uma posição firmada. Uns juízes sempre concedem.

Outros, não."
ROSANA BRANDÃO
PROFA. DE ENGENHARIA DA PUC-GO
"As famílias têm um sentimento equivocado de que, quanto mais cedo, melhor. Isso pode ser prejudicial."


Fonte: O Estado de S. Paulo
Pró-reitora de graduação considera prioritário modificar o vestibular; programa de inclusão deve ser revisto
30 de março de 2011 | 0h 00
Fábio Mazzitelli - O Estado de S.Paulo
JORNAL DA TARDE

Dois anos após mudar a estrutura de seu processo seletivo, a Universidade de São Paulo (USP) quer fazer novas modificações já no próximo vestibular, que ocorrerá no final deste ano. Amanhã, na reunião do Conselho de Graduação (CoG) da instituição, as propostas de mudanças serão colocadas em votação.

As propostas de alterações foram elaboradas por um grupo de trabalho criado sob a coordenação da pró-reitoria de graduação da USP, que passou os últimos meses discutindo o assunto com a ajuda da Fuvest. O CoG é formado por 42 representantes das unidades ligadas à universidade e por 6 representantes dos alunos, todos com direito a voto.

Presidente do conselho, a pró-reitora de graduação, Telma Maria Tenório Zorn, disse que a mudança no vestibular é uma questão prioritária e as modificações extrapolam o programa de inclusão (Inclusp), atingindo "todo o sistema do vestibular". "As propostas deste grupo de trabalho serão apresentadas e adaptações no vestibular devem ocorrer, como também a revisão do Inclusp", afirmou a pró-reitora, que não detalhou as propostas.

Ineficaz. O modelo atual foi considerado ineficaz em análises feitas pela Fuvest com base no desempenho dos candidatos. O formato foi adotado com o objetivo de exigir formação mais genérica dos candidatos. Atualmente, a primeira fase não conta pontos para a nota final e as provas específicas das carreiras escolhidas só ocorrem no último dia da segunda fase.

No ano passado, Telma havia afirmado que sua intenção era acabar com o bônus automático de 3% a que os estudantes que fizeram o ensino médio em escola pública têm direito hoje pelo Inclusp, atrelando toda bonificação do programa (que pode chegar a 12%) a um sistema de mérito.


Fonte: O Estado de S. Paulo
30 de março de 2011 | 0h 00
Mariana Mandelli - O Estado de S.Paulo

Começou a ser aplicada anteontem a Prova Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização (Prova ABC), que avaliará a aprendizagem em leitura, escrita e matemática de crianças que concluíram o 3.º ano do fundamental (antiga 2.ª série). O processo de aplicação deve ocorrer em até 45 dias.

Conforme o Estado adiantou em dezembro, a avaliação será realizada pelo Movimento Todos Pela Educação, em parceria com a Fundação Cesgranrio, o Instituto Paulo Montenegro e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (Inep).
A prova será aplicada para uma amostra de 6 mil alunos, de 262 turmas de escolas de todas as capitais. A previsão é de que os resultados da sejam divulgados na segunda quinzena de junho. Os dados serão apresentados regional e nacionalmente


Fonte: Folha de S. Paulo
Relação candidato/vaga de curso quase dobrou por causa de alunos que não poderiam matricular-se
Coordenadores de cursinhos dizem que a atual situação prejudica candidatos aptos para prestar o vestibular
FÁBIO TAKAHASHI
LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO

A concorrência por vagas no último vestibular da USP foi inflada em até 92% com candidatos que não podiam se matricular por não terem completado o ensino médio.

Em 14 das 106 carreiras, o aumento foi superior a 10%.

Esses "treineiros piratas" não se inscreveram nas três carreiras oficiais de treineiros (exatas, humanas e biológicas) e optaram por cursos "reais", alguns com disputa e nota de corte inferiores às de treinamento. Assim, tiveram mais chances de passar.

Com os "piratas", a relação candidato/vaga de ciências da informação (Ribeirão Preto) quase dobrou -de 6,43 para 3,35; ciências da natureza e ciências da atividade física (USP Leste) ficariam abaixo de dois por vaga.

A tabulação foi feita pela Folha com base nos dados da Fuvest, entidade que organiza o vestibular da USP.

Coordenadores de cursinhos dizem que a situação prejudica candidatos reais. Os problemas citados:

1) Analisando concorrências de exames passados, um candidato pode desistir de uma carreira por ela estar com concorrência maior que a real; 2) Os "piratas" podem elevar as notas de corte, dificultando o acesso à segunda fase; 3) A convocação desses treineiros pode fazer com que o candidato real que tenha ficado atrás do "pirata" se matricule em outra escola.

"A Fuvest tem todos os dados. Caberia a ela barrar quem ocupa espaço desnecessário", diz Alberto do Nascimento, do Anglo.

"Nas carreiras com mais de 10% de "piratas", os prejuízos aos vestibulandos reais foram maiores. Se as inscrições tivessem sido feitas adequadamente, as notas de corte poderiam ser um ou dois pontos inferiores", afirma Paulo Lima, do CPV.

O número de "piratas" entre os aprovados subiu de 29 para 470 desde 2005.

