Notícias do Dia - 18 maio 2011
Sumário
Fórum traz as palavras de um ativista
Kafka e o horror neutro
Mais latina, Flip terá neste ano sua edição menos anglófona
"Não me decidi ainda", afirma Antonio Candido sobre convite
Promotor deve acompanhar investigação de fraude no Ecad
Enrique Vila-Matas autografa novo livro
Fonte: O Estado de S. Paulo
Fórum traz as palavras de um ativista
Nobel de Literatura em 1986, o nigeriano Wole Soyinka participa de encontro sobre educação em Belo Horizonte
18 de maio de 2011 | 0h 00
Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo
O nigeriano Wole Soyinka não é homem de meia palavra - dramaturgo, ele ganhou o Nobel de Literatura de 1986, tornando-se o primeiro afrodescendente a receber o prêmio da área. O reconhecimento não veio apenas por um texto que, para muitos, é o melhor do teatro africano contemporâneo. Também pelo decisivo envolvimento político, especialmente na luta pelos direitos humanos em seu país. Por conta dessa ativa carreira, Soyinka é um dos principais convidados do 4º Fórum de Comunicação e Sustentabilidade, que acontece nos dias 26 e 27 em Belo Horizonte.
O tema do encontro será O Futuro da Educação e a Educação do Futuro, assunto que norteia suas palestras. "Eu me considero um humanista", comenta ele, em entrevista por e-mail ao Estado. "Isto significa que a condição humana é o ponto de referência para a minha concepção do universo e dos fenômenos em geral e, portanto, forma o meu pensamento. Não que o universo seja dependente da humanidade, não - ele, simplesmente, pode ser mais significativamente apreendido por meio das faculdades que definem a humanidade."
Próximo dos 77 anos (completa em julho), Soyinka participou de momentos decisivos da Nigéria. Em 1967, durante a Guerra civil, foi preso pelo governo e mantido em confinamento solitário por suas tentativas de mediar a paz entre os partidos em guerra. Na prisão, Soyinka escreveu poemas que logo comporiam o volume Poems from Prison. Liberado 22 meses depois, quando se formou uma conscientização internacional sobre a sua situação, ele recontou a sua experiência no isolamento em um livro, The Man Died: Prison Notes.
Influências. "Escritores sofrem inspirações diversas", comenta. "Há quem seja influenciado por tudo que tenha lido, peças de música provocam respostas diversas dentro de cada um, influência pela arquitetura que é um verdadeira obra de imaginação e de compatibilidade, e até por vinhos que nutrem de sutileza e cuidado. Mas eu, inversamente, não fui influenciado por nenhum dos anteriores. Sou um escritor que nasceu na cultura iorubá, mas carrega um passaporte nigeriano."
Questionado sobre as desvantagens de ser africano no mundo atual, Soyinka é taxativo: "Ser humano hoje em dia é uma desvantagem nesse planeta, largamente controlado por anti-humanos. E a África entra em cena só porque parece ter uma densidade desproporcional de tais tipos".
O fórum em Belo Horizonte poderá ser acompanhado ao vivo pela internet, pelo site http://comunicacaoesustentabilidade.com/ivforum.
QUEM É
WOLE SOYINKA
ESCRITOR E DRAMATURGO
Nasceu em 13 de julho de 1934, de origem iorubá em Abeokuta, Nigéria. Trabalhou no Royal Court Theater, em Londres ao mesmo tempo em que participava da política nigeriana. Durante a ditadura do General Abacha, exilou-se nos EUA, só voltando em 1999, com o governo civil.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Kafka e o horror neutro
18 de maio de 2011 | 0h 00
Luiz Zanin Oricchio - O Estado de S.Paulo
"É um aparelho singular." Desse modo, um oficial descreve ao visitante a máquina de execuções em Na Colônia Penal , de Franz Kafka. Essa frase inicial está na primeira cena da versão da graphic novel de Sylvain Ricard (roteiro), Maël (desenho) e Albertine Ralenti (cores), álbum agora lançado em português na tradução de Carol Bensimon pelo selo Quadrinhos na Cia.
Trata-se de um trabalho gráfico bastante sofisticado. Preserva o sumo da história de Kafka e a ilustra com desenhos muito expressivos, que ressaltam o absurdo da trama. O comandante, com seus olhos delirantes, é o personagem principal, que tenta explicar ao visitante o funcionamento da máquina e a beleza da administração da justiça que dela advém.
