Notícias da Semana - 12/03 até 18/03/2011

sábado, 19 de março de 2011


Notícias da Semana
12/03/2011 – 18/03/2011
SUMÁRIO

Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
12/03/2011

Com 432 obras do museu Astrup Fearnley, exposição marca 60 anos do evento paulistano a partir de setembro

Exposições inteiras que a instituição já realizou serão colocadas em exibição no pavilhão do parque Ibirapuera

FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO

A exposição programada para comemorar os 60 anos da Bienal de São Paulo terá as dimensões de uma bienal ela mesma.

Com 111 artistas e 432 obras, "Em Nome do Artista" ou "Estar com Arte É Tudo que Pedimos" -ainda não está decidido qual será o título definitivo- será uma constelação de exposições, todas a partir do acervo do museu Astrup Fearnley, de Oslo (Noruega).

A exposição deve começar em setembro e ficar em cartaz por três meses, ocupando 80% do pavilhão da Bienal, no Ibirapuera.

A mostra será dividida em quatro módulos. Dois deles serão exposições inteiras que o museu organizou, e seu criador, o empresário norueguês Hans Rasmus Astrup, comprou na íntegra.

A primeira, "Uncertain States of America", organizada em 2005, por Hans Ulrich Obrist, Daniel Birnbaum e Gunnar B. Kvaran, mapeou a jovem produção norte-americana.

A segunda, "China Power Station", de 2007, teve a curadoria de Obrist, Kvaran e Julia Peyton-Jones. As duas exposições circularam por outros museus.

"Ambas as exposições virão a São Paulo ampliadas, pois seguimos comprando alguns dos artistas que dela participaram", conta o islandês Kvaran, de Oslo.

O curador esteve em São Paulo, na semana passada, para acertar os detalhes, entre eles a arquitetura da mostra, que será feita por Daniela Thomas e Felipe Tassara.

No próximo ano, o museu Astrup Fearnley e seu curador estão envolvidos com a organização de outra mostra sobre jovens artistas, desta vez tendo o Brasil como tema. Além de Obrist e Peyton-Jones, o curador brasileiro Paulo Herkenhoff também está participando de sua organização.

NOVOS CLÁSSICOS

Se "Uncertain States of America" e "China Power Station" representam toda uma nova geração na produção contemporânea (Allora & Calzadilla, que tomaram parte da primeira, irão representar os Estados Unidos na Bienal de Veneza, em junho), os outros dois segmentos da mostra irão se ocupar de nomes já consagrados.

Um desses segmentos será dedicado a grandes instalações. "Temos artistas, como Janet Cardiff, Matthew Barney ou Ernesto Neto, com obras de grandes dimensões na coleção, e por isso é importante que isso esteja representado", conta Kvaran.

Já o último segmento da mostra será dedicado ao que o curador chama de "novos clássicos".

"Quando Heitor Martins me mostrou o catálogo da 2ª Bienal de SP, de 1953, vi que, além de Guernica, de Picasso, havia uma seleção de 20 Pollocks, que naquela época era famoso, mas que pode ser comparado ao que são hoje artistas como Jeff Koons ou Damien Hirst", explica o curador.

Assim, nesta seção estarão obras de artistas como Cindy Sherman, Matthew Barney e Richard Prince, que nos últimos 20 anos alcançaram grande projeção no circuito da arte contemporânea.

"Temos tantas obras de cada um deles que será possível ter retrospectivas desses artistas dentro da própria exposição", conta Kvaran.

"Creio que, na reunião de todos esses artistas e obras, teremos um sabor de Bienal nos 60 anos da Bienal", diz.



Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
12/03/2011
Militante marxista, autor viveu exilado durante ditadura militar
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O escritor argentino David Viñas morreu na madrugada de ontem, aos 83 anos, em Buenos Aires, após o agravamento de uma infecção provocada por uma pneumonia.

O autor nasceu na capital argentina em 1927 e era uma das referências literárias do país. Deixou um ampla obra como romancista, ensaísta e dramaturgo.

Formado em letras pela Universidade de Rosário, ele fundou em 1953, ao lado do irmão, Ismael, a revista literária "Contorno", de tendência esquerdista.

Em 1962 recebeu o Prêmio Nacional de Literatura pelo romance "Dar la Cara". Voltaria a ganhar o prêmio em 1971, com o livro "Jauría".

Na década de 1970 também seria premiado pelas peças "Lisandro" e "Tupac-Amaru".

Militante marxista, Vinãs exilou-se no México e na Espanha após o golpe militar argentino de 1976.

Naquele período, os dois filhos do autor, María Adelaide e Lorenzo Ismael, foram sequestrados pelos militares e dados como desaparecidos.

Vinãs retornou à Argentina em 1984, quando foi nomeado professor de Universidade de Buenos Aires.


Fonte: O Estado de S. Paulo
Caderno: Sabático
12/03/11
Quase uma década e meia depois da estreia com o fenômeno 'Cidade de Deus', e após superar um duro bloqueio criativo, o carioca Paulo Lins finaliza seu segundo livro, 'Desde Que o Samba É Samba'
Raquel Cozer - O Estado de S.Paulo

Paulo Lins puxa uma revista do meio de uma pilha na estante e abre, sem nem precisar folhear, na página exata. "É verdade... Eu era muito diferente", diz, achando graça, ao rever a foto dele mesmo, meio magrelo, na edição amarelada de 1997, ano em que alvoroçou o mundo literário com seu romance de estreia, Cidade de Deus. Tinha então 39 anos - e pensar no tempo que isso faz o assusta. Ao longo de 14 anos, o autor viu o livro vender mais de 100 mil cópias no Brasil, virar um dos filmes nacionais mais bem-sucedidos no globo e sair em mais de 20 países - a conta ele perdeu, embora mantenha na estante traduções como a holandesa e a sueca e saiba que Estônia e Coreia do Sul estão na fila. Também deixou para trás a vida de professor, iniciou carreira de roteirista em produções como Cidade dos Homens e percorreu o mundo falando sobre o livro e o Brasil. Faltou conhecer o Oriente, resume, após desistir mais uma vez de contabilizar localidades.

E faltou um segundo romance. Cidade de Deus ganhou edição de bolso, retrabalhada e bem mais enxuta, em 2002, o ano do filme de Fernando Meirelles, mas depois não se viu nas livrarias outro título de Paulo Lins. Na época, ele falava sobre uma ficção iniciada para a Companhia das Letras, uma trama centrada num manicômio penitenciário e que tinha até título, O Plano de Marlon. Até que, em 2004, numa fase de grandes contratações, a Planeta apareceu com uma proposta irrecusável. "Ele chegou arrasado à minha sala. Disse que estava em situação difícil, que precisava aceitar", lembra Luiz Schwarcz, o primeiro editor, que deu a bênção para o autor pródigo deixar a casa. "Falei: "Paulo, quero o teu bem. Vai lá"." Paulo foi. E teve um enorme bloqueio criativo.

"Foi um bloqueio, uma parada, foi tudo de ruim", recorda o ficcionista ao receber com exclusividade o Sabático no apartamento em que vive há cerca de um ano, na Pompeia, em São Paulo. "Cidade de Deus fez muito sucesso e fiquei com medo de escrever outro romance. Me deu um "nossa!", sabe?. Todo mundo perguntava, ex-mulher perguntava, até aeromoça perguntava: "E o livro novo?" Teve uma hora que eu queria esquecer que tinha de fazer esse romance. Não queria esse peso nas costas."

Aos 52 anos, pai três vezes e solteiro de novo ("Não repito mãe pros meus filhos", graceja), o escritor mudou para a capital paulista para ficar perto do caçula, João, de 5 anos, que deixou o Rio com a mãe após a separação. Foi no pequeno aposento, quase nada mobiliado e com brinquedos cá e lá pelo chão, que encerrou a gestação lenta e sofrida de seu segundo romance. Desde que o Samba É Samba, feito, desfeito e refeito na última década, foi concluído em meados do último ano, aprovado pela editora e passa agora por minuciosa revisão. Paulo Lins, otimista (e feliz com a infinita paciência da casa que o acolheu), imagina que possa sair este semestre. Por via das dúvidas, a diretora editorial Soraia Luana Reis pôs para a segunda metade do ano no cronograma da Planeta.

A nova narrativa se passa entre os anos de 1928 e 1931, época em que surgia no cenário carioca a primeira escola de samba da cidade, a Deixa Falar. Um período em que portar pandeiro na rua podia até dar cadeia, narrado do ponto de vista de um malandro chamado Zé, frequentador da turma de Ismael Silva e da célebre Casa da Tia Ciata. Assim como Cidade de Deus, cuja história se passa no bairro em que o autor morou dos 7 aos 23 anos, Desde que o Samba É Samba transcorre em boa parte num reduto que lhe é caro - Estácio, berço do samba e do escritor, que ali viveu antes de mudar para o cenário do primeiro romance.

Mas Estácio não era um bairro entranhado na vida dele como Cidade de Deus. O romance de estreia demandou muita pesquisa oral e alguma histórica; para o novo, foi preciso inverter a lógica. A pilha de livros sobre a mesa de trabalho denuncia: Sérgio Cabral, José Ramos Tinhorão, Nei Lopes, todas as referências continuam ao lado do computador, à espera dos textos que voltam da revisão. O romance inclui temas pouco conhecidos, como a ação da máfia de cafetões judeus Zwi Migdal na Zona do Mangue carioca, e tabus, caso da homossexualidade de Ismael Silva - "Leve-me, lave-me, love-me", diz a certa altura o pai da Deixa Falar a um marmanjo, numa paquera imaginada pelo autor.

Poesia. Lins fala como os textos que escreve, intercalando histórias, detalhes e personagens, abrindo capítulos antes de retomar o tema. Questionado sobre a origem do novo livro, volta à infância, menciona o sonho de ser músico e a amizade com Marcelo Yuka, que rendeu versos noites adentro (e daí puxa um guardanapo com a letra de um samba em parceria, recém-encontrado dentro de um livro), retorna ao tempo em que cursava letras na UFRJ e ao livro de poesias do qual sente certa vergonha (Sobre o Sol, 1986), e de tudo isso se conclui que era uma ideia antiga - e ponto final.

Naqueles tempos, na faculdade, favela não era assunto que interessasse muito. Nem a ele, que morava numa delas, nem à literatura, ao cinema ou à TV. "Foi a universidade que começou a olhar para o morro", avalia. Ele mesmo teve esse empurrãozinho. Integrante de uma geração pós-marginal, fã dos concretos, de linguística e de metalinguagem, só parou para pensar na vida ao redor quando a pesquisadora Alba Zaluar o convidou a participar de um estudo sobre a criminalidade na Cidade de Deus.

Foi daí que conheceu o crítico Roberto Schwarz, colega de Zaluar na Unicamp, entusiasta de primeira hora e hoje amigo. "Quando um autor encontra a forma adequada de inserir um universo novo na literatura, é um acontecimento. Ele não só trouxe à literatura um assunto novo como descobriu um jeito original de tratá-lo de dentro para fora", diz Schwarz, que leu trechos de Desde Que o Samba É Samba e se anima com a informação de que o romance está enfim para sair: "Não me diga, mas que maravilha".

Gírias. Ainda morando no Rio, Paulo Lins foi tanto ao Estácio fazer pesquisas para o novo livro que um bloco local, o Muvuca de São Carlos, fez do autor enredo neste carnaval. A convivência não supriu a busca por expressões de época que pudessem ser agregadas à ficção. Mesmo depoimentos de sambistas ao Museu da Imagem e do Som eram fontes limitadas, já que os entrevistados evitavam gírias. A solução foi recorrer com mais ênfase a um expediente usado em Cidade de Deus: inventar palavras. "É uma das coisas de que mais gosto. Tenho esse direito", diz, e abre um arquivo em Word. "Por exemplo, bolodochia. "Tem uns babacas que são assim, cheios de bolodochia". Ninguém fala isso, né?"

Está certo que o direito de inventar palavras quase levou o primeiro romance a não sair no mercado de língua inglesa. As dificuldades que o texto impunha à tradução fadou as duas primeiras tentativas ao fracasso. O projeto ficou na gaveta até 2004, quando caiu nas mãos da australiana radicada em Santos Alison Entrekin, que penou por dois anos. As barreiras eram acima de tudo culturais, já que "os países de língua inglesa conhecem a pobreza com outras feições", mas as linguísticas também causaram sufoco - caso de um simples "trampar", que tomou dias até a tradutora decifrar que a palavra era usada no sentido de vender, e não de trabalhar.

A demora na publicação nos EUA e na Inglaterra fez com que Cidade de Deus, o livro, chamasse menos atenção naqueles países do que em outros nos quais saiu no embalo do filme. Não foi grande perda para o escritor, que tem participação nos lucros do longa - uma cláusula no contrato estipulada pela Companhia das Letras e que, na época, fez o iniciante e nada otimista Fernando Meirelles especular: "Ok, a gente coloca essa cláusula, mas acho que não vai render nada...".

TRECHO

"- É por causa das palhaçadas, da cabeça-dura, da burrice de certas pessoas que Deus e os santos ficam donos de nossas vidas (...). Tudo isso pra gente ter força, correria, juízo, inteligência, respeito próprio e peito aberto pra ganhar a vida... Pra ser normal, ser feliz com os filhos, os netos e os bisnetos na hora da morte por velhice. Essa é a morte de gente séria! E, pra isso, é só levar a vida certa, ter força pra trabalhar, se instruir... (...). Senão, a gente fica parado na vida que nem Ernesto e Valdemar. (...) Valdemar passa anos sem entrar numa igreja. (...). Na macumba, só vai no dia de Exu. (...) Eu é que não passo um domingo sequer sem igreja e uma quarta sem macumba, porque se Deus não der ouvidos, Oxalá escuta..."


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
O mítico editor brasileiro da revista "Mad" , Ota Assunção, vira um cara bonzinho , produz jogo para crianças e ganha um filme sobre sua vida
Luciana Whitaker/Folhapress
O editor Ota em seu apartamento repleto de revistas, jornais e papelada
IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Ota anda bem preocupado esses dias. Sua reputação de maluco, nojento e grosseirão que não toma banho, duramente construída após 30 anos à frente da edição brasileira da revista de humor "Mad", está em jogo. Tem gente achando que ele está virando bonzinho.
É que, recentemente, o velho e bom Ota, 56, deu para abandonar as melecas, as piadas infames e o politicamente incorreto para se dedicar a um singelo joguinho para crianças. Pior: trata-se de uma brincadeira on-line que quer ensinar história do Brasil de um jeito divertido às crianças a partir dos 5 anos.
Fãs se revoltam no Facebook (onde tem 638 amigos) e no Twitter (possui 4.714 seguidores). Na manhã de anteontem, um deles deu para xingar o Ota de "velho carola, beato e certinho".

Ota respondeu à altura: "Vai tomar no c*, seu filho da p&%$", para logo depois emendar que era uma brincadeira e explicar suas razões.

"Estou gostando desse negócio de trabalhar com crianças. Mas é uma fase. Depois eu volto a ser o velho Ota."

O velho Ota, quem já foi um adolescente conhece. Ele foi o responsável pela edição da revista "Mad" desde o seu primeiro número, em 1974, pela editora Vecchi.

Foi o responsável pela "Mad" quando ela trocou de casa para ser lançada pela Record, em 1984. Foi o responsável quando ela veio para São Paulo, pelas mãos da editora Mythos, em 2000. E também quando passou a ser lançada pela Panini, em 2008 (ainda em circulação).

Foi, enfim, o responsável por incutir na cabeça de milhões de adolescentes brasileiros -em seu auge, em meados dos anos 1970, a revista vendia quase 200 mil exemplares mensais- sátiras de diversos aspectos da vida, do entretenimento, da política, das celebridades e da cultura popular em geral.

Orgulhoso, Ota considera que, nesses 30 anos à frente de "Mad", ele ensinou "as pessoas a pensar". Mas, demitido da revista pela quarta vez (todas as editoras acima o demitiram; a última foi há dois anos), precisou correr atrás de outras coisas. Aí surgiu a ideia de fazer o tal do joguinho infantil.

É por isso que Ota anda preocupado. E resume: "Hay que enternecer, pero sin perder la grossura jamás".


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
RAIO-X

VIDA
Nasceu no Rio de Janeiro, em 1954, é formado em jornalismo pela UFRJ

REVISTAS
Editou a revista "Mad" entre 1974 e 1981 (editora Vecchi), 1984 e 2000, (Record), 2000 e 2006 (Mythos) e 2008 (Panini). Foi editor de outros gibis, como "Spektro", "Ken Parker" e "Love and Rockets"

LIVROS
Escreveu "O Quadrinho Erótico de Carlos Zéfiro" (1984) e lançou no ano passado, pela Leya, "O Relatório Ota do Sexo"


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
Otacílio d'Assunção tem coleções completas de revistas e acumula papéis há mais de 30 anos
Editor da "Mad" guarda desde gibis que fez aos seis anos de idade até páginas de quadrinhos de diversos jornais
DO ENVIADO AO RIO

No ano passado, Otacílio d'Assunção foi procurado para ser objeto de um documentário. "Ota, The Movie", em pré-produção, vai contar histórias engraçadas de sua vida, como o dia em que colocou fogo no próprio pé na redação do "Jornal do Brasil", ou quando, demitido da editora Vecchi, passou a vender camisetas no Rio com a inscrição "desempregado".

Mas a chegada do documentário desencadeou uma espécie de processo de revisão dos arquivos de Ota. Agora ele quer encontrar tudo: seus primeiros gibis, feitos aos seis anos, a revista que lançou em 1993, os santinhos da campanha em que se lançou para vereador em 1988 (com o lema "menos cocô nas praias") e muitas outras coisas que só ele lembra.

O problema é que ele vive no meio de um arquivo, em constante risco de despencar sobre sua cabeça. Ota é um colecionador compulsivo e seu apertado apartamento na zona central do Rio é um infindável corredor com jornais, revistas, caixas e uma papelada amarelada que mais parece um lote de pergaminhos alexandrinos.