PRECAUÇÃO

A Fuvest diz permitir que o aluno com ensino médio incompleto dispute carreiras reais porque pode ter errado o preenchimento da ficha.

Segundo a pró-reitora de graduação, Telma Zorn, a situação será analisada pela USP. Nem ela nem a Fuvest comentaram o impacto dos "piratas" nas carreiras.

A Fuvest também não informou se esses treineiros tiraram vagas de candidatos "reais" na segunda fase.

Segundo o edital, foram para a segunda fase o equivalente ao triplo do número de vagas. Se os "piratas" não foram excluídos, desclassificaram candidatos aptos.

O pedido de informação à Fuvest foi feito quarta-feira passada. A lista de aprovados saiu em dezembro.


Fonte: O Estado de S. Paulo
31 de março de 2011 | 0h 00
Carlos Lordelo e Felipe Mortara - O Estado de S.Paulo
ESTADÃO.EDU

Professores de cursinhos têm expectativas altas em relação à aprovação das mudanças na Fuvest. Nicolau Marmo, coordenador editorial do Anglo, não concorda com as alterações ocorridas há dois anos. "Antes, o vestibular era muito bom. Depois dessa mudança, estragaram tudo. Tenho esperança de que volte a ser o que era", opina. "A prova de primeira fase, abrangente pelo número de questões, não deveria ser descartada na classificação, pois examina muito bem cada matéria."

Um especialista em avaliação, que pediu para não ser identificado, disse que as modificações eram esperadas. "Com a mudança anterior, que passou a desconsiderar a nota da primeira fase, sobrou um número muito pequeno de questões para avaliar os candidatos." Segundo ele, a tendência era de haver muita gente empatada na segunda fase. "É um problema, especialmente nos cursos mais concorridos."

Edmilson Motta, coordenador pedagógico do Etapa, afirma que não esperava outra mudança tão rápida. "Percebemos que as notas tiveram redução, a prova ficou mais difícil. No segundo dia, a prova interdisciplinar acabou causando redução de média. É prova muito boa, mas muito exigente", disse.

"Não tenho nenhum tipo de temor em relação às mudanças. A Fuvest, apesar de todas as mudanças que já aconteceram, sempre primou pela qualidade acadêmica da prova, que se mantém", explica Motta.

Inclusão. Sobre as possíveis modificações no Programa de Inclusão da USP (Inclusp), os professores são críticos. "O que nos preocupa é em relação à possibilidade de acabar com o bônus de 3% de escola pública, já que, dos 6 mil alunos do Cursinho da Poli, 80% são oriundos de escola pública. Ou seja, se perderem 3%, perderão muito da possibilidade de entrar em universidade pública", afirma Alessandra Venturi, coordenadora pedagógica do Cursinho da Poli.

"Temos de entender o quanto negativamente pode pesar o corte desse bônus para alunos de escola pública", opina ela. "Dependendo de como forem repassar esse bônus, os estudantes podem desanimar."

Para Mateus Prado, presidente da rede de cursinhos comunitários Henfil, hoje é quase impossível um aluno atingir os 12% do bônus. "O Inclusp dá a impressão de ser inclusivo, mas não é. O bônus aumenta pouquíssimo a nota."


Fonte: O Estado de S. Paulo
Advogados dos alunos e procuradores federais usam a mesma Lei de Diretrizes e Bases para embasar argumentação
31 de março de 2011 | 0h 00
Ocimara Balmant - O Estado de S.Paulo
ESPECIAL PARA O ESTADO

Se estudantes que ainda não concluíram o ensino médio têm obtido êxito na efetuação da matrícula no ensino superior privado, conforme o Estado relatou ontem, a estratégia não costuma ter sucesso quando o adolescente é aprovado em vestibulares de universidades públicas e tenta, por mandado de segurança, garantir sua vaga. Isso porque, mesmo quando a liminar é concedida, as instituições federais e estaduais conseguem impedir a permanência desses alunos.

Só no último ano, por exemplo, 200 estudantes prestaram o vestibular da PUC-GO e, aprovados, conseguiram liminar para começar uma graduação. Seus advogados agiram nas "brechas" da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), como o artigo que diz que o acesso aos níveis superiores se dará "conforme a capacidade do aluno".

No mesmo período, cinco alunos com ensino médio inconcluso tentaram efetuar matrícula na Universidade Federal de Goiás (UFG). Dos cinco mandados de segurança, apenas uma liminar foi concedida e cassada após a intervenção da Procuradoria Federal. "A lei é clara, então entro com recurso cabível em todos os casos. Com a liminar, o aluno chega a fazer a matrícula, mas perde o direito à vaga assim que sai a suspensão", explica o procurador Everaldo Rocha Bezerra Costa.

Procedimento semelhante é feito na Universidade de Brasília (UnB). Quando o aluno é aprovado no vestibular antes de concluído o ensino médio e consegue efetuar a matrícula por força de liminar, já há jurisprudência para que a decisão seja revertida.

O procurador federal Davi Diniz explica que as exceções acontecem apenas quando a revogação da liminar tarda a sair. "Se o estudante já está à beira de se formar, é antieconômico não deixá-lo terminar o curso."