A primeira frase é um emblema. A máquina de tortura é apenas "singular". Uma proeza técnica, na qual o engenho humano para infligir sofrimento ao seu semelhante é elevado à categoria de arte. Em sua descrição, o aparelho não é terrível, nem desumano, ou qualquer outro termo que expresse juízo de valor. É apenas singular, fruto da genialidade de outro comandante, antecessor deste que narra e se apresenta como guardião de uma tradição. Ao lado jaz, acorrentado, o pobre-diabo que provará da ação da máquina para deleite do comandante e ilustração do visitante. É um soldado raso que dormiu durante seu turno de guarda e reagiu com violência ao relho do seu superior.
A descrição da máquina "singular" é minuciosa. Trata-se de um aparelho munido de agulhas que imprimem a sentença no corpo do prisioneiro, perfurando-o cada vez mais fundo. O processo inteiro dura 12 horas e, nos "bons tempos", segundo o oficial, era presenciado por toda a população da cidade. Mesmo pelas crianças, que tinham acesso privilegiado às proximidades do cadafalso. Afinal, era um espetáculo e uma lição. A finalidade: fazer com que o condenado, através da dor, compreendesse, em seu corpo, a verdade da sentença e a sabedoria da justiça.
No traço de Maël, a máquina é apresentada em seus detalhes, sem que a vejamos em seu todo, o que a torna ainda mais terrível. Ressaltam as agulhas compridas, as engrenagens, a mordaça que é colocada na boca para que os gritos da vítima não perturbem o público. Soturno, Maël faz jus a uma das características marcantes de Kafka, a de transformar objetos em personagens e personagens em objetos. Relação de intercâmbio entre homens e coisas que faz a genialidade de sua obra, talvez a mais poderosa sobre a desumanização da espécie.
Em seu texto, Kafka usa sua melhor arma ao tratar com fria objetividade uma situação absurda - não por acaso, Ernesto Sábato o chamava de escritor absolutamente realista. O que há de terrível em sua escrita é o contraste entre aquilo que descreve e a maneira como é descrito. Kafka naturaliza o horror e, assim o fazendo, o coloca diante de nós como um terrível espelho.
Sua paródia sinistra da justiça, apresentada em Na Colônia Penal , é esmiuçada passo a passo. Aquele que vai morrer sabe qual a sentença? Não. Sabe que foi condenado? Não. Sabe como foi conduzida a sua defesa? Não, ele não teve oportunidade de se defender. O oficial prossegue: se tivesse sido interrogado, contaria um monte de mentiras, advogados dariam sua interpretação e perderíamos tempo precioso nesse emaranhado de versões. Tudo pode ser mais simples: "O princípio segundo o qual eu sentencio é de que a culpabilidade nunca deixa dúvidas". O réu é culpado de antemão, como em O Processo.
Em seu ensaio clássico, Kafka - Pró & Contra (Cosac Naify, 2007), Günther Anders fala da "calma sobriedade de Kafka", referindo-se, justamente, a Na Colônia Penal. O livro de Anders é de 1946, lançado na ressaca da 2.ª Guerra Mundial, quando então o autor pôde aproximar esse absurdo da violência do texto kafkiano e a mistura de civilização e barbárie do 3.º Reich. Nos campos de extermínio, os nazistas construíam para si aposentos sofisticados, com toca-discos, estofados e abajures, separados por meia parede das câmaras de gás. Talvez a imaginação de Kafka não chegasse a esse ponto.
No entanto, ele escreve Na Colônia Penal em 1919, após a débâcle da civilização europeia na 1.ª Guerra. Essa noção do absurdo, que bebe na natureza humana mas também em sua contingência histórica, continua a garantir atualidade aos textos de Kafka. Afinal, como escreve no prefácio o roteirista da HQ, Sylvain Ricard, "Um olhar para a atualidade, para nossas telas de televisão, pode indicar que o homem colocou com frequência a sua inventividade a serviço da destruição do outro e que a fascinação diante da dor é cada vez mais banalizada. ...Não há sombra de dúvida de que uma execução pública na Place de la Concorde teria mais sucesso e mais telespectadores que qualquer outra festividade. O que explica como a obra fascinante que é Na Colônia Penal se torna o espelho da sociedade em que vivemos e daquilo que somos." Quem há de negar?
NA COLÔNIA PENAL
Autor: Franz Kafka. Quadrinhos na Cia (56 págs., R$ 56)
Fonte: Folha de S. Paulo
Mais latina, Flip terá neste ano sua edição menos anglófona
FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO
A lista de convidados de língua estrangeira da primeira Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), em 2003, denunciava uma celebração anglófona.