Ota tem em sua sala, por exemplo, todas as cartas que leitores da "Mad" enviaram para a editora Record entre 1984 e 2000. "Não sei se tenho as da época da Vecchi, nos anos 1970", comenta.

Ota tem, em seu quarto do meio, coleções da "Mad" brasileira, americana, australiana etc, etc, etc. Sem falar nos quadrinhos de terror, de caubói, de super-heróis, de ficção científica, de aventuras na selva. "Vendi recentemente parte das réplicas, quero dizer, as que eu possuía duas ou três edições idênticas", esclarece.
No escritório, Ota tem cem CDs com fotos de mulheres peladas (não pornôs) que baixa todas as manhãs da internet e organiza em pastas. "Acho bonito", diz.

VHS

No quarto de dormir, há apenas um colchão no chão. E prateleiras com 800 fitas VHS, apesar de não ter um videocassete que possa reproduzi-las. "Quando o Cartoon Network apareceu, comprava uma caixa de fitas por semana para gravar todos os desenhos da Hanna Barbera", esclarece.

A obsessão de Ota é assim: "Hoje, é fácil baixar os desenhos pela rede ou comprar DVDs com temporadas inteiras dos Flintstones ou Pepe Legal. Mas, talvez, nessas fitas, eu tenha uma dublagem diferente e que não está mais disponível." Por isso, o editor aguarda o dia em que tiver dinheiro suficiente para digitalizar seu inestimável acervo.

Por enquanto, ele não dirige, não pinta o cabelo -apesar de muitos acharam que sim-, inveja o iPad que sua mãe de 84 anos comprou e ainda se considera um adolescente: foi casado por três anos, dividiu casa com mais duas mulheres, namorou dezenas de outras. O problema, sempre, é o colete -é que Ota faz questão de andar por aí com um colete de fotógrafo.

Anteontem, carregava em seus seis bolsos: uma caneta hidrográfica preta para desenhar, um fanzine que ganhou de presente, um isqueiro, um guardanapo de papel, um maço de Marlboro, um recibo de banco, um bloco para desenhar, uma reportagem sobre Carlos Zéfiro recortada d'"O Globo", um celular e sete outros papéis indefinidos.

"Disso, elas reclamam. E quando tenho que escolher entre elas ou o colete, fico com o colete. Sei que é difícil conviver comigo", admite.

Nesse momento de reflexão sincera, ele concede: "Se eu voltasse no tempo, acho que seria menos obsessivo. Ainda colecionaria, mas não precisaria ser coleções completas, né?" (IVAN FINOTTI)


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada

DO ENVIADO AO RIO

Ota teve a ideia de fazer o Jogo da história do Brasil depois que se viciou num jogo de mafiosos do Facebook. "Você começa roubando bolsa de velhinhas. Eu cheguei a ser traficante internacional, com uma quadrilha trabalhando para mim", conta.

Daí para o jogo infantil foi um passo. Com a ajuda de um irmão professor de história, Ota desenvolveu uma aventura com diversos minijogos, em que crianças a partir de cinco anos começam nas ruas de Lisboa em 1500 e precisam achar as 15 partes de uma caravela.

Depois, atravessam o Atlântico, com seus perigos, e desembarcam no Brasil, onde enfrentam índios (com flechas que usam aquelas pontas de borracha que grudam nas paredes) e ajudam a colonizar o país.

Sempre que a criança entrar no site, ela continua de onde parou quando desligou a última vez. Um banco de dados vai guardar os avanços de cada jogador.

O jogo, que ficará on-line para qualquer interessado, será oferecido para escolas. "É muito legal poder fazer um jogo divertido que ensina as crianças uma coisa boa, em vez de roubar bolsas de velhinhas ou matar inimigos", diz Ota.

O editor ganhou patrocínio da Oi Futuro, que disponibilizou R$ 180 mil para a criação do jogo. Deve ficar pronto até o fim do ano. (IF)

Fonte: O Estado de S. Paulo
Caderno: Caderno 2
Em Menina Nina, livro que ganha versão para o palco, autor trata da morte pelo ponto de vista de uma criança
Maria Eugênia de Menezes - O Estado de S.Paulo

Quando perdeu a mulher Vilma, Ziraldo viu-se compelido a prestar-lhe uma homenagem. Na hora de elaborar a morte da companheira de 47 anos, pensou em todas as homenagens que os artistas costumam render às suas amadas. Revisitou sonetos. Lembrou-se de réquiems famosos, de canções. "Mas me dei conta que a única coisa que sei fazer é escrever para crianças, e foi isso que eu fiz", comenta o autor de Menino Maluquinho.

Em 2002, Ziraldo lançou Menina Nina: Duas Razões para Não Chorar. Agora, o livro, que costuma ser apontado como a mais tocante de suas obras, ganha versão teatral. A estreia está marcada para amanhã, no Sesc Pinheiros.

Voltados para o público infantil, tanto o livro quanto a peça tratam da morte privilegiando o ponto de vista de uma garotinha. Foi pensando em confortar Nina, a primogênita de seus cinco netos, que o caricaturista e escritor concebeu o volume. "O único dos meus livros que ainda não tinha virado peça de teatro", lembra ele. "Todos os meus "meninos" já foram para o palco. Faltava a menina."

Quem aparece à frente da empreitada é o diretor Joaquim Goulart. Antigo ator da Cia. de Ópera Seca, de Gerald Thomas, Goulart construiu uma consistente carreira no teatro adulto, assinando espetáculos que se destacaram, como Bartleby.

Sua única experiência com as encenações para crianças foi em 1994, com o musical Cegonha, Avião... Mentira Não! "Ali, falava sobre o nascimento. Tinha planos de fazer um espetáculo que tratasse também da morte", diz o diretor.

Velho conhecido da família Alves Pinto, Goulart convocou também dois filhos do casal para fazerem parte da montagem: Daniela Thomas assina o cenário e Antônio Pinto compõe um canção original para a peça. "Será a primeira vez que os filhos participam de uma peça sobre um livro meu. Vai ser uma celebração", comenta Ziraldo, que diz não ter tomado parte nos ensaios ou no processo de adaptação para não cair na tentação de dar palpites.

O enredo de Menina Nina foca a intensa relação entre uma neta e sua avó. E tenta dar conta das dificuldades de lidar com a perplexidade que o luto pode despertar em uma criança. "Me chama a atenção o fato de esse tema ainda ser um tabu. Nunca estamos preparados para a morte. Ziraldo consegue tratar do assunto com muita delicadeza", aponta Goulart.

Para interpretar a protagonista Nina, o diretor escalou a atriz mirim Pietra Pan, que deve dividir a cena com dois veteranos.

Selma Egrei aparece na pele de Vivi, uma avó deslumbrada por sua primeira neta. Já Luciano Chirolli, que acaba de ser premiado com o Shell de melhor ator de 2010, surge como o avô Ziraldo. Aquele que vai ensinar à sua netinha que ela tem ao menos duas razões para não chorar mais.

QUEM É

ZIRALDO
ESCRITOR , JORNALISTA E CARICATURISTA

Nascido em Caratinga, Minas Gerais, Ziraldo começou sua carreira nos anos 1950. Fez sucesso em 1960 com a Turma do Pererê. É um dos fundadores do Pasquim e responsável por um dos maiores fenômenos editoriais do País, o livro O Menino Maluquinho.

MENINA NINA
Sesc Pinheiros.
Rua Paes Leme, 195, 3095-9400, Sáb., às 16 h; dom., às 11 h e 16 h. Recomendado a partir de 7 anos. Até 10/4.



Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
13/03/2011

Duas estrelas no turbilhão da vida

Biografias de Jeanne Moreau e Annie Girardot, editadas na França, revelam antinomias e pontos de aproximação

Luiz Carlos Merten - O Estado de S.Paulo
Novos livros editados na França iluminam a trajetória de duas grandes atrizes. Annie Girardot: Le Tourbillon de la Vie, O Turbilhão da Vida, de Agnès Grossmann (Hors Collection, 300 págs), não apenas reconstitui a experiência da estrela no cinema e no teatro como revela detalhes dolorosos de sua fase final, marcada pelo esquecimento produzido pelo Alzheimer. Annie morreu em Paris, na madrugada de 28 de fevereiro. Jeanne Moreau resiste, firme e forte. L"Insoumise, a que não se submete (Flammarion, 410 págs). A nota da editora define o livro de Jean-Claude Moreau como o relato do "turbilhão de uma vida".
Jeanne Moreau tem sido comparada a um turbilhão - de mulher, de atriz -, desde que, há 50 anos, estrelou Jules et Jim, que François Truffaut adaptou do livro famoso de Henri-Pierre Roché. O filme foi lançado no Brasil como Uma Mulher para Dois. É uma obra-prima de politesse francesa. Jeanne faz a terna e cruel Catherine, por quem se apaixonam dois amigos. Numa cena famosa ela canta Tourbillon, Turbilhão.
Filha de pai francês (barman) e mãe inglesa (bailarina), Jeanne Moreau nasceu em Paris. Bilíngue, foi criada na França e virou atriz francesa, mas é a primeira a admitir que seria atriz inglesa, se tivesse sido criada na Inglaterra. Atriz, sem sombra de dúvida. Jeanne cursou o Conservatório, com passagens pela Comédie Française e pelo Teatro Nacional Popular de Jean Villar, onde contracenou com o mito Gérard Philippe. Desde cedo, interessou-se pelo cinema.
Mesmo tendo sido a primeira rainha Margot - no filme de Jean Dréville, de 1954 -, Jeanne foi sempre uma mulher moderna. Os críticos gostavam de compará-la a Brigitte Bardot. Jeanne seria a BB mais intelectualizada. Como tal, ela se ligou à nouvelle vague (com Louis Malle e Truffaut) e estrelou obras cultuadas de Michelangelo Antonioni, Joseph Losey, Orson Welles e Luis Buñuel, entre outros grandes diretores. Seu prestígio internacional levou-a a ser a primeira atriz não norte-americana a ser capa da revista Time. Nem BB nem Sophia Loren, duas mega estrelas, além de mitos eróticos, tiveram a honraria.
O livro de Moreau é pródigo em histórias. Ele disseca duas cenas que ajudaram a esculpir o mito Moreau - o passeio da atriz pelos Champs Elysées em Ascensor Para o Cadafalso, de Malle, 1957; e a famosa cena de sexo oral em Amantes, também de Malle, 1958. O que o caminhar de Jeanne tinha de tão fascinante? Algo tinha, pois Buñuel e Antonioni a escolheram para seus filmes justamente por aquela cena. A ligação com Pierre Cardin, as amizades com grandes diretores, a predileção da Jeanne cantora por compositores brasileiros, a homenagem que recebeu no Festival do Rio, Moreau conta tudo. Entre as revelações inesperadas, duas a ligam a Annie Girardot.
O cineasta greco-francês Nico Papatakis sonhava com as duas, Jeanne e Annie, na sua adaptação de Les Bonnes, de Jean Genet. E Luchino Visconti teria escrito o papel de Nadia, em Rocco e Seus Irmãos, para Jeanne. Só depois que ela declinou da proposta - presa a outro contrato -, foi que o mestre italiano, decidido a ter uma estrela francesa, optou por Annie. O que teria ocorrido se Jeanne tivesse sido Nadia? Rocco e Seus Irmãos continuaria a ser um grande filme, Annie teria obtido reconhecimento pelos papeis em filmes de Claude Lelouch (Viver a Vida e O Homem Que Eu Amo), mas sua vida teria sido diferente.
Filha de uma parteira, Annie estudou enfermagem, antes de descobrir que sua vocação era ser atriz. Durante a filmagem de Rocco, apaixonou-se por Renato Salvatori. Amaram-se loucamente. Casaram-se e tiveram uma filha. Ela não suportava as traições do marido - tornou-se permissiva, indo para a cama com não importa quem, para mostrar que também era livre. Feriram-se demais, mas não conseguiam viver separados. Voltaram várias vezes, até a morte dele, por cirrose, em 1988.
Jeanne e BB, tão semelhantes - na insubmissão -, estrelaram juntas Viva Maria, de Malle, em 1965. BB e Annie, tão diversas - uma libertária, a outra, o protótipo da mulher mais reprimida -, também trabalharam juntas, em As Noviças, de Guy Casaril, em 1970. BB gostava tanto de Annie que escreveu, com dor no coração, o prefácio do livro de Agnès Grossmann. Annie teve a primeira manifestação do Alzheimer em Montevidéu, onde foi apresentar a peça Master Class. No palco, ficou confusa, esqueceu o texto. Sua condição só foi piorando. Na clínica, também estrava internado seu irmão, vítima de Alzheimer, como ela. Conviveram durante anos, sem se reconhecer. Lelouch, num depoimento emocionado, disse que ela permanecerá como sua mais bela lembrança, de homem e diretor. 

Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
Mônica Bergamo

Maria Bethânia conseguiu autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 1,3 milhão e criar um blog. A ideia é que "O Mundo Precisa de Poesia", nome dado ao site, seja dedicado inteiramente aos versos e traga diariamente um vídeo da cantora interpretando grandes obras. A direção dos 365 vídeos seria de Andrucha Waddington.

PARECE MAS NÃO É

Há três anos, Bethânia se envolveu numa polêmica ao ter um pedido de captação, de R$ 1,8 milhão para uma turnê, rejeitado pela área técnica do ministério. O então titular da pasta, Juca Ferreira, baiano como Bethânia, ignorou o parecer e autorizou a captação de R$ 1,5 milhão.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada em cima da hora
ilustrada em cima da hora
Cineasta Andrucha Waddington defende projeto de Maria Bethânia, do qual participa, após críticas na internet
Ministério autorizou captação de R$ 1,3 mi para site com vídeos da cantora e afirma não haver irregularidade
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

O cineasta Andrucha Waddington, que vai dirigir os vídeos do blog O Mundo Precisa de Poesia, considera "um equívoco" a polêmica em torno da decisão do Ministério da Cultura, que autorizou, anteontem, a cantora Maria Bethânia a captar R$ 1,3 milhão para o projeto.

O texto prevê produção e veiculação de vídeos diários de 1 minuto em que Bethânia vai interpretar poemas. O plano é que sejam colocados no ar 365 vídeos. A coordenação deverá ficar a cargo do sociólogo Hermano Vianna.

Noticiada ontem pela colunista Mônica Bergamo, na Folha, a aprovação da captação do dinheiro, via Lei Rouanet, teve repercussão e críticas nas redes sociais -estava entre as mais comentadas pelos brasileiros no Twitter.

"Se fosse documentário ou filme para ser visto por cinco mil pessoas no cinema, ninguém estaria reclamando", diz Waddington.

"Parece que internet não é um meio válido. Lá [no blog], os vídeos vão ser vistos por milhões, e de graça. Preciso trabalhar com uma equipe, com o mesmo padrão de qualidade dos meus filmes."

O cineasta estima que cerca de R$ 3.500 sejam usados por episódio, contando aí despesas com som, assistente de direção, produtor, ilha de edição, mixagem e pós-produção de imagem. Ele não revela seu cachê.

Procurada, Bethânia não quis comentar o caso. Mas seus sobrinhos, Jorge Velloso e Belô Velloso, saíram em defesa da cantora no Twitter.

"Não falei com minha tia ainda, mas já adianto que ela pensou de verdade em levar cultura para vocês. Que ingenuidade", escreveu Belô.

Jorge postou: "Caetano está errado. Lobão não tem razão! Nunca!". Referia-se ao inspirador de "Lobão Tem Razão", de Caetano. Lobão foi um dos que atacaram a decisão do MinC.

"Gerar projeto de poesia é muito bacana, mas as pessoas beneficiadas com essas leis são sempre as mesmas", disse Lobão à Folha. "O que fica bastante patente nesse movimento todo é que há uma parada chapa branca para a MPB. Na outra gestão, flagraram projetos de um milhão para DVD de Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, Claudia Leitte. Viva a Bahia!"

O MinC declarou, em nota, que "a aprovação, que seguiu estritamente a legislação, não garante, apenas autoriza a captação de recursos" e que os critérios "são técnicos e jurídicos".

O texto do ministério dizia, erroneamente, que a captação seria feita via Lei do Audiovisual -horas depois, o órgão soltou outra nota com a correção.

PARÓDIA

Entre as críticas à decisão do MinC, estava o Blog da Bethânia, uma paródia do projeto. "Criei o blog porque não recebi uma bolada do MinC e achei injusto", disse o autor do site, o publicitário Raphael Quatrocci, 28. "O humor é a melhor forma de demonstrar indignação."

Segundo ele, o blog teve cerca de 50 mil acessos ontem.

A assessoria de Bethânia disse que acha "absurdo" o conteúdo do blog falso.

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Colaborou RAFAEL CAPANEMA


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Poder
ilustrada em cima da hora
Cachê reservado à cantora representa 44% do total de R$ 1,3 mi que ela poderá captar para fazer seu blog
Remuneração da artista equivale a um salário de R$ 50 mil durante um ano; procurada, ela não quis comentar o caso
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

O orçamento do futuro blog de Maria Bethânia, aprovado pelo Ministério da Cultura, reserva para ela um cachê de R$ 600 mil pela "direção artística" do projeto.

O valor equivale a 44% do total de R$ 1,35 milhão que a cantora foi autorizada a captar em dinheiro de renúncia fiscal, via Lei Rouanet.

Ela informou ontem, por meio de assessoria, que mantém a decisão de não fazer comentários sobre o assunto.

A remuneração está prevista no orçamento que Bethânia entregou à Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, responsável pela escolha dos projetos a serem beneficiados pela lei.

O documento, obtido pela Folha, apresenta a cantora como a única responsável pelas atividades de "direção artística, pesquisa e seleção de textos e atuação em vídeos" do blog de poesia.
Três páginas adiante, uma planilha de custos fixa em R$ 600 mil a remuneração do "diretor artístico" -no caso, a própria cantora.

O orçamento diz que o valor equivale a um salário de R$ 50 mil, a ser pago nos 12 meses de duração do projeto.

O cachê reservado a Bethânia supera os R$ 467 mil que ela planeja gastar com produção, edição e legendagem dos vídeos que ela promete veicular diariamente.