Em outros Estados, a situação é parecida. No último ano, por exemplo, a Advocacia-Geral da União (AGU) impediu que uma candidata aprovada na Fundação Universidade Federal do Piauí (Fufpi) efetivasse sua matrícula na Licenciatura em Química. O mesmo aconteceu na Universidade Federal da Bahia, na Universidade Federal de Uberlândia e no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).

Na Universidade Estadual de Alagoas (Unael), dois estudantes haviam conquistado, em primeira instância, o direito de frequentar os cursos de Direito e Ciências Biológicas. Mas um desembargador suspendeu a decisão. O ponto central da defesa da AGU é o respeito ao artigo 44 da LDB, que limita a graduação a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo.

Acesso negado

DAVI DINIZ
PROCURADOR FEDERAL

"A jurisprudência já tem a posição de que o aluno não pode fazer uma graduação sem concluir o ensino médio. Por isso, a decisão é revertida no tribunal."


Fonte: O Estado de S. Paulo
Propostas de alterações para o próximo exame da Fuvest, às quais o Estado teve acesso, incluem aumento do número de acertos mínimos na 1ª fase, cuja nota voltaria a ser considerada; reformulação no programa de inclusão também deve se discutida
31 de março de 2011 | 0h 00
Mariana Mandelli, Simone Iwasso, Fabio Mazzitelli e Carlos Lordelo - O Estado de S.Paulo

A Universidade de São Paulo (USP) vota hoje, em reunião do Conselho de Graduação, sete propostas de mudanças para o próximo vestibular da Fuvest. Algumas delas visam a tornar o processo mais difícil.

Também será decidido se haverá mudanças no programa de inclusão, se a nota da primeira fase voltará a ser considerada no resultado final e se será permitido aos melhores alunos não aprovados nas três primeiras chamadas a escolha de outras carreiras.

As alterações, às quais o Estado teve acesso, foram elaboradas por um grupo de trabalho nomeado pela pró-reitoria de graduação com base em avaliações dos últimos vestibulares e sugestões dos departamentos. O conselho tem autonomia para aprovar total ou parcialmente as propostas ou mesmo vetar o pacote.

O grau de dificuldade da Fuvest deve aumentar, porque a USP quer elevar a nota mínima na primeira fase de 22 para 27 pontos - ou 30% das 90 questões de múltipla escolha. Paralelamente, a universidade deseja alterar outro critério de convocação para a segunda fase, chamando entre dois e três alunos por vaga, de acordo com a média geral obtida pelos candidatos da carreira, variando entre 30 e 60 acertos em média.

Conforme a reportagem apurou, como mais de 95% das carreiras não obtêm média superior a 60 pontos na primeira fase, os grupos na segunda fase serão menores e mais qualificados, o que deve aumentar a nota de corte em praticamente todas as carreiras. Atualmente, são chamados três vestibulandos para cada vaga oferecida, respeitando a nota mínima de 22 pontos.

Sobre o recurso criado para permitir que a USP mantenha os melhores estudantes, o instrumento proposto vai permitir, por exemplo, que um aluno que não tenha sido aprovado em cursos mais disputados, como Direito e Medicina, escolha carreiras nas quais ainda existam vagas ociosas após a terceira chamada. Hoje, o candidato só consegue escolher outra opção dentro da própria carreira.

Outra proposta é referente à volta da pontuação da primeira fase na nota. Hoje, essa etapa não conta pontos para a nota final. A proposta é que a primeira fase tenha o mesmo peso das provas da segunda. "No formato em vigor, ganhamos em qualidade (com a prova dissertativa na 2.ª fase), mas perdemos em abrangência", diz o professor Valdecir Janasi, presidente da comissão de graduação do Instituto de Geociências, favorável à proposta de considerar a nota da primeira fase.

A diminuição do número de questões da prova do segundo dia da segunda fase de 20 para 16 também será discutida, além da criação de um instrumento para excluir, por meio de autenticação de informações prestadas na inscrição, treineiros que se inscrevem em carreiras comuns.

Bônus. Uma das principais mudanças propostas se refere ao Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp). O documento propõe que alunos que cursaram ensino fundamental e médio na rede pública ganhem até 15% de bônus na nota do vestibular. Esse bônus será obtido por meio do desempenho na primeira fase da Fuvest - hoje, há um bônus que pode chegar a 12%, formado por 3% pelo fato de ser da rede pública, 6% por meio da nota na primeira fase e outros 3% pelo desempenho em prova aplicada aos alunos do 3.º ano da rede pública, chamada Programa de Avaliação Seriada da USP (Pasusp).

A avaliação é que esse modelo atual não foi bem-sucedido, pois não aumentou a presença dos estudantes da rede pública na USP. No ano passado, o número de oriundos da escola pública aprovados em primeira chamada caiu para o menor patamar desde 2007: 25,6% do total.