Os britânicos Eric Hobsbawm, Julian Barnes e Hanif Kureishi e os americanos Don DeLillo e Daniel Mason foram então as atrações internacionais em Paraty.
Nos anos seguintes, o inglês não seria o único idioma estrangeiro da festa --idealizada, aliás, pela editora inglesa Liz Calder--, mas nunca perderia o trono, sendo sempre a língua de ao menos metade dos não lusófonos.
Neste ano será diferente. Na nona edição do encontro, que ocorre de 6 a 10 de julho e cuja programação completa será divulgada amanhã, pela primeira vez o total de estrangeiros de outras línguas vai superar o de autores que escrevem em inglês.
Até agora são 19 convidados de outros idiomas (14 anunciados oficialmente), dos quais só 7 anglófonos, ou 36,8% do total.
Do lado latino, estão seis autores de língua espanhola, quatro de língua francesa e um italiano. Há ainda um húngaro. E um português, que não entra na conta.
A Flip ainda negocia com mais de um autor um substituto para a mesa que seria do francês Michel Houellebecq (não vem mais). Se ele for de língua inglesa, os anglófonos serão 40%; do contrário, serão 35%. De todo modo, o menor índice histórico.
A guinada deve ser creditada especialmente ao novo curador da festa, o crítico literário e colunista da Folha Manuel da Costa Pinto, que sucede a Flávio Moura.
Costa Pinto não esconde que a mudança é pensada e reflete sua formação.
Questionado se seu repertório não seria mais de literatura e cultura latinas, Costa Pinto respondeu: "Completamente. Meu trabalho acadêmico é com a obra do [franco-argelino Albert] Camus, tenho ligação forte com literatura italiana e francesa, falo italiano e francês --e não sou muito fluente em inglês. Embora ache que o maior escritor vivo seja o [sul-africano J.M.] Coetzee".
Ele acrescenta: "Os autores que têm maior significado pessoal na minha curadoria são [o francês Claude] Lanzmann e o [italiano] Antonio Tabucchi".
Na coleção "Ilha Deserta", da Publifolha, para a qual literatos listaram dez obras que levariam para a experiência insular, Costa Pinto não relacionou nenhum autor de língua inglesa.
Não significa que Liz Calder tenha deixado de montar a programação da Flip com a curadoria. Foram dela, por exemplo, as indicações dos britânicos Carol Ann Duffy e Caryl Phillips (este nascido em São Cristóvão ) e da paquistanesa Kamila Shamsie.
Fonte: Folha de S. Paulo
"Não me decidi ainda", afirma Antonio Candido sobre convite
DE SÃO PAULO
Principal crítico literário vivo do país, Antonio Candido, 92, pode ser uma grata surpresa da próxima Flip.
Convidado a falar sobre Oswald de Andrade (1890-1954), homenageado desta edição, ele estuda resposta.
"Foi um convite muito gentil, mas ainda não me decidi, por causa da minha saúde e da minha idade. Fiquei de pensar, estou pensando", disse Candido à Folha. (FV)
Fonte: Folha de S. Paulo
Promotor deve acompanhar investigação de fraude no Ecad
Falso compositor recebeu R$ 127,8 mil em direitos autorais
DO RIO
A UBC (União Brasileira de Compositores) aguarda o Ministério Público do Estado do Rio indicar um promotor para participar da investigação sobre a fraude, denunciada em abril, da qual foram vítimas a associação e o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).
Responsável por distribuir direitos autorais sobre músicas, o Ecad pagou R$ 127,8 mil a um homem que, apresentando-se como Milton Coitinho dos Santos, registrou canções que não eram de sua autoria como suas.
A UBC ressarciu o Ecad. Santos é motorista, mora em Bagé (RS) e diz ser inocente.
A entidade encaminhou ao Ministério Público um documento em que expõe o caso e que deve dar início a uma investigação.
Além da UBC, oito associações compõem o Ecad (veja quadro). O escritório é chefiado pela advogada Glória Braga.
Fonte: Folha de S. Paulo
LITERATURA
Enrique Vila-Matas autografa novo livro
O escritor catalão lança "Dublinesca" (Cosac Naify; 320 págs., R$ 55) em palestra no Instituto Cervantes (av. Paulista, 2.439; tel. 0/xx/11/3897-9600; grátis). Haverá sessão de autógrafos após a conversa. As senhas serão distribuídas por ordem de chegada a partir das 19h30.
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