Notícias da Semana 19/03/2011 – 25/03/2011 |
SUMÁRIO |
Desenhistas novos amam seu estilo e modo de contar histórias 22 de março de 2011 | 0h 00 Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S.Paulo Os críticos de literatura infanto-juvenil da Inglaterra costumam associar a casa do ilustrador e escritor John Burningham, de 75 anos, às maluquices que as crianças inventam em seus livros. É que a casa de Burningham, na exclusivíssima área londrina de Hampstead, parece um museu medieval com suas janelas de vidro, portas góticas e uma lareira de pedra, um pouco à maneira do castelo imaginado pela sonhadora garotinha de Hora de Sair da Banheira, Shirley!. Ela é a menina loira que entra muda e sai calada nesse livro, que a Cosac Naify lança simultaneamente a Fique Longe da Água, Shirley!, ambos concebidos no fim dos anos 1970 pelo premiado autor, que mora há 30 anos na mesma casa de Hampstead. Foi de seu refúgio medieval, por telefone, que Burningham, interrompendo a audição de uma peça de câmara de Mozart, concedeu uma entrevista ao Estado para falar dos livros e de sua carreira. Burningham é um mito da ilustração. A coreana Suzy Lee (do best-seller Onda, que vendeu mais de 100 mil exemplares em um ano, também publicado pela Cosac Naify), começou a desenhar influenciada pela original forma de contar histórias inventada por ele. Além de criar situações que só podem ser imaginadas segundo uma perspectiva infantil, Burningham mostra o contraste entre a percepção da realidade pelo adulto e sua transmutação no imaginário da criança, contrapondo os traços sintéticos do mundo dos pais à folia cromática do universo dos miúdos. Em ambos os livros agora lançados, as páginas pares são reservadas aos poucos traços que definem a personalidade dos pais. As ímpares trazem exuberantes desenhos coloridos com tinta, carvão e lápis de cor, mostrando como Shirley se imagina numa aventura de piratas na praia ( As páginas pares trazem invariavelmente o discurso da mãe, sempre interditando ou repreendendo Shirley. Ela, nas ímpares, não replica e nada fala, construindo uma narrativa sem palavras. É o verbo autoritário contra a imagem libertária. Força de hábito. Burningham, rebelde quando criança, passou por dez colégios até ser mandado aos 12 anos para Summerhill, a célebre escola britânica criada pelo educador escocês Alexander Sutherland Neill (1883-1973), conhecida por seus métodos liberais. Nela, os alunos podiam ou não assistir às aulas. Burningham preferiu se trancar na sala de artes e foi ali que tudo começou. "Fiquei feliz por ter tanto tempo para desenhar em Summerhill e também por ter encontrado um professor de literatura que me deixava livre para pensar." O escritor saiu de lá com um diploma na matéria. Segundo ele, o 11.º mandamento deveria ser "Não Aborrecerás Ninguém". E ele o segue à risca. Seus livros são divertidos, bonitos e trazem personagens com os quais se simpatiza automaticamente. O primeiro deles foi um ganso sem penas chamado Borka, nascido em 1963. "Naquela época, eu andava entusiasmado com o traço de Saul Steinberg e com o cartunista francês André François", observa, revelando que sentia, no entanto, vontade de trilhar um caminho próprio, evitando o tom moralista dos livros infanto-juvenis de sua época. Um exemplo de personagem que caminha na contramão da parábola educativa convencional é o garoto de Edwardo: The Horriblest Boy in the Whole Wide World. O Edwardo do título é um menino infernal, de cabelos arrepiados, que chuta cachorros, fala alto, se comporta como um ogro à mesa e é criticado por todos. Nenhuma palavra de carinho ou afeto. Só punição. Resultado: Edwardo se esforça ainda mais para entrar no livro dos recordes como o garoto mais horrível do planeta. Você já ouviu essa história antes: certamente ela se parece com a dos jovens rebeldes que saem por aí explodindo a si e aos outros. "Não acho que meu trabalho seja político, porque detesto propaganda e odeio pregação por meio de livros, mas o fato é que não dá para sair por aí bombardeando as pessoas e esperar que elas mudem seu modo de estar e agir no mundo." Se Deus descesse à Terra, diz ele, ficaria muito aborrecido com a imensa bagunça dos bípedes racionais, como ele imagina no livro Whatdayamean? (1999), em que duas crianças mostram que fazem a diferença neste mundo de lunáticos. Pai de três filhos e avô de um trio de netos, filhos de Lucy, Burningham diz que não tem muito tempo para eles, porque está trabalhando mais que 20 anos atrás. Casado com a também ilustradora Helen Oxenbury, ele raramente aceita ilustrar livros de outros autores, como no passado - Burningham é o ilustrador e criador do protótipo do carro de Chitty Chitty Bang Bang, de Ian Fleming, que inventou James Bond, o agente 007. Burningham acha um pouco aborrecido o universo infantil contemporâneo dos jogos eletrônicos e afirma que jamais criaria um deles. Atualmente se dedica à pintura. Quer, a exemplo de Turner, descobrir os segredos da luz instável que muda a paisagem o tempo todo. "Ele é um mestre e eu só estou começando no negócio", diz, modesto. Sobre sua influência, admitida por muitos ilustradores novos além de Suzy Lee, o ilustrador é ainda mais modesto: "Não tenho diálogo com desenhistas da nova geração, mas sei que meu trabalho é muito popular entre os coreanos". Suzy Lee conta que seus pais costumavam ler os livros de Burningham para ela antes de colocá-la para dormir. "Acho que ainda é o melhor método de educar as crianças", comenta o ilustrador. Para homenagear a cama dos sonhos infantis, ele criou há oito anos o livro The Magic Bed. Nele, George, um garoto maior que o normal, ganha dos pais uma cama usada com poderes mágicos. Traduzidos, claro, pela cor do mestre. QUEM É JOHN BURNINGHAM AUTOR E ILUSTRADOR DE LIVROS INFANTIS Nascido em 1936 em Farnham, no condado de Surrey, Inglaterra, o ilustrador John Burningham trabalhou para a BTC inglesa, desenhando cartazes de ônibus antes de escrever livros infantis, alguns já traduzidos no Brasil, como Cadê o Júlio?, cuja versão é assinada por Ana Maria Machado. Fonte: O Estado de S. Paulo Caderno: Ilustríssima 20/03/2011 Escritor francês, que tachou o islamismo de 'a religião mais idiota do mundo', confirma participação na feira literária 20 de março de 2011 | 0h 00 Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo Polêmico, odiado e amado, Michel Houellebecq não é um simples escritor: sua história comprova a tendência a se tornar um mito. É o que poderão confirmar os frequentadores da próxima edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que ocorre em julho - Houellebecq é uma das estrelas convidadas e sua participação será confirmada nos próximos dias. Desde que sua literatura despontou, no fim da década de O lançamento foi estrategicamente preparado, uma vez que ocorreria em pleno verão, ou seja, a estação em que as editoras disputam a tapas um espaço na mídia (só naquele ano, havia outros 295 autores sendo apresentados): 15 dias antes de a obra chegar às livrarias, Houellebecq figurou na capa da revista Les Inrockuptibles com a seguinte manchete: "Perigo: Explosivo". Em seguida, em entrevista em outra publicação de grande visibilidade (Lire), que precedeu uma enxurrada de críticas, despertando atenção para ele. Nascido em 1958 em uma família mal estruturada, que em pouco tempo se despedaçou e influenciou seu estilo agressivo, Houellebecq sempre conviveu com o escândalo. No ano passado, antes de ganhar o maior prêmio literário francês, o Gouncourt, pela sua quinta obra, Raphaëlle Rérolle, do jornal Le Monde, por exemplo, não se conteve: " O livro retrata de forma impiedosa certas atitudes contemporâneas nas quais o escritor, além de atacar a arte e a vida campestre, também parodia a si mesmo. A vitória no Goncourt, aliás, veio tardia - Houellebecq já concorrera com o mesmo Partículas Elementares e com A Possibilidade de Uma Ilha, em 2006. O flerte dos críticos também passou imune à série de polêmicas declarações dadas pelo escritor - em 2001, por exemplo, em uma entrevista, ele qualificou o islamismo como "a religião mais idiota do mundo". Acusado de "incitação ao ódio racial" e "injúrias", acabou absolvido. |
Fonte: O Globo Plantão| Publicada em 20/03/2011 às 12h29m André Miranda e Mauro Ventura RIO - Nos últimos dias, uma discussão se espalhou como vírus pela internet: até que ponto um projeto na web deve ter um alto custo e receber apoio público, já que a rede é caracterizada por seu espírito independente e colaborativo? O debate foi levantado na última quarta-feira, após a divulgação, pelo jornal "Folha de S. Paulo", de que o governo autorizou o projeto O Mundo Precisa de Poesia a captar R$ 1,3 milhão em recursos via incentivo fiscal. A proposta, de acordo com sua própria sinopse, tem como objetivo a criação de "um blog inteiramente dedicado à poesia", em que um vídeo diferente será postado diariamente durante um ano. Os 365 vídeos trariam a cantora Maria Bethânia declamando poemas de grandes autores. O valor foi considerado alto por muitos internautas. Os comentários criticavam desde o fato de o MinC aprovar um projeto para um blog até a destinação de um cachê de R$ 600 mil para o que seria a direção artística do projeto, a cargo de Bethânia. - Existe uma ideia equivocada de que só se pode ter coisas toscas na internet. Quando o (antropólogo) Hermano Vianna me procurou para falar do projeto, a ideia era que qualquer um pudesse ter acesso a um material de qualidade - diz Andrucha Waddington, diretor dos vídeos. - Uma coisa é você postar uma poesia em seu blog. Outra é você fazer um vídeo conceitual por dia com uma artista como a Bethânia. Nossa proposta é que cada filmete tenha relação com o dia da semana, do mês ou do ano em que vá ao ar. E tudo isso será colocado na rede de forma gratuita e para uso de domínio público. Os orçamentos para projetos de internet inscritos no MinC variam muito. De acordo com a assessoria técnica da pasta, muitos chegam a ultrapassar R$ 1 milhão, como o de Bethânia. Um desses é o do site Porta Curtas, de divulgação de curtas-metragens nacionais. A última proposta do Porta Curtas na Lei Rouanet foi autorizada a captar recursos em 31 de janeiro deste ano, no valor de quase R$ 1,5 milhão. A maioria dos proponentes, porém, requisita verbas inferiores a R$ 1 milhão. Em 15 de fevereiro, o Portal Tela Brasil, site de divulgação audiovisual, recebeu