Pelo novo Inclusp, acabaria o bônus automático de 3%. Alunos que fizeram o fundamental e médio na rede pública poderão obter até 15% ao fazer a primeira fase no 2.º (bônus de 5%) e 3.º ano (10%), numa avaliação seriada - ou seja, o Pasusp seria estendido ao 2.º ano. Quem cursou o ensino médio na rede pública e o fundamental na particular poderia obter até 8% de bônus, mediante desempenho na nota da primeira fase. O mesmo vale para quem terminou o ensino médio e está no cursinho.

PRINCIPAIS PROPOSTAS
Vagas para a 2ª fase
A ideia é que sejam aprovados para a segunda etapa de dois a três candidatos por vaga, e não mais três para todas as carreiras, como é hoje.

Nota da 1ª fase
O desempenho na primeira etapa voltaria a contar na nota final, com o mesmo peso das provas da segunda.

Diminuição de questões
Uma das propostas pede a redução do número de questões da prova do segundo dia da segunda fase - de 20 para 16.

Alterações no Inclusp
A ideia é estender o Pasusp ao 2º ano do ensino médio e dar até 15% de bônus para quem cursou o fundamental e o médio na rede pública.

Mudança de carreira
Candidatos que não foram aprovados após a 3ª chamada de matrícula poderiam escolher outro curso.

Aumento da nota mínima
O mínimo de pontos necessários para chegar à segunda etapa passaria a ser 27, e não mais 22.


Fonte: Folha de S. Paulo
Estudantes podem ser beneficiados só pelo desempenho no vestibular
Bonificação poderá subir de 12% para 15%; Núcleo de Consciência Negra da USP critica possível mudança
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

A USP discute hoje reformulação total no programa que prevê bônus no seu vestibular a alunos de escolas públicas. A proposta é elevar o percentual máximo de 12% para 15%, que passariam a ser totalmente atrelados ao desempenho do estudante na primeira fase da Fuvest.

A instituição busca aumentar a presença de alunos do sistema oficial em seus cursos -eles são 85% das matrículas no ensino médio, mas só cerca de 25% dos aprovados no exame.

Até este ano, quem se formou no ensino fundamental e seguiu na rede no médio ganhava 3% de bônus "automático", mais bonificações dependendo da nota em prova específica a alunos do terceiro ano público (Pasusp) e na primeira fase da Fuvest.

Segundo a Folha apurou, a ideia é que, no 2º ano, esse aluno preste como treineiro (sem direito à matrícula) e ganhe até 5% de bônus para o ano seguinte, quando poderá receber até 10% mais (se acertar ao menos 60 das 90 questões da 1ª fase). Os ganhos serão proporcionais aos acertos na prova.

Com a medida, o grupo que desenhou o novo modelo espera que alunos de escolas públicas tenham contato mais cedo com a USP e se inscrevam mais na Fuvest. Até agora, mesmo com as medidas de incentivo lançadas em 2006, o número de inscritos da rede pública no vestibular teve até queda.

A proposta será apreciada por representantes de unidades e pode começar a valer no próximo exame. Segundo a simulação, o bônus médio seguirá entre 6% e 7%, o que garantiria alunos aptos a acompanhar a graduação.

CRÍTICAS E MUDANÇAS

O Núcleo de Consciência Negra na USP elaborou documento com críticas às mudanças. A entidade entende que o modelo atual já é insuficiente para aumentar a inclusão social na escola.
A Comissão de Graduação deve analisar também outras alterações no exame, válidas para todos os estudantes.

A nota da primeira fase pode voltar a compor a nota final. Desde o exame 2010, esse desempenho nos testes valeu apenas para classificar os alunos para a etapa seguinte.
Também devem ser discutidos o número de aprovados para a segunda fase, a composição da nota de corte e a situação de treineiros que disputam vagas "reais".

Colaborou PATRÍCIA GOMES


Fonte: Folha de S. Paulo
ANGELA PINHO
DE BRASÍLIA

A promessa do Ministério da Educação de fazer um Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) no meio do ano e outro no final foi adiada até pelo menos 2012.

Oficialmente, o MEC diz que o calendário do exame ainda está em estudo, mas internamente já há convicção de que não existe tempo hábil para a realização de um exame já em maio, como previsto, uma vez que nem sequer se abriram inscrições.

Dessa forma, apenas uma prova deverá ser realizada, em outubro.

A realização de mais de um exame anual, prometida em 2009, quando a reformulação do Enem foi anunciada, era vista como uma maneira de dar mais chances para os candidatos a uma vaga no ensino superior e de reduzir a pressão dada por uma seleção baseada em apenas um final de semana de testes.

Além disso, o exame em maio seria usado para selecionar alunos para instituições que têm vestibulares nos dois semestres do ano.

No entanto, quando a prova de 2009 vazou e teve que ser adiada, o governo ficou mais cauteloso. A justificativa dada para não fazer um exame no meio do ano em 2010 foi a falta de tempo para formular um novo esquema de segurança


Fonte: Folha de S. Paulo
FUVEST 2012

O Conselho de Graduação pode também discutir, na reunião de hoje, a utilização do Enem. A pró-reitora de graduação da USP, Telma Zorn, disse em janeiro à Folha que uma possibilidade estudada é usar a nota do exame nacional na segunda fase do vestibular. Outra proposta a ser analisada por conselheiros é que cursos de baixa demanda sejam agrupados na mesma carreira.