No pedido de verba, a produtora Quitanda Produções Artísticas classifica o blog como revolucionário:

"Em meio a tantos absurdos do mundo moderno, a tantos problemas que cercam a vida de todos, nos propomos a revolucionar a vida cotidiana de cada um."

A captação dos recursos foi autorizada esta semana, como noticiou anteontem a coluna Mônica Bergamo.

Ontem, a reportagem teve acesso a dois pareceres do ministério que embasaram a decisão. O último relata "ajustes orçamentários" na proposta original, que previa captar R$ 1,79 milhão.

A pasta não informou os itens afetados pelo corte de R$ 440 mil. Em nota, afirmou que isso só pode ser checado mediante pedido de vista do processo, em Brasília.

Incluindo o blog, o ministério já autorizou Bethânia a captar R$ 10,5 milhões para seis projetos culturais desde 2006. Por problemas no sistema de acompanhamento virtual da pasta, não era possível saber ontem a quantia que ela chegou a arrecadar.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Poder
REPERCUSSÃO

Ontem, o site do Ministério da Cultura veiculou comentários irônicos sobre a polêmica. "Libera 200 mil pra mim que eu faço o blog e produzo os vídeos", disse um leitor. A página principal destacou algumas participações, reproduzidas automaticamente.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Opinião / pg. A3
ANDRÉ STURM
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É um local não apenas com um passado importante mas com um presente vivo e pulsante. Por isso decidimos manter o cinema aberto até o limite
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Em algum momento dos anos 70, quando eu era bem novo, meus pais me levaram a um cinema para assistir a um filme diferente, no qual quase ninguém falava.

Foi a primeira vez que fui ao Belas Artes e o filme era o magnífico "Meu Tio". Nos anos 80, foi lá que virei cinéfilo, assistindo ao melhor do cinema mundial.

Em 1984, comecei a participar do Cineclube da GV. A partir daí, minha vida sempre esteve ligada aos filmes. Participei da criação dos cineclubes Oscarito e Veneza, da restauração do Vitrine, da implantação da Sala Cinemateca. Mas meu sonho sempre foi o Belas Artes.

A oportunidade surgiu no final de 2002, quando soube que o cinema fecharia suas portas. Procurei o dono e propus uma parceria.

Ele pensava em sair da atividade, mas me deu tempo para conseguir parceiros. Foi quando meus amigos Andréa Barata Ribeiro, Fernando Meirelles e Paulo Morelli entraram na aventura e conseguiram trazer um importante patrocínio para fazermos as reformas necessárias.

Nesses oito anos, foram muitas histórias divertidas e emocionantes. E a alegria de ver o antigo cinema vivo e ativo. O "Noitão" virou um hit, com suas sessões lotadas varando a madrugada. Tivemos o cineclube e os filmes em cartaz por muito tempo.

Em março passado, nosso patrocinador avisou que não renovaria o contrato. Em maio, anunciei à imprensa a necessidade de um patrocínio, pois as contas não fechavam.

Começaram então as manifestações de apoio. Na imprensa, na internet, no cinema, pessoas querendo ajudar.

Uma fã criou um blog que em poucos dias tinha mais de mil pessoas inscritas.

O La Casserole liderou junto a outros excelentes restaurantes da cidade a campanha "Tudo pode dar certo". Um grupo de frequentadores e alguns funcionários criaram um abaixo-assinado.

Numa tarde, tomando café com uma amiga, notei uma senhora que convidava as pessoas a assinar. Então ela se virou para nós e perguntou, muito severa: "Jovens, vocês já assinaram?". Fiquei sem graça de dizer quem eu era e de perguntar o nome dela, mas fica aqui meu muito obrigado a essa senhora e a todos os que colocaram seus nomes no abaixo-assinado.

Em dezembro, quando finalmente tudo estava acertado com o novo patrocinador, fui informado pelo proprietário de que ele queria o imóvel de volta. Foi duro, depois de tanto esforço com o novo patrocínio, ver tudo perdido. E imaginar o Belas Artes fechado.

No início de janeiro, tive um dos dias mais tristes da vida quando comuniquei aos funcionários que o cinema fecharia. Decidi fazer naquele mês uma celebração do "espírito" Belas Artes, e não um funeral.

No dia 6, a Folha fez a primeira matéria sobre o fechamento. Foi um "tsunami". Toda a mídia passou a falar do assunto. Foi o tema mais citado no Twitter por dois dias. Houve passeatas e mais abaixo-assinados, além de uma mobilização popular como eu nunca havia visto por um tema cultural.

Em poucos dias, vimos o seguinte cenário: o prefeito, vereadores, entidades, pessoas e empresas ligando para saber como ajudar, o Compresp votando estudo para o tombamento do imóvel onde o cinema está e mais de 70 mil pessoas no Facebook em defesa do cinema.

Eu sabia que o Belas Artes era querido, mas esse apoio foi muito além do que eu poderia imaginar.

É um local não apenas com um passado importante mas com um presente vivo e pulsante. Por isso decidimos manter o cinema aberto até o limite, na data de hoje.

Teremos as últimas sessões nesta noite. Esperamos todos os amigos e apoiadores. Gostaria de agradecer a todos que tanto ajudaram. Fecharemos as portas, mas não o cinema.

Se o tombamento for aprovado e o proprietário nos procurar, reabriremos o cinema em seu endereço tradicional. Se não, o Belas Artes renascerá em outro endereço para os amantes do bom cinema. O Belas Artes não morre hoje!


Fonte: O Estado de S. Paulo
Caderno: Metrópole
Último dia de funcionamento do cinema teve sessões lotadas e frequentadores tirando fotos para guardar de recordação
Nataly Costa - O Estado de S.Paulo

Se tivesse um tapete vermelho na entrada, a última noite do Belas Artes poderia ser facilmente confundida com alguma pré-estreia ou a cerimônia de entrega de um prêmio importante. Mas foi a despedida do cinema que levou uma multidão para a esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista. Em vários momentos, funcionários e grupos de defensores do cinema se manifestaram com cartazes e gritos de ordem. Nas últimas sessões, lotadas, com a exibição de clássicos do cinema, o público batia palmas antes de cada filme.

Leonardo Soares/AEAdeus. Cinema se despediu do público paulistano com clássicos como 'La Dolce Vita', que teve os ingressos esgotados durante a tarde, e 'O Leopardo'

O fechamento do Belas Artes ainda não é tratado como definitivo pelo menos por seus defensores mais engajados. "Até 18 de abril teremos a resposta sobre o tombamento. E o que queremos é esse espaço como cinema. Nos interessa apenas o tombamento imaterial", afirma Anna Marcondes, presidente da Via Cultural, a primeira entidade a protocolar o pedido de tombamento no Conselho do Patrimônio Histórico de São Paulo (Conpresp). "Quero que vocês tratem essa última noite apenas como uma pausa para reforma", disse.
"Ainda apostamos no tombamento. Mas, por enquanto, é o fim. Se não der certo aqui, com certeza abriremos em outro lugar", disse André Sturm, sócio do cinema. Uma das opções é alugar um prédio no centro.

Com os últimos ingressos nas mãos, as palavras de conforto das autoridades que passaram por lá defendendo o cinema - o senador Eduardo Suplicy (PT), o secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil, o ex-vereador Nabil Bonduki - não aliviavam a desolação dos frequentadores. "Não sei o que é pior: o que vem pela frente ou o que não vem. Vamos ficar sem cinema", disse a aposentada Frida Blank Schich, de 72 anos. Ela frequenta o Belas Artes desde a década de 50 com o então namorado, hoje marido, Aaron Schich.

"Não dá nem para ficar falando senão a gente chora", desconversa Angélica Silva, que há 12 anos serve o café do cinema. Enquanto ela segurava as lágrimas, a artista gráfica Andressa Cardoso escrevia um poema para deixar na árvore de papéis montada na porta do cinema com bilhetes saudosos de frequentadores assíduos - e no Belas Artes todos são assíduos. "Para mim, esse é o Cinema Paradiso (em referência ao filme italiano de mesmo nome)."

Histórico. O "fecha não fecha" do Belas Artes começou em maio do ano passado, quando o cinema perdeu o patrocínio majoritário de um banco. O dono do imóvel, o empresário Flávio Maluf, queria um reajuste no valor do aluguel e nenhum outro patrocinador chegou aos R$ 150 mil pedidos. Muitas mobilizações, reuniões e prazos esticados do contrato depois, Maluf pediu o imóvel de volta.

Agora, o Conpresp é que, talvez, possa acabar obrigando o proprietário a manter o espaço com o mesmo uso - o imóvel não pode sofrer alterações enquanto a processo não for concluído. "É uma questão de utilidade pública. Se tanta gente na cidade quer preservar esse lugar, as autoridades têm de servir como porta-voz dessas pessoas", diz o escritor Afonso Lima, de 34 anos, um dos líderes dos protestos pelo cinema. O local seria alugado por uma loja, mas já não há previsão.

Hoje, deve começar a desmontagem dos equipamentos e móveis do Belas Artes. Um dos projetores deverá ser doado à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.

PONTOS-CHAVE
Inauguração
O Belas Artes foi inaugurado com esse nome em 1967, quando foi assumido pela Sociedade Amigos da Cinemateca. Antes, ocupava o mesmo espaço o Cine Trianon, aberto em 1952.

Incêndio
Em maio de 1982, um incêndio atingiu as principais salas do cinema. No ano seguinte, foi reinaugurado, agora com seis salas, a mesma configuração adotada até seu fechamento.

Patrocínio
Em 2010, o cinema perdeu o patrocínio do HSBC, cujo nome havia sido incorporado ao Belas Artes da fachada. Restaurantes da região fizeram uma campanha para ajudar a mantê-lo.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Cotidiano
ilustrada em cima da hora
Manifestantes prometem ocupar cinema, fechado após 6 décadas
DANIEL MÉDICI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A última sessão do Cine Belas Artes, após mais de seis décadas em funcionamento, não teve clima triste. Gritos, palavras de ordem e faixas se espalhavam num saguão lotado. A multidão também fez um minuto de silêncio.

Manifestantes prometem ocupar o imóvel, que deve ser entregue hoje ao proprietário, após a última sessão.

O Conpresp (órgão municipal do patrimônio histórico) votará no próximo mês o tombamento do local.

André Sturm, o dono do cinema, apesar de otimista quanto à chance de tombamento, deve desmontar todo o equipamento das salas de exibição. Ele afirma que doará parte do material à USP.

Na última sessão de cada sala, foi exibido um clássico do cinema, como "A Doce Vida", de Fellini, e "O Joelho de Claire", de Eric Rohmer. A princípio, as películas seriam rodadas sem cerimônia especial, mas Sturm discursou em todas as exibições.

"Queria que fosse uma celebração do cinema", afirmou. Ele também prometeu lutar pela preservação do espaço e, se for impossível mantê-lo, reabrir o cinema em outro lugar. "O Belas Artes é mais do que estas paredes", disse.

No hall de entrada, os frequentadores criaram uma espécie de árvore na qual penduraram centenas de bilhetes de despedida e de protesto. Muitos fotografavam o santuário improvisado.

A plateia era constituída de antigos frequentadores, funcionários e políticos, como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o vereador Gilberto Natalini (PSDB), autor do pedido de tombamento do espaço e espectador do cinema "desde 1970".



Fonte: DCI
Caderno: Capa
14/03/11
São Paulo - A Secretaria da Fazenda de São Paulo criou um programa que trouxe benefícios tanto para empresários quanto para o setor cultural do estado. De acordo com o advogado tributarista, Edson Baldoino Junior, cerca de 280 mil empresas poderão patrocinar projetos culturais e esportivos ao destinar até 3% do valor referente ao Imposto Sobre Mercadorias e Serviços (ICMS). Apesar deste programa ser executado apenas em São Paulo, o advogado acredita que outros estados poderão tomar como exemplo ação da Fazenda paulista.
Fernanda Bompan

Fonte: DCI
Caderno: Política Econômica / pg. A4
14/03/11

São Paulo - A Secretaria da Fazenda de São Paulo criou um programa que trouxe benefícios tanto para empresários quanto para o setor cultural do estado. De acordo com o advogado tributarista, Edson Baldoino Junior, cerca de 280 mil empresas poderão patrocinar projetos culturais e esportivos ao destinar até 3% do valor referente ao Imposto Sobre Mercadorias e Serviços (ICMS). Apesar deste programa ser executado apenas em São Paulo, o advogado acredita que outros estados poderão tomar como exemplo ação da Fazenda paulista.

Baldoino Junior explica que a Secretaria da Fazenda de São Paulo estabeleceu, ao Programa de Ação Cultural (PAC) e ao Programa de Incentivo ao Esporte (PIE), o limite de R$ 60 milhões em patrocínio. Desta forma, empresas que participarem do programa poderão aproveitar-se do benefício fiscal, de modo a creditar 100% do valor destinado ao incentivo. Segundo o advogado do Emerenciano, Baggio e Associados, Felippe Breda, essa possibilidade de receber crédito pode ser útil para empresas que possuem débitos em São Paulo. "Com esse crédito de ICMS, elas podem quitar suas dívidas. Isto pode ser interessante para algumas empresas", diz.

Empresas inscritas no Cadastro de Contribuintes do ICMS, contando que estejam enquadradas no Regime Periódico de Apuração, estão aptas a participar do programa. "O primeiro passo para aderir ao programa é pedir o credenciamento da empresa. Outra condição imprescindível é que a empresa esteja em situação regular em relação às obrigações definidas pela legislação. Assim, após efetivado o credenciamento, a habilitação será concedida no mês seguinte", alerta Edson Baldoino Junior.

O advogado explica ainda que é possível visualizar o calculo do limite mensal de cada contribuinte e a lista de projetos que podem ser beneficiados. "Podem ser escolhidos quantos projetos a empresa desejar, sempre respeitando o limite atribuído à ela, para cada um dos programas", afirma o especialista em tributação.

O patrocínio é efetivado apenas após o pagamento do boleto até a data de vencimento. Desta forma, o ICMS recolhido para estes projetos será descontado, como regra, do imposto recolhido pela empresa no mês seguinte.

Para Baldoino Junior, muitas empresas estão interessadas em aderir ao programa em São Paulo. "Ao colaborar com programas culturais, aumenta a credibilidade e a imagem positiva da companhia", aponta o advogado.

Felippe Breda endossa a opinião de Baldoino Junior sobre o benefício com relação à marca da empresa. Ambos também concordam que há grande vantagem para o estado, pois áreas como saúde, segurança e educação são mais priorizadas pelo governo do que a cultural. "O estado nem sempre tem tanto recursos público disponíveis para cultura, sendo necessário o capital privado", comenta Breda. Porém, ele discorda de que haverá muito interessados. "O crédito é pequeno. Vale a pena se a empresa tiver muitos débitos. O interesse tem que ser avaliado por cada companhia."

Em São Paulo

O recolhimento de ICMS é o mais expressivo em comparação com os demais impostos em todos os estados. Grande parte da receita do governo provém dessa arrecadação e São Paulo é o destaque.

De acordo com dados do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), a arrecadação de ICMS em São Paulo cresceu 17,49% de 2009 para o ano passado, ao passar de R$ 78,572 bilhões para R$ 92,316 bilhões. Em 2009, o recolhimento do imposto representava 34,25% do total de R$ 229,381 bilhões arrecadados naquele ano. Em 2010, essa participação passou para 35,77% do total de R$ 258,067 bilhões recolhidos. Minas Gerais que vem em seguida, em 2009, recolheu R$ 22,348 bilhões em ICMS a representar 9,74% do total. No ano passado, a participação subiu para 10,5%, de R$ 27,187 bilhões.

Neste ano, dados da Secretaria da Fazenda paulista mostram que a arrecadação de ICMS em janeiro foi de R$ 7,717 bilhões, deduzida a receita extraordinária do Programa de Parcelamento Incentivado (PPI). Em relação a janeiro de 2010, houve alta de 9,8%, de modo a ultrapassar os níveis registrados nos três meses imediatamente anteriores.

Fernanda Bompan



Fonte: O Estado de S. Paulo
Caderno: Caderno 2
Kathryn Beaumont fala sobre o clássico da Disney, que ganha edição especial em DVD e Blu Ray
Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo

Quando se mudou para os Estados Unidos por conta da 2.ª Guerra Mundial, a menina Kathryn Beaumont não sabia que sua vida sofreria mudanças tão radicais. Em 1949, quando estava com 11 anos, ela foi contratada pelos estúdios Disney para ser a inspiração e emprestar a voz à personagem principal da animação Alice no País das Maravilhas, que estreou nos cinemas em 1951. Clássico consagrado, o filme ganha agora uma edição comemorativa em DVD e Blu Ray pelo selo Disney.

"Walt tinha a exata noção de como seria a personagem, que acabou inspirada nos meus gestos e comportamento", contou Kathryn ao Estado, em entrevista por telefone. Os festejos pelos 60 anos da animação voltaram a movimentar a rotina da simpática senhora britânica, que ainda conserva os mesmos trejeitos e faceirices da menina do desenho animado.

Ela, que também dublou a personagem Wendy, em Peter Pan, moldou Alice - seus passos eram acompanhados pelos técnicos do estúdio, que a filmavam em busca de detalhes nos gestos. A medida foi especialmente útil em cenas como a que mostra Alice caindo no buraco que a leva até o País das Maravilhas. "Apesar de ser um trabalho extremamente sério, eu me divertia o tempo todo", conta Kathryn, que não se importou em não continuar no cinema, preferindo a carreira de professora.

A senhora já era contratada pelos estúdios Disney quando foi escolhida para viver Alice?

Sim, eu saí da Metro Goldwyn Mayer, na qual já era contratada como atriz mirim na Inglaterra, para a Disney em 1949 e lá participei dos testes que buscavam uma menina para emprestar a voz a Alice. Sempre me perguntam sobre os motivos de ter sido escolhida e lembro que meu sotaque britânico é que ajudou: Walt Disney buscava uma menina que falasse como uma inglesa, pois essa era a procedência da obra original. E sua preocupação era encontrar uma voz que agradasse também aos britânicos.