autorização para captar R$ 434 mil. Em 25 de fevereiro, o projeto Fluxus - Festival Internacional de Cinema na Internet, de exibição de curtas nacionais e internacionais, teve aprovada uma proposta de R$ 252 mil. Pouco depois, em 16 de março, o projeto Artedigital.br, um banco de dados sobre a arte digital brasileira, recebeu um parecer favorável de R$ 303 mil. - O problema é que o debate é distorcido. As pessoas não olham para o conteúdo produzido, não olham para o que aquele dinheiro está de fato remunerando. As pessoas só olham para o fato de ser na web e para o valor - diz Oona Castro, diretora-executiva do Instituto Overmundo, que tem como missão a promoção do "acesso ao conhecimento e à diversidade cultural no Brasil". " É uma geração em que a própria pessoa é o autor, o editor e o distribuidor. " Hoje, a Lei Rouanet prevê sete áreas para incentivo fiscal: artes cênicas, artes integradas, artes visuais, audiovisual, humanidades, música e patrimônio cultural. Nenhuma delas é sobre internet, tanto que o projeto O Mundo Precisa de Poesia foi inscrito na rubrica do audiovisual. - Disso tudo, vejo duas discussões salutares. A primeira é a supervalorização de projetos para outros meios e a desvalorização de projetos na internet. A outra são algumas distorções da Lei Rouanet, que levam as empresas a buscar projetos com artistas famosos para valorizar sua marca e ainda se beneficiarem do incentivo fiscal - afirma Oona. Para o ensaísta e pesquisador Frederico Coelho, são dois os universos que estão em impasse. De um lado, a geração que está há dez anos na internet, pensando formas colaboracionistas e que não precisa de orçamento milionário. É uma geração em que a própria pessoa é o autor, o editor e o distribuidor. Do outro, os produtores de conteúdo que estão descobrindo que vão ficar para trás se não dialogarem com a web. - Eles trazem os formatos de produção de suas áreas, com equipes caras, grandes orçamentos. Nesse momento, dizer para aquela geração da internet que é preciso R$ 1,3 milhão para fazer um projeto de vídeo na web é inaceitável. São universos ainda um pouco inconciliáveis, e por isso o diálogo é tão truncado - diz Coelho. O editor Sergio Cohn, da Azougue, que tem aprovado no Fundo Nacional de Cultura - um mecanismo de apoio direto do governo a projetos culturais - investimentos para o portal Poesia.br, acha que o incentivo ao conteúdo brasileiro na web deveria ser maior. - A língua portuguesa tem perdido espaço na internet. O Brasil tem que tomar seu espaço na web a partir de políticas que levem conteúdo para a rede. É importante, por exemplo, a digitalização de arquivos, que ficam acessíveis a qualquer pessoa - explica ele. Sobre o custo de um projeto na rede, Cohn lembra que é preciso levar em conta a distribuição: não basta ele chegar à internet, tem que ganhar visibilidade. - Há todo um trabalho de torná-lo visível, de permitir localizá-lo na web. E, para isso, são necessárias inteligências caras. Quanto mais o projeto trouxer soluções originais e eficientes, mais elas poderão ser replicadas e maior será o retorno cultural - acredita. Fonte: Folha de S. Paulo Caderno: Ilustrada ANÁLISE POLÍTICA CULTURAL 20/03/2011 Ainda que haja dúvidas sobre aprovação de captação de R$ 1,3 milhão para blog, foco deve ser revisão da lei APESAR DE SER BOM O NEGÓCIO, SÓ CERCA DE 5% DOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS USAM A LEI ROUANET ATUALMENTE -------------------------------------------------------------------------------- DE SÃO PAULO "Dinheiro público sendo usado sem critérios é porta aberta para a malandragem." Foi com essa frase que, há dois anos, o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira (2008-2010) enfrentou alguns dos embates em torno da reforma da Lei Rouanet. Ele reiterou essa tese porque, no primeiro mandato de Lula, parte da sociedade civil fugiu da palavra "critérios" como o diabo foge da cruz. Quando, ao assumir o Ministério da Cultura, em 2003, Gilberto Gil passou a defender "critérios públicos" para a concessão de incentivos fiscais, não foram poucos os que começaram a enxergar, na nova proposta, ameaças de "dirigismo cultural". Não custa refrescar a memória antes de julgar o caso Maria Bethânia, que obteve autorização para captar R$ 1,3 milhão para produzir um blog com vídeos. O que Bethânia está fazendo é legal. É moral? Essa resposta é tão intrincada quanto o sistema de financiamento à cultura no Brasil. LEI EMERGENCIAL Nossa primeira lei de incentivo à cultura foi a Lei Sarney (1986), que, apesar de levar o nome do presidente do Senado, foi engendrada por Celso Furtado (1920-2004). Teve vida brevíssima. A denúncia de fraudes fez com que o presidente Fernando Collor acabasse com ela. Foi para salvar a produção nacional da inanição que o doutor em ciência política Sérgio Paulo Rouanet criou a lei atual. Era isso ou o vazio. O mecanismo, responsável pela renúncia de cerca de R$ 800 milhões em 2010, pode ser usado por pessoas físicas e por empresas que tributem pelo lucro real. O Estado, ao instituir a renúncia, abre mão de até 4% do total de impostos que a empresa tem a pagar. E se abre mão do dinheiro é porque considera que esses recursos podem ter uma função pública. Ou seja, trata-se, sim, de dinheiro público. A ideia era "incentivar" os empresários a investir na cultura -mas não só com o dinheiro da viúva, com dinheiro deles também. UNILATERAL Acontece que, ao permitir que certos projetos sejam contemplados com 100% de abatimento, ou seja, não é preciso complementar o apoio com recursos próprios, a parceria entre público e privado nunca efetivou-se. Mas, apesar de ser bom negócio, só cerca de 5% dos empresários brasileiros usam a Lei Rouanet. E dos 10 mil projetos apresentados anualmente ao ministério, só 20% conseguem patrocinador. O de Bethânia é um desses fortes candidatos a conseguir o dinheiro. Parte da indignação que seu projeto causou vem daí: ela, artista estabelecida, precisa de ajuda do Estado? E seu blog não está tirando o lugar de outros projetos na fila do patrocínio? Ambas as perguntas já foram feitas durante o projeto de reforma da lei. E a nova Lei Rouanet prevê duas coisas. Primeiro: uma empresa até pode usar renúncia para apoiar o blog de Bethânia, mas terá de complementar o orçamento com dinheiro próprio. Segundo: projetos que não interessam ao marketing das empresas devem recorrer ao Fundo Nacional de Cultura, que prevê repasse direto de recursos públicos. Esse projeto está no Congresso. Neste momento, mais do que apontar o dedo para Bethânia e para um projeto cujo orçamento pode escapar à compreensão dos leigos, talvez fosse a hora de cobrar do governo que o projeto de reforma seja levado adiante. Quem critica esse caso específico vê a árvore, mas não vê a floresta. (ANA PAULA SOUSA) |
Fonte: O Globo Plantão| Publicada em21/03/2011 às 18h58m O Globo RIO - O festival de música negra "Back2Black" e o de cinema documental "É Tudo Verdade" estão entre as 187 iniciativas contempladas pelo Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados 2011, cujo resultado foi divulgado nesta segunda-feira. Oriundos de todas as regiões do Brasil, 4.853 peças de teatro, mostras de cinema e artes visuais, longa-metragens, shows de música, festivais de dança, novas tecnologias, cultura popular, literatura e patrimônio concorreram ao financiamento, total ou parcial, de seus projetos. O objetivo do programa é dar apoio a propostas que visem à valorização de talentos regionais e ao fortalecimento da cidadania. Foram selecionadas iniciativas do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraíba, Pará, Rio Grande do Sul, Ceará, Goiás, Acre, Roraima e Piauí, estados que dispõem e utilizam leis de incentivo à cultura. Desde 2001, mais de 950 projetos culturais foram patrocinados e mais de 13 milhões de espectadores beneficiados. Outras propostas que serão patrocinadas pelo programa são os festivais de cinema do Rio e de Gramado, o projeto de cultura popular "Cordão do Bola Preta - 90 anos animando o carnaval carioca" e os festivais de música "Chico Pop" e "Tomarrock 2011". Fonte: Folha de S. Paulo Caderno: Cotidiano São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2011 Projeto da prefeitura prevê troca de área nobre do Itaim Bibi com mercado imobiliário; comprador deverá construir até 200 creches RICARDO GALLO DE SÃO PAULO Moradores do Itaim Bibi, área nobre na zona oeste paulistana, protestaram ontem contra projeto da prefeitura de trocar, com o mercado imobiliário, uma área de 20 mil m2 no bairro por creches. Havia empresários, professoras, aposentados, crianças de creches e escolas, um pároco, um homem com um lhasa apso no colo, um cantor lírico com um vira-lata, uma senhora de meia-idade com óculos rosa choque em forma de estrela e até uma atriz da Globo -Eva Wilma. Eram 700 pessoas, "sem contar as crianças", segundo a Polícia Militar, embora parecesse haver menos gente. Acompanhados por um carro de som, fizeram passeata, abraço coletivo, grito de guerra ("Aha-uhu, o quarteirão é nosso") e discursos contra o projeto do prefeito Gilberto Kassab. Faixas eram exibidas com críticas a Kassab e ao "monstro da especulação imobiliária". "Têm famílias que dependem dos equipamentos daqui", disse Eva Wilma. "Não estou defendendo a minha vista; meu apartamento não dá de frente para o quarteirão. Estou defendendo as crianças e o meio ambiente." Batizado de "quarteirão da cultura", o terreno tem creche, escola estadual e municipal, teatro, biblioteca, posto de saúde, centro de atenção psicossocial e unidade da Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais). Como são imóveis térreos e cercados por árvores, a sensação é a de estar em um parque em meio aos arranha-céus, segundo os moradores. Anunciado em dezembro, o projeto da prefeitura prevê vender o terreno para quem erguer entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões em creches O terreno é valorizado e vai colaborar para reduzir o deficit de creches na cidade, afirma o secretário Marcos Cintra (Desenvolvimento Econômico e do Trabalho). A considerar o valor de mercado, um prédio ali renderia perto de R$ 1 bilhão ao empreendedor, disse. Segundo Cintra, faltam 500 creches na cidade, a área é subutilizada e requer modernização. Cintra diz que a maioria dos equipamentos públicos não sairá dali; serão realocados em cerca de 40% do terreno. A