Fonte: Folha de S. Paulo

Após forte repercussão negativa da notícia de que parcela crescente de alunos aprovados no vestibular estava abrindo mão de vagas conquistadas na Universidade de São Paulo (USP), a instituição começa a sair da letargia. Seu Conselho de Graduação aprovou ontem uma nova norma sobre os chamados "treineiros", alunos de ensino médio que fazem o vestibular só para testar seu desempenho na prova.

Com as brechas deixadas pelo sistema anterior, treineiros ditos "piratas", alunos de ensino médio sem os requisitos para matricular-se na USP, inscreviam-se no vestibular como se já os possuíssem. Assim agiam, supõe-se, para avaliar o próprio desempenho contra os de candidatos reais, e não contra os de outros treineiros.

Convocados, não compareciam. Isso inflava as estatísticas sobre desistências, em prejuízo dos candidatos de fato interessados em vagas na universidade responsável por mais de um quinto da produção científica nacional.

Uma versão preliminar dos dados sobre as desistências indicava que quase um quarto dos convocados na primeira chamada do vestibular deixava de efetuar matrícula. Um número alarmante, como se anotou neste espaço.

Em seguida a cifra foi corrigida, com expurgo dos treineiros piratas. A proporção de desistências caiu de modo considerável, para 16,4% -ainda assim, um número digno de nota. Mais importante: ele confirma uma tendência de alta desde o ano de 2005, quando 10% deixavam de matricular-se.

A mudança aprovada ontem tenta corrigir as distorções. Persiste, porém, o fato incômodo de que um sexto dos aprovados na USP desdenha a vaga obtida.

Podem-se aventar razões benignas para o fenômeno, como a preferência por cursos mais próximos do local de moradia ou trabalho dos estudantes, agora que o acesso a faculdades privadas foi facilitado por bolsas do ProUni. Mas também é possível que a USP esteja enfrentando concorrência de outras universidades, particulares ou federais, no terreno da própria qualidade acadêmica.

A USP precisa agir com flexibilidade e inventividade para adaptar-se à nova situação. Tapar a brecha para a distorção dos treineiros piratas é só o começo.


Fonte: Folha de S. Paulo
Quem estudou os ensinos fundamental e médio na rede terá aumento do benefício de 12% para 15% na Fuvest
Universidade também toma medidas a fim de reduzir a influência dos chamados "treineiros piratas" no vestibular
PATRÍCIA GOMES
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

A USP decidiu que, a partir já do próximo vestibular, o bônus máximo de um aluno que estudou a vida toda em escola pública vai passar de 12% para 15% na Fuvest.

A decisão foi tomada ontem pelo Conselho de Graduação, que anunciou uma série alterações em seu sistema de bônus para alunos oriundos de escola pública.

Desde sua criação, os bônus eram pouco conhecidos e tinham alcance menor do que a universidade queria.

A partir de agora, todas as bonificações vão se basear no desempenho do concorrente na primeira fase da USP, composta por 90 questões de múltipla escolha.

A nova regra prevê que o aluno que tenha estudado a vida inteira em escola pública possa concorrer a bônus na Fuvest a partir do segundo ano do ensino médio.

Nessa série, o aluno fará a primeira etapa da USP e poderá obter um bônus de até 5%, que serão guardados para o ano seguinte. Mesmo quem não acertou nenhuma questão receberá 2%.

Já para o terceiro ano, o bônus pode chegar a 10% se o aluno acertar 60 questões ou mais, dois terços da prova.

Só neste vestibular, alunos do terceiro ano concorrerão a bônus de 15% por não terem feito prova no ano passado.

Apesar de o bônus total a alunos do segundo ano ser concedido para quem acertar metade da prova, educadores acham que o novo sistema dificulte a vida dos alunos, uma vez que impõe uma prova difícil a estudantes que ainda não viram todo o conteúdo do ensino médio.

Alunos que fizeram só o ensino médio em escola pública podem receber até 8% de bônus, em vez dos 9% em vigor até a prova passada.

O conselho decidiu também incluir, no momento da inscrição, uma autenticação de informações prestadas para tentar reduzir o efeito dos chamados "treineiros piratas" no processo seletivo.

O candidato que não está no terceiro ano do ensino médio, mas não se inscreveu na carreira destinada a ele, deverá assinar uma declaração abrindo mão de ser convocado para a matrícula. A Fuvest não sabe o que fazer com quem não quiser assinar.

Mas a medida não impede que os candidatos concorram a carreiras reais, o que infla a disputa dos cursos e atrapalha as chamadas.

MAIS ALTERAÇÕES

Outros assuntos, que podem endurecer as regras de entrada na USP já para o próximo vestibular, tiveram a discussão adiada para abril.

Serão analisados: 1) o aumento da nota de corte mínima de 22 para 27 pontos; 2) a diminuição do número de candidatos na segunda etapa; 3) a redução do número de perguntas na segunda fase; 4) a possibilidade de o candidato mudar de carreira a partir da terceira chamada; e 5) uso da nota da primeira fase no resultado final.


Fonte: Folha de S. Paulo
DE SÃO PAULO

A Fuvest disse ontem que os chamados "treineiros piratas" não influem no número de convocados para a segunda etapa.