E como foi conhecê-lo, trabalhar ao lado dele?

Fiquei nervosa no primeiro momento, pois foi justamente o da assinatura do contrato (risos). Mas logo ele mesmo tratou de deixar o ambiente mais relaxado. Walt não se parecia com aqueles grandes chefes de estúdio, famosos por distribuir ordens para todos os lados. Quando ficou definido que o papel era meu, Walt me mostrou o livro de Lewis Carroll, apontou capítulo por capítulo e me contou a história da forma como ele interpretava determinadas cenas. Foi muito tranquilo.

A senhora precisou da ajuda de um treinador de voz?

Em poucos momentos. Na verdade, foi para ajudar a cantar de forma natural. Esse era o objetivo de todos: que eu agisse e falasse como se estivesse com minhas amigas.

Seus gestos e seus passos inspiraram os desenhistas a criar Alice. Como foi esse trabalho?

Foi engraçado, pois os técnicos me perseguiam com uma câmera de filmar em busca de referências. Era algo rudimentar, uma espécie de ancestral do "live action", mas foi muito útil aos animadores, que puderam ter uma visão mais realista dos movimentos de uma criança.
Creio que foi extremamente útil, especialmente em cenas como a queda de Alice no buraco, certo?

Sim, essa foi uma das mais importantes. Eles queriam ver o movimento da saia durante a queda, acreditando que se pareceria com um paraquedas. Assim, os técnicos colocaram um arco enorme por debaixo da minha saia. Também fui presa por estribos. Assim, eu simulava uma queda enquanto dizia minhas falas e tudo era anotado pelos desenhistas.

A senhora se lembra de outra cena?

Sim, várias. Gosto daquela em que Alice é muito grande para entrar na casa do coelho. Fiquei sentada em uma mesa e os técnicos prenderam pequenas casas de madeira em meus braços, com as mãos saindo pelas janelas. Os animadores olharam, olharam e comentaram: "Não vai dar certo" (risos). Eles não conseguiam observar os movimentos dos meus ombros nem da cintura. Devolveram as casinhas para a carpintaria que conseguiu produzir um modelo mais flexível.

Esse material gravado ainda existe?

Muitos rolos sobreviveram, ainda bem. E, neste DVD especial, há até uma cena que todos julgavam perdida, em que eu brinco com uma maçaneta. É um documento histórico muito importante de um trabalho árduo e minucioso. Eu me lembro da frase de um animador - segundo ele, todo aquele esforço seria recompensado quando minha família e meus amigos, ao assistirem à animação, ficassem espantados e dissessem: "É você na tela!"

E o que a senhora pensa da moderna versão de Alice dirigida por Tim Burton?

É fascinante como os recursos de efeitos especiais são mais desenvolvidos agora. Claro que tenho um especial apreço pelo papel de Alice, mas aquela foi a minha forma de viver o personagem. Mia Wasikowska, que fez o mesmo papel agora, trouxe características mais adultas à sua Alice, o que também é válido.

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Edição de 60º aniversário. Direção: C. Geromini. Disney. R$ 29,90



Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
14/03/11
No debate sobre a nova Lei do Direito Autoral , músicos se unem pelo fim da polarização de opiniões
ANA PAULA SOUSA
MARCUS PRETO
SÃO PAULO

Esse papo já estava qualquer coisa. E ninguém estava entendendo quase nada. Mas parece que, enfim, alguns artistas da música brasileira se dispuseram a discutir, com clareza e sem dedos em riste, a questão da reforma do direito autoral no Brasil.

O grupo inclui veteranos, como Jair Rodrigues, Francis Hime, Charles Gavin, Ivan Lins, Zélia Duncan e Fernanda Abreu, e representantes da nova geração, como Tulipa Ruiz, Romulo Fróes, Lucas Santtana e Nina Becker.

Todos assinaram uma carta aberta, publicada no endereço www.brasilmusica.com.br, que propõe a chamada "terceira via do direito autoral".

A intenção principal da movimentação é "fazer uma ponte entre os dois grupos que não se falavam e inviabilizaram a reforma da lei", afirma o cantor Leoni.

Os grupos a que ele se refere são, de um lado, os artistas que consideram necessária uma flexibilização na atual lei, visando adequá-la à era pós-internet; de outro, os que acham mais seguro deixar as coisas como estão.

"As pessoas estão mal informadas", diz ele. "Tanto as que querem a destruição de tudo quanto as mais radicais na defesa do status quo."

O músico Lucas Santtana concorda. "Não dava mais para ficarmos nesse Fla-Flu, como se fôssemos dois grupos políticos brigando", diz.

Mas o que está, afinal, em discussão? Trata-se de um terreno em que interesses públicos e privados convergem. Além dos autores, há outros dois protagonistas em jogo: investidores (gravadoras, rádios, editoras etc.) e consumidores.

As relações entre essas diferentes forças foram organizadas, no decorrer do século 20, a partir do "copyright".

Segundo esse modelo, o autor, quase sempre, cede todos os direitos de uma obra à gravadora ou editora.

Tem base nesse princípio a lei atual, promulgada em 1998, como atualização de uma lei feita em 1973.

Na tentativa de tornar essa lei mais "contemporânea", ou seja, adaptada aos avanços da tecnologia, os ministros da Cultura dos anos Lula (2003-2010), Gilberto Gil e Juca Ferreira, propuseram a revisão da lei atual.

RECUO POLÊMICO

O processo de reforma da lei foi submetido, em 2010, a consulta pública que envolveu artistas, produtores e empresários. Essa discussão deu origem ao projeto de lei que, em dezembro, foi encaminhado à Casa Civil.

Ao assumir a pasta, em janeiro, Ana de Hollanda pediu de volta o projeto, a fim de "revê-lo". Começava assim a principal polêmica da área cultural do recém-empossado governo Dilma.
Artistas e produtores vieram a público manifestar repúdio ao que consideraram um "recuo" na discussão.

A ministra também tem sido acusada, com frequência, de defender os interesses do Ecad (Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais), que recolhe e distribui os direitos de todas as músicas executadas no país.

Defendida pelo programa de governo do PT, a reforma do direito autoral virou, pela polêmica pública que tem causado, motivo de saia justa dentro do próprio partido.
A carta dos músicos, por isso mesmo, acabou sendo bem vista, inclusive pelo Ministério da Cultura.

"A proposta se aproxima muito do que o ministério pensa", diz Vitor Ortiz, secretário-executivo do MinC.

"Queremos colocar o debate num ambiente de maior consenso. Só assim o texto pode ter alguma chance quando chegar ao Congresso", afirma.

De acordo com Ortiz, o texto da reforma foi analisado pela nova equipe e, nesta semana, os responsáveis pelo tema no MinC apresentarão um parecer para a ministra.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
14/03/11
Instituto de Defesa do Consumidor avalia que a norma impõe "entraves ao consumo cultural"

Entidade diz estudar entrar com ação contra autores de campanha antipirataria que façam "propaganda enganosa"


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
14/03/11
DE SÃO PAULO
"A gente não pode punir o usuário que baixa música. Ele é fã, não é pirata." Com essa frase, o cantor Leoni, um dos articuladores do texto que prega a "terceira via" para o direito autoral, leva a discussão sobre a nova lei para a casa do consumidor.
"Não posso punir quem baixa música para ouvir, é uma falta de honestidade alguém dizer que nunca fez isso. E isso, no Brasil, é punível com três anos de cadeia."
O exemplo dado por Leoni ajuda a tornar palpável, para o cidadão comum, uma discussão que, até aqui, tem sido tratada como se dissesse respeito apenas a artistas, gravadoras e entidades arrecadadoras de direitos.
A carta trazida a público na semana passada ressalta que a grande questão a ser respondida é: como a sociedade pode tornar as obras culturais disponíveis para o maior público possível, a preços acessíveis e, ao mesmo tempo, assegurar uma existência econômica digna aos criadores e aos seus parceiros de negócios?
Trata-se, na verdade, de uma questão proposta pelo diretor-geral da OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelectual), Francis Gurry, e que passa a ecoar por aqui também.
"Não podemos mais demonizar o pequeno consumidor, o adolescente que baixa música de graça", diz a cantora Fernanda Abreu, fazendo eco a Leoni.

COTIDIANO PUNIDO
O advogado Guilherme Varella, do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) argumenta que a discussão sobre a Lei do Direito Autoral tem um aspecto diretamente ligado à cidadania.
"A lei atual impõe entraves ao consumo cultural. Ela barra atitudes cotidianas", diz Varella. "Isso fere o código de defesa do consumidor."
O advogado refere-se, por exemplo, às xerox tiradas nas universidades e à cópia de um CD para o iPod. Ambas atitudes são vetadas pela lei.
É fato que ninguém será punido por passar a música do CD para o iPod, mas o que o advogado do Idec argumenta é que a situação atual "traça um panorama geral de marginalização cultural".

CAMPANHA INDEVIDA
O Idec, de acordo com Varella, está estudando entrar com uma ação contra entidades que assinam certas campanhas antipirataria.
"Dizer que o CD vai explodir no seu aparelho ou comparar quem compra CD pirata com quem compra drogas é uma propaganda enganosa, lesiva ao consumidor", diz o advogado.
(ANA PAULA SOUSA E MARCUS PRETO)


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
14/03/11
DE SÃO PAULO

A discussão sobre a reforma da Lei do Direito Autoral que o Brasil começa a enfrentar tem acirrado ânimos e provocado enfrentamentos entre diferentes correntes ideológicas e econômicas nos mais diversos países.
Um caso que se tornou emblemático foi o da França. Em 2009, o país, já sob o governo Nicolas Sarkozy, aprovou uma lei, chamada Hadopi, que prevê punições rígidas para os usuários da internet que fizerem "download" ou compartilharem arquivos de forma ilegal.
A lei autoriza, por exemplo, o monitoramento de usuários pelos provedores e o corte de conexão no caso de ilegalidades.
A Espanha, que acabou de aprovar sua nova lei, tendeu a seguir os passos da França, prevendo a punição do usuário.
O Reino Unido vive, neste momento, o debate.
Na América Latina, as discussões são nebulosas em quase todos os países.
A Argentina, a exemplo do Brasil, já colocou o assunto em pauta, mas ainda não tem definições claras a esse respeito. Por ora, parece tender mais à rigidez do que à flexibilização.
O Chile também fez algumas mudanças na sua legislação, que foram consideradas progressistas.
O país legalizou, por exemplo, a transferência de arquivos de um equipamento para outro, desde que para uso pessoal, e retirou a cobrança de direitos autorais de conteúdos digitais para deficientes visuais ou auditivos.
(APS E MC)




Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
13/03/2011
Daniel Piza - O Estado de S.Paulo
Civilização é aquele tipo de palavra que só deveria ser escrita no plural, porque cada um tem sua definição para ela. Por isso fiz em 1997 uma lista de vários itens que para mim soavam civilizados, desde dar bom dia ou ter bons serviços públicos até poder ler grandes obras em seus idiomas ou escutar Maria Callas cantando Casta Diva. Historiadores como Arnold Toynbee e Will Durant (tão esquecidos!) trataram de civilizações no sentido de grandes ciclos culturais, dos fenícios e egípcios até o Novo Mundo. Já Mario Vargas Llosa defendeu em sua coluna que a civilização começou com o esgoto, com o acesso geral às redes de saneamento básico. E intelectuais como os que citei na semana retrasada - George Steiner, Ezra Pound, Saul Bellow - acham que a civilização é um arco que vai de Aristóteles a Einstein ou de Homero a Proust e, portanto, está em vias de extinção desde a Primeira Guerra (1914-18) e da ascensão da cultura de massas americanizada, pop, descartável, etc.
O curioso é que muitas das chamadas "grandes obras da civilização ocidental" são uma crítica à ideia de que as culturas possam ser nitidamente separadas em "civilizadas" e "bárbaras" e um alerta para o fato de que a tal barbárie está em nós, em nossos próprios impulsos destrutivos, que inocentemente julgamos poder reprimir sem custos. De Montaigne a Freud, essa crítica e esse alerta foram contundentes. Ou então pense nos romances geniais de Joseph Conrad, como O Coração das Trevas, em que o branco europeu que se julga superior às tribos que encontra no Congo termina gerando um grau de autoritarismo e crueldade inigualável - o que Euclides da Cunha captou também na Guerra de Canudos. Quando vemos que a política externa americana teimou durante tantas décadas em apoiar ditadores por suposto anticomunismo e antiterrorismo, como Kadafi, até que as próprias nações árabes do Norte da África deram seu grito de liberdade, sabemos muito bem, políticas à parte, do que Conrad e Euclides falavam.
No entanto, como negar os avanços da cultura europeia, do Renascimento ao Modernismo, passando pelo Iluminismo? Kenneth Clark escreveu que essa civilização se consolidou pelo endosso ao talento individual e pela crença nas faculdades humanas. Como não ver em Voltaire - com sua lucidez contestadora e criativa, sua defesa da liberdade religiosa, sua exaltação da ciência e da arte - como a melhor tradução da civilização em um homem só? Os ganhos de conhecimento e liberdade conquistados ao longo desses cinco ou seis séculos, apesar de todas as guerras e discriminações, foram consistentes e levaram esses países a ultrapassar civilizações que até o século 15 as superavam, como a chinesa e a islâmica. Ler Shakespeare e entender as revoluções de Newton e Darwin, para ficar em três conterrâneos de Clark, são acima de tudo um prazer mental, um modo de usufruir um dinamismo que move o cérebro e o corpo.
Devemos, porém, à cultura dos EUA boa parte da renovação dessa herança europeia. É fato que hoje não vemos tantos grandes nomes nas artes, mas há muitos fatores que podem ter levado a isso, inclusive um certo esgotamento formal, uma certa sensação de que gêneros antes centrais como o romance, a pintura e a música orquestral já não influenciam tanto. Mas novos e poderosos meios de comunicação se firmaram com vigor, como o cinema e a TV, a narrativa de não-ficção prosperou e a ciência continua abrindo caminhos sensacionais, da genética à física, da neurologia à medicina. A democracia é uma aspiração quase global, em cada lugar a seu modo, mas sempre movida pela noção de que a ascensão social deve se basear mais em méritos do que em privilégios. Muitas pessoas esquecem que Duchamp estava realmente elogiando a engenharia americana ao enviar um urinol para um museu, embora cometendo a besteira de alimentar o preconceito contra o passado, preconceito tão nocivo na cultura atual.
Nesse sentido, não entendo que tantos políticos e intelectuais tenham se voltado contra o mesmo progresso que criou tais influxos libertários. Sim, é errado supor que tais grandes nomes sejam mera expressão de suas culturas; não chego a dizer como Godard que "cultura é regra, arte é exceção", mas os gênios são, com frequência, os que enfrentaram a convenção. A convenção não é a verdadeira tradição, como alegam os conservadores; é sua distorção oportunista, sua diluição comodista. O que é duradouro um dia foi novo. Mas pelo mesmo motivo não dá para opor civilização e progresso, já que este lhe forneceu os elementos para "ver com olhos livres". Gosto da opinião de Llosa, mas acho que muitos outros inventos fizeram parte dessa história. Por exemplo: sem o dinheiro, o relógio e o motor, que já geraram tantos textos furibundos de anticapitalistas e religiosos, muitas das relações humanas se pautariam por categorias raciais e provincianas, muitas ações seriam desorganizadas e desmedidas - pois não revertemos o tempo - e não teríamos a distribuição de renda e cidadania que temos hoje nos países mais desenvolvidos.
Veja outro invento que poderia simbolizar tudo isso, o livro. Não sendo mercadoria de necessidade básica, poderia ser visto como produto sem valor; sem a invenção das máquinas de impressão, não teria saído das mãos dos monges, se espalhado pelo mundo e gerado o jornalismo; não teria transformado a industrialização e a urbanização em temas de reflexão, para levar conhecimento ao homem comum e vigiar as artimanhas do poder. O avanço tecnológico não traz apenas coisas boas, mas é impossível dizer que sem ele a humanidade desfrutaria dos direitos civis e padrões sociais de que hoje desfruta. E a ciência não contribuiu apenas com equipamentos e tratamentos, os quais aumentaram a expectativa de vida para mais de 80 anos em muitos países do século 21; contribuiu com a mentalidade civilizada, com a confiança do indivíduo em ter um ponto de vista independente sobre o mundo. Diante de um Rembrandt, não vemos a propaganda da aristocracia, da igreja ou de si mesmo: vemos sua apreensão única desses temas, sua individualidade insubstituível.
Talvez seja mais fácil dizer o que não é civilização em vez do que é. Quando leio que em Itupiranga, no Pará, há 160 assassinatos a cada 100 mil habitantes por ano, sei que ali não existe uma civilização. No Brasil, por sinal, a cultura vigente - formulada em boa parte por sociólogos e artistas de um século para cá - diz que existe uma vocação para a harmonia social, racial e sexual, a "aceitação das diferenças" que é outro traço distintivo da civilização moderna, urbana e democrática. Mas essa visão, como já escrevi, não resiste a uma semana de notícias. Como Llosa poderia lembrar, metade da população não tem acesso a saneamento, para não falar em livrarias, cinemas e boas escolas. A civilização brasileira não precisa ser igual à americana ou à europeia, e se o fosse não seria civilização. Mas sem as condições para que a grande maioria de seus habitantes tenha justiça, saúde, liberdade, conhecimento e criatividade - os cinco ingredientes sem os quais os caldos de cultura não se condensam em civilizações - qualquer pretensão se evapora.
Rodapé. O primeiro volume de As Entrevistas da Paris Review (Companhia das Letras) é um banquete para quem gosta de literatura e jornalismo. São entrevistas antológicas, com escritores como Primo Levi, W.H. Auden, Céline e Faulkner. Há momentos de delicioso mau humor, como Hemingway respondendo "Como nomeia seus personagens?" de forma curta e grossa: "Da melhor maneira que posso". Ou Borges reclamando das pessoas que querem ver "mensagens" em seus contos: "Quando escrevo, escrevo porque uma coisa precisa ser feita". E declarando que quis fazer um híbrido de ficção e ensaio, como, digo eu, quase todos os modernistas. Ou então há respostas curiosas, como Truman Capote dizendo que lê cinco livros por semana. Eis uma boa leitura para esta semana.
Por que não me ufano. Sempre que chega a época de carnaval a mídia se enche de interpretações do que ele significa. Como o futebol, ele é obviamente uma festa que espelha valores bons e ruins da sociedade brasileira, no modo como são praticados; mas há uma insistência em converter ambos em projetos dessa sociedade, em roteiros para sua salvação. No caso do carnaval, uns veem por trás de seu desbunde profano um desejo de eternidade, uma busca do sagrado; outros veem a revolta social, a crítica da hierarquia brasileira, a catarse dos recalques acumulados nos "dias úteis". Menos, menos. O carnaval é o que as festas coletivas são: uma diversão excessiva, uma vontade de entrega aos instintos, uma tradução da tristeza em alegria (não uma simples expressão de alegria). Deixem a brincadeira ser apenas isso, uma brincadeira - ou tudo isso.

Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustríssima
13/03/11
LITERATURA
Pela primeira vez, há mais escritores do que leitores de literatura
RESUMO
O escritor argentino registra aspectos de seu cotidiano em Princeton, onde leciona literatura: relata alucinações causadas por um distúrbio neurológico, seus passeios furtivos por Nova York e o assédio telefônico de um traficante de cocaína; e reflete sobre literatura contemporânea a partir de contos tardios de Liev Tolstói.
RICARDO PIGLIA
tradução PAULO WERNECK

SEGUNDA Eu tinha parado de beber e sentia pequenas perturbações que me produziam efeitos estranhos. Não conseguia dormir e nas noites de insônia saía para caminhar pelas ruas vazias. O povoado parecia desabitado, e eu, feito um espectro, me enfiava nos bairros escuros. Via as casas na claridade da noite, os jardins iguais; ouvia o rumor do vento entre as árvores.

TERÇA Saí desses estados meio embriagado, como quem passou tempo demais olhando para a luz de uma lâmpada. Acordo com uma estranha sensação de lucidez, lembro vividamente alguns detalhes isolados -uma corrente quebrada na trilha, um pássaro congelado na neve, a frase de um livro. É o contrário da amnésia: as imagens estão fixas com a claridade de uma fotografia. Só o meu médico em Buenos Aires sabe o que está acontecendo e, assim, em dezembro me proibiu de viajar. Impossível, tenho que dar aula. Se os sintomas persistissem eu precisaria ser examinado. É um grande clínico e um homem afável; sempre está sereno. Segundo ele, eu padecia de uma estranha doença chamada "cristalização arborescente". O cansaço acumulado e um leve distúrbio neurológico produziam em mim pequenas alucinações.

QUINTA Há um mendigo que passa a noite no estacionamento do restaurante Blue Point, no final da Nassau Street. Tem um cartaz no peito que diz: "Sou de Orion", e veste um sobretudo branco, abotoado até o pescoço. De longe, parece um enfermeiro ou um cientista em seu laboratório. Ontem, quando voltava de uma de minhas caminhadas noturnas, parei para conversar com ele. Escreveu que é de Orion para o caso de aparecer alguém que também seja de Orion. Precisa de companhia, mas não de qualquer companhia. "Só gente de Orion, Monsieur", ele me diz. Acha que sou francês, e não o desmenti, para não mudar o rumo da conversa. De repente fica em silêncio, depois se recosta sob o beiral e dorme. Tem um carrinho de supermercado no qual leva todos os seus pertences.

SEXTA Quando me sinto enclausurado vou a Nova York e passo um ou dois dias em meio à multidão da cidade, sem ligar para ninguém, nem deixar que venham me ver, visitando lugares anônimos e evitando os bares. Paro no Leo House, uma residência católica, dirigida por freiras. Foi criada como hospedaria para os familiares que visitavam os doentes de um hospital próximo, mas agora é um hotelzinho aberto ao público (ainda que sacerdotes e seminaristas tenham prioridade).

No Chelsea, encontrei uma locadora de vídeo, Films Noir, especializada em filmes policiais. O dono é bastante simpático; é chamado de Dutch por ser filho de holandeses. Tem algumas joias impossíveis de achar, por exemplo "Curva do Destino" ["Detour", 1945], de Edgard Ulmer, extraordinário, super filme B, rodado em uma semana, quase sem dinheiro; vastos primeiros planos de viagem de carro, conversas em "off", luzes na noite. Conta a história de um homem desesperado que pega caronas e se perde nos desvios do caminho. Parece uma versão psicótica de Kerouac. Tudo o que encontra por acaso na estrada é destrutivo e mortal.

Na verdade estou procurando "Section des Disparus" [1956], do diretor francês Pierre Chenal, baseado no romance de David Goodis e filmado em Buenos Aires nos anos 40. Um filme mítico, que ninguém viu. O Holandês me assegurou que consegue localizá-lo, mas tenho que lhe dar tempo, ele acha que existe uma cópia num dos sites piratas peruanos, El Polvo Azul, onde se encontram réplicas de todos os filmes que já se filmaram no mundo.

SEGUNDA Ontem, quando voltei para casa, era perto da meia-noite. Encontrei correspondência atrasada na caixa de correio, mas nada importante, contas a pagar, mala direta. Assisti à TV por um momento, os Lakers venciam os Celtics, Obama sorria com seu ar artificial e bonachão, um carro naufragava no mar num anúncio da Toyota, num canal estava passando "Fogueira de Paixão" ["Possessed", 1947], de Curtis Bernhart, um dos meus filmes preferidos. A Joan Crawford aparece no meio da noite num bairro de Los Angeles e deambula pelas ruas extremamente iluminadas.

Acho que adormeci, pois o telefone me despertou, e alguém que conhecia o meu nome e me chamava de professor com demasiada insistência ofereceu-se para me vender cocaína.

Quando o telefone tocou, achei que era um amigo que me ligava de Buenos Aires e baixei o som da TV. Quando o traficante se anunciou, pensei que tudo era tão insólito que só podia ser verdade. Eu me neguei e cortei a ligação.

Poderia ser um trote, um imbecil ou um agente da DEA [a agência antidrogas americana] que estava controlando a vida privada dos acadêmicos da Ivy League [grupo de oito universidades de elite americanas]. Como ele sabia o meu sobrenome?

Na tela, as figuras silenciosas de Geraldine Brooks e de Van Heflin se abraçavam sob a claridade pálida. Do outro lado da janela, vi a casa iluminada do meu vizinho e, na sala de baixo, uma mulher de jogging que fazia exercícios de tai chi, lentos e harmoniosos, como se flutuasse no ar.

QUARTA Ultimamente apareceram o que poderíamos chamar de utopias defensivas. Como podemos escapar do controle? Uma estratégia de fuga impossível, pois não existe lugar de chegada. Uns meses atrás, fizemos uma antologia em Buenos Aires e pedimos a 20 narradores de diferentes gerações que escrevessem um conto situado no futuro. Os textos, mais do que apocalípticos, eram ficções defensivas, definidas pela solidão e pela fuga. São utopias que tendem à invisibilidade, tentam produzir um sujeito fora de controle.

SÁBADO As mulheres que saem para fumar na porta dos edifícios de Nova York têm um aspecto furtivo, me diz ela, são inquietantes. Veem-se poucos homens, cada vez menos, fumando na rua. As mulheres saem de seus empregos e acendem um cigarro sob o ar gelado, determinadas pela urgência e pela graça sedutora do vício. Um vício débil, se é que se pode chamá-lo assim. Os ianques ainda se escondem. Sinto ter parado de fumar ao vê-las, me diz. Depois, como se continuasse o que disse antes, diz: nesta época, pela primeira vez na história, há mais escritores do que leitores de literatura.

QUINTA Depois de tantos anos escrevendo nestes cadernos comecei a me perguntar em que tempo verbal devo situar os acontecimentos. Um diário registra os fatos enquanto acontecem, não os recorda nem os organiza narrativamente. Tende à linguagem privada, ao idioleto. Por isso, quando alguém lê um diário encontra bloqueios de existência, sempre no presente, e só a leitura permite reconstruir a história que se desdobra invisível ao longo dos anos. Os diários aspiram ao conto, e nesse sentido estão escritos para serem lidos (ainda que ninguém os leia).

TERÇA Trabalho no prólogo de uma edição dos últimos contos de Tolstói. Ele os escrevia em segredo, escondido de si mesmo, e são, sem dúvida nenhuma, excelentes, bem melhores que os contos de Tchekhov.

Depois da conversão que o levou a abandonar a literatura, Tolstói decide dedicar sua vida aos camponeses, converter-se em outro, ser mais puro e mais simples. Renuncia às suas propriedades, quer viver do trabalho manual. Resolve aprender a fazer sapatos, pois um par de botas bem-feitas são, segundo diz, mais úteis do que "Anna Kariênina". O sapateiro do povoado lhe ensina -com temor diante das incompreensíveis excentricidades do conde- seu velho ofício.

Tolstói anotou em seu diário: "Escrever não é difícil, o difícil é não escrever". Essa frase deveria ser o lema da literatura contemporânea.




Fonte: Valor Econômico
Caderno: Empresas
Cibelle Bouças | De São Paulo
18/03/2011

Quando o empresário do mercado financeiro Carlos Eduardo Ernanny decidiu apostar nos livros digitais e lançou a livraria virtual Gato Sabido, não imaginava que sua iniciativa no segmento lhe renderia uma segunda empresa. Após enfrentar dificuldades para criar seu catálogo de livros virtuais e padronizar os arquivos para formatos protegidos contra cópias piratas, Ernanny decidiu usar a experiência para abrir um novo negócio, voltado para auxiliar outras livrarias e editoras. Assim surgiu, em abril de 2010, a Xeriph, primeira distribuidora de livros digitais do país.

A empresa foi fundada com um investimento inicial de R$ 2 milhões, feito por Ernanny e seu sócio na Gato Sabido, Ricardo Schermann. Nesta semana, recebeu um novo aporte de capital, de R$ 3 milhões, realizado por um grupo de executivos de uma empresa nacional, cujo nome é mantido em sigilo. Nos nove primeiros meses, a Xeriph funcionou de forma pré-operacional. Para este ano, afirma Ernanny, a expectativa é obter um faturamento de R$ 10 milhões, mais que compensando os investimentos realizados.

"A Gato Sabido ainda é a empresa que gera mais receita, mas aposto muito no desempenho da Xeriph", afirma Ernanny, que prevê um aumento mais significativo da receita no segundo semestre. Ele mantém em sigilo os dados de faturamento e lucro da livraria virtual.

O negócio da Xeriph é bastante similar ao da americana OverDrive, empresa de distribuição digital de livros eletrônicos, audiolivros e outros conteúdos digitais. À semelhança da americana, a Xeriph oferece para as editoras tecnologia para a conversão de arquivos de livros do formato PDF para ePub (que permite a leitura em aparelhos como o Kindle, da Amazon) e a guarda desses arquivos em seu centro de dados. Até agora, a empresa já fechou contrato com cem editoras para oferta de 3,5 mil livros digitais no seu site.

Para as livrarias e outras redes de varejo, a empresa fornece um software que faz a encriptação (método que impede que os arquivos possam ser copiados) e permite a compra e download imediato de livros digitais. A empresa também oferece aplicativos de leitura para iPhone e iPad, da Apple, e aparelhos com sistema Android, do Google.

"A meta com a nova empresa é ser uma OverDrive da América Latina", afirma Ernanny. Fundada em 1986, a companhia lidera o mercado de distribuição digital nos Estados Unidos, abrigando atualmente 500 mil livros digitais de mil editoras. De acordo com o sócio e presidente-executivo da Xeriph, a empresa já tem estrutura para liderar o mercado brasileiro de distribuição de livros digitais.

A companhia já fechou contrato com livrarias e varejistas, como Ponto Frio, Extra, Livrarias Curitiba, livraria virtual Leonardo da Vinci e Editora Abril. O próximo passo da empresa é negociar com universidades e prefeituras a organização de bibliotecas digitais. "É nosso objetivo cuidar do patrimônio das editoras, que são os livros", afirma Ernanny. O nome Xeriph, de origem árabe, era usado para designar homens que protegiam os lugares sagrados.



Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
12/03/2011
PAINEL DAS LETRAS
Editoras tradicionais como Penguin, Bloomsbury e HarperCollins fazem suas experiências com livros que possuem recursos de animação no mercado americano e inglês. Mas são as jovens empresas de fora da tradicional indústria de livros, algumas com dois ou três anos de existência, que têm produzido com mais inovação e rapidez. Nascem de executivos que migraram de áreas como a de games e a de design. O que inventam é chamado de "app", diminutivo em inglês da palavra "aplicativo", e a maioria produz para o público infantil e juvenil. Uma das mais promissoras é a Oceanhouse Media, fundada em 2009, que já produziu mais de 160 "apps", muitos já best-sellers no segmento. Ruckus Media, iStoryTime, Nosy Crow e PicPocket Books são mais exemplos de uma lista que pode chegar facilmente a algumas dezenas. Com o lançamento do iPad-2 pela Apple há uma semana, e a expectativa da chegada de novos "tablets" concorrentes, analistas estimam que o mercado de "apps" vai crescer ainda mais em 2011.

VERSOS INÉDITOS DE MARIO

A reedição de "Poesias Completas", de Mario de Andrade (1893-1945), que está sendo concluída pela Nova Fronteira, terá uma surpresa para os leitores: um volume extra, com cerca de cem poemas publicados apenas em jornais e revistas, além de outros tantos inéditos. Esses versos novos foram encontrados no acervo pessoal que está hoje no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), da USP, e é pesquisado por uma equipe chefiada por Telê Ancona Lopez. Sete livros do autor já foram relançados. A editora carioca deve mandar para as livrarias ainda este ano um de crônicas, outro de ensaios e um romance inédito. Numa operação minuciosa, a equipe do IEB compara a primeira edição de cada livro com os exemplares de trabalho do autor, isto é, aqueles com anotações para mudanças que ele queria fazer em futuras edições.

O PADRE ENCICLOPEDISTA

José Mariano da Conceição Veloso (1741-1811), franciscano e naturalista, é desconhecido dos leitores. Mas duas instituições ligadas ao livro, a Biblioteca Nacional (RJ) e a Brasiliana-USP se preparam para realizar ao mesmo tempo -e até agora sem saber uma da outra- eventos na passagem do bicentenário de sua morte. Veloso foi o editor da Tipografia do Arco do Cego, uma espécie de enciclopédia portuguesa, que funcionou por curto período (1799-1801), mas publicou quase uma centena de livros. Em sua tipografia moderna para a época, publicou o que havia de mais recente, e as obras chegavam até o Brasil.

David Foster Wallace As vendas só começam em abril, mas já se faz lista de espera em livrarias on-line para o romance "The Pale King", que David Foster Wallace deixou inacabado ao morrer, aos 46 anos, em 2008. A Companhia das Letras, que publica Wallace no Brasil, programa para 2012 um volume de ensaios.

Cenário turco

A Turquia, que desperta interesse desde que Orhan Pamuk recebeu o Nobel em 2006, é a aposta da editora carioca Tinta Negra. Chega às livrarias na próxima semana "A Noite dos Calígrafos", de Yasmine Ghata.

Te cuida, Jamie Oliver

Chakall, chef-estrela da TV portuguesa, vai ser traduzido no Brasil pela editora Senac São Paulo. Argentino com pinta de galã, é conhecido por usar turbante e gostar de viagens. Faz sucesso também na Espanha, França e Alemanha. A aquisição foi feita durante a Paris CookBook Fair, na semana passada, evento em que a Senac São Paulo recebeu oito prêmios Gourmand Cookbook Awards, o mais importante do segmento. O primeiro livro de Chakall a sair aqui é da alemã DK, que ganhou o prêmio deste ano na categoria "Best Television Celebrity Cookbook Western Europe".


Fonte: O Estado de S. Paulo
Caderno: Caderno 2
14/03/11
Grupo editorial português oficializa hoje, dia da poesia, sua chegada ao País
Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo

O poeta e artista plástico Almada Negreiros (1893-1970) foi um notável pensador. Figura controversa, foi, para muitos (como José Saramago), o responsável pela segunda revolução modernista em Portugal, atacando em alto nível a cultura burguesa instituída e os seus representantes. "Hoje, é lembrado como homem extravagante, mas, para mim, sua importância é fundamental", comenta Paulo Teixeira Pinto, ex-presidente do maior banco privado de Portugal, o BCP, e agora presidente da Babel, grupo editorial que se instala oficialmente no Brasil hoje, dia da poesia.

Será durante um evento no Museu da Língua Portuguesa, onde serão apresentados os primeiros lançamentos: reproduções fidelíssimas de Mensagem, único livro publicado em vida por Fernando Pessoa; Espumas Flutuantes, de Castro Alves; e Índice das Coisas Mais Notáveis, edição de luxo da obra retirada dos sermões do Padre Antônio Vieira, com capa serigrafada. "Não são meros fac-símiles, nossas edições trazem até a cor envelhecida das páginas dos originais", comenta Teixeira Pinto. "Na verdade, são versões clonadas."

De fato, a edição de Mensagem, originalmente publicada em 1934, traz uma preciosidade: aquele que seria o título original, Portugal, está riscado a lápis e, abaixo, vê-se escrito a mão o escolhido por Pessoa (veja no quadro abaixo). Outra novidade será a edição, em Portugal, de uma obra com inéditos do poeta, selecionados do espólio de Pessoa que está na Biblioteca Nacional de Portugal (veja também no quadro abaixo). Já Espumas Flutuantes traz até uma sujeira que consta na contracapa original. Mais um trunfo: a reedição do primeiro catálogo do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, fundado em 1929.

Em Portugal, a Babel é um conglomerado de nove editoras, capitaneado pela tradicional Guimarães, fundada em 1889 e salva da falência há dois anos, quando Teixeira Pinto adquiriu seu controle, consolidando sua chegada ao universo cultural. "No Brasil, no entanto, Babel será o nome da editora e com personalidade própria. Não queremos exportar o que já temos, mas publicar autores brasileiros para leitores brasileiros."