Apae -a prefeitura se propôs a construir duas unidades em outras regiões- e a biblioteca deixarão a área. O projeto será encaminhado à Câmara nas próximas semanas para votação. Fonte: Folha de S. Paulo Na próxima sexta, a presidente dará início a uma série de encontros culturais mensais no Palácio da Alvorada Primeiro evento irá reunir 30 cineastas; segundo assessores, a presidente quer ter nos artistas a base da gestão ANA FLOR DE BRASÍLIA A presidente Dilma Rousseff dá início, na sexta-feira, a uma série de encontros culturais no Palácio da Alvorada, em que pretende se aproximar da classe artística. A partir de março, ela organizará um evento artístico por mês, com convidados de diferentes áreas. A estreia será com cerca de 30 cineastas mulheres, que estão sendo convidadas para um jantar com a presidente. Dilma pretende fazer uma sessão fechada de "É Proibido Fumar", filme de Anna Muylaert estrelado por Glória Pires, na sala de cinema do Alvorada. A escolha de mulheres ligadas ao cinema ainda faz parte das comemorações do mês da mulher -na quarta-feira (23), Dilma abre a exposição de mulheres artistas no Palácio do Planalto. Nos próximos meses, entretanto, o público não ficará restrito ao gênero feminino. O governo já programa eventos no Alvorada que celebram a música, a literatura e o teatro. APOIO O plano é trazer grandes nomes da cultura brasileira para dentro "da casa da presidente"-o Alvorada é a residência oficial de Dilma. Ao aproximá-la de artistas, o Planalto ao mesmo tempo agrada à presidente, entusiasta das artes, como também tenta carimbar Dilma como "a presidente da cultura". E, se Lula teve nos movimentos sociais um de seus principais apoios, assessores gostariam de ver o mesmo efeito na proximidade entre Dilma e a classe artística. No círculo próximo à presidente, há quem cite o encontro com artistas no Rio, no início do segundo turno das eleições, como um dos momentos de maior impulso da campanha. A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, é uma das principais entusiastas da ideia. Ela deverá ajudar na escolha dos temas e convidados. GOSTO Entusiastas do projeto afirmam que, por ser grande apreciadora das artes, Dilma tem a chance de criar "um relacionamento único com a classe artística" e também de ajudar a impulsionar a cultura no país. O interesse de Dilma pelas artes fez com que ela, por exemplo, negociasse pessoalmente a vinda do "Abaporu", da artista plástica Tarsila do Amaral (1886-1973), para a exposição que se inicia na quarta. A pintura pertence a um colecionador argentino desde 2001 e está exposta Dilma pretende abrir o Alvorada também para visitas de estudantes. O palácio já recebe visitas guiadas nas quartas-feiras. A presidente deseja ampliar os horários das visitas e demonstrou interesse de, ela mesma, conduzir alguns grupos de jovens estudantes. Na lista de convidadas para o jantar de sexta estão, além de Anna Muylaert, nomes como Carla Camurati, Lucélia Santos, Bia Lessa, Norma Bengell, Lucia Murat, Tizuka Yamasaki e Monique Gardenberg |
Fonte: Jornal da Tarde Caderno: JTCidade 19 de março de 2011 | 23h00 | Tweet este Post Categoria: Geral Marici Capitelli Tem dia para homenagear quase tudo no Calendário de Datas Oficiais da Cidade de São Paulo. Hoje é o Dia do Pico do Jaraguá. Amanhã, do Atleta de Sinuca e Bilhar. Na quinta-feira, foi o Dia dos Fãs das Séries de TV e Cinema. As mulheres dos pastores evangélicos também têm uma data reservada para elas, assim como os retirantes, o comércio do Butantã, os corintianos, os supermercados, o vinho e as empresas de refrigeração. Já as caixas d’águas têm o mês de julho dedicado a elas. Só que boa parte dos homenageados desconhece tal honraria. Atualmente, existem mais de 400 dias homenageando alguma coisa no calendário. Os bairros e as profissões são os principais alvos das homenagens. Para que uma data entre no calendário oficial é preciso que um vereador crie um projeto de lei. Depois de aprovado, é enviado para a São Paulo Turismo (SPTuris) que faz a inclusão. Essas datas comemorativas enviadas pelos parlamentares passam a figurar junto com os eventos tradicionais. Segundo o vice-presidente da SPTuris, Tasso Gadzanis, chegam em média de Francis Bezerra, presidente da Associação dos Nordestinos do Estado de São Paulo, se diz indignada com as três datas para homenagear a sua comunidade. “Foram criadas por vereadores paraquedistas. É tudo oportunismo eleitoreiro e não faz sentido.” Ela acrescenta que o dia 2 de agosto é de homenagem ao povo nordestino. A data é estadual. Entidades que acompanham o trabalho da Câmara Municipal criticam o grande volume de leis que criam os dias comemorativos. “Muitos vereadores criam essas datas para mostrar que apresentam projeto”, afirma Claudio Vieira, integrante do grupo Adote Um Vereador. Gilberto Palma, diretor do Instituto Ágora em Defesa do Eleitor, define essas leis como “cosméticas” já que não causam impacto na vida dos cidadãos. O presidente da Câmara Municipal, José Police Neto, diz que os projetos não atrapalham o Legislativo. “São aprovados por deliberação. Não vão a plenário.” Para ele, as datas têm importância para os grupos homenageados. “Nós vamos morrer, mas essa data vai ficar”, ressalta Edmundo Zanetti da Freguesia do Ó. Em todo último domingo de maio é comemorado o Dia do Assentamento da Cruz do Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó. |
Fonte: O Globo Publicada em 17/03/2011 às 15h47m Reuters TÓQUIO - A rápida ascensão dos livros eletrônicos pode criar uma 'desigualdade na leitura', com as pessoas que ainda não podem arcar com o custo da nova tecnologia, sendo deixadas para trás, em um período de declínio na capacidade de escrita e leitura nos Estados Unidos. As comunidades negras onde muitos estudantes já estão ficando para trás de seus pares, membros de maiorias em termos de alfabetização, estão sob ameaça especial, disse a escritora Marita Golden - e isso a despeito do número crescente de escritores norte-americanos negros célebres, entre os quais, Toni Morrison, que conquistou um Nobel de Literatura. - Minha maior preocupação é que a tecnologia continue aumentando essa desigualdade - disse Golden. - Não teremos apenas uma desigualdade digital mas uma desigualdade de acesso à leitura, se a leitura se tornar uma atividade que dependa de tecnologia. - Caso a leitura venha a depender de tecnologia que precisa ser comprada, creio que a desigualdade na alfabetização persistirá e até mesmo crescerá - acrescentou. Anos de discussão sobre o futuro dos livros em meio às amplas mudanças tecnológicas em curso, e o desejo de garantir que os escritores negros sejam incluídos nessa discussão, incentivaram Golden a conceber seu recente livro 'The Word', no qual escritores negros norte-americanos falam sobre como a leitura melhorou suas vidas. Edward Jones, que conquistou um prêmio Pulitzer por seu romance 'The Known World', afirma acreditar que "a leitura e a escrita são fundamentais para ser uma pessoa melhor e ter uma vida melhor." Outros contam como ler sobre vidas parecidas com as suas ajudou a validar suas experiências e a lhes propiciar confiança. Nesse sentido, a tecnologia dos leitores eletrônicos (e-readers), por exemplo, pode ser tanto vantagem quanto problema em termos de alfabetização, disse Golden, já que leitores que poderiam se sentir intimidados diante das muitas páginas de um livro talvez se entusiasmem com a leitura em forma digital. Além disso, considerando que a comunidade negra dos EUA tem mais celulares e smartphones do que a comunidade branca, existe o potencial de explorar um mercado maior, acrescentou. - Mas o problema é ser possível baixar tanto jogos quanto livros, e não sabemos o que as pessoas farão. |
Fonte: Folha de S. Paulo Caderno: Cotidiano São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2011 Estado diz que falta de limpeza provocou problema e que conserto foi providenciado MARCELLE SOUZA DO "AGORA" Os alunos da escola estadual Prof. Augusto Ribeiro de Carvalho, na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo, estudam em esquema de rodízio e têm, em média, aulas apenas três vezes por semana. O problema ocorre desde o início do ano letivo, devido a um problema de infiltração em dez salas de aula, de acordo com os estudantes. Como falta espaço para todas as turmas, foi adotado o rodízio. Às quintas-feiras, por exemplo, estudam os alunos do 1º e do 2º anos do ensino médio -os alunos do 3º ano são dispensados. Às sextas, quem fica em casa são os alunos do 1º ano. O esquema de revezamento segue nos outros dias da semana. Apenas no fim do dia os alunos são avisados sobre como será o esquema no dia seguinte. A escola tem cerca de 2.000 alunos, do 5º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio. De acordo com os estudantes, as salas e o banheiro do segundo andar não podem ser utilizados pois estão cheios de goteiras. A sala dos professores também está em situação ruim. Os pais dizem que problema semelhante ocorreu no início de 2010. OUTRO LADO A Secretaria de Estado da Educação afirma que a Fundação para o Desenvolvimento da Educação, órgão que administra os contratos de obras, enviou, no dia 16 de março, um fiscal à escola. Durante a vistoria, o funcionário detectou uma infiltração causada pela falta de limpeza das calhas. Ainda de acordo com a secretaria, o serviço de limpeza do local já foi iniciado em caráter emergencial. "Assim que for concluído, as aulas serão normalizadas", afirma a pasta, em nota, sem especificar data. A secretaria informou ainda que será providenciado um orçamento para a solução definitiva do problema. A nova reforma, no entanto, deverá ocorrer por meio de licitação, a fim de evitar incidentes semelhantes. A pasta admite que um esquema de rodízio foi adotado devido ao problema no prédio, mas, ao contrário do que os alunos informaram à reportagem, a Secretaria da Educação disse que três salas apresentam problemas. A pasta garante, também, que todas as aulas perdidas serão repostas de acordo com o calendário escolar. Fonte: Folha de S. Paulo Caderno: Cotidiano São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2011 Como na rede estadual, piorou o rendimento em teste sobre português e matemática em escolas municipais da capital Prova São Paulo aponta que rendimento entre a 5ª e a 8ª séries caiu; da 1ª à 4ª, no entanto, médias evoluíram FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO O rendimento dos alunos das séries finais (5ª à 8ª) do ensino fundamental da Prefeitura de SP piorou na avaliação municipal do ano passado. Por outro lado, nas séries iniciais (1ª à 4ª) os estudantes evoluíram em relação ao exame anterior. Chamado de Prova São Paulo, o exame avaliou estudantes com testes de língua portuguesa e matemática. Exemplos de desempenhos: na 8ª série, a média em português caiu 7% em um ano, chegando a 213 pontos, numa escala que vai até 375; na 2ª série, houve aumento de 4% em matemática. O aluno da 8ª série, formando na rede, teve nota semelhante ao que educadores esperam para a 4ª série, ou seja, um atraso de quatro anos (a Secretaria da Educação divulgou os dados usando como padrão o ensino fundamental de oito anos). Do lado positivo, o exame mostra que a defasagem dos mais novos já foi maior: alunos da 3ª série de 2010 tiveram nota superior aos da 4ª série de 2008. A melhora das séries iniciais e a piora das finais também ocorreu na rede estadual de São Paulo. "O desempenho dos anos finais não é bom, mas as séries iniciais mostram que o caminho está certo", disse o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, falando pela gestão do prefeito Gilberto Kassab (que está saindo do DEM). Ele afirma que há mais dificuldades de melhorar os mais velhos porque eles foram alfabetizados em condições piores, com escolas com o terceiro turno ("turno da fome") e colégios de lata. Para tentar reverter a queda de desempenho desses estudantes, as escolas municipais deverão passar a oferecer, fora do horário de aula, reforço aos que tiverem mais dificuldade. A medida já era praticada nos anos iniciais. IMPLEMENTAÇÃO "Até agora, não havia programas especiais para os alunos mais velhos com dificuldades, como havia para os mais novos", disse o presidente do Sinesp (sindicato dos diretores de escola), João Alberto Rodrigues de Souza. Ele afirma que a recuperação é uma boa proposta, mas que é necessário acompanhar sua implementação. "Até agora, os professores não foram capacitados, o material específico não chegou e as escolas terão problemas para encontrar espaço para essas turmas." Para o pesquisador da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse, a prefeitura precisa reavaliar seus programas na área. "Os anos passam, as avaliações são feitas, o dinheiro é gasto e não aparece melhora substancial no desempenho", disse o pesquisador. Um dado comemorado pela prefeitura foi o desempenho dos alunos mais novos, com mais dificuldades, que estudam em turmas especiais. Houve melhora nas séries em que existe o programa, que prevê salas menores e materiais específicos. Fonte: O Estado de S. Paulo Prova São Paulo mostra que 11 mil dos 48 mil avaliados não estavam alfabetizados 22 de março de 2011 | 0h 00 Uma em cada quatro crianças das escolas municipais da cidade deSão Paulo termina o 2.º ano do ensino fundamental sem saber ler e escrever. Isso significa que, dos 48 mil avaliados no 2.º ano do ciclo 1, mais de 11 mil ainda não estavam alfabetizados. Meta. Plano Nacional de Educação estabelece que até 2022 todas as crianças estejam alfabetizadas até os 8 anos Os números são da Prova São Paulo, que avaliou 288 mil estudantes em novembro do ano passado. Apesar de mostrar um avanço em relação aos mesmos resultados de 2007 - quando a prova foi aplicada pela primeira vez e indicou que 39% dos alunos do 2.º ano do ciclo 1 não estavam alfabetizados -, o índice ainda é considerado ruim. Como todos os estudantes avaliados integram o modelo antigo de ensino fundamental (de oito anos e não nove), essas crianças do 2.º ano ainda não alfabetizadas já tinham 8 anos. Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece que, até 2022, toda criança terá de estar alfabetizada até 8 anos. "Toda escola de São Paulo quer alfabetizar todos os alunos. Não temos uma data estipulada, mas queremos atingir a meta antes do prazo estipulado pelo Ministério da Educação. O resultado da Prova São Paulo mostra que estamos indo bem: em três anos, avançamos 25%", afirmou o secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider, se referindo aos resultados de 2007. Fraco. Para os especialistas, apesar da melhora, o índice atual ainda é muito ruim. "Se calibrarmos o nosso senso crítico, veremos que os números não são bons", diz Priscila Cruz, diretora executiva da ONG Todos pela Educação. "Estar alfabetizada é o direito de todas as crianças. Para esses estudantes que não foram incluídos, o tempo passou. Eles deixaram de aprender. Temos de ter total intolerância à desigualdade." Segundo o professor Ocimar Munhoz Alavarse, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), os números são mais sérios quando se considera o patamar de São Paulo. "Não dá para achar bom um número que mostra que, na cidade mais rica do País, uma em cada quatro crianças termina o 2.º ano sem estar alfabetizada. Essa pesquisa mostra que há crianças que depois de três anos na escola ainda não sabem ler e escrever", afirma o educador. A prova. A avaliação com testes de língua portuguesa e matemática e uma questão de produção de textos foi aplicada a todos os alunos do ensino fundamental, exceto os do 1.º ano, e realizados por amostragem para os estudantes do 3.º, 5.º e 7.º anos. Todas as escolas receberam o resultado com o desempenho individual do aluno, o rendimento da classe e da turma, da própria escola, da Diretoria Regional de Educação onde o colégio está inserido e de toda a rede municipal de educação. Para a diretora executiva da ONG Todos Pela Educação, a divulgação dos resultados é positiva. "É muito bom que exista esse retorno para a comunidade escolar. Obter, mesmo em uma avaliação de larga escala, os dados relativos a cada aluno facilita no momento de traçar uma estratégia. A escola age sabendo exatamente onde está acertando e em quais pontos precisa implementar mudanças." Para Alavarse, o importante é que essas crianças sejam acompanhas. "Não é um trabalho fácil, porque a cidade tem muitas escolas e esses estudantes estão espalhados. Mas é preciso fazer um monitoramento sério para conhecer os casos mapeados e, por outro lado, evitar que isso ocorra com quem entra na rede agora." Quanto à questão de produção de texto, o professor defende que a avaliação seja feita com oficinas individuais aplicadas pelos professores caso a caso. "O problema quando se avalia produção textual é estabelecer um critério e, pior ainda, manter esse critério com o tempo." PARA LEMBRAR Na semana passada, resultados de outra avaliação revelaram o desempenho dos estudantes, desta vez do Estado de São Paulo. Dados do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) indicaram que 1.474 escolas - 29,1% da rede - não atingiram as metas da pasta e, portanto, ficarão sem o bônus por resultado. Em comparação com 2010, o índice de escolas que falharam triplicou. O Saresp é uma prova anual que avalia todas as escolas da rede estadual nos 3.º, 5.º, 7.º e 9.º anos do ensino fundamental e também no 3.º ano do ensino médio. Fonte: O Estado de S. Paulo Comunidade que passou a atrair crianças de localidades vizinhas não tem mais espaço para abrigar todo mundo 22 de março de 2011 | 0h 00 - O Estado de S.Paulo Depois de percorrer igarapés e um trecho do Rio Paraná de Ramos, na região de Parintins, a voadeira entra no Aicurapá. É marcante o contraste das águas no encontro do barrento Ramos com o negro Aicurapá. Num trecho da margem esquerda deste último, no alto de um barranco, está a comunidade do Maranhão, onde vivem 130 famílias. Na comunidade, há um esforço dos adultos pela educação. Foi o que bastou para receber crianças vindas das cabeceiras, dos pequenos igarapés, dos furos, dos trechos mais distantes da várzea, dos lugares onde não se sabia ter moradores. Elas apareceram, com os pais ou sozinhas, em canoas, às vezes duas ou três na mesma embarcação. Oito professores trabalham em turmas de 1.ª a 8.ª séries no colégio local. Vanderléia Valente, funcionária da escola, leva a equipe do jornal até a igreja da comunidade, que virou sala de aula. "Num sermão, o padre disse que não quer mais saber de estudante na igreja, que igreja é lugar de rezar. Ele é enjoado." A professora de português Miracir Ribeiro trabalha há 18 anos em escolas do interior do Amazonas. "A água aqui determina o período letivo. Há aulas na várzea enquanto a água permitir", diz. Miracir usa textos de Cecília Meireles, Marina Colasanti e Jorge Amado nas aulas. Nesta tarde, faz com uma turma de 6.ª série a leitura do texto O Sofá Estampado, de Lygia Bojunga Nunes. Mãe de quatro filhos, Miracir fala das dificuldades na cheia. "Acho que falta uma política de governo para amparar o ribeirinho. Por mais que ele esteja preparado, é sempre complicado: as plantas morrem, os animais fogem para não morrer ou são mortos pelas sucurijus." Um grupo de homens trabalha na construção de um novo galpão de madeira para abrigar as crianças. Valdo Rodrigues de Oliveira, de 38 anos, lidera o grupo e a comunidade. Ele pertence à elite local, formada pelos donos de barco de pesca. Hoje, só duas famílias dispõem de embarcações que podem ficar semanas no rio, em pescarias de rede. Cada barco tem cerca de Espaço. "A dificuldade é espaço físico. A gente não cuida só de nossos filhos, cuida dos meninos de outras comunidades, que não são avançadas como a nossa", afirma Valdo. Ele diz que há 270 matriculados na escola, o triplo do número de meninos e meninas da comunidade. "Foi para atender a demanda de fora que colocamos crianças na igreja." O líder comunitário fala das reivindicações feitas a prefeitos e parlamentares, sem sucesso. "Precisamos de escola mais digna para os nossos filhos. Tenho quatro estudando na escola. Mas logo depois eles não vão ter mais ensino. A gente ainda não tem o 2.