Segundo a Fuvest, são chamados três vezes mais candidatos do que o número de vagas oferecidos, mais os treineiros.

A USP diz que para um curso com 20 vagas, são chamados os 60 candidatos com melhores notas mais os "treineiros piratas" para a segunda fase.

A presença dos "treineiros piratas" -foram 4,5% dos aprovados no vestibular deste ano- obriga a USP a fazer mais chamadas para preencher todas as vagas abertas. Com as mudanças aprovadas ontem, a universidade espera reduzir esse problema


Fonte: Folha de S. Paulo
Na Universidade do Estado do Amapá, fundada há 5 anos, cursos ainda não são reconhecidos
JEAN-PHILIP STRUCK
DE SÃO PAULO

Mais de cem alunos da Universidade do Estado do Amapá foram informados que teriam que adiar a cerimônia de colação de grau devido à falta de reconhecimento dos cursos.

Em funcionamento há cinco anos, a universidade ainda não regularizou nenhum curso no CEE (Conselho Estadual de Educação) nem se cadastrou no MEC (Ministério da Educação). Para o ministério, a Ueap não existe.

Sem o diploma, os alunos podem ter dificuldade para prestar concursos públicos e fazer mestrado.

Os 112 alunos que organizavam a colação de grau foram avisados no início de março que teriam que adiá-la devido à falta de reconhecimento dos cursos no CEE.

Eles são os primeiros a terminar a graduação na universidade, que conta com 2.158 alunos em 12 cursos, como letras e química. Segundo a instituição, 61 deles receberão certificados de conclusão de curso -os demais têm pendências acadêmicas.

Com o certificado, é possível se inscrever em outra universidade, mas ele tem de ser renovado a cada 90 dias.

LENTIDÃO

A Ueap diz que a lentidão do reconhecimento se deve a erros da gestão anterior e a deficiências do Estado.

O CEE, que reconhece cursos e valida diplomas de universidades estaduais, diz que o processo, entregue em 2009, avança lentamente porque o conselho não tem experiência na avaliação de cursos superiores.

A Ueap é a primeira instituição estadual de ensino superior do Amapá.
Ainda de acordo com o CEE, especialistas têm que ser trazidos de outros Estados para avaliar os cursos. Não há previsão para o fim do processo.
Já o reconhecimento do MEC, segundo a universidade, ainda não foi concluído.
Sem ele, Ueap não pode participar do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudante), que avalia os alunos, nem receber recursos de emendas parlamentares.
A universidade, que tem orçamento anual de R$ 8 milhões, funciona em dois campus. Um deles é alugado por R$ 35 mil mensais, valor que não é pago desde outubro.
Em cinco anos de existência, a Ueap nunca fez concurso para contratar professores. Os docentes são funcionários cedidos pelo Estado ou temporários.



Fonte: O Estado de S. Paulo
Ministra da Cultura fala sobre as polêmicas de sua recém- iniciada (e já agitada) gestão
27 de março de 2011 | 0h 00
João Bosco Rabello e Julio Maria - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA

"A Lei Rouanet viciou o mercado", afirma a ministra da Cultura

Ana de Hollanda sabia que o jogo seria violento. Seu irmão Chico Buarque avisou. Seus melhores amigos alertaram. "E, olha, confesso que está sendo mais violento do que imaginei", diz. A vaidade denunciada no cuidado com as unhas e o batom, a voz macia de cantora desde a juventude e a aparência de fragilidade escondem a determinação de enfrentar os conflitos gerados desde sua posse.

Poucas vezes se viu um início de gestão de tamanha turbulência na pasta da Cultura. Antes mesmo de tomar pé dos problemas herdados e ainda sem saber de qual orçamento disporia, foi alvo de furiosa campanha de segmentos insatisfeitos com seu primeiro ato: a retirada do selo Creative Commons do site do ministério.

O CC oferece uma relação mais livre dos usuários com as obras artísticas, mas repassando o custo ao autor, instado a reduzir seus direitos autorais. O gesto lhe valeu a pecha de "ministra do Ecad", para classificá-la de retrógrada.

Esse e outros episódios resultaram na desistência da contratação do sociólogo e cientista político Emir Sader - convidado por ela própria para dirigir a Fundação Casa de Rui Barbosa- que a chamou pelos jornais de "meio autista". Uma ala do PT disse que a dispensa de Sader foi do Palácio do Planalto. Ana, aqui, diz que foi dela.

A aprovação de captação de R$ 1,3 milhão em incentivos para Maria Bethânia elaborar um blog de poesia reabriu velhas e espinhosas discussões referentes à Lei Rouanet. Ana considera o episódio "uma tempestade em copo d"água."

Na semana passada, ela ouviu do governo norte-americano, durante a visita de Barack Obama ao Brasil, preocupações em torno de propostas de flexibilização dos direitos autorais apresentadas por seu antecessor, Juca Ferreira. Na visão dos americanos, elas poderiam representar um estímulo à pirataria.

Nessa entrevista ao Estado, a ministra aborda diretamente esses e outros temas, garantindo que a ação do governo em relação aos direitos autorais terá como limite a não intervenção nas relações contratuais privadas.