Com um investimento inicial de R$ 6 milhões, a Babel será dirigida no Brasil por Rui Gomes Araújo e Nuno Barros. Para auxiliá-los, foi convidado o escritor Luiz Ruffato, que ocupará o cargo de curador editorial. "É uma função inédita e fiquei empolgado com a proposta ousada de publicar autores e não apenas títulos", contou ele, que prepara uma coleção de clássicos da literatura brasileira - seis títulos já estão definidos para este ano, como O Bom Crioulo, de Adolfo Caminha e A Falência, de Julia Lopes de Almeida.

As decisões serão plurais, segundo Paulo Teixeira Pinto. Para isso, será montado um conselho editorial no qual terão voz ativa não apenas profissionais da literatura mas também da música, cinema e das artes visuais.

Novas plataformas de leitura também estão previstas na Babel. Teixeira Pinto planeja, por exemplo, oferecer o conteúdo de seus livros através de quiosques instalados em livrarias. "O leitor consulta a obra em um e-reader que vai estar à disposição e, se interessado, pode baixar o livro em um pen drive."

Abrir livrarias, como acontece em Portugal, ainda não está em seus planos, que podem mudar caso receba convites interessantes. Teixeira Pinto afirma que não pretende abrir lojas em shoppings ou galerias. "Prefiro espaços culturais, como museus, cinematecas", conta. "Assim, só pensarei a respeito se vir convite dessas instituições."

Teixeira é meticuloso como deve ser um homem que presidiu um grande banco. Mas não enxerga a cultura por meio de números. Na verdade, ele é ambicioso e se ampara nas célebres palavras de Almada Negreiros, que constam, aliás, na última página de todos seus livros, como um mantra: "Nós não somos do século de inventar palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas."



Fonte: DCI
Caderno: São Paulo / pg. C2
15/03/11
São paulo - Até sexta-feira (18), estudantes que se graduaram em universidades estrangeiras podem solicitar a revalidação do diploma pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Também mestres e doutores podem pedir o reconhecimento dos diplomas obtidos em instituições de ensino superior de outros países. A universidade tem o prazo de seis meses para responder às solicitações.

A revalidação e o reconhecimento são realizados apenas uma vez por ano. O processo é feito pelo Grupo de Registros Acadêmicos, ligado à Secretaria Geral. A seção tem por atribuições registrar os diplomas de alunos formados em cursos de graduação oferecidos pela Unesp e por Faculdades de Tecnologia (Fatecs), de alunos dos programas de pós-graduação stricto sensu da universidade. Entre outras responsabilidades, esse grupo atende órgãos externos, profissionais e governamentais sobre a autenticidade dos registros efetuados em diplomas.


Fonte: DCI
Caderno: São Paulo / pg. C3
15/03/11

Ribeirão preto - Em reunião promovida pela Secretaria da Educação de Ribeirão Preto na primeira semana de março, no auditório da Escola Municipal de Ensino Médio Fundamental Alfeu Luiz Gasparini, 16 novos municípios demonstraram interesse em participar do Fórum Internacional de Educação da Região de Ribeirão Preto, que será realizado em outubro de 2011. O evento teve início no ano passado, planejado pela Prefeitura de Ribeirão, e promete ser o maior do tipo já realizado na cidade. O grupo soma 31 cidades participantes e conta com o apoio de entidades como Unesco, União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Conselho Nacional de Educação (CNE) e Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI). A expectativa, porém, é que, até a data do evento, uma série de outras cidades, não só de São Paulo como de outros estados brasileiros, confirme participação no evento.

O principal objetivo do Fórum é promover discussões e reflexões sobre educação, analisar experiências locais e internacionais, por meio de palestras e debates, e apresentar experiências educacionais positivas, executadas em toda a região. "Vamos promover um evento de grande alcance. Queremos colocar a educação no centro das atenções e proporcionar um amplo debate", disse a secretária da Educação, Débora Vendramini.

Para a prefeita Dárcy Vera (DEM), o encontro demonstra a capacidade de liderança que a cidade de Ribeirão Preto tem regionalmente, bem como sinaliza a percepção da necessidade de se debater a educação e buscar caminhos para implementar a melhoria na qualidade de ensino. "É essencial buscar caminhos que possam ser trilhados em várias cidades, como políticas públicas, já que os problemas da Educação são universais", conta. Débora Vendramini concorda e acrescenta que pretende utilizar muitas idéias geradas no encontro para a educação em Ribeirão Preto. "Qualquer política pública que é pensada por muitos especialistas acaba sendo aprimorada. Será uma chance importante para falarmos sobre o assunto."

Presenças

Liderados por Ribeirão Preto, até o momento já confirmaram participação os municípios de Sertãozinho, Batatais, Jaboticabal, Porto Ferreira, Serrana, Guaraci e Patrocínio Paulista; Brodowski, Jardinópolis, Buritizal, Descalvado, Pontal, Cravinhos e Monte Alto; Araraquara, Bebedouro, Cristais Paulista, Ipuã, Jeriquara, Guariba e Morro Agudo; Luiz Antônio, Orlândia, Santa Rosa do Viterbo, Restinga e Serra Azul, além de Taquaritinga, Itápolis, Ituverava e Gavião Peixoto.

Ainda segundo a administração municipal, outras cidades, fora da região, também já se informaram sobre o evento e estudam a possibilidade de mandar representantes ao evento. Outro trunfo dos organizadores é o apoio das entidades internacionais, como Unesco e OEI. Graças a isso, avaliam, existe a expectativa de que o ministro da Educação, Fernando Hadadd, também venha à cidade para participar do evento, o que ainda depende de confirmação por conta da agenda apertada do ministro.

Público-alvo

O evento terá como público-alvo professores e diretores de escolas públicas e particulares, especialistas, prefeitos, secretários municipais de educação, assessores e técnicos em planejamento e gestão educacional, alunos de graduação e pós-graduação de todas as áreas do conhecimento, representantes do poder Judiciário, Legislativo e sociedade civil organizada. A elaboração dos Planos Municipais de Educação é um dos assuntos que deve ser abordado no Fórum. Atualmente, os municípios aguardam a divulgação de diretrizes gerais pelo CNE para criar seus planos ou mesmo adequar os já existentes.

Eduardo Schiavoni

Fonte: Valor Econômico
Caderno: Brasil / pg. A2
Luciano Máximo | De São Paulo
15/03/2011

Desde 2007, o programa do Ministério da Educação (MEC) que custeia a construção de creches nos municípios brasileiros fechou 2.350 convênios, mas apenas 312 escolinhas foram entregues, enquanto mais de mil unidades ainda estão em fase de planejamento ou licitação. Para acelerar a situação, o Proinfância foi incluído na segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), com critérios mais flexíveis.

O primeiro lote de recursos federais do Proinfância dentro do PAC 2 começa a ser transferido no fim deste mês para 471 municípios. As prefeituras contempladas fazem parte das duas primeiras listagens de cidades que tiveram projetos aprovados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão técnico do MEC que acompanha o processo de contratação e libera o dinheiro para a construção das escolinhas com capacidade para atender de 120 a 240 crianças. Na leva inicial, estão programadas 856 creches. O desembolso do governo federal pode superar R$ 1 bilhão.

O secretário-executivo do MEC, José Henrique Paim, revela que o governo espera assinar novos termos de compromisso com outras prefeituras até junho, para ficar dentro da meta de 1.500 creches contratadas em 2011. "A análise começou em setembro de 2010, os recursos estão no orçamento deste ano e já podemos empenhar os recursos para os municípios contemplados." Até 2014, o PAC 2 prevê a distribuição de R$ 7,6 bilhões para a criação de cerca de 1,5 milhão de vagas em 6 mil unidades de educação infantil. O objetivo é minimizar um déficit de 10 milhões de matrículas em creches em todo o país.

Segundo Paim, o atraso na entrega das creches na primeira fase do Proinfância está associado "à limitação técnica de alguns municípios", principalmente na condução de processos de licitação e na dificuldade generalizada de comprovar a regularidade do terreno e da demanda de crianças na localidade escolhida para a instalação da escolinha.

A resposta do governo a esses problemas foi incluir o programa no PAC 2, flexibilizando critérios. "Municípios maiores, por exemplo, com maior dificuldade de encontrar terrenos conforme os padrões do FNDE, podem apresentar projetos arquitetônicos específicos, de acordo com suas necessidades. As prefeituras também terão prazo de um ano para apresentar a documentação do terreno, sem comprometer a licitação ou a execução da obra", explica Paim.

Belo Horizonte demorou pelo menos um ano para acessar o Proinfância para a construção de oito unidades de educação infantil. Dois projetos foram vetados pelo FNDE. "O padrão de creche do FNDE exigia terrenos de 2.800 m2 em áreas planas, o que é impossível de achar em Belo Horizonte. Só conseguimos dar entrada no processo em 2009, e só agora as unidades estão em construção", diz Afonso Celso Renan Barbosa, secretário-adjunto Municipal de Educação da capital mineira, que receberá recursos para 10 novas creches no PAC 2. "Agora que nossos projetos já foram aprovados, estamos estudando a possibilidade de adiantar a licitação e a fase de fundação antes mesmo da liberação dos recursos", afirma.

Em São Bernardo do Campo, que tem seis projetos aprovados no PAC 2, o principal obstáculo no Proinfância foi o processo de licitação, de acordo com a secretária municipal, Cleuza Repulho. Da apresentação do projeto ao início das obras do Centro de Educação Unificado (CEU) São Pedro, na periferia da cidade, se passaram quase dois anos. "Tivemos a participação de 26 empreiteiras na licitação de um CEU. Imagina o que é organizar toda a documentação. O processo foi parado, depois retomado. Quando terminou, entraram com mandado de segurança, suspendendo a licitação, aí tivemos que recorrer. Foi uma novela, e a obra começou há pouco tempo", relata Cleuza. São Bernardo conta com seis creches aprovadas no PAC 2.

Cleuza, que também é dirigente da União Nacional de Secretarias Municipais de Educação (Undime), chama a atenção para outro problema que explicaria o baixo desempenho do Proinfância: desvio de recursos. "Sempre tem [desvios]. O recurso pode acabar indo para outras áreas da prefeitura, isso acontece nos municípios menores, onde o secretário de Educação não toma conta do dinheiro. Ele só assina e quem controla é o prefeito ou o secretário de Finanças", alerta ela. O MEC informou que apura "eventuais casos" e que o procedimento a ser seguido é "notificar os órgãos de controle".

Dos 471 municípios beneficiados na primeira leva do PAC 2 da educação infantil, dez capitais de Estado - Salvador, São Luís, Cuiabá, Belém, João Pessoa, Curitiba, São Paulo, Palmas, Boa Vista e Macapá - mais o Distrito Federal, não se interessaram em obter recursos federais para a construção de creches. "Esse levantamento é no mínimo curioso, porque a maior demanda por vagas em creches está nas cidades grandes. Talvez as eleições do ano passado tenham atrapalhado o processo de inscrição ou tem a ver com diferenças políticas da prefeitura com o MEC", acredita Vilmar Klemann, secretário-executivo Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (Mieib). Essa última possibilidade é descartada por Paim, secretário-executivo do MEC.

João Carlos Bacelar Batista, secretário municipal de Educação de Salvador, afirma que a decisão da cidade de não aderir ao PAC 2 foi opcional, mesmo com a cidade amargando um déficit de mais de 150 mil matrículas em creches. Apenas 11 mil crianças frequentam creches na capital baiana, cerca de 4 mil em 47 unidades da prefeitura. "Nossa prioridade absoluta é o ensino fundamental, que está num estado calamitoso. 80% das nossas crianças chegam analfabetas à segunda série e 60% chegam analfabetas à quinta série. Preciso fazer com que elas, com oito anos, saibam ler e calcular, por isso não posso dar prioridade à educação infantil", argumenta o secretário.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Cotidiano
Médias das notas no Saresp de turmas do final do ensino fundamental e do médio recuam em 2010
A fim de atrair interesse dos estudantes da rede, secretaria propõe que prova seja usada por USP, Unicamp e Unesp
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

Caíram as notas dos alunos que terminam o ensino fundamental e médio da rede estadual no ano passado.

Já a média dos mais novos do fundamental melhorou.

O panorama, obtido pela Folha, foi constatado no exame do governo estadual chamado Saresp, que avalia estudantes do 5º e 9º anos do ensino fundamental e do 3º do médio, em português e matemática. Os números oficiais serão divulgados hoje.

A Secretaria da Educação entende que, além de problemas com qualidade de ensino, falta interesse dos alunos mais velhos no exame. Por isso, pretende que a prova passe a valer no vestibular.

A pasta articula com USP, Unesp e Unicamp a utilização do Saresp -processo semelhante ao usado por universidades com o Enem.

Hoje, o Saresp é aplicado para mensurar a aprendizagem dos estudantes e é o principal fator considerado para definir quais professores receberão bônus. Em geral, profissional de escola onde houve redução de média não ganha a gratificação.

No exame do ano anterior, o ensino fundamental inteiro havia melhorado (ainda que com menor intensidade no 9º ano), e o médio, piorado.

Quando da divulgação das notas de 2009, no ano passado, o então secretário da Educação, Paulo Renato Souza, projetou uma "onda" de melhora no sistema a partir do avanço dos estudantes do 5º ano (antiga 4ª série).

Ainda não houve tempo para esses alunos chegarem ao patamar seguinte considerado no exame (9º ano).

Titular da Educação agora no governo Geraldo Alckmin (PSDB), Herman Voorwald deve comentar os novos resultados do provão hoje.

INCENTIVOS

Segundo a Folha apurou, o governo conta com duas medidas para melhorar as notas dos alunos nos próximos anos. A primeira é a implementação de provas bimestrais em todo o ensino básico. Hoje, não há uma sistematização nas avaliações.

A ideia é que haja melhor diagnóstico da situação dos estudantes, para que sejam oferecidas ações específicas àqueles com dificuldade.

A segunda medida é uma tentativa de aumentar a motivação dos alunos para resolver as questões do Saresp.

Entram aí as negociações para que as universidades estaduais usem a prova.

A Unesp disse que as conversas são iniciais. A Unicamp disse desconhecer o plano. A USP não respondeu até o fechamento da edição.

Outra ideia é que os alunos do 9º ano do fundamental usem o Saresp como parte do vestibulinho das Etecs (escolas técnicas estaduais).

Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Cotidiano
SAIBA MAIS

A articulação da Secretaria Estadual da Educação com as universidades é facilitada pelo fato de o atual titular da pasta, Herman Voorwald, ser ex-dirigente da Unesp. Desde que assumiu a pasta, neste ano, Voorwald afirma que buscará aproximá-la das instituições de ensino superior.



Fonte: DCI
Caderno: São Paulo
18/03/11

são paulo - Entre os dias 21 e 25 de março, o Centro Educacional Unificado (CEU) Lajeado (Guaianases - zona Leste) promove a I Semana de Cinema e Cultura Africana, com uma série de sessões com curtas-metragens do cineasta moçambicano João Luís Sol de Carvalho, seguida de atividades reflexivas com a comunidade.

A ideia é discutir e repensar as relações entre o Brasil e o continente africano por meio de ações de cultura e lazer.

Em todos os dias, às 19h30 serão exibidos filmes produzidos na África, mostrando um pouco da realidade do continente.

Na sequência, haverá uma discussão sobre diversos temas, entre eles corrupção, a vida na África, hierarquia, o medo da Aids, machismo, sobrevivência, rompimento de tradições e a educação.

Entre os títulos, a serem exibidos durante a I Semana de Cinema e Cultura Africana estão "Pregos na Cabeça", "Muhipiti Alima" e "O Jardim do Outro Homem", todos de Sol de Carvalho.

Nascido em 1953, o cineasta tem suas obras conhecidas pelo cunho social.

A data de abertura, segunda-feira, dia 21, coincidi com o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.

Além da exibição dos filmes e espaço para troca de informações, será realizada também a exposição fotográfica "Agente", com imagens da África, que terá sons e músicas do povo africano como pano de fundo da mostra.

O CEU Lajeado está localizado na Rua Manuel da Mota Coutinho, 293 - Guaianases.

rafael diaspb

Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
12/03/2011
Trabalhos de Aleksandr Ródtchenko evidenciam período artístico que pretendia revolução da sensibilidade
DE SÃO PAULO

"É preciso incentivar o amor pela fotografia, para que as fotos sejam colecionadas, para que se criem fototecas e aconteçam exposições fotográficas de grande escala", pregou Aleksandr Ród- tchenko em "A Fotografia É uma Arte", de 1931.

Escrito num tempo em que manifestos artísticos eram moeda comum, além estar inserido no contexto revolucionário da União Soviética, iniciado em 1917, o texto é representativo do caráter utópico que a arte representava para figuras como o cineasta Sergei Eisenstein e o poeta Vladimir Maiakóvski.

Junto com o fotógrafo Ródtchenko, esses artistas buscavam criar um novo homem através de uma nova sensibilidade e, por isso, a experimentação foi tão usada por todos eles.

A exposição "Aleksandr Ródtchenko: Revolução na Fotografia" apresenta um excelente panorama desse momento em 300 obras, sejam fotografias, fotomontagens, capas de livro, revistas ou cartazes, realizados entre 1924 e 1954.

"Para acostumar as pessoas a ver a partir de novos pontos de vista é essencial tirar fotos de objetos familiares, cotidianos, a partir de perspectivas e de posições completamente inesperadas", defendia Ródtchenko, em 1928.

Assim, a mostra reúne um conjunto significativo de imagens que defendem essa nova proposta, que influenciaria o olhar fotográfico, definitivamente, a partir de então.

CERCEAMENTO

Se a experimentação foi motor do início da revolução, seu cerceamento, com o endurecimento do regime soviético, chega ao ápice quando, em 1932, o partido comunista dissolve as associações culturais e o realismo torna-se arte oficial.

Desse período torna-se claro que Ródtchenko, submetendo-se à nova linha, retrata o trabalhador, mesmo que por ângulos inovadores.