º grau." Por três meses a prefeitura não pagou o salário dos quatro barqueiros que transportam crianças para o Maranhão. "Os barqueiros continuam no serviço por amor às crianças." Fonte: Folha de S. Paulo Caderno: Equilibrio - 22/03/2011 Para a pedagoga Tânia Brabo, é na sala de aula que se aprende o bê-á-bá do sexismo JULLIANE SILVEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Os estereótipos de gênero começam já no útero, quando os pais escolhem o brinquedo, a decoração do quarto e as roupas do bebê. Mas é na escola que o sexismo é reforçado, segundo a pedagoga Tânia Brabo, da Unesp, que estuda movimentos feministas há 20 anos. Segundo ela, detalhes como separação de meninos e meninas em filas e diferenças nas aulas de educação física ajudam a perpetuar essa visão "bipolar" do mundo. "Isso é nocivo a partir do momento em que um sexo se sente superior ao outro", diz. Leia trechos da entrevista. Folha - Ainda há muito sexismo nas escolas? Tânia Brabo - Nos anos 80 e 90, feministas trouxeram a discussão sobre a necessidade de a escola não reforçar estereótipos, mas não houve continuidade. As publicações daquela época ficaram esquecidas nas bibliotecas. Não se debate nas escolas a discriminação da mulher? As políticas educacionais trazem essa questão na teoria, mas, embora haja um avanço, falta muito em termos práticos. No conteúdo das escolas, a questão da igualdade entre os sexos deve ser mais abordada. Onde aparece o sexismo? No dia a dia da sala de aula, quando atividades supostamente femininas são separadas para as meninas. Na educação física, meninas e meninos são separados e praticam diferentes esportes. Esses problemas começam precocemente? Sim. Na educação infantil, quando os brinquedos são separados - bonecas para as meninas, carrinhos para os meninos. Essa visão bipolar ainda está muito forte. Até nas brincadeiras. O menino não quer nem sentar numa cadeira rosa. Muitas vezes, os meninos querem brincar de boneca, mas a família e os professores não aceitam. E deveriam aceitar? Sim. Homens adultos usam brinco, colar, camisa rosa. Houve mudança nos costumes, mas as crianças ainda são tratadas como se certas questões fossem definir a sexualidade. Em países em que a figura da mulher e do homem são mais iguais, ambos aprendem a cozinhar, cuidar de bebê, bordar. Certamente ainda há muita resistência da família. Há escolas que se preocupam com a igualdade de gêneros e adotam políticas assim. Mas há pais que não entendem. Uma professora contou que teve de lidar com um pai que não aceitava o filho levar o livro da Branca de Neve para casa. Disse que não era leitura de menino. Isso pode refletir na forma como o homem adulto encara a divisão de tarefas na casa... Se o menino não pode segurar uma boneca, então será educado a não ter uma aproximação maior com os filhos. No passado, era assim a vida toda. Hoje, o menino é separado de tudo e na vida adulta é cobrado. Começa na educação infantil e o adulto continua a reproduzir isso. Os alunos também desenvolvem uma visão sexista do professor. Há mais mulheres do que homens dando aulas até o ensino médio. E o salário, em geral, é ruim. É fato. Hoje há mais homens no curso de pedagogia, mas é recente. Como a professora vai ensinar igualdade se ela se sente uma pessoa de segunda categoria? Mas como os professores podem lidar com isso? Estimular que ambos exerçam todos os papéis. "As crianças ainda são tratadas como se certas questões fossem definir a sua sexualidade" |
Fonte: O Globo Plantão| Publicada em 22/03/2011 às 13h01m Márcia Abos SÃO PAULO - O mais tradicional prêmio da literatura brasileira, o Jabuti, anunciou para sua 53ª edição as maiores mudanças de sua história. Em vez de premiar os três primeiros colocados em cada categoria, a premiação da Câmara Brasileira do Livro (CBL) passa eleger apenas um vencedor. Apenas o primeiro lugar receberá uma estatueta e poderá concorrer aos prêmios máximos de livro do ano de ficção e não-ficção. O número de categorias foi ampliado, passa de 21 para 29. Já o valor dos prêmios em dinheiro continua o mesmo: o vencedor de cada categoria recebe R$ 3 mil, enquanto os dois livros do ano ganham R$ 30 mil cada. - São as mais significativas mudanças da história do prêmio - declarou Karine Pensa, presidente da CBL, que evitou falar de maneira direta sobre o boicote anunciado pelo Grupo Editorial Record, um dos maiores do Brasil, após a premiação de 2010 em protesto contra a escolha de "Leite derramado" (Cia das Letras), de Chico Buarque, como livro do ano de ficção, embora na categoria romance romance ele tivesse ficado em segundo lugar, atrás de "Se eu fechar os olhos agora", de Edney Silvestre, publicado pela Record. - [O boicote] gerou uma discussão democrática que beneficiou o prêmio - afirmou Karina. " Com essas novas regras Chico Buarque não ganharia livro do ano em 2010, certo? Percebo que estava com a razão. Fui muito criticado por protestar contra o formato do prêmio. Prevaleceu o bom senso. Volto a concorrer " Os protestos da Record resultaram na formação de uma comissão composta por 12 integrantes do mercado editorial e 20 membros da CBL para repensar o regulamento do Jabuti, chegando ao novo formato anunciado na véspera do início das inscrições para a edição de 2011 do Jabuti, para a qual podem concorrer obras inéditas editadas no Brasil entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2010. O novo regulamento foi apresentado na manhã de ontem por Karine Pansa, e pelo curador da premiação, José Luiz Goldfarb. Satisfeito com as mudanças, o presidente do Grupo Record, Sergio Machado, em entrevista ao GLOBO, anunciou que desiste do boicote e concorre ao prêmio de 2011. - Com essas novas regras Chico Buarque não ganharia livro do ano em 2010, certo? Percebo que estava com a razão. Fui muito criticado por protestar contra o formato do prêmio. Prevaleceu o bom senso. Volto a concorrer - disse Machado, contando que foi convidado pela CBL a fazer parte da comissão, mas declinou. - Como fui eu quem provocou a discussão, achei que não deveria participar. Quis deixar os integrantes da comissão livres e à vontade. As mudanças tornam o Jabuti mais transparente. Estou muito feliz com o resultado e percebo o quanto minha manifestação foi necessária para desencadear estas transformações. Em 2010, a Record inscreveu no Jabuti 108 títulos, o que corresponde a um aporte financeiro de cerca US$ 10 mil. As inscrições para o prêmio são pagas. Em 2011, o valor por título para associados da CBL é de R$ 180 e para não sócios, de R$ 275. Neste ano, Machado espera inscrever um número igual ou maior de obras. No total, em 2010, foram inscritos no Jabuti 2.867 livros. A expectativa da CBL é ultrapassar a marca de 3.000 inscritos em 2011. Curador do Jabuti há 21 anos, José Luiz Goldfarb, comemorou as mudanças. Disse que premiar somente o primeiro lugar de cada categoria era "um sonho antigo". - A mudança valoriza o vencedor, assim como toda a cadeia produtiva - respondeu. Questionado sobre a manutenção no valor financeiro do prêmio, num momento no qual prêmios maiores em dinheiro como o Portugal Telecom e o Prêmio São Paulo de Literatura ganham espaço, Goldfarb afirmou acreditar que a importância do Jabuti não está no dinheiro. - A estratégia do Jabuti não tem a ver com seu valor financeiro, e sim com sua tradição e respeito - explicou Goldfarb. Para a edição 2011, cujas inscrições ficam abertas até 31 de maio, foram criadas as categorias ilustração; gastronomia; turismo e hotelaria. A categoria arquitetura, urbanismo, artes e comunicação foi desmembrada em três: arquitetura e urbanismo; artes; comunicação. Ciências exatas, tecnologia e informática, foi desmembrada em duas categorias: ciências exatas; tecnologia e informática. O mesmo aconteceu com ciências naturais e da saúde, e com psicologia, psicanálise e educação, a última separada das duas anteriores e agora com status de categoria. Podem concorrer a livro do ano de ficção, cuja votação é feito pelo mercado editorial, para quem são distribuídas 1.500 cédulas, os primeiros lugares das seguintes cinco categorias: romance, poesia, contos e crônicas, infantil, juvenil. Já como livro do ano de não-ficção, concorrem as categorias teoria e crítica literária; reportagem, ciências exatas; tecnologia e informática; economia; administração e negócios; direito; biografia; ciências naturais; ciências da saúde; ciências humanas; didático e paradidático; educação; psicologia e psicanálise; arquitetura e urbanismo; fotografia; comunicação; artes; turismo e hotelaria; gastronomia. Os dez finalistas de cada uma das 29 categorias do Jabuti serão anunciados em 13 de setembro. Em 18 de outubro, a CBL apresenta ao público os vencedores de cada categoria. Em 30 de novembro, numa cerimônia na Sala São Paulo, serão premiados os ganhadores e anunciados os livros do ano de ficção e não ficção. Fonte: Folha de S. Paulo 23/03/2011 Segundo e terceiro lugares não sobem ao palco nem vão para a etapa final; categorias passam de 21 para 29 Mudanças têm como objetivo devolver prestígio e credibilidade ao mais tradicional prêmio literário do país JOSÉLIA AGUIAR COLUNISTA DA FOLHA Só o primeiro lugar de cada categoria será agraciado a partir de agora com o Jabuti, o mais tradicional prêmio literário brasileiro. Não haverá mais distinção para segundo e terceiro lugares. Essa é a principal mudança do novo regulamento, anunciado ontem pela Câmara Brasileira do Livro. "Queremos valorizar o vencedor de cada categoria e reduzir o número daqueles que sobem ao palco", explicou José Luiz Goldfarb, curador durante 21 dos 53 anos da premiação. A mudança deve não apenas devolver prestígio ao vencedor de cada Jabuti, como também dar credibilidade ao prêmio. Explica-se: só os primeiros lugares vão concorrer agora ao grande prêmio de ficção e ao grande prêmio de não-ficção. Antes, também o segundo e o terceiro lugares passavam para essa última fase, que tem tradicionalmente outro júri. Impede-se, assim, que se repita o "imbróglio" do ano passado, quando Chico Buarque, segundo lugar na categoria romance, levou o grande prêmio de ficção. Após a festa de premiação, o grupo Record, um dos maiores do país, anunciou seu rompimento público com o Jabuti, por considerar que seu autor Edney Silvestre, vencedor da categoria romance, fora prejudicado. "Entendo que eles me deram razão. Prevaleceu o bom senso", afirmou ontem Sergio Machado, presidente do grupo Record, ao saber do novo regulamento. Convidado a participar da comissão que alterou as regras do prêmio, Machado disse que preferiu declinar para evitar constrangimento. MAIS CATEGORIAS Karine Pansa, presidente da CBL, evitou atribuir ao episódio a alteração nas regras do prêmio. "O Jabuti é aprimorado para acompanhar as necessidades que surgem do próprio mercado em expansão." Foi por isso que, segundo diz, ocorreu a outra grande mudança no prêmio: para julgar melhor a diversidade de títulos (2.867 inscritos em 2010), o número de categorias passa de 21 para 29. Criaram-se três novas. Quatro outras foram desmembradas (veja box ao lado). Do modo como se agrupavam antes, livros de teor muito diferente concorriam juntos. Essa era outra crítica ao prêmio. As inscrições começam hoje, por meio do site www.premiojabuti.org.br (onde se pode encontrar a íntegra do regulamento) e terminam em 31 de maio. Não houve alteração no valor de cada premiação: R$ 3 mil por categoria e R$ 30 mil para cada vencedor do grande prêmio de ficção e de não-ficção. A CBL espera superar 3.000 inscrições. Fonte: O Estado de S. Paulo 23/03/2011 Mudanças anunciadas ontem abrem margem para inscrição de quadrinhos 23 de março de 2011 | 0h 00 Raquel Cozer - O Estado de S.Paulo Na 53.