A senhora até agora falou pouco e ouviu muito. Está sendo um começo difícil?

Qualquer anúncio de mudança gera insegurança. Por mais que tentemos esclarecer que estamos estudando as questões, as pessoas querem respostas imediatas. Aí começam a sair versões do que poderia estar certo ou errado. Eu nunca tive uma situação como temos agora, de sentar para responder.

Qual foi sua primeira impressão ao ler o projeto de lei do ex-ministro Juca Ferreira, que pede mudanças na atual lei dos direitos autorais?

Aquela proposta me assustou um pouco. O direito do autor está previsto na Constituição, é uma cláusula pétrea. Ele tem que ser respeitado. Comentava-se muito no meio cultural que as mudanças estavam deixando o autor em uma situação frágil em vários aspectos.
Por exemplo?

Quando se falava das cópias de um livro, por exemplo. Se essa obra for editada sem autorização, pela lei vigente, a obra seria recolhida e o infrator pagaria uma multa de, se não me engano, o equivalente a 30 mil cópias. A proposta de reforma já falava em multa de até 30 mil livros. Ou seja, a multa poderia ser de um, dez ou 30 mil. São detalhes que deixam o detentor dos direitos em situação frágil.

As mudanças da lei propostas por Juca davam ao presidente da República poder para conceder os direitos de obras em casos especiais. A senhora já retirou esse poder do presidente e o repassou ao Judiciário. Qual é o limite da participação do Estado em questões ligadas aos direitos autorais?

Sinto ainda que existe uma interferência muito forte do Estado no projeto de lei e isso, de uma certa forma, vai infringir a Constituição. O direito de associação de artistas é permitido pela lei, é livre. Então o intervencionismo do Estado (na fiscalização do Ecad) é muito complicado. Mas entendo que é necessário haver, sim, uma transparência para os autores sobre seus rendimentos.

A senhora está dizendo que o Estado vai fiscalizar o Ecad?

Eles devem apresentar um balanço público (sobre o que arrecadam em direitos autorais).

O que a senhora discutiu com o secretário do comércio dos EUA, Gary Locke, durante a visita de Obama ao Brasil?

Ele estava muito preocupado com a questão da liberação dos direitos. De como a flexibilização no direito autoral pode acarretar mais tolerância com a pirataria. Isso não preocupa só os americanos, preocupa nossa indústria cinematográfica, editorial, fonográfica. Estão com medo de que essa produção seja fragilizada. É muito preocupante essa possibilidade de a gente liberar para o mundo nossa produção. Isso pode desestimular os artistas. Por que vão editar obras no Brasil se o Brasil não as protege?

Foi pensando assim que a senhora mandou retirar o selo do Creative Commons, que propõe maior liberdade nos licenciamentos de obras artísticas, do site do Ministério da Cultura?

Eu achei muito estranha a gritaria que esse caso criou. Aquele selo era uma propaganda dentro do site do MinC. Não existe a possibilidade de você fazer propaganda ali. A responsável agora sou eu e eu não podia permitir que isso continuasse.

A decisão da senhora então não foi ideológica?

Não, foi administrativa.

Então, ideologicamente, o que a senhora pensa dessa nova relação de direitos autorais proposta pelo Creative Commons?

A questão que me preocupa é que a concessão de direitos no Creative é irreversível. Há sempre um prazo para uso de direitos autorais. Eu posso ceder minha obra para tal uso por cinco, dez anos e depois eu posso reaver essa obra. Mas é bom dizer que essa decisão, de usar o Creative Commons, cabe unicamente ao autor.

Palavras da senhora no discurso de posse: "É importante democratizar tanto a produção quanto o consumo da cultura". A reforma na lei dos direitos autorais e o Creative Commons são em tese democratizantes, no sentido de que garantiriam que a cultura chegaria a mais pessoas. Democratizar está sendo mais difícil do que a senhora imaginou?

A democratização é possível sempre, mas ela tem de prever também o pagamento àqueles que criam. Um autor de um livro que trabalha dez anos com pesquisa vive disso. O direito autoral é o salário dele.

A internet foi o paraíso para muita gente, já que o preço de um CD se tornou inacessível para muitos. Como fazer com que esse consumo continue sem prejuízo para os autores?

Essa é uma questão, sim, que tem de ser estudada nos próximos passos que vamos dar. Agora há pouco, vi um estudo no Canadá que sugere cobrança dos direitos de provedores. Estamos nesse impasse entre a proibição absoluta - que é quase impossível, já que as pessoas estão baixando - e uma liberação que não prevê o pagamento de direitos.

Maria Bethânia teve a aprovação do Ministério da Cultura para captar via Lei Rouanet R$ 1,3 milhão para criar um blog de poesia. Qual a opinião da senhora sobre isso?

Isso foi uma tempestade em copo d"água. Projetos assim são aprovados mensalmente. A lei, que tem também modificação pedida no Congresso, prevê essa possibilidade. Não cabe a mim analisar ou interferir em uma questão que é julgada por uma comissão, que antes passa por pareceristas que analisam os preços e se o projeto é cultural ou não. E o mérito não é de qualidade, mas se é cultural ou não é cultural. Se os preços foram aprovados, está ok.