No entanto, assim como os demais artistas transgressores, Ródtchenko acabou perdendo o direito de trabalhar. A mostra em cartaz só foi possível porque sua família manteve sua obra intacta e conseguiu criar a Casa da Fotografia de Moscou, sede de grande parte das imagens da exposição.

"Revolução na fotografia", assim, é não só uma excelente reunião de trabalhos, como o testemunho de uma época de transformações radicais. (FABIO CYPRIANO)

ALEKSANDR RÓDTCHENKO: REVOLUÇÃO NA FOTOGRAFIA
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 1º/5 
ONDE Pinacoteca do Estado de São Paulo (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/ 11/3324-1000)
QUANTO R$ 6 (grátis sáb.)
AVALIAÇÃO ótimo



Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: tec
Site Goodreads usa seu histórico de leituras e amigos parecidos para fazer sugestões
DE SÃO PAULO

Precisa de uma dica para escolher o próximo livro que você vai ler? Que tal perguntar para a internet?

O site de aluguel de vídeos on-line Netflix usa um algoritmo para recomendar filmes aos usuários e a loja virtual de sapatos Zappos dá pitacos em suas próximas compras, com base no seu histórico. Agora uma rede social para viciados em livros, o Good reads, também tem um sistema para indicar livros que julgue ser do gosto dos cadastrados.

Na semana passada, o site anunciou que comprou uma empresa chamada discoverreads.com, que usa um programa para analisar de quais livros as pessoas gostarão, de acordo com obras lidas e livros que amigos e pessoas com gosto similar leram.

O sistema será muito melhor do que o usado pela Amazon, loja on-line líder no setor de venda de livros, utiliza, segundo o fundador do site, Otis Chandler.

Otis diz que o algoritmo do Goodreads funcionará melhor porque a Amazon utiliza o histórico de compra para fazer o cálculo -entram aí presentes para outras pessoas, por exemplo.

O sistema pode funcionar também na outra mão: autores podem encontrar leitores que mais têm potencial para apreciar suas obras.

Adivinhar o gosto das pessoas é um mercado lucrativo -a Netflix demonstrou isso ao oferecer US$ 1 milhão para quem desenvolvesse um sistema de recomendações melhor do que o usado pelo serviço atualmente.

Em soma à publicidade, o Goodreads, que levantou US$ 2 milhões recentemente com investidores, também ganha dinheiro com comissões, ou seja, quando algum de seus 4,6 milhões de usuários compra em alguma loja por meio do site.

A página aceita usuários de todo o mundo, porém está disponível apenas em inglês.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Se as suas questões são mais amplas, há um novo serviço disponível na linha dos sites de perguntas e respostas: o Defuddle.

Páginas do tipo são comuns, como o Yahoo! Respostas e o Quora, para ficar em dois exemplos. Mas o Defuddle promete ser rápido e direto adicionando um elemento que já conhecemos do Twitter: o limite de caracteres. Pergunte em menos de 200 toques e receba apenas sim ou não como resposta.

Não é preciso fazer conta: apenas mande sua questão para o @defuddle, via Twitter, e ela será publicada no site defuddle.com.

(ALEXANDRE ORRICO)


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: tec
BRUNO ROMANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com a popularização do MP3, o fim das lojas de discos usados parecia decretado. Mas um novo serviço promete funcionar como um "sebo digital", um mercado on-line para compra e venda de arquivos musicais usados.

O ReDigi (www.redigi.com) funciona da seguinte forma: o vendedor disponibiliza seus arquivos de MP3, que, então, são apagados de seu computador.

À Folha, John Ossenmacher, executivo-chefe da empresa, explica que não há duplicação de arquivo no processo -só podem participar, porém, aqueles que foram baixados legalmente.

Os preços dos MP3 usados serão menores. Ossenmacher estima que um arquivo que custa US$ 1,29 no iTunes (normalmente um hit do momento) deva sair por US$ 0,79 no ReDigi.

A disponibilidade de canções será limitada àquilo que for carregado pelos usuários. Se, por exemplo, os vendedores carregarem apenas dois arquivos de "Beat It", de Michael Jackson, ela só poderá ser comprada duas vezes.

O ReDigi estará disponível para os americanos a partir do meio do ano. Para outros países, incluindo o Brasil, isso deverá acontecer em 2012.

Por questões contratuais, Ossenmacher não diz quais gravadoras estão apoiando o projeto, mas ele não acredita que precise delas.

"Os direitos [de uma cópia] pertencem à pessoa que comprou, não mais à gravadora. Quando alguém compra algo, como um CD, ele adquire com isso o direito para uso pessoal. Sob a "doutrina da primeira venda", a pessoa tem o direito de fazer o quiser com a cópia. Os direitos sobre um bem digital são idênticos [aos de um bem real]", afirma ele.

Mesmo assim, o dinheiro gerado pelo serviço será rateado entre ele próprio, gravadoras e usuários.



Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
12/03/2011
Verdadeiras obras de arte que podem seduzir o leitor adulto estão escondidas nas seções infantis das grandes livrariasTHALES DE MENEZESDE SÃO PAULO

Impactantes livros de arte estão literalmente escondidos nas grandes livrarias. Alguns dos lançamentos destinados ao público infantil podem ser apreciados também pelos adultos. Em alguns casos, até mais pelos adultos.

São obras que esbanjam técnica e criatividade nas ilustrações. Às vezes, carregam características gráficas ligadas à etnia de cada texto, exemplificadas em fábulas orientais, notadamente chinesas e indianas. São culturas que universalizam imagens para adultos e crianças.

Para encontrar esses objetos valiosos, chegar até a seção de infantis da loja não basta. Ali, o que salta fora das prateleiras e ganha visibilidade é um monte de vampirinhos, sereiazinhas e heróis tipo Capitão Cueca.

Garimpar livros encantadores para adultos entre tanta produção é trabalho para uma tarde de sábado ou domingo, com tempo para investir nessa caçada.

Há histórias tradicionais com versões inovadoras, como "O Leão e o Camundongo", fábula que dispensa texto com as imagens vivas e rebuscadas do americano Jerry Pinkney, 72, que já ganhou todos os prêmios possíveis para um ilustrador.

Verdadeiro deus entre os fãs de quadrinhos por ter criado "Sandman", Neil Gaiman e seu parceiro desenhista Dave McKean inventaram um livro delirante em que os personagens têm longas cabeleiras e a ação se passa num emaranhado delas.

Outros modernos da seleção é Suzy Lee, que brinca com as sombras das coisas para mostrar outro lado das histórias, e o húngaro Istvan Banyai, criador de vinhetas animadas para a MTV Europa e o canal a cabo Nickelodeon. Seu traço genial, que ganhou o público adulto nas revistas "The New Yorker" e "Rolling Stone", nem deveria ser oferecido a crianças pequenas.

Assim, a seção infantil da livraria vira programa até para quem não tem filhos.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
12/03/2011
Melancolia dá o tom em dois romances do autor relançados pela Record
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Endurecer-se: estava nisso, provavelmente, o maior imperativo moral a ser seguido por qualquer jovem de classe alta, pelo menos até começos do século 20.

Não era apenas a necessidade de formar o "caráter" (e esse termo ainda hoje tem conotações de severidade e rigidez). Tratava-se também de uma questão de sobrevivência pessoal.

O rapaz que se tornaria, na vida adulta, oficial de Exército ou capitão de indústria não poderia se dar ao luxo de grandes sentimentos.

Sabe-se o preço que esse tipo de formação cobraria, em termos de felicidade e equilíbrio psicológico, sobre os homens da burguesia e da nobreza europeia, e especialmente sobre suas mulheres, amantes e filhos.

A Viena de fins do século 19 e começos do século 20 parece ter sido um dos lugares em que o molde explodiu com violência.

O mundo da disciplina e do autocontrole não era mais compatível com a inquietação cultural, os prazeres crescentes da vida urbana e o ingresso das mulheres no mercado do trabalho, que faziam da capital do Império Austro-Húngaro um dos centros mundiais da "doçura de viver".

Ao lado das confeitarias, operetas e mocinhas suburbanas prestativas, Viena era também a capital dos suicídios, das vocações frustradas, das doenças venéreas e mentais.

MORTE E SUICÍDIO

Era a cidade de Freud, e também a do médico e escritor Arthur Schnitzler (1862-1931), cujas principais obras vão sendo publicadas no Brasil pela editora Record.

Depois de "Crônica de uma Vida de Mulher", saem agora "O Médico das Termas" e "O Caminho para a Liberdade", sempre com tradução, posfácio e notas de Marcelo Backes. Outros quatro volumes vêm aí.

"O Médico das Termas" é uma trama curta, que se lê com a respiração suspensa.

Num estilo estranhamente sossegado, como se os olhos do escritor estivessem em repouso, acumulam-se presságios de doença, morte e suicídio sobre as duas ou três mulheres, bonitas mas fragilizadas, que cruzam seu caminho com o dr. Gräsler, solteirão de meia-idade e de poucas ambições.

Com quem se casar? Que mulher, afinal, de fato "vale a pena"? Como preservar-se de uma grande paixão? De quanta anestesia, e de quanto sofrimento, se necessita para levar adiante uma carreira de sucesso?

EXTENSO DEMAIS

As dúvidas do médico reaparecem, de forma mais extensa, na mente do jovem barão e compositor Georg von Wergenthin em "O Caminho para a Liberdade".

Extensa demais, talvez. As 500 e tantas páginas desse ambicioso romance, em que se reconhecem algumas figuras reais da Viena de Schnitzler (a começar do próprio autor, notável dom Juan às voltas com os próprios escrúpulos), expandem-se, de forma um tanto datada, em discussões estéticas e trocas de aforismos espirituosos.

Textos mais curtos, como "O Médico das Termas" e o "Breve Romance de Sonho" (Companhia das Letras), que deu origem ao filme "De Olhos Bem Abertos" (1999), de Stanley Kubrick, são a melhor porta de entrada para o universo de Schnitzler.

Para conhecê-lo bem, e inteirar-se das relações entre nobreza, burguesia, sionismo, antissemitismo, socialismo, vocação artística e casamento na "belle époque" austríaca, "O Caminho para a Liberdade" é uma obra importante, mas cujo poder emocional e estético só se manifesta plenamente (e como!) nos capítulos finais.

O CAMINHO PARA A LIBERDADE
AUTOR Arthur Schnitzler
EDITORA Record
TRADUÇÃO Marcelo Backes
QUANTO R$ 59,90 (544 págs.)
AVALIAÇÃO bom

O MÉDICO DAS TERMAS
QUANTO R$ 33,90 (192 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
12/03/2011
MARCELO BACKES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Siegfried Lenz, 85, que só chegara em contos de antologia, enfim chega em livro ao Brasil. E "Minuto de Silêncio" prova que, apesar do atraso, Lenz tem a estatura de seus conterrâneos nobelizados Günter Grass e Hein- rich Böll (1917-1985).

Novela breve, formalmente conservadora, "Minuto de Silêncio" aproveita a poesia de um mundo em que se pisoteia linguados, se procura âmbar na areia e as pessoas tentam "fisgar" os olhares umas das outras.

Conta do amor entre a professora de inglês Stella e seu aluno Christian, pescador de pedras, que vai ao fundo do mar em busca de material para construir molhes numa região em que o turismo cresce. Estamos em meados de 1970 no norte da Alemanha, ainda se paga em marcos e os quiosques vendem jornal.

A tragédia é anunciada desde o princípio -desde o título, na verdade-, e já encontramos os alunos reunidos numa sala do liceu para o culto fúnebre à falecida Stella, enquanto Christian monologa sobre o presente e volta ao passado em transições fluidas. Há várias referências literárias, mas a principal, a "Pequena Sereia" de Andersen (1805-1875), não é citada.

O amor irrompe naturalmente entre o casal desigual. Nada se diz do passado de Christian, e bem pouco do de Stella, filha de um nazista.

TEMPESTADE
Ela titubeia, ele não consegue dizer "eu te amo"; só pergunta se pode bater à sua porta e não esquece o travesseiro em que as duas cabeças se aconchegaram deixando apenas uma marca.

Mas a tempestade báltica desce sobre o mar em calmaria. A sereia -já no princípio Stella é desenhada com rabo de peixe- é abatida junto a um dos molhes pelo mastro do barco em que viaja com amigos.

O diletantismo dos navegadores do Estrela Polar (que fica claro apenas no nome bobo do barco) desafia por demais o elemento desconhecido.

Stella ainda agoniza inconsciente no hospital, mas certo dia Christian encontra a cama vazia e a cadeira dos visitantes "como se estivesse esperando por mim".

Num cartão recebido postumamente, a promessa do amor faz a perda doer ainda mais.

Christian decide que não contará de seu enlace a ninguém, porque as coisas que nos fazem felizes devem "ser guardadas em silêncio".

O funeral é no fundo do mar, e ele não pode ir ao encontro de sua sereia -invertendo a fábula de Andersen- porque ela está morta.

Nada é patético na novela de Lenz, escritor multipremiado que sempre cortejou o fracasso -tanto em seus contos quanto nos romances- e disse um dia que ir para a cama não provava nada acerca do amor.

Tudo é limpidez e clareza, e a dor tanto mais intensa. A exatidão realista sedimenta o laconismo da tragédia.

"Minuto de Silêncio" é a novela de uma época em que alunos ainda se apaixonam por professoras e mostra como o verdadeiro erotismo -em tempos de sexualidade devassada- pode estar no que é mais casto. Uma vitória da narração à moda antiga.


MARCELO BACKES é escritor e tradutor, autor de "Estilhaços" e "Três Traidores e uns Outros", entre outras obras

MINUTO DE SILÊNCIO
AUTOR Siegfried Lenz
EDITORA Rocco
TRADUÇÃO Kristina Michahelles
QUANTO R$ 29 (128 págs.) AVALIAÇÃO ótimo


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
12/03/2011
Norman Lebrecht
EDITORA Leya 
TRADUÇÃO Elisa Nazarian
QUANTO R$ 39,90 (366 págs.)

Paul Miller, um sobrevivente de um campo de concentração, vive em uma pequena cidade europeia após o fim da Segunda Guerra (1939-1945). Lá ele busca levar uma vida normal ao lado da mulher e do filho pequeno. Os traumas da guerra, porém, são uma recordação constante. A situação fica ainda mais complicada quando um ex-comandante do campo de concentração em que Miller esteve preso chega ao vilarejo.

Italo Calvino
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Nilson Moulin
QUANTO R$ 16 (104 págs.)

Publicado originalmente em 1952, o livro é um dos mais famosos da obra do escritor italiano Italo Calvino (1923-1985). A trama narra a inusitada trajetória do visconde Medardo di Terralba. Em guerra contra os turcos, o visconde leva um tiro de canhão no peito. Sobrevive, mas, surpreendentemente, fica partido ao meio: a metade direita é atormentada pela maldade, enquanto a esquerda representa o lado bom do visconde.

A Arte de Escrever Ensaio
David Hume
EDITORA Iluminuras 
TRADUÇÃO Márcio Suzuki e Pedro Pimenta
QUANTO R$ 47 (336 págs.)

O pesquisador Pedro Pimenta reúne alguns dos mais importantes textos do filósofo escocês David Hume (1711-1776). Autor de "Tratado da Natureza Humana", Hume marcou a filosofia com seu ceticismo e por defender o raciocínio lógico como método para investigar os fenômenos físicos. Nos ensaios selecionados, o filósofo discute temas como liberdade, casamento, amor e preconceitos.HISTÓRIA 

Paul Donnelley
TRADUÇÃO Débora da Silva Guimarães Isidoro
EDITORA Larousse
QUANTO R$ 99 (546 págs.)

O historiador britânico Paul Donnelley relata alguns dos mais famosos e assustadores crimes da história. Dividido em dez capítulos, o livro aborda casos de assassinatos, roubos, sequestros, fraudes e espionagens. Entre as histórias mais conhecidas estão a de Henri-Desiré Landru, francês que seduzia e matava mulheres ricas, e os assassinatos de John Kennedy (1963) e Martin Luther King (1968). 


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Folhateen
14/03/11
Aprendiz de bruxa
LIVRO É DEDICADO A FÃS DO BRUXO HARRY POTTER
DE SÃO PAULO

Enquanto a escritora J.K. Rowling criava o universo de "Harry Potter", os fãs da série conquistavam um império só para eles: o "fandom".

A palavra vem do inglês "fan kingdom" (reino dos fãs) e se aplica bem à comunidade surgida em torno do fenômeno do bruxinho.

Esse mundo de blogs e fóruns de discussão é descrito por Melissa Anelli, 31, no livro "Harry e seus Fãs".

O fansite The Leaky Cauldron (www.the-leaky-cauldron.org), liderado por ela, se firmou entre as fontes mais confiáveis de notícias sobre a saga "potteriana".

"Nós sempre tentamos trazer profissionalismo à comunidade", diz Melissa à Folha.

"Checamos as informações com as fontes. Fazemos jornalismo "da vida real"."

A seriedade do trabalho impressionou até a própria J.K. Rowling. Conhecida por não dar trela a repórteres, ela topou ser entrevistada por Melissa. Duas vezes.

"Harry e seus Fãs" conta como foram esses encontros entre fã e ídolo, e narra também como a própria Melissa ganhou fama aos poucos.""Celebridade" é uma palavra forte", brinca. "Mas as pessoas sabem quem eu sou. Outro dia fui reconhecida dentro do museu!", conta.

Quando pensa no futuro, Melissa não vê um fim próximo do "fandom" da saga.

"Essa comunidade foi inspiradora como nenhuma outra, é um amor sem fim."

E o carinho não é restrito à bruxaria. Recentemente, o grupo arrecadou US$ 120 mil dólares para as vítimas do terremoto do Haiti. Livros da série com dedicatória de J.K. Rowling foram vendidos. (DB)

"HARRY E SEUS FÃS"
Melissa Anelli
Editora Rocco
368 págs., R$ 29,50


Fonte: Valor Econômico
Caderno: Empresas / pg. B8
Beth Koike | De São Paulo
15/03/2011

As vendas recordes do mais recente livro do padre Marcelo Rossi, "Ágape", lançado em agosto, contribuíram fortemente para o desempenho do setor livreiro em 2010, que vinha de um primeiro semestre fraco por conta da Copa do Mundo, período típico de queda do movimento em livrarias e outros pontos de lazer.