ª edição do Prêmio Jabuti, cujas inscrições começam hoje, apenas o primeiro colocado em cada categoria será laureado e poderá concorrer, posteriormente, a uma das duas categorias principais da honraria, as de livro do ano de ficção e livro do ano de não ficção. Até o ano passado, os três primeiros colocados de cada categoria recebiam troféus da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e podiam concorrer nas duas categorias principais. Daniel Teixeira/AE Karine Pansa. 'O Jabuti tem tradição. No caso dele, o valor não é fundamental' Além disso, o número total de categorias passa de 21 para 29, com a inclusão de três áreas - ilustração, gastronomia e turismo e hotelaria - e o desmembramento de outras quatro já existentes. Com essa última alteração, a categoria educação, psicologia e psiquiatria, por exemplo, divide-se em duas, uma voltada só a livros de educação e outra a obras de psicologia e psiquiatria. Anunciadas ontem como "as mudanças mais significativas da premiação em 53 edições", as novidades dão margem a um aspecto para o qual nem o curador José Luiz Goldfarb nem a Comissão do Prêmio Jabuti 2011 haviam atentado: pelo regulamento, a categoria ilustração ("ilustrações de caráter técnico, científico ou artístico de obras gerais") permite a inscrição de livros de histórias em quadrinhos. Até 2010, só havia categoria de ilustração específica para livro infantil e juvenil - em 2008, Gabriel Bá e Fábio Moon levaram o Jabuti pela adaptação em HQ de O Alienista, mas como álbum didático paradidático. Questionado pelo Estado ao fim de entrevista coletiva sobre a possibilidade da inscrição de HQs, Goldfarb reagiu com surpresa. "Não havíamos pensado nisso. Acho ótima ideia, mas criamos a categoria pensando mais em ilustrações de obras científicas, por exemplo", disse, antes de consultar a nova presidente da CBL, Karine Pansa, e membros da comissão, e voltar com a dúvida: "Eles também se surpreenderam. A princípio, ninguém é contra. Poderemos dar resposta mais precisa antes do início das inscrições, amanhã." Considerado o crescimento do mercado de HQs no País na última década, com o surgimento de selos e o investimento de grandes casas, além do início da adoção desses títulos por escolas, a inclusão faria sentido, já que, segundo a CBL, o critério para a criação de categorias foi "um olhar para áreas em expansão". Foi por isso, por exemplo, que a categoria ciências exatas, tecnologia e informação dividiu-se em duas, uma para ciências exatas e outra para tecnologia e informação. Karine Pansa não confirmou que as alterações tenham decorrido da polêmica envolvendo o Jabuti 2010 de livro do ano de ficção, entregue a Leite Derramado, de Chico Buarque - segundo colocado entre os romances, perdendo para Se Eu Fechar os Olhos Agora, de Edney Silvestre. "O prêmio precisa ser repensado a cada ano, e não por ter acontecido um fato isolado", disse. A presidente da CBL argumentou que a meta é "valorizar a marca e diminuir o número de concorrentes que de fato levam o Jabuti. Antes, três em cada categoria podiam se dizer vencedores. Agora, só o primeiro pode falar isso". Os valores do prêmio serão mantidos - R$ 3 mil para o primeiro lugar em cada categoria e R$ 30 mil para cada um dos dois livros do ano. Com as novas áreas, o valor total da premiação passa de R$ 123 mil para R$ 147 mil. Questionada sobre se o fato de outros prêmios literários nacionais oferecerem valores maiores não os torna mais atraentes - caso, por exemplo, do Portugal Telecom, que entrega R$ 100 mil ao primeiro colocado -, Pansa concluiu: "Há prêmios que se projetam pelo valor. Acho saudável, mas o Jabuti tem tradição e respeito por sua história. No caso dele, o valor não é fundamental". Ao saber que só o primeiro em cada categoria concorrerá nas principais, Luciana Villas Boas, diretora editorial da Record, disse que a editora informaria ontem mesmo aos seus autores que seguirá inscrevendo obras no Jabuti. No ano passado, quando Edney Silvestre perdeu para Chico, a editora afirmou que não inscreveria mais seus autores. ALTERAÇÕES 1.Será laureado só o primeiro colocado em cada categoria. Até o ano passado, os três primeiros colocados de cada categoria eram premiados. Com isso, apenas o primeiro colocado em cada categoria poderá concorrer a uma das duas categorias principais, livro do ano de ficção e livro do ano de não ficção. 2. Em vez de 21 categorias, a premiação terá agora 29. Foram criadas três categorias - ilustração, gastronomia e turismo e hotelaria - e outras quatro foram desmembradas. Com as mudanças, surgem como categorias isoladas: arquitetura e urbanismo; artes; comunicação; ciências exatas; tecnologia e informação; ciências naturais; ciências da saúde; educação; psicologia e psiquiatria. Fonte: Folha de S. Paulo 23/03/2011 |
Fonte: O Estado de S. Paulo Cronista apresenta as dez melhores orientações herdadas de Manuel Ribeiro 22 de março de 2011 | 0h 00 Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo Manuel Ribeiro foi um homem austero e assim educou seu filho mais velho, o hoje escritor e cronista do Estado João Ubaldo. Apesar da severidade paterna, os conselhos foram úteis para a formação do garoto, que não só os aplica como utiliza como fonte de inspiração - é o que explica o pequeno mas gostoso Dez Bons Conselhos de Meu Pai, lançado agora pela Objetiva. Trata-se de uma obra infantil, em que ordens aparentes como "não seja burro" ou "não seja amargo" são repassadas de forma idílica. Sobre o assunto, Ubaldo respondeu às seguintes perguntas. No livro Política, você repassa ao leitor os conselhos, de teor político, que seu pai lhe dava. Agora, temos o livro infantil. Por que você guardou durante tanto tempo esses conselhos? Se você pergunta por que os guardei reservadamente, eu não fiz isso. Sempre reproduzi, de uma forma ou de outra, esses conselhos na minha vida cotidiana e os passava quando achava oportuno. Eles não eram sistematizados, como aparecem tanto no Política quanto no livro infantil, quem resolveu aproveitá-los em forma de "decálogo" fui eu. Se você se refere ao fato de eu ter preservado e observado esses conselhos ao longo de minha existência, é porque sempre os achei úteis e sempre procurei segui-los. Não são, é claro, nenhuma contribuição ao pensamento ocidental, mas apenas a sabedoria e os valores de um homem, como meu pai, que defendia a dignidade humana, a liberdade e a igualdade de direitos e deveres. São apenas palavras de um pai que quer educar seu filho dentro dos princípios que acata e considera eticamente fundamentados. A forma como você se dirige à criança, no livro, assemelha-se à que seu pai utilizou? Não. Ao longo de minha convivência com meu pai, eu fui "destilando" esses ensinamentos, a partir de conversas, repreensões, comentários sobre alguns acontecimentos familiares ou públicos. E a conduta dele, que - como costumam fazer os filhos em relação aos pais - eu admirava e procurava imitar, também me serviu de fonte para esses conselhos. E eu não escrevi o texto para crianças. Eles estão no livro infantil como estão no Política. Acho que dá para a meninada entendê-los bem, principalmente se discutidos ou analisados. É curiosa a relação com seu pai, sempre muito duro em sua educação. Como você avalia hoje os métodos que ele utilizava? Não acredito que os métodos de meu pai sejam hoje considerados, digamos, apropriados. Meu pai era um homem de temperamento forte, obcecado pela ideia de excelência em tudo o que se fizesse e muito rigoroso. Exigia muito, cobrava o tempo todo e me impunha tarefas de todo tipo, desde copiar sermões de Antônio Vieira nas férias escolares até "tirar" as letras das canções francesas que ele ouvia no que então se chamava de radiola. Fazia questão de boas notas, não tinha paciência com fracassos, não gostava de ouvir queixas ou lamúrias e dizia sempre que eu podia fazer melhor, era duro mesmo. Se eu, por exemplo, cometesse a imprudência de perguntar a ele o significado de uma palavra, ele me mandava ao dicionário e, quase sempre, copiar o verbete. Enfim, não creio que ele fosse o que poderia ser chamado de um educador moderno. A biblioteca de seu pai era muito cobiçada. Como era o acesso? O último casarão em que moramos, antes de a família sair de Aracaju e voltar para a Bahia, era enorme e tinha livros em todas as paredes, de praticamente todas as dependências da casa. Era impossível vedar o acesso aos livros, a não ser que se interditasse a casa. A gente tropeçava neles, passando pelos corredores. E eram livros sobre todos os assuntos. Meu pai era jurista e professor de História, mas se interessava por tudo, de Filosofia a esportes, de maneira que a livrama refletia isso. Eu podia ler o que quisesse, além do que ele mandava e dos livros que comprava para mim, como os de Monteiro Lobato. De vez em quando, ele proibia um livro, mas não o escondia. Depois de adulto, ele me contou que alguns dos livros eram proibidos mesmo, ai de mim, se tivesse sido pegado lendo um deles. Mas outros ele proibia para espicaçar minha curiosidade. Foi assim que, ao 10 anos, por exemplo, eu li Salambô, de Flaubert, achando que ia encontrar sacanagem. Devo ter lido uma porção de outros da mesma forma. Já os livros de meu avô, não tinham censura prévia nenhuma e eram uma esculhambação, porque ele roubava livros de meu pai e de todos os parentes e amigos, para depois soterrá-los numa montanha na casa dele, que eu podia escalar à vontade, talvez até pudesse chamar isso de alpinismo literário. DEZ BONS CONSELHOS DE MEU PAI Autor: João Ubaldo Ribeiro Ilustrações: Bruna Assis Brasil Editora: Objetiva (56 págs., R$ 34,90) Fonte: O Estado de