Ninguém contesta que o projeto de Bethânia seja legal, mas esse dinheiro não deveria ser garantido a artistas com menos recursos?

Olha, isso tudo está sendo revisto nessa reforma da lei que está no Congresso. Queremos favorecer mais o Fundo Nacional de Cultura, que poderá facilitar essa divisão melhor e que atenderia aos produtores que normalmente não atraem o patrocínio das empresas privadas. As empresas querem associar seus nomes a artistas consagrados, faz parte das leis de mercado.

E assim os departamentos de marketing acabam definindo a política cultural do País.

Sim, isso. A atual Lei Rouanet tem esse viés, que era necessário ser equilibrado. Chega a ser perigosa porque quase que exclusivamente se faz atividade cultural no País através da Lei Rouanet. Passou a ser imperiosa. Quando falamos da necessidade da cultura ser autossustentável, vejo como a Lei Rouanet foi prejudicial. Qualquer evento que se faz começa a ficar um megaevento e a ter custos mais altos. E para os artistas se inserirem nisso, precisam ter o nome forte. Agora, uma atividade mais experimental, nova, que não estiver no gosto do mercado, vai ter uma difícil aceitação. A Lei Rouanet viciou o mercado a trabalhar só através dela.

A senhora, como cantora, tentou emplacar projetos pela Lei Rouanet?

Eu não. Bem, até vi em um jornal que houve um proponente de um projeto meu que não foi aprovado, também porque a Lei Rouanet tem uma série de trâmites complicados. Acho que isso foi no período em que eu estava com o projeto de um disco e aí depois consegui trabalhá-lo de outras formas. Foi um projeto para ser aprovado, era um disco meu, sim, que depois acabei fazendo.

O grande público, alheio a Creative Commons, Lei Rouanet, direitos autorais, percebe que entra e sai ministério e uma coisa não muda: cinema, shows e teatro são cada vez mais caros. Como se muda isso?

Mas aí você está falando dos grandes, né? A Cinemateca, por exemplo, tem um acervo fantástico que distribui filmes para os pontos de cultura (centros de cultura nas periferias), os cineclubes estão crescendo. Você está falando das grandes estrelas.
Foi da senhora ou do Planalto a decisão de desistir da contratação do sociólogo Emir Sader para a Casa Rui Barbosa? (Em entrevista, Emir se referiu à ministra como "meio autista")?
Não, eu agi. Levei, conversei com o Palácio, sim, mas deixei claro que a decisão era minha, cabia a mim.

A senhora fala muito dos pontos de cultura, mas a situação deles é caótica, o dinheiro de alguns nunca chegou...

Já tive encontro com os representantes dos pontos. É assustador, porque são trabalhos em comunidades carentes. O princípio dos pontos é maravilhoso. O governo vai à comunidade e reconhece um trabalho cultural que já está sendo desenvolvido. Fazemos um trabalho para auxiliá-los, ajudamos a se equiparem melhor. Agora, alguns estão sem receber há algum tempo.

Não chegou o dinheiro de 2010.

Há outros que estão sem receber desde 2008. Alguns com problemas com documentação, mas há uma parte legal. E tem nosso orçamento que está bastante restrito, não só da Cultura, mas houve um corte grande.

Esse dinheiro chega este ano?

Já está sendo liberado. Vamos quitar com eles essa dívida.

Como a senhora, uma artista de formação e berço, chega para fazer política em Brasília?

Eu tive várias etapas da minha vida em que já passei por algumas experiências como esta. Estive envolvida na política pública em São Paulo.

Sim, mas Brasília é diferente. A senhora não sente dificuldades no jogo político?

Olha, em Osasco era um microcosmo disso, eu sentia lá também a pressão da sociedade, dos artistas, do executivo querendo fazer uma coisa mega. Eu sei que vou incomodar, você não pode atender a gregos e troianos. Agora, o fato de ser mulher ou ter um jeito delicado no falar não quer dizer que eu seja fraca ou insegura. Não sou nem um pouco insegura.
A senhora divide assuntos com seu irmão, Chico Buarque?

Eu acho que tudo o que ele não quer é que eu fique falando dos problemas do ministério (risos).
O Chico não queria que a senhora aceitasse o convite para ministra, certo?

Ele ficou assustado não por ele. Aliás, não só ele. Somos sete irmãos, todos ficaram assustados porque sabiam que o jogo era violento. E confesso que é mais violento do que eu imaginava. Porque esses movimentos organizados agiram com uma agressividade muito grande. E estão agindo ainda.

A senhora tem amigos na cúpula da música brasileira. Como ministra, está disposta a comprar briga com eles?

Eu acho que eles não vão brigar comigo, não. Como amigos, eu não os perco.

QUEM É
ANA DE HOLLANDA
CANTORA E COMPOSITORA

Nascida em São Paulo, em 1948, estreou musicalmente em 1964, no palco do Teatro do Colégio Rio Branco, no show Primeira Audição, integrando o grupo vocal Chico Buarque e As Quatro Mais. Já lançou quatro discos.



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