As livrarias encerraram o ano com um faturamento de R$ 2,1 bilhões, o que representa uma alta de 9,6% - índice semelhante aos 9,7% registrados em 2009, ano em que o setor ainda sofreu reflexos da crise econômica mundial, segundo dados da Associação Nacional das Livrarias (ANL).

"No ano passado, teve Copa do Mundo, Bienal e feiras universitárias de livros que impactaram as vendas no primeiro semestre nas livrarias. Mas no fim do ano, as vendas retomaram motivadas, principalmente, pelo livro do padre Marcelo", disse Vítor Tavares, presidente da ANL, que hoje passa a presidência da entidade para Francisco Ednilson Xavier Gomes, da Livraria Cortez.

Em seis meses, o livro do padre Marcelo Rossi, da editora Globo, vendeu mais de 2 milhões de exemplares e é considerado o recorde da casa editorial por ter atingido esse volume em apenas um semestre. Outras publicações já venderam um número maior de unidades, mas em períodos mais longos.

A pesquisa da ANL, realizada com 67% das livrarias do país, mostra que apenas 48,5% dos livreiros fazem suas vendas por meio da internet. "Muitas livrarias pequenas não tem recursos financeiros para arcar com os custos de plataformas tecnológicas e acabam sofrendo com as varejistas que vendem livros pela internet com desconto de mais de 20% sobre o valor da capa", disse Tavares.



Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
Lei prejudica acordo com a Bienal de SP para representação do país na mostra italiana
Legislação que proíbe repasses inviabiliza convênio que estabelece que Funarte custeie exposição de brasileiro
FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO

A representação brasileira na 54ª Bienal de Veneza "encontra-se seriamente ameaçada". A afirmação foi escrita por Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal, em carta à ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e ao ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota.

"Não se trata de conflito, mas é um alerta, se em 15 dias o dinheiro não chegar, o catálogo e mesmo a obra do artista podem simplesmente não acontecer", disse Martins, por telefone, de Washington (EUA), à Folha.

Em um convênio com a Funarte e o Ministério das Relações Exteriores, dono do pavilhão brasileiro em Veneza, a Bienal de São Paulo ficou encarregada de organizar a representação nacional.

Desta vez, ela será realizada por Artur Barrio.

Segundo o acordo, a Funarte paga as despesas diretas. No entanto, a lei nº 12.377, de dezembro do ano passado, proibiu o repasse de verbas do MinC para entidades privadas, o que prejudicou o acordo com a Bienal.

O ministério, contudo, estuda medidas para repassar o montante. "Queremos resolver o problema. Estamos tentando achar uma fórmula, que pode ser o Ministério das Relações Exteriores passar o dinheiro ou a alteração da compreensão de evento, que é o que foi proibido de ganhar repasse do MinC", disse à Folha Antonio Grassi, presidente da Funarte.

"Enviamos a carta aos ministros porque creio que possam agilizar o processo. Seria um vexame o pavilhão não estar pronto", diz Martins.

A reportagem tentou, ontem, falar com a ministra, mas, segundo a assessoria, ela estava em uma reunião no Palácio do Planalto.

Martins diz que a Bienal já gastou cerca de R$ 250 mil, que não são parte do convênio, no cachê dos curadores -Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos- e no catálogo.

CONVÊNIO

A 54ª Bienal de Veneza será inaugurada em 4 de junho e, pela primeira vez na década, não terá brasileiros na mostra principal, curada pela alemã Bice Curiger.

A Bienal de São Paulo tem sido a responsável pela indicação do representante brasileiro desde os anos 1990.

Em 2001, o empresário Edemar Cid Ferreira, indicado pela Bienal, pagou não só a representação de Ernesto Neto e Vik Muniz, como também mostras de santos barrocos, fantasias de Carnaval e trajes de Carmem Miranda.

Em outros países, as representações costumam ser indicadas por organismos governamentais. "Nas próximas bienais, podemos rever esse convênio", diz Grassi.

Mesmo sem ter a renovação, contudo, Martins já anunciou que o curador da 30ª Bienal de SP, em 2012, Luiz Pérez-Oramas deve indicar o representante brasileiro em Veneza em 2013.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
Ao explicar aprovação do projeto da cantora Maria Bethânia, pasta toma a Lei Rouanet por Lei do Audiovisual
Nota atribui papel inexistente a comissão de avaliação; Bethânia poderá captar R$ 1,3 mi para blog com vídeos
ANA PAULA SOUSA
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Era para ser um esclarecimento simples. Mas virou uma nova confusão.

Ao redigir uma nota para explicar a aprovação de um projeto da cantora Maria Bethânia, o MinC (Ministério da Cultura) acabou por expor uma fragilidade interna que nada tem a ver com as polêmicas que, habitualmente, cercam a renúncia fiscal para projetos da área cultural.

A polêmica começou anteontem, quando a coluna Monica Bergamo, na Folha, noticiou a aprovação da captação de R$ 1,3 milhão para a produção do blog "O Mundo Precisa de Poesia".

A cantora é a protagonista do projeto, que deve incluir 365 vídeos de 60 segundos -um por dia do ano- com coordenação do sociólogo Hermano Vianna e direção de Andrucha Waddington (do longa "Eu Tu Eles").

O assunto entrou rapidamente para a lista dos mais comentados no Twitter.

O ministério, naturalmente, teve de vir a público para se explicar. No início da tarde de anteontem, mandou uma nota por meio de assessoria de comunicação. E foi aí que começou o outro imbróglio.

TROCARAM AS BOLAS

Se, para o cidadão comum, a diferença entre Lei Rouanet e Lei do Audiovisual é tão pouco óbvia quanto qualquer fórmula da física, para qualquer produtor ou gestor cultural, a distinção entre os dois mecanismos de renúncia fiscal é algo imediato, simples. Rotineiro, enfim.

Por isso chamou a atenção o erro cometido anteontem.

Na nota redigida pela assessoria de comunicação do MinC, estava escrito que o projeto de Bethânia, aprovado para captação pela Lei do Audiovisual, havia sido aprovado pela CNIC (Comissão Nacional de Incentivo à Cultura). Acontece que a CNIC só analisa projetos que se utilizam da Lei Rouanet.

A Lei do Audiovisual, diferentemente, voltada ao apoio a obras cinematográficas de produção independente -a Rouanet pode ser utilizada por manifestações culturais de qualquer natureza-, é gerida pela Ancine (Agência Nacional de Cinema).

Questionada pela reportagem da Folha sobre a incongruência, a assessoria de imprensa do MinC levou quase três horas para se manifestar. Redigiram uma "errata" na noite de anteontem.

Procurado novamente pela Folha, o cineasta Andrucha Waddington deixou claro que já tinha perdido a paciência. "Parece que eu tô roubando alguém", afirmou. "É tão patética a discussão que eu não quero mais falar."

O cineasta Jorge Furtado, que criticou o barulho em torno de um projeto absolutamente legítimo, contemporiza a falha. "Eu não distingo, também. O cinema que faço não usa Roaunet, então nem sei como funciona", diz.

RESPOSTA DO MINC
Procurado ontem pela reportagem, o MinC admitiu o "equívoco" e disse ter confundido "o nome do setor de atuação da secretaria com os nomes das leis que viabilizam captação de recursos via renúncia fiscal".


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada

APROVAÇÃO

A coluna Mônica Bergamo divulgou anteontem que a cantora Maria Bethânia havia obtido do MinC autorização para captar R$ 1,3 milhão para a criação de um blog intitulado "O Mundo Precisa de Poesia". A página conteria ao menos 365 vídeos, de um minuto cada, produzidos por Andrucha Waddington

ESCLARECIMENTO

No mesmo dia, o MinC publicou nota dizendo que o blog obteve aprovação para captação de recurso via Lei do Audiovisual, por meio da CNIC (Comissão Nacional de Incentivo à Cultura)

ERRATA

A CNIC, porém, só pode autorizar a captação de recursos via Lei Rouanet. Mais tarde, o MinC corrigiu a informação



Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
Espetáculo escrito e dirigido por Roberto Alvim, que estreia hoje, radicaliza experiências do grupo Club Noir

Inspirada na fábula "Pinóquio", peça busca a renovação teatral com dramaturgia desconexa e linguagem poética
GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em "Pinokio", nova peça do grupo Club Noir que estreia hoje, uma personagem questiona-se sobre a invenção com a qual se defronta.

"O que era aquilo?", ela se pergunta antes de deixar de ser para sempre quem foi um dia. "Aquilo, isto, o que é?" A cena retrata o primeiro contato de um homem com algo nunca visto, experiência tão desestabilizante quanto renovadora.

"Pinokio" é um convite para a plateia se confrontar com o desconhecido. Busca a renovação da cena teatral, a reativação do poder desta arte de despertar sensibilidades adoecidas pelo fluxo contínuo de mediocridade que contamina o teatro e o mundo de hoje.

"Pinokio" é inspirado na fábula "Pinóquio", de Carlo Collodi (1826-1890). O espetáculo escrito e dirigido por Roberto Alvim apropria-se do conceito de transmutação impregnado na história deste boneco que se torna homem para transformar seres humanos em uma outra coisa, através da hibridação de corpos e máquinas. O homem surge com status de ícone através de personagens que rejeitam o comportamento padrão da existência cotidiana.

ESTÁTUAS

Em cena, Juliana Galdino, Rodrigo Pavon e os demais atores mais parecem estátuas evocando um novo mundo, cuja atmosfera, criada por uma tinta a óleo preta que escorre das paredes do palco, é ao mesmo tempo negra e úmida." "Pinokio" nasce da percepção de que a maneira como nós classificamos a condição humana é banal e limitadora. A arte não deveria reiterar a ideia de ser humano burguês. Arte tem a ver com liberdade", fala Alvim.

A trama inexistente, composta por uma dramaturgia bastante fragmentária, desconexa e próxima da lógica da poesia, chega ao extremo do essencial, dispensando muitas vezes o uso de frases completas. Alvim restitui o poder oculto das palavras, servindo-se sobretudo de sua força primária, potencializada através da cena penumbral.

Sugere assim um universo misterioso, só passível de ser desvendado com a contribuição do inconsciente dos espectadores.

"A criação desta linguagem instiga o imaginário na invenção de novos significados, redefine a estrutura de pensamento e sensibilidade, reconstruindo o modo de estarmos no mundo", explica o diretor.

PINOKIO
QUANDO de qui. a sáb., às 21h, e dom., às 20h; até 15/5ONDE Club Noir (rua Augusta, 331; tel. 3255-8448)QUANTO R$ 10CLASSIFICAÇÃO 14 anos



Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
13/03/11
Globo ressuscita aventuras do "Sítio do Picapau Amarelo", pela primeira vez em formato de desenho
KEILA JIMENEZ
COLUNISTA DA FOLHA

Se Monteiro Lobato criasse sua obra infantojuvenil nos dias de hoje, em que formato seria? Game com sensor de movimento em que Pedrinho corre da Cuca, 15 aplicativos diferentes de Narizinho no iPad, videolog da Emília, Facebook da Dona Benta... Ah, e um moderno desenho animado em HD dessa turma.

A Globo começou por aí. Fruto de parceria da emissora com a produtora Mixer, a ressurreição do eterno "Sítio" virá pelo caminho mais direto da TV para falar com as crianças: a animação.

Depois de dois anos de negociação, Globo e Mixer começaram a produzir os 26 episódios da primeira temporada do desenho animado do "Sítio do Picapau Amarelo", que estreia em 2012.

Sucesso em suas várias versões dramatúrgicas, a mais recente de 2001, o "Sítio" nunca foi desenho até agora. O sonho de uma década da Globo só vingou por conta da aposta da Mixer na produção de animação no país, como o "Escola Pra Cachorro" (Nickelodeon e TV Cultura) e pela forcinha de um incentivo fiscal.

A animação do "Sítio" terá isenção de R$ 3 milhões por meio da Lei do Audiovisual, que permite a canais a dedução de parte do imposto pago pela compra de direitos de atrações internacionais em parcerias com produtores brasileiros independentes. O custo de cada temporada do desenho é de R$ 4 milhões.

"Difícil foi transformar histórias de 40 minutos na TV em episódios de 11 minutos, tempo médio da animação", conta Tiago Mello, diretor executivo da Mixer. "Mas deu certo. Os personagens já têm suas versões em animação, e a família de Monteiro Lobato está aprovando as sinopses dos episódios." Visconde, Dona Benta, Tia Nastácia, Narizinho, Pedrinho, Emília, Rabicó e a Cuca protagonizarão as histórias.

"A obra não perderá suas características tão bem delineadas, mas foram criados novos desenhos adequados à linguagem visual atual", diz Carlos Eduardo Rodrigues, diretor da Globo Filmes e um dos criadores do projeto.

"Além da comercialização de produtos, a vantagem da animação é o mercado internacional. O desenho pode ser dublado em qualquer língua", afirma João Daniel, presidente da Mixer.


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
13/03/11
Presentes na obra original, pó de pirlimpimpim e escravidão relacionada à Tia Nastácia vão sumir da história
Com a atração infantil na programação, Globo espera aquecer a venda de produtos licenciados da marca consagrada
COLUNISTA DA FOLHA

Ainda sem data de estreia, a animação do "Sítio do Picapau Amarelo" nasce fugindo de polêmicas.

Entre as adequações da obra aos tempos atuais, a versão em desenho do "Sítio" deixará de lado qualquer resquício escravocrata em referência a Tia Nastácia que faz parte de alguns livros de Monteiro Lobato.

A mudança coincide com a sugestão no ano passado do Conselho Nacional de Educação para que o livro "Caçadas de Pedrinho" não fosse distribuído a escolas públicas por ser racista.

"As pessoas se esquecem da importância da Tia Nastácia. Ela é criadora dessa mitologia toda de Monteiro. Fez a Emília e o Visconde de Sabugosa", diz Tiago Mello, da Mixer. "Mas não vamos mexer com escravidão no desenho. Será tudo bem leve."

O pó de pirlimpimpim também vai sumir. Ou melhor, mudar de consistência. Deixará de ser pó -para não haver qualquer ligação com substâncias alucinógenas- para virar uma espécie de mágica que transportará personagens de um lugar para outro.

Na versão original, Emília e sua turma aspiravam o pó e "viajavam". Na versão dos anos 1980, eles jogavam o pó uns sobre os outros.

"A função do pirlimpimpim será a mesma, só não terá o pó", explica João Daniel, presidente da Mixer.

"Temos de ver que a obra foi escrita em outra época, com outros valores. Temos de adequá-la às conotações que as coisas têm hoje."

A primeira temporada do novo "Sítio do Picapau Amarelo" terá histórias dos livros "Reinações de Narizinho", "Viagem ao Céu" e "Caçadas de Pedrinho".

BAÚ

Longe de polêmicas, a volta do universo de Monteiro Lobato tem uma mina de ouro à vista: os licenciamentos de produtos.

Cadernos, bonecos, brinquedos, jogos, DVDs... Mesmo fora da Globo desde 2007, o "Sítio" seguiu tendo itens licenciados e vendidos no site da emissora durante todo esse tempo.

A Mixer desconversa. Mas a Globo não esconde a ansiedade para que o infantil emplaque além da primeira temporada. Sabe que a volta da atração, modernizada, aquecerá mais o negócio.

"A marca do "Sítio do Picapau Amarelo" sempre atraiu interesse de empresas de diversos ramos. Estamos sempre avaliando novas propostas", conta José Luiz Bartolo, diretor da Globo Marcas, braço que cuida dos licenciamentos da Globo.

(KEILA JIMENEZ)


Fonte: Folha de S. Paulo
Caderno: Ilustrada
13/03/11
RAFAEL CARIELLO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As meias coloridas e a roupa "disco" habilitariam Emília para integrar o grupo dançante das Frenéticas no final dos anos 70.

Mas não era só na indumentária da boneca de pano que a primeira versão do "Sítio do Picapau Amarelo" produzida pela Rede Globo encarnava um certo espírito do tempo.

Quem foi criança entre 1977 e 1986, período em que as histórias rurais-delirantes adaptadas da obra de Monteiro Lobato foram ao ar, ainda não estava tão distante da roça assim.

Parte significativa da geração anterior havia migrado de pequenas cidades para estudar ou trabalhar nas grandes metrópoles.

E não era improvável que os avós dos pequenos telespectadores tivessem, eles próprios, algum sítio ou uma fazenda -quando não houvessem trabalhado diretamente no campo.

Dona Benta, Tia Nastácia e os agregados do Sítio eram, portanto, figuras da família, ou quase. Viviam num lugar que se conhecia das histórias contadas pelos mais velhos ou que se visitava nas férias escolares.

Ao mesmo tempo, o rápido processo de urbanização por que o país passara nas décadas anteriores chegava ao final ou, pelo menos, perdia fôlego justamente naquela época.

A grande cidade, antes promessa de progresso e ascensão social, se tornava cada vez mais inchada, conflituosa, violenta.

Era preciso fazer como Pedrinho e fugir para o Sítio.


RECONFORTO

Outros programas, na mesma época, deram vazão a essa nostalgia por um mundo rural pouco produtivo, economicamente atrasado, mas que, em contraste com São Paulo ou o Rio de Janeiro, parecia reconfortante do ponto de vista social, mesmo para quem não pertencesse à "casa-grande".

No "Som Brasil", lançado em 1981, Rolando Boldrin fazia da música caipira a trilha sonora das casas brasileiras nas manhãs de domingo. Na mesma toada tivera início, no ano anterior, o excelente "Globo Rural".

Programa que sobreviveu e conseguiu fazer a ponte entre a nostalgia do mundo caipira e a modernidade do agronegócio, com seus recordes de safra, multinacionais do etanol e magnatas da soja.

Um admirável mundo novo que, em 1977, pouca gente, além da boneca Emília, teria sido capaz de imaginar.




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