S. Paulo Livro resgata caso da mulher que, sem saber, deu origem à linhagem celular mais usada em pesquisas científicas 22 de março de 2011 | 6h 00 Raquel Cozer - O Estado de S.Paulo Depois de morrer, Henrietta Lacks percorreu o mundo e alterou os rumos da humanidade. Essa poderia ser, de forma bem resumida, a descrição da história real narrada Considerado um dos dez melhores títulos de 2010 por veículos como o New York Times, o Independent e mais algumas dezenas de publicações, a obra que sai agora pela Companhia das Letras destrincha a história por trás das primeiras células humanas mantidas vivas por cientistas fora do organismo, e que assim se mantêm há 60 anos - mais precisamente, as primeiras células imortais da história. São as chamadas células HeLa (lê-se "rilá"), linhagem celular mais usada em pesquisas no mundo, conhecidíssimas entre pesquisadores da área biológica. O que ocorreu a Rebecca Skloot ainda na adolescência, ao ouvir falar pela primeira vez nessas células, foi um "detalhe" ao qual quase ninguém parecia dar muita atenção: por trás daquele objeto de infindáveis investigações houve uma vida que merecia ser reconhecida. Essa vida, ouviu Rebecca do professor que lhe contou a história no colégio, foi a de Henrietta Lacks, uma ex-lavradora de tabaco no sul dos EUA, descendente de escravos, que morrera com câncer em 1951. "Naquela mesma época", conta a autora em entrevista por telefone ao Estado, "meu pai foi infectado por um vírus que lhe causou danos cerebrais e aceitou ser cobaia de uma pesquisa científica. Então, quando eu soube da existência de Henrietta Lacks, minha primeira curiosidade foi: ela teve filhos? Como eles se sentem em relação a tudo isso?" O que ela descobriu foi que Henrietta nunca soube que haviam retirado uma amostra de suas células enquanto estava internada na enfermaria para "pessoas de cor" do Hospital John Hopkins, em Baltimore, Maryland - e que, quando sua identidade veio à tona, décadas depois, seus filhos teriam suas vidas invadidas por interesses científicos e jornalísticos. Câncer. Aos 30 anos, mãe de cinco filhos, Henrietta chegara ao hospital alegando sentir um caroço na altura do útero, uma dor que escondia do marido e das crianças. Os médicos logo identificaram um tumor cervical e, sem pedir permissão, enviaram uma amostra das células cancerígenas a um pesquisador. Meses depois, Henrietta morreu tomada por tumores, embora os exames identificassem o controle da doença. O que ninguém esperava era que essas células, ao contrário de todas as outras usadas antes em pesquisas, eram capazes de se expandir sem limites. Essa inexplicável capacidade de sobreviver e se multiplicar fora do organismo tornou as células famosas no meio científico. Ao longo das décadas, as células de Henrietta foram enviadas para laboratórios de todo o mundo, usadas em testes nucleares, enviadas para o espaço; tornaram-se fundamentais para as pesquisas mais importantes relacionadas a vacinas, quimioterapia, clonagem, mapeamento de genes, fertilização in vitro. A multiplicação foi tão impressionante que, como escreve Rebecca, "se fosse possível enfileirar todas as células HeLa já cultivadas, elas dariam ao menos três voltas ao redor da Terra, totalizando mais de 100 milhões de metros". Os filhos foram localizados décadas depois da morte de Henrietta por estudiosos interessados Rebecca Skloot demorou mais de um ano até convencer Deborah, a filha de Henrietta mais engajada em recuperar a história da mãe, a dar entrevistas. Enquanto isso não acontecia, conversou com o marido e os outros filhos, vasculhou milhares de estudos científicos ("pesquisar sobre as células HeLa em bancos de dados científicos é como fazer uma busca pela palavra "e" no Google", compara), esmiuçou outros casos de pesquisas feitas sem consentimento dos pacientes e as lacunas da legislação. Descobriu, entre outras coisas, que uma das filhas de Henrietta morreu internada numa instituição mental para negros, também cobaia involuntária de estudos medicinais. "Era um lugar onde os negros não eram bem tratados, como se pode imaginar de uma instituição assim por volta dos anos 50. Fiquei impressionada com os contornos soturnos disso tudo e entendi porque os filhos tinham tanta reticência em dar entrevistas. Essa história diz muito sobre a situação dos negros norte-americanos no século passado." O maior mérito de A Vida Imortal de Henrietta Lacks, para além do exaustivo trabalho investigativo, é tornar humana uma história que, em mãos menos cuidadosas, poderia caber num compêndio científico. "Queria que parecesse ficção, mas com dados reais", conta a autora, que recorreu a diversos romances e filmes para encontrar o tom certo do texto, uma narrativa que intercala a biografia do Lacks com intrincadas questões sociais e científicas - e que, não à toa, está sendo transformado em filme pela produtora de Oprah Winfrey. ENTREVISTA Rebecca Skloot JORNALISTA CIENTÍFICA, AUTORA DE A VIDA IMORTAL DE HENRIETTA LACKS ‘Li ficções para escrever o livro’ A obra inclui uma pesquisa biográfica e quase um estudo científico, são duas histórias que se cruzam. Como organizou isso? Foi um desafio colocar aquele tanto de informações sem deixar confuso. Precisava contar as duas histórias ao mesmo tempo porque era importante que o leitor entendesse a parte científica ao mesmo tempo em que conhecesse o lado humano. E queria que o livro fosse lido como ficção, então li muitos romances estruturados assim. Que tipo de romances? Um dos que mais ajudaram foi Tomates Verdes Fritos, de Fannie Flagg, que tem três narrativas ao mesmo tempo. E Love Medicine, de Louise Erdrich, e As Horas, de Michael Cunningham. Entre os filmes, o que mais ajudou foi O Furacão, com Denzel Washington. Tomei o cuidado de, como no filme, fazer os capítulos correrem rapidamente para que a história não se perdesse. O livro vai virar filme? Sim, está sendo transformado em filme por Oprah Winfrey e Alan Ball para a HBO. Sou consultora de roteiro, assim como a família de Henrietta. / R.C. Fonte: Folha de S. Paulo Caderno: Ilustrada 19/03/2011 Volume reúne, em mais de mil páginas, os principais escritores do país, do Descobrimento aos dias de hoje Autor gaúcho publica também "Os Viventes", conjunto de mais de 300 poemas que recriam a história da humanidade MARCO RODRIGO ALMEIDA ENVIADO ESPECIAL AO RIO Carlos Nejar divide os artistas em dois grupos: os que criam um pequeno jardim e os que fazem uma floresta. Nejar optou pela floresta há 51 anos, ao lançar a coletânea de poemas "Sélesis", seu livro de estreia. Desde então, o poeta, romancista, contista e crítico literário impôs-se uma tarefa nada singela: renovar o gênero épico, cujos modelos ocidentais por excelência são os poemas "Ilíada" e "Odisseia", atribuídos ao grego Homero. Gaúcho de Porto Alegre, 72, há três anos no Rio de Janeiro, Nejar não desvincula a ambição do ato de criação. "O artista não deve ser porta-voz do fracasso, do nada. Eu quero cantar a beleza, ser porta-voz da grandeza humana", diz. No caso de Nejar, tal grandeza não é puramente uma questão de retórica poética, mas também algo tangível, pesado, com 1.106 páginas. Caso o tamanho de "História da Literatura Brasileira", por si só, não impressione o leitor, há ainda o imponente subtítulo: "Da Carta de Caminha aos Contemporâneos". Trata-se, diz, "de um livro sem precedentes no país". Também pela editora Leya, a autor lança agora "Os Viventes", e não é mais modesto aqui. Com mais de 300 poemas, a coletânea, explica ao autor, compõe "uma pequena "Divina Comédia'", espécie de painel da "condição humana" ao longo do tempo. PRETENSÃO Nejar, evidentemente, sabe vender bem o seu peixe, mas é difícil não pensar na palavra "épico" quando nos referimos à obra dele. Lançada pela primeira vez em 2007, "História da Literatura Brasileira" consumiu mais de dez anos de pesquisa. Retorna agora com o dobro de páginas, quatro novos capítulos e a pretensão de mapear o que de mais significativo se produziu nas letras nacionais, do Descobrimento até hoje. Estão lá, ao lado do português Caminha ("escreveu a primeira nomeação da nossa nacionalidade") e medalhões (Machado de Assis e Euclydes da Cunha), jovens autores como Daniel Galera e João Paulo Cuenca (ainda que apenas citados). As histórias literárias anteriores, mesmo quando escritas por críticos renomados como Antonio Candido ou Alfredo Bosi, tinham para Nejar dois defeitos: ou abordavam apenas os autores já consagrados ou eram concisas demais. No mais das vezes, eram também "muito didáticas, uma chatice". O leitor perceberá que a nova versão de Nejar, no entanto, também tem lá suas idiossincrasias. Autores hoje já esquecidos (Moacir Piza, Alceu Wamosy) ganham mais espaço que fortes nomes contemporâneos (como Milton Hatoum e Sérgio Sant'Anna, ambos apenas citados na lista de nomes surgidos após 1970). Também não é incólume a erros. Michel Laub, por exemplo, surge como Lamb. A seu favor, Nejar argumenta que o livro "é uma visão pessoal e amorosa, com coragem para enfrentar os escritores atuais e atacar mitos e igrejinhas". Dos mitos fazem parte "A Pedra do Reino", livro de Ariano Suassuna que Nejar diz ser "obra confusa e ilegível", e a poesia concreta, "da qual não posso falar, porque é algo que não existe". TIRO NO FUTURO De um encontro com Nejar, saímos com a impressão de que ele incorporou o tom homérico na própria vida. O poeta vive em frente ao mar da Urca, num local batizado de "Casa do Vento". A decoração e a arquitetura da casa lembram o interior de um grande navio. Elza, com quem está casado há 23 anos, recebeu dele o apelido de "Espanto". Quando lê um poema, Nejar o faz com a eloquência que costumamos associar aos antigos trovadores. "Não estou na moda, não sou badalado. Não sou um poeta fácil", resume ele. Pois o Nejar crítico não tornará o Nejar poeta mais compreensível. "É claro que não me cito na "História da Literatura Brasileira". Não poderia falar de mim mesmo, seria muito cabotinismo." Secretamente, contudo, sabe bem o papel épico (como sempre) que gostaria de ocupar com "Os Viventes", recriação poética da história da humanidade que resume 30 anos de trabalho do autor. "Me enquadro na tradição de Cabral e Drummond. Eu atiro para o futuro." Enquanto espera pelas glórias vindouras, Nejar não tem motivos para queixar-se. ""Os Viventes" é um livro único no panorama da poesia brasileira contemporânea, e quiçá em toda a nossa poesia", escreveu o poeta Ivan Junqueira. Já o conterrâneo Tarso Genro lhe disse que a "História da Literatura..." apresenta uma "poetização genial". Neste caso, Nejar viu-se obrigado a discordar de um dos dois termos usados pelo governador do Rio Grande do Sul. "Não há poetização ali", explicou. -------------------------------------------------------------------------------- HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA AUTOR Carlos Nejar EDITORA Leya QUANTO R$ 99,99 (1.106 págs.) OS VIVENTES QUANTO R$ 69,90 (560 págs.) Fonte: Folha de S. Paulo Caderno: Ilustrada 19/03/2011 Livro de Haroldo de Campos, publicado em 1989, ataca visão de Antonio Candido sobre Gregório de Mattos -------------------------------------------------------------------------------- ENTRE EXCLUIR O BARROCO DO ESTUDO E INCLUÍ-LO, COMO ANTECIPAÇÃO DO CARÁTER NACIONAL, QUAL É PIOR? DIFÍCIL E VÃ ESCOLHA -------------------------------------------------------------------------------- ALCIR PÉCORA ESPECIAL PARA A FOLHA Acaba de ser reeditado um livro que, nos idos de 1989, foi um clímax da velha guerra entre "sociológicos" da USP e "formalistas" da PUC. É "O Sequestro do Barroco na Formação da Literatura Brasileira: O Caso Gregório de Mattos", de Haroldo de Campos (1929-2003). No texto, Haroldo critica a exclusão de Gregório de Mattos -e do Barroco como um todo- do processo de constituição do "sistema literário nacional", tal como postulado pela "Formação da Literatura Brasileira" (1959), de Antonio Candido. O núcleo da crítica incide sobre o que considera o "modelo semiológico" estreito e a "perspectiva histórica linear" da "Formação". Em relação ao primeiro ponto, Haroldo observa que o esquema autor-obra-público de Candido privilegia a função "emotiva" dos textos, tendo em vista o célebre esquema de Roman Jakobson. Ou seja, Candido valorizaria os termos comunicativos e expressivos das obras, quando o "sujeito lírico" manifesta a sua individualidade ou representa certa faceta da realidade vivida. O resultado é um cânone nacional "romântico imbuído de aspirações classicizantes". Sobre o segundo aspecto, Haroldo observa que a perspectiva histórica da "Formação" é linear, integrativa e teleológica, pois postula uma origem "simples", datada "convencionalmente" (1750), que se torna complexa até atingir o ponto pleno. Tal é o momento em que o espírito da literatura nacional se conhece a si mesmo, como história consciente, dotada de autonomia e continuidade de tradição. Para Haroldo, a origem da literatura brasileira não é simples, mas "vertiginosa". Com Gregório e o barroco, "já "nasceu" adulta, formada, no plano dos valores estéticos, falando o código mais elaborado da época". Propõe então uma história "constelar", "inconclusa", com destaques para seus "momentos de ruptura e transgressão", e não de continuidade e formação. Poderiam então ser sincronizados, no eixo do barroco, autores como Gregório, Euclydes, Cabral, Rosa, e naturalmente a vanguarda concretista, além de artistas como Glauber e Caetano. ESCOLHA DIFÍCIL Tudo certo, não fosse contradição (num texto que critica o romantismo nacionalista de Candido): a reinvidicação do barroco como "nosso" e de Gregório como precursor da "comicidade "malandra" em nossa literatura" ou como "primeiro antropófago experimental da nossa poesia". Entre excluir o barroco do estudo sob a alegação de estar ausente da formação nacional, e incluí-lo, como antecipação do nacional, qual é pior? Difícil e vã escolha. Irônico é que, após descontruir a "Formação", o Gregório "original e revolucionário" de Haroldo é, por assim dizer, pego no contrapé por um autor que nada tinha a ver com o "culto reverencial" a Candido. Em "A Sátira e o Engenho", também de 1989, João Adolfo Hansen contestou o sentido "carnavalizante" da sátira de Gregório, mostrando o fundo conservador de suas tópicas, no que foi seguido também por Alfredo Bosi, em ensaio de 1992. Hansen mostrou ainda que os poemas de Gregório eram atribuições apócrifas, de modo que o seu nome deveria ser entendido mais como uma "etiqueta" de autoridade associada ao gênero da sátira do que como uma autoria original e única. Tais pontos, é forçoso admitir, lançaram um "coup de vieux" no debate anterior, de modo que, ao contrário do que diz Affonso Ávila, em seu prefácio à nova edição, todo o assunto, hoje, tem de ser reavaliado em bases tão diversas do "Sequestro" como da "Formação". ALCIR PÉCORA é professor de teoria literária na Unicamp -------------------------------------------------------------------------------- O SEQUESTRO DO BARROCO NA FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILIERA AUTOR Haroldo de Campos EDITORA Iluminuras QUANTO R$ 35 (128 págs.) AVALIAÇÃO bom Fonte: O Estado de S. Paulo Caderno: Caderno 2 Gay Talese conviveu anos com mafiosos da família Bonanno para escrever o aclamado Honra Teu Pai 20 de março de 2011 | 0h 00 Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo Quando o jornalista Gay Talese cruzou o olhar com o mafioso Bill Bonanno, sabia que teria uma das melhores histórias de sua carreira. Era 1965 e Talese, repórter do New York Times, acompanhava o julgamento de Bill, filho do famoso Joe Bonanno, chefe de uma das famílias da máfia que controlaram atividades ilegais DivulgaçãoCapo. Joe Bonanno lidera saga familiar narrada em detalhes por Gay Talese Mesmo assim, não foi imediato - o repórter gastou dois anos em insistências e, depois do "sim", esperou outros dois até poder iniciar a escrita do que seria um de seus melhores livros, Honra Teu Pai (tradução de Donaldson M. Garschagen), recém-lançado pela Companhia das Letras. Trata-se de um raio X da máfia americana, como ele conta nessa entrevista. O que o atraiu na história da família Bonanno? Acho que curiosidade é o que domina o cérebro de um repórter. Eu já me interessava pela máfia aos 12 anos, na década de 1940, quando, durante a guerra, agentes de segurança do governo americano, preocupados com a proteção das áreas marítimas, foram obrigados a se envolver com gangues mafiosas, pois elas dominavam os sindicatos portuários. Outro motivo é minha origem italiana - havia muita desconfiança sobre os italianos nos EUA durante a guerra, todos associados de alguma forma a Mussolini e a Hitler. Como repórter, cheguei a cobrir histórias da máfia até que, em 1965, acompanhei um julgamento da família Bonanno. Joe e seu filho Bill eram acusados de promover uma guerra entre facções mafiosas. O fato atraiu grande parte da mídia e, num determinado momento, quando a corte estava em recesso, eu me aproximei de Bill Bonanno e insisti E o que aconteceu? Bill, que tinha praticamente a mesma idade que a minha, me olhou e não disse nada mas, pelo contato visual, percebi que ele entendeu minha intenção: que o que eu dizia fazia sentido para ele. Então, iniciei um trabalho de persuasão a fim de que Bill aceitasse me receber. Foram dois anos de insistência, até que ele e o advogado concordaram em jantar comigo. A condição era que não seria uma entrevista, apenas uma conversa. Aceitei e, durante o encontro, como eu sabia que Bill, assim como eu, tinha dois filhos e em idades semelhantes aos meus, eu o convidei para vir um domingo à noite à minha casa, com a mulher e os filhos, sem compromisso de entrevista. Para minha surpresa, ele respondeu: "Claro!". Foi o suficiente para quebrar o gelo, mas ainda esperei dois anos até ter permissão para começar a escrever. Bill Bonanno sentia-se abençoado ou amaldiçoado pela vida que levava? Creio que ambos. É algo que envolve toda família que detém algum poder. Veja o caso do Egito: Mubarak assemelhava-se a um chefe da máfia e preparava seu filho para sucedê-lo, assim como Bill receberia do pai o controle da família. O mesmo se passava com Kadafi e seus dependentes, e também com os filhos de reis sauditas - todos acreditavam ser abençoados porque receberiam o poder. E o que acontece? Revoluções impedem que o processo se concretize e todos aqueles privilégios não servem para nada. O mesmo se passou com a família Bonanno. Foi nessa época - creio que em 1970 - que recebi permissão para publicar nossa conversa. Até então, tudo o que apurava era computado como um aprendizado: durante 4 anos, coletei dados sem poder escrever uma linha. Precisei de mais um ano para então terminar o livro. Visitei Bill na prisão e também depois que foi solto. Sempre mantivemos contato - ele tentou controlar a máfia da região de São Francisco, foi preso novamente, nós envelhecemos, nosso filhos nos deram netos, enfim, cobri todas as gerações que viveram nos Estados Unidos da família Bonanno. Foi um árduo trabalho de apuração, não há uma linha ficcional no texto. Bill foi um mafioso inteligente? Não como deveria. Afinal, o bom mafioso é mais esperto do que a polícia: ele está acima da lei e não é submetido a ela. Bill, ao contrário, foi preso várias vezes, principalmente por ter usado um cartão de crédito que não lhe pertencia. Isso é estupidez. Seu pai, Joe Bonanno, também foi preso mas era mais esperto. Ele passou 18 meses desaparecido sem que ninguém, nem a polícia, soubesse de seu paradeiro. Isso é fantástico. Dizia-se que era um sequestro e eu só descobri que era uma armação 30 anos depois. O que foi mais difícil em seu longo trabalho de apuração? Creio que foi ter paciência. As pessoas têm uma visão deslumbrada da máfia, como se só acontecessem trocas de tiros, assassinatos, perseguição de carros. Na verdade, há muita chatice envolvida. É como estar em uma prisão: nos momentos mais delicados, seja na guerra com outras famílias, seja fugindo da perseguição policial, os mafiosos eram obrigados a passar dias e dias escondidos em apartamentos, sem fazer nada, apenas assistindo novelas na TV. É estar preso sem usar uniforme. É muito aborrecido. E ainda com a obrigação de devotar sua vida a outros que fazem o mesmo, ou seja, uma irmandade que não pode ser quebrada. É por isso que esse é um de seus livros preferidos? Sim. Gosto muito desse e de A Mulher do Próximo. O que gosto E quando o senhor pretende publicar seu próximo livro, sobre seu casamento de 50 anos com a agente literária Nan Talese? Pretendo terminá-lo no próximo ano. Minhas impressões serão confrontadas com as da minha mulher. Será a crônica de um casamento de meio século, uma reportagem sobre a intimidade do lar. |
0 comentários:
